AS DIMENSÕES DA ORAÇÃO DE JESUS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Quer o que ocorreu com o chefe da Sinagoga, quer o que se deu com a hemorroíssa (Mc 5, 21-43) são dois episódios, entre tantos outros, que mostram como Jesus atende sempre àquele que ora com fé sincera, profunda. Ele escuta a oração da fé seja ela expressa em palavras, como foi o caso de Jairo ou em silêncio como foi a atitude da mulher que há doze anos vinha sofrendo sem ser curada pelos médicos. A ela Ele declarou claramente: “Filha, a tua fé te salvou. Vai em paz e fica sã do teu mal”. À filha de Jairo, atendendo a súplica que seu pai Lhe fizera, após pegar a mão daquela que julgavam já morta, deu esta ordem peremptória: “Menina, eu te mando, levanta-te”. Relatou ainda São Marcos: “A menina pôs-se logo em pé e começou a andar, pois tinha doze anos”. Santo Agostinho resumiu admiravelmente as três dimensões da oração de Jesus: “Ele ora por nós como nosso sacerdote, ora em nós como nossa cabeça, e a Ele sobe nossa prece como ao nosso Deus. Reconheçamos, pois, nele, os nossos clamores e em nós os seus clamores”. As atitudes de Jairo e da hemorroíssa ilustra o que disse o douto Bispo de Hipona, pois fizeram chegar a Jesus pedidos que revelam uma certeza de que Ele tinha um poder milagroso. Esta fé na divindade do Redentor é que leva a contemplar nele o grande Mediador, Cabeça do Corpo Místico formado por todos que professam esta crença inabalável. Por tudo isto, orar se torna uma dimensão essencial da existência do cristão. Este faz da prece um encontro de amizade com o Todo-Poderoso Salvador que prometeu: “Vinde a mim, vós todos que estais aflitos sob o fardo, e eu vos aliviarei (Mt 11,28). Daí resulta a paz que Ele desejou à hemorroíssa e o orante passa a viver em união com Ele e isto é a essência mesma de uma vida de oração, ou, no dizer agostiniano, a perceber em si os seus brados, as suas inspirações celestiais. Ele cura sempre os males por amor, mas exige reciprocidade de amor. Quem deposita nele sua fé inabalável passa a trilhar o caminho da verdadeira vida, isto é, a crer, esperar e amar, trílogia sagrada que leva à santidade. Disto resulta uma irrestrita confiança em Jesus que é fiel e merece total dileção. Deste modo, se passa da súplica a uma existência de oração contínua. O cristão se deixa penetrar pela prece que lhe envolve então o corpo, o coração e o espírito. Jairo foi até Jesus, a hemorroíssa Lhe tocou a veste e até aí foram manifestações corporais, mas o coração deles estava repleto de uma certeza absoluta naquele que invocariam e, não há dúvida, seu espírito foi movido pelo Espírito Santo para tomarem corajosamente aquelas atitudes. Cumpre, porém, alimentar sempre a fé, a esperança e o amor a Cristo através da escuta de seus clamores que podem ser percebidos pela leitura da Sua palavra registrada na Bíblia, do que resultará o oferecimento a Ele de todos os atos, de tudo que se faz. Por meio do amor ao divino Redentor o coração se transforma e a prece produz frutos no cotidiano daquele que tem fé. Merece atenção no caso da filha de Jairo o fato de que Jesus após curá-la “mandou que dessem de comer à menina”. Pode-se tirar disto uma mensagem que é uma advertência. Quantos cristãos que alcançam graças especiais de Cristo, Médico divino, se esquecem de alimentar a gratidão para com Ele, buscando aquela perfeição que Ele preceituou: “Sede perfeito como o Pai celeste é perfeito” (Mt 5,43). É o clamor dele a que se referia Santo Agostino. A prece do fiel que escuta este brado se torna transformante e faz do dia a dia uma metanoia sem tréguas, isto é, uma conversão permanente rumo ao aprimoramento espiritual. Felizes os que compreendem as maravilhosas dimensões da oração de Jesus, o Onipotente Redentor, Cabeça do seu Corpo Místico. Mister se faz alimentar, porém, esta realidade com preces ininterruptas. Nem deve ser desculpa a falta de tempo, pois o verdadeiro cristão o tempo todo deve ser um orante, tudo fazendo na presença de Deus e em nome do Senhor Jesus, consagrando-Lhe, contudo, momentos especiais de uma oração que signifique uma imersão naquele “no qual existimos, movemos e somos” (Atos 17,28). Assim sendo, as distrações se afastam, pois as atenções estão voltadas para o protagonista da vida de quem crê. Para passar da preocupação que toma conta do coração e da imaginação para a atitude de liberdade é preciso convergir o olhar para o Coração do Mestre divino e transformar as preocupações em preces, tudo colocando neste Coração poderoso. Deste modo qualquer desgosto no orar se aparta do fiel, porque, movido da confiança que caracterizou Jairo e a hemorroíssa se reza com muito amor sem exigir de Jesus uma recompensa imediata. Todas estas considerações mostram que em Jesus, de fato, se pode sempre confiar, pois ele agirá no momento oportuno. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
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