terça-feira, 26 de junho de 2012

AMAR A DEUS ACIMA DE TUDO

AMAR A DEUS ACIMA DE TUDO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
O primeiro mandamento da Lei de Deus mostra que cumpre reconhecer no Ser Absoluto e Supremo, do qual todos os seres contingentes dependem,  a superioridade que, de fato, Ele tem sobre tudo que existe. É preciso então adorá-lo, servi-lo e amá-lo de todo o coração (Mt 18,37). Obrigação elementar porque  foi Ele o primeiro a nos amar, e nos amou com um amor infinito.Por tudo isto é preciso louvá-lo, embora não haja louvor que dele seja digno.  Deus, realmente,  deve estar a frente de todos os  pensamentos, de todas as  afeições e de todos os  atos.  No pensamento humano Ele deve possuir um trono do qual nenhum concorrente poderá jamais se aproximar. Ele tem que ser o ideal supremo de todas as fases da vida do ser racional  e de  todas as suas admirações, de todas as suas  afeições . Ele o poderoso Criador que tudo fez, porque a dileção é sua essência mesma como declarou São João (Jo 4,8) e o Bem é de si difusivo. Eis porque não há verdadeira virtude sem a dileção profunda para com o Senhor de tudo.  Não existe   fulgor  de inteligência  longe da Verdade Eterna.  Não desabrocha em plenitude a  delicadeza real  de sentimentos  longe da fonte suprema da Vida. Aquele que não conhece  a Deus e não O ama acima de tudo é então um mutilado no espírito e no coração. Não deve, portanto, haver termo, qualquer limite,  no relacionamento do homem com Deus.  Desde que Ele  é conhecido, é forçoso dedicar a Ele os sentimentos mais ardentes que fluem do íntimo de cada um. Explicou São João: “Deus é espírito e em espírito e verdade há de ser adorado” (Jo 4,24). No fundo do ser humano, porém,  travam-se terríveis combates presenciados unicamente por Deus, lutas devidas à inclinação para o mal decorrente do pecado original e das insídias diabólicas, mas tais batalhas devem terminar com a imolação da natureza inferior em holocausto ao amor divino. Por isto é que se diz que o pecado é o não-amor. Se o pobre coração do ser racional descobrisse uma fibra que não pulsasse por Deus, ela deve ser imediatamente extirpada. Não bastam palavras nem sentimentos,  dado que Deus quer atos e amá-lo é observar os seus mandamentos. Foi o que aconteceu com os santos que tudo sacrificaram para não se apartarem de seu Deus. Célebres as palavras de Santo Agostinho: “Tarde Vos amei,  ó Beleza tão antiga e tão nova, tarde Vos amei!  Eis que habitáveis dentro de mim,  e eu, lá fora, a procurar-Vos! Disforme, lançava-me sobre estas formosuras que criastes. Estáveis comigo e eu não estava convosco! Retinha-me longe de Vós aquilo que não existiria, se não existisse em Vós.
Porém
, chamastes-me, com uma voz tão forte, que rompestes a minha Surdez! Brilhastes, cintilastes, e logo afugentastes a minha cegueira! Exalastes Perfume: respirei-o, a plenos pulmões, suspirando por Vós. Saboreei-Vos e, agora, tenho fome e sede de Vós. Tocastes-me e ardi, no desejo da Vossa Paz".  Isto porque percebeu que  Ele é o sol das inteligências, e tudo penetra com a sua luz divina. Onde se aparta Deus tudo  é escuridão, noite nas almas, noite, na história, nas ciências, nas leis e nos costumes. Aqueles que não vivem sob a claridade desse sol vão debalde pedir luzes aos conhecimentos humanos, os quais arrancam da vida a esperança e a consolação, lançando os corações  nas trevas do desespero. Em Deus apenas a fortaleza, pois Ele é o Deus forte. É  combatido pelos ímpios, injuriado pelos ateus,  mas é sempre vencedor e sempre aclamado pelas almas nobres muito mais numerosas.Quando consideramos os acontecimentos superficialmente parece ser Deus esquecido. Entretanto, quando se faz o balanço da história da humanidade e dos séculos, Ele aparece triunfante, porque sem número são aqueles que proclamam: “Santo, Santo, Santo é o Senhor Deus do universo”. Porque Ele é eterno, é paciente e  abre os seus braços divinos aos pecadores para perdoá-los, aos infelizes para consolá-los. No correr dos séculos, milhões de corações levantaram-se, de fato,  para cantar os seus louvores, e as almas encontraram  neste Deus que é Pai amoroso, o único ente digno de adoração e de amor. Este amor infinito quis entrar na história humana e “o Verbo de Deus se fez carne e habitou entre nós”. Manifestou por palavras e obras uma dileção imensa e sua vida  terminou em um drama de amor, e esse drama foi doloroso e sangrento. Entre Deus e os homens passou a existir o Calvário, prova visível da caridade divina.  Eis porque o Filho de Deus proclamou: “Não há maior prova de  amor do que a daquele que dá a sua vida pela pessoa amada”. Ninguém nos amou assim, e ninguém nos amará jamais com tais proporções. O Calvário e o altar, onde se renova o Sacrifício do Gólgota,  são as últimas palavras do amor tanto no céu como na terra. Retribuir tudo isto é amar a Deus acima de tudo e sem medidas! * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.





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