FAZER A VONTADE DE DEUS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Em Cafarnaum Jesus deixou uma de suas marcantes mensagens: “Quem faz a vontade de Deus esse é meu irmão minha irmã e minha mãe” (Mc 3,35). Deus e homem verdadeiro, enquanto homem pôde solenemente asseverar: “Não procuro fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou” (Jo 5, 30). A exemplo de Cristo cumpre sempre realizar o que Deus quer. Já Davi assim se expressava: “Eu quero fazer tua vontade, meu Deus; e tua lei está no fundo do meu coração” (Sl 40,8).
O salmista desejava que a verdade estivesse no seu íntimo e, por isto, ele pedia ao Todo-Poderoso: “Faz penetrar a sabedoria dentro de mim” (Sl 51,6). Sem as luzes do Espírito Santo é impossível discernir o que Deus deseja de cada um em particular, dado que para todos ele declarou a sua lei expressa no Decálogo, a qual se acha, igualmente, impressa na consciência de todo ser humano. Como o ser racional é frágil e sua inteligência está obnubilada por força do pecado original, eis o pedido que está no salmo 143: “Ensina-me a fazer tua vontade; porque tu és o meu Deus. É tão bom o teu espírito que ele me conduza por vereda plana” (Sl 143,10). Assim procedem os que amam o Senhor e almejam fazer em tudo seu santo desígnio. Portanto, submissão e obediência ao Ser Supremo devem caracterizar o verdadeiro imitador de Jesus. O cristão deve estar consciente de que não há nenhuma alegria profunda, nenhuma felicidade perfeita longe de tudo que a sabedoria divina traceja para cada um. O próprio Deus assim se expressou através do profeta Isaías: “Ai de vós, filhos rebeldes, diz o Senhor, que executais intentos que não vos sugeri e que estreitais ligas que eu não inspirei! (Is 30,1) Fazer a própria vontade é ser cativo do mal, pois só é livre quem adere inteiramente a Deus. Impõe-se então uma questão: Como saber se estamos fazendo sempre a vontade do Senhor? A resposta é dada por São Paulo que assim escreveu aos Colossenses: “Não cessamos de orar por vós e de pedir que vos seja concedida a plenitude do conhecimento da vontade de Deus com toda a sabedoria e inteligência espiritual. Assim podereis comportar-vos de maneira digna do Senhor e agradar-lhe inteiramente, produzindo frutos de toda a espécie de boas obras e progredindo no conhecimento de Deus.” (1 Col 9,10). É que Deus sempre manifestou e patenteou sua vontade, a questão é saber se nós queremos, de fato, fazer o que ele deseja, mas isto com toda sinceridade. Conhecer esta vontade é penetrar fundo nas mensagens bíblicas, sobretudo em tudo que Jesus ensinou. Lemos na Carta aos Hebreus: “Muitas vezes e de diversos modos outrora falou Deus aos nossos pais pelos profetas. Ultimamente nos falou por seu Filho, que constituiu herdeiro universal, pelo qual criou todas as coisas” (Hb 1,1-2). São Paulo, que perscrutou as Escrituras com rara acuidade, resumiu numa frase esplendorosa o que é estar de acordo com o Criador de tudo: “Esta é a vontade de Deus a vossa santificação” (1 Ts 4,3). Esta consiste na união com Cristo que afirmou: “O meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou e realizar a sua obra” (Jo 4,34). Eis por que o Concílio Vaticano II
doutrinou: “Por causa de sua mais íntima união com Cristo, os bem-aventurados consolidam toda a Igreja na santidade” (LG 49). Trata-se, pois, a santidade de uma realidade vivida deliberadamente, que penetra a existência da pessoa justamente porque, com a riqueza do seu ser e com a espontaneidade de sua vontade livre, se une a Deus entregando-se a ele com o calor do amor. É o caminho seguro que conduz à salvação eterna. Deste modo, sendo a vontade de Deus a santificação do cristão a santidade de vida significa, em conseqüência, a total entrega a Deus. A incorporação em Cristo obriga o batizado a estar totalmente disposto ao sacrifício mais sublime do amor a Deus e ao próximo. Todo cristão por ser cristão é chamado, portanto, a ser santo no sentido estrito da palavra, fazendo, como Jesus, em tudo, o que Deus quer, como está expresso na Sua palavra revelada a qual se encontra nas Escrituras e nas inspirações contínuas do Espírito Santo. Tal deve ser, de fato, a união do cristão com o divino Redentor, que, fazendo sempre a vontade divina, ele se torna, realmente, seu irmão, sua irmã, sua mãe, ou seja, ocorre uma total inserção nele. A recíproca é verdadeira: quem não observa os Mandamentos se encontra, portanto, inteiramente longe seu Salvador, o Senhor Jesus.
* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
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