terça-feira, 19 de junho de 2012

Quem crê tem a vida eterna

                        QUEM CRER TERÁ A VIDA ETERNA
                                   Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Afirmou peremptoriamente Jesus: “Em verdade, em verdade, vos digo: aquele que crê tem a vida eterna (Jo 6, 47). A certeza de que há uma felicidade perene é a recompensa gratificante daquele que vive em função da primeira virtude teologal. É que o autêntico cristão não compreende para crêr, mas crê para entender sempre melhor as verdades reveladas. O primeiro e precisíssimo dom que Deus concede é a fé. A graça  que é dela consequência faustosa conduz à eternidade venturosa junto do Ser Supremo para o qual se caminha nesta terra. Tal foi o elogio que Jesus fez ao príncipe dos Apóstolos: “Tu és feliz, Simão, filho de Jonas, porque esta revelação não te veio nem da carne e nem do sangue, mas de meu Pai que está nos céus (Mt 16,17)  Daí a resposta de Pedro: “Tu és o Messias, o Filho de Deus”. Assim sendo, cumpre a quem crê, antes de tudo e sobretudo, reconhecer que esta dádiva lhe é concedida não por merecimentos anteriores, mas por uma suma bondade divina. Daí sábia advertência de São Paulo: “O que tens que não recebeste? (1 Cor 4,7) Na sua condescendência infinita Deus então comunica a quem corresponde a esta mercê inestimável iluminações que livram dos erros perniciosos, dos maus hábitos que podem ofuscar a fé e tudo isto segundo sua misericórdia gratuita. É de se notar sem estas graças o fiel nada pode realizar em vista à ventura futura do céu. Jesus foi claro: “Sem mim nada podeis fazer” (Jo 15,5). Isto inclusive, é evidente,  no que tange à perserverança final. É marchando na fé que os cristãos caminham envoltos nas mercês que lhes advêem do Todo-Poderoso Senhor. Os dons de Deus, porém, respeitam sempre a liberdade humana. Ele quer uma adesão pessoal, livre ao que na sua munificência oferece a cada um. Deste modo o ato de fé corresponde a um ato livre do homem. Deus não se impõe, ele se propõe. É do fundo do coração, do mais profundo da inteligência que deve partir a adesão ao Pai que se manifesta em Cristo pelo Espírito Santo. O ser humano, porém, não se aproxima do Redentor com os pés, com um movimento de seu corpo, mas pela vontade de seu coração e pela luz de seu intelecto que acata as inspirações divinas, deixando-se atrair pelo amor de um Deus sumamente bom e digno de ser amado sobre todas as coisas. Donde o conselho do salmista: “Coloca  no Senhor as tuas esperanças  e Ele te concederá o que o teu coração deseja” ( Sl 36,4). Como muito bem explicou Santo Agostinho, há uma volúpia do coração para aquele que degusta a doçura da mensagem de Deus a qual gratuitamente lhe chega. Esta volúpia celestial vem a cada um não por obrigação, mas por deleitação da luz celestial recebida, delícias da vida eterna já degustada neste mundo, sobretudo no momento de uma prece ardente, de uma reflexão amadurecida alimentada pela retidão interior. É preciso, de fato, alimentar o desejo dos bens espirituais, sentir a sede da água vida que jorra do Coração de Cristo, suspirar pela pátria definitiva e não se deixar prender ao que é material  que precisa ser apenas um instrumento para se chegar à Jerusulém do alto. Jesus proclamou solenemente: “Bem-aventurados os que têm fome e sede da justiça porque serão saciados” (Mt 5,6), Esta justiça consiste em aderir à vontade de Deus, inclusive nas provações inevitáveis da vida terrena as quais são um alerta para não se apegar ao que é transitório. Tudo isto porque se crê na palavra de Jesus que asssegurou que o que nele crê terá a vida eterna. O cristão, porém, crê porque foi atraído pelo amor do divino Salvador. A vida eterna por Ele prometida é Ele mesmo que assumiu a condição humana e com ela a morte para a vencer. Morreu, mas ressuscitou gloriosamente e quer que todos que nele creem participem desta sua vitória e tenham a vida eterna. Eis porque o cristão que  alimenta em si o desejo da visão beatífica vive neste mundo unido a Cristo, purificando sempre o coração, mesmo porque a fé como ensina Santo Agostinho é um colírio que preserva o olhar da alma. Esta fé que conduz à vida eterna faz  então frutificar as boas obras sem as quais ela, no dizer de São Tiago, é morta (Tg 3,17). As obras são o termômetro da fé, como este Apóstolo: “Mostra-me a tua fé sem as obras que eu por meio de minhas obras, mostrar-te-ei a fé (v. 18). Foi o que ensinou Jesus: “Se queres entrar na vida eterna observa os mandamentos” (Mt 19,17).  * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.



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