O FIM DOS TEMPOS
Côn. José Gerald
Vidigal de Carvalho*
Um
capítulo de São Lucas nos leva a meditar o que Jesus fala sobre o futuro (Luc
21,5-19). Ele descreve um futuro longínquo, sua volta no fim dos tempos e todo
um conjunto de acontecimentos misteriosos, cuja data fica oculta no segredo do
Pai Quando Ele evoca o cenário do fim, Jesus o faz sempre numa linguagem
tradicional dos apocalipses e num grande quadro cósmico que engloba o céu e a
terra, o sol, a lua e as estrelas. Jesus tem também em vista fatos mais
próximos como a ruina do Templo, o julgamento de Jerusalém e retoma as ameaças
dos profetas contra a cidade infiel. Enfim, Jesus faz alusão às provas de sua
comunidade, às perseguições que sofrerão os discípulos através dos tempo da
Igreja. É de se notar que as três perspectivas são estreitamente imbrincadas e,
por vezes, indissociáveis, semelhantes a fotografias que se projetam, a saber,
diante da última destruição do Templo se perfilam os sinais do fim do mundo,
tendo como pano de fundo o julgamento de Jerusalém quando se proclama a vinda
do Filho do Homem para julgar os vivos e os mortos. Tudo isto impossível de
calcular e inútil querer prever. Entretanto, duas certezas aparecem claramente:
a primeira é que a história do mundo entrou com a vinda de Jesus na sua fase
definitiva, mesmo que esta fase deva durar por centenas e milhares de séculos,
e a segunda certeza é que as declarações de Jesus, urgentes para hoje, restarão
válidas até o fim dos tempos e por, isto, é preciso aguardar, vigiar, estar
atentos. Com relação ao Templo que estava guarnecido com belas pedras e dons,
Jesus afirmou: “De tudo o que estais vendo, dia virá em que não ficará pedra
sobre pedra que não seja derrubada”. Daí a questão posta pelos discípulos sobre
isto: “Quando, pois serão essas coisas, Mestre, e qual o sinal do seu próximo
acontecimento”? Jesus respondeu, não mostrando um sinal preciso, mas dando um
sinal de valor permanente em todo e qualquer tempo de provação: “Tomai cuidado para não serdes desencaminhados”. Depois
São Lucas, quase sem transição abre até o fundo a perspectiva tomando uma palavra
de Jesus no que concerne o fim dos tempos, isto é, haverá fatos terrificantes.
O futuro, porém, pertence a Deus, o único que conhece tudo que acontecerá nos
últimos tempos. Quanto a nós temos o tempo atual para O servir e O amar,
praticando o bem e evitando o mal. Temos o espaço de nosso coração para acolher
a palavra de Jesus e o espaço do mundo para receber com sabedoria suas
mensagens de conversão e de paz. Cumpre trabalhar na construção do templo que é
coração de cada um. É preciso ter a coragem da fé para não se curvar diante das
exigências do mundo e suas ilusões, mas, ao contrário urge testemunhar
fielmente, o amor de Deus, a palavra de Cristo. Aquele que se entregar à prece estará aberto
ao Espírito Santo que lhe dirá o que deve ser feito. O verdadeiro seguidor de Cristo não se curva
às exigências do mundo, mas pratica em plenitude a caridade, amando
verdadeiramente a Deus e ao próximo e nada, assim, tem a temer. É preciso
irradiar total harmonia, dando um autêntico testemunho do Evangelho firmar corajosamente
o princípio de que o amanhã a Deus pertence. É pela perseverança que cada um
obterá sua santificação rumo à eternidade. O seguidor de Cristo, porém, será
sempre um sinal de contradição perante as incongruências de um mundo que se
aparta das verdades eternas. O Reino dos céus estará reservado para os que
lutam contra os inimigos da alma e enfrentam uma bela batalha de ininterrupta fraternidade.
O cristão sabe que não há rosas sem espinhos e o caminho que leva ao céu supõe
muita disposição para poder praticar as virtudes Isto supõe fortaleza interior
afim de enfrentar as dificuldades e vencer as contradições naturais à caminhada
por este mundo. Então, sim, o porvir será sempre encarado com tranquilidade sem
preocupações estéreis. A perseverança no bem é, deste modo, fundamental, mesmo
porque Jesus afirmou: “É pela vossa perseverança que obtereis a vida” (Lc
21,19). Com a força do amor, abraçado à cruz de Jesus, aceitando sempre a vontade
divina que o cristão marcha sereno rumo à eternidade junto de seu Deus. A pobre
vontade humana restará sempre firme, imerso cada um na certeza de um final
feliz. Assim sendo, a perspectiva do fim dos tempos longe de levar a uma
resignação condenável, conduz à paciência de se edificar com fé a própria vida
sem atitudes estoicas e apreensões fúteis no que tange a consumação dos tempos.
A paciência na qual deve viver o cristão o sustem longe de qualquer apreensão
atinente ao fim do mundo, dado que quem ama Jesus tem a garantia da vida
eterna. * Professor no Seminário de
Mariana durante 40 anos.