AS GLÓRIAS DE SÃO JOÃO BATISTA
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho
Os Evangelistas registraram as peregrinas virtudes de João Batista. Ele se fez um modelo perfeito para seus admiradores, para seus devotos. Homem de oração vivia retirado no deserto em contínua tertúlia com Deus. Entregue às mais duras mortificações, revelou uma humildade profunda ante Jesus, dizendo que não era digno de lhe desatar a correia do calçado (Mc 1,7) e proclamando: “É preciso que Ele cresça e que eu diminua” (Jo 3, 30). Deixava claro que seu batismo era um símbolo de arrepedimento, apenas uma preparação, pois o Messias, sim, dizia ele, era quem batizaria com o Espírito Santo e com o fogo. Sua fidelidade, missão que lhe foi confiada por Deus impressiona profundamente, pois cercado de fama popular e de discípulos que tanto o exaltavam, poderia se o quisesse passar pelo Messias, por Elias, ou por outro grande Profeta. Limitou-se a dizer que era a “voz que clama no deserto” (Mt 3,3), ensinando com isto que cada um é aquilo que pratica, cada um é o que representam suas ações, e não o que os outros julgam que seja. Sua generosidade para com os pobres, a renúncia à violência e à opressão marcaram sua existência o que refletia no seu ensinamento moral. Por tudo isto teve a honra imensa de batizar o próprio Cristo a santificar para sempre naquele momento a água batismal do sacramento que instituiria. João Batista reconheceu em Jesus o Cordeiro de Deus mostrando uma fé profunda no Redentor. Corajoso, denunciou o matrimônio adúltero e incestuoso de Herodes Antipas com Herodíades (Lc 19-21), demonstrando que a verdade nunca deve ser traída. Preso não tergiversou e permaneceu fiel ao que dissera. Uma vida tão admirável deveria ter um fim digno dos maiores heróis e ele tomba mártir, cabeça cortada, vítima daquela cujo escândalo moral ele reprovara. Doravante a apoteose seria sua partilha, pois sua popularidade cresceria século após século. Passam-se os séculos e só se pode ir até Jesus seguindo-se a metodologia de João Batista. Quando se penetra fundo na sua pregação, se percebe como ele, inspirado por Deus, traçou magnificamente um programa de vida para os epígonos de Cristo. Com efeito, repetindo as palavras do profeta Isaías (Lc 3, 4-6) ele didaticamente apontou meios para se abrir veredas para que O Salvador chegue a cada coração. São Lucas falando da pregação do Batista assim se expressou: “Ele percorreu toda a região do Jordão, proclamando um batismo de conversão para a remissão dos pecados, conforme está escrito no livro das palavras do profeta Isaías: Voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor, aplainai as suas veredas; todo vale será aterrado, toda montanha ou colina será abaixada; as vias sinuosas se transformarão em retas e os caminhos acidentados serão nivelados. E toda a carne verá a salvação de Deus” (Lc 3,3-6). É uma voz que vem do deserto, isto é, de lá onde há lugar para a reflexão num silêncio acolhedor. Como a mensagem divina flui do deserto cumpre que ela caia num coração no qual reine ambiente propício para que seja ouvida e encontre guarida. O recado que vem do Ser Supremo então depara um caminho preparado para produzir frutos opimos. Este clima interior propicia que a semente divina se desenvolva admiravelmente. Os obeliscos, as Pirâmides, os arcos de triunfo não bastam para constituir uma recompensa que possa lisonjear o coração dos verdadeiros heróis como João Batista. João Batista, porém, no plebiscito universal que recebe através dos tempos, nas aclamações ininterruptas e louvores ardentes, tem na coroa viva de seus devotos, das cidades e vilas, paróquias, a ele consagrados, nos templos a ele dedicados, sua mais formidável consagração. Ante o trono resplandecente da divindade o Cordeiro Imaculado faz cintilar os méritos de João Batista e o celebriza perante as nações. Ostenta o poderio de seu valimento. Assim ele obra como imortal depois de morto. Em todos os tempos na galeria cintilante dos grandes padroeiros, dos poderosos protetores, dos mais eficazes intercessores, João Batista aparece como mediador potentíssimo na presença do salvador da humanidade. Em toda parte se sente sua influência decisiva para os males do corpo e, porque os males interiores e invisíveis são os que mais atormentam e matam, também os corações dos tristes e aflitos, dos perseguidos e desesperados só na invocação de seu nome acham a consolação, o alívio, a respiração, o bálsamo, o lenitivo, o remédio. Cumpre, porém, sempre imitar suas virtudes e praticar o que ele ensinou. * Professor no Seminário de Mariana, durante 40 anos.
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