quinta-feira, 21 de junho de 2012

UMA UNÇÃO SALUTAR

                   UMA UNÇÃO SALUTAR
       Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Na Carta de São Tiago há um trecho que fala claramente do rito que a Igreja sempre empregou para os que se acham acometidos de grave enfermidade, ou seja, aquela que coloca em risco de morte.  Diz o Apóstolo: ”Está enfermo algum de vós? Mande chamar os presbíteros da Igreja e estes rezem sobre ele, ungindo-o com óleo em nome do Senhor. E a oração da fé salvará o enfermo e o Senhor o fará levantar-se e se tiver cometido pecados, ser-lhes-ão perdoados” (Tg 5,14-15). Admirável o trabalho que a Pastoral dos Enfermos tem realizado por toda parte providenciando que aos acamados não falte este Sacramento tão salutar. Jesus é, de fato,  o único que pode curar a alma sujeita às fraquezas humanas. Ele se apresenta através de seus Ministros, os quais depois de dar a absolvição dos pecados, ungem o corpo dominado por grave moléstia. O óleo santo sana as feridas da alma, purificando-a completamente dos seus pecados, e, muitas vezes, conforme asseverou São Tiago, Deus se compadece do enfermo e lhe restitui a saúde do corpo. É preciso, portanto, não rejeitar esse auxílio divino que tem a propriedade de diminuir o temor da morte, de elevar a coragem do cristão gravemente adoentado, de fortificar a alma para enfrentar a morte, e de purificá-la para a passagem desta vida terrestre à vida eterna no reino de Deus. Este sacramento, recebido com as devidas disposições, apaga os últimos vestígios do pecado. Grande é o alívio de quem tem fé por ver afastadas as ansiedades da consciência, o temor excessivo do julgamento divino, as tristezas pelos pecados passados, as dificuldades de seus sofrimentos. Adite-se que o Código do Direito Canônico diz que a velhice é motivo para se receber este Sacramento, pois a velhice, quando é avançada, de si, já coloca em risco de morte. Aliás,  Cícero, escritor latino, já dizia que “a vetustez é uma enfermidade”. A sabedoria e a bondade de Deus vela, deste modo, constantemente sobre a suas criaturas e lhes proporciona todos os meios para conseguir a felicidade eterna. É necessário, então, utilizar os imensos e inesgotáveis recursos que a misericórdia divina oferece. O orgulho, as paixões, o pecado,  cegam  muitos, de tal modo que acabam deixando este mundo sem os sacramentos, morrem sem a graça divina,  sem a esperança do céu, porque abandonam a Deus. Desde a origem do Cristianismo, quando os fieis sentiam a morte aproximar-se, reclamavam imediatamente essa unção salutar, à qual o divino Salvador comunicara as graças de um sacramento. Esta sempre foi a doutrina da Igreja ensinada e praticada em todos os tempos.  Orígenes no terceiro século assim se exprimia: “Há remissão dos pecados pela penitência e também quando o cristão seguindo o preceito do apóstolo São Thiago, chama o sacerdote no tempo da enfermidade, para que lhe imponha as mãos e lhe administre a unções com o sagrado óleo em nome do Senhor”. São João Maria Batista Vianney, o zeloso Cura d`Ars, pedia com insistência, em suas doenças, que não deixassem de lhe trazer um outro sacerdote para lhe dar  a unção dos enfermos, afim de que pudesse  encontrar a misericórdia divina. Todas estas considerações patenteiam a necessidade de cada um se preparar para o instante da morte, da qual não se sabe nem o dia nem a hora. A revelação da boa morte é a boa vida. A existência humana deve ser uma preparação consciente para a entrada na Casa do Pai.  A morte para os que não seguiram a Cristo é terrível, dado que é  uma vida que se acaba e uma eternidade infeliz que se inicia! Que aflição, que angústia para quem não correspondeu aos desígnios divinos e não cumpriu sua missão neste mundo! No momento da morte o que vai dar desgosto a cada um é o que ele buscou por seu próprio gosto e, muitas vezes, com tanto sacrifício inútil em busca de gozos passageiros, ilusórios. Quantos gostariam de voltar no tempo para refazer seus atos, mas já é tarde. Só então se compreenderá como se inutilizou a existência nesta terra e por todo o sempre. Entretanto, para quem cumpriu o seu dever, para o pecador sinceramente arrependido, para quem fez de sua vida um hino de louvor a Deus e de serviço ao próximo, fechar-se-á a porta do tempo e logo se abrirão os pórticos luminosos da Jerusalém celeste. O que causou pena, mas foi suportado com afeto a Deus é que dará alegria, porque naquele momento se poderá dizer com Jesus: “Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito Morrer em graça e ver garantida a salvação, eis o que mais deve preocupar quem tem bom senso neste mundo, pois tudo mais é secundário e só vai causar ansiedade ao chegar o instante de se deixar esta terra. Por tudo isto se deve valorizar, e muito, a Unção dos Enfermos. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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