VIVER POR CRISTO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Um dos efeitos da comunhão eucarística foi assim expressa por Jesus: “Assim como o Pai que me enviou vive, e eu vivo pelo Pai, assim também aquele que comer a minha carne viverá por mim (Jo, 6,57). Deste modo, a Eucaristia é o motor interior que conduz o cristão a avançar no total amor a Cristo de tal forma que o seu coração esteja sempre com Ele em tudo que se pense, se fale ou se aja. Viver por Ele é olhar também para o que é invisível, mas se crê pela fé no que Ele ensinou. Deste modo, se vencem todos os obstáculos que impedem uma união íntima com o Mestre divino. É o que se deu com São Paulo: “Para mim viver é Cristo” (Fl 1,21). O Apóstolo mostra deste modo como deve ser a existência do seguidor de Jesus. Estar sempre com Ele é encontrar a todo instante a felicidade completa e isto é fortalecido pela recepção de seu Corpo e Sangue na Eucaristia. Trata-se da irrupção do divino no humano, presença do amor do Redentor que dulcifica todos os sofrimentos e trabalhos e comunica serenidade intensa, não obstante os precalços da caminhada neste vale de lágrimas. Segundo São Basílio, em Cristo esta aberto para quem nele crê a possibilidade de realizar a autêntica vocação cristã. É o que São João Damasceno sublinhou falando da assimilação pessoal em Cristo o qual participa da natureza humana miserável e débil, para a purificar e fazer, de fato, o ser racional participante de sua divindade. Para isto Ele se fez alimento, pão da vida através da Eucaristia. Desta maneira, a realidade batismal da vida nova se concretiza numa existência humana inteiramente transformada porque se torna possível em Cristo com o qual se une na comunhão eucarística. É a sublime metamorfose que se dá para o cristão que entra no dinamismo da redenção, atitude deve significar a tomada de consciência de uma passagem para uma vida repleta de júbilo em Cristo, realidade a se difundir por toda parte numa abertura para os outros, vivendo intensamente o amor do Coração de Jesus. Eis porque o momento da comunhão mais do que um instante de mera emoção religiosa leva ao anseio de se ultsrapasar a si mesmo na luta contra as paixões desregradas, contra o mundo e tudo que contradiz o que Jesus ensinou. Aceitar este desafio representa confiar inteiramente na força que vem do Sacramento que é alimento que robustece para a pugna contra o mal. Deste modo o que vive por Cristo se livra da ansiedade, do medo, de qualquer fobia ou frustração e passa a trabalhar com ânimo pela salvação do próximo. Por tudo isto o instante sublime da comunhão deve levar a uma introspecção salutar, a uma auto-análise desta vivência em Cristo para que a comunhão não se torne uma atitude mecânica sem suas faustosas consequências na vida individual e de toda a Igreja. Alimentar-se do Corpo de Cristo é receber assim a lucidez corajosa que afasta tudo que é artificial, aparente para se imergir na sinceridade do desejo de corversão contínua na busca da santidade. Uma perspectiva otimista, mas que inclui uma decisão de combate aos próprios defeitos num ato de humildade na imitação daquele que é manso e humilde de coração. Trata-se de sempre ultrapassar o egolatria e o apego ao que é passageiro, ao que leva a esquecer os bens eternos oferecidos pelo divino Salvador. É libertação de toda e qualquer obsessão porque se percebe a força daquele que é a forteleza de todo que foi batizado e O recebe na Eucaristia. Donde o discernimento indispensável a procedimentos corretos, relações humanas verdadeiramente construtivas. Comungar é manifestar uma escolha existencial de um sim dado a Jesus no mais profundo de si mesmo. Deste modo. o cristão que vive por Cristo se torna imune da intoxicação que vem do espírito do mundo, de sua agitação para viver na paz de seu Senhor. Da Eucaristia resulta uma total confiança decorrente da irrupção da graça divina na pessoa do comungante. Para que tal aconteça é preciso total disponibilidade à presença do Redentor. Abandono ao Inefável no qual o cristão seja qual for a sua situação material ou espiritual encontra uma existência digna de ser vivida. Tudo isto inclui a ruptura total com o pecado por força da presença daquele que quer operar maravilhas naqueles que dele se alimentam na Eucaristia. Eis aí uma consequência capital desta união com Cristo, pois o cristão é assim personalizado, vivendo o mistério da sua vida de acordo com o que ensinou São Paulo: “A fim de que os que vivem já não vivam para si mesmos, senão para aquele que morreu e ressuscitou por eles” (2 Cor 6,17). * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
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