O
PUBLICANO CONVERTIDO
Côn. José Geraldo Vidigal de
Carvalho*
A Zaqueu, que por mera
curiosidade espreitava Jesus no alto de um sicômoro, é por Ele convertido,
Cristo indo inclusive onde ele morava e lhe disse: “Hoje a salvação entrou
nesta casa. (Lc 19,1-10). Isto é, aliás, o que Ele quer poder dizer cada tarde
nas casas dos que o temem e amam e Lhe oferecem os trabalhos diários. A
salvação que chegou à casa de Zaqueu aconteceu porque, seja como for, ele
estava à procura do Senhor: “Ele procurava ver quem era Jesus”. Por entre os
afazeres de chefe dos coletores de impostos, fatigado do desprezo dos outros, desgostoso
de tantos anos perdidos em fraudar a justiça, ele não tinha uma pretensão senão
uma ideia, uma visão, um nome na sua mente: Jesus. Diante de Jesus ele poderia
se explicar, com Jesus ele poderia recomeçar sua vida. A miséria humana, muito frequentemente,
é ter dito adeus aos recomeços, ou entregando-se à mediocridade, ou deixando de
lado sérios compromissos. Um outro segredo de Zaqueu foi saber reconhecer seus
limites e de agir em consequência. Com sua pequena estatura ele teria podido se
perder na multidão e não veria o célebre galileu. Mas não, a esperança viva o
fez inventivo. Não levou em conta nem mesmo uma atitude ridícula de subir em
uma árvore e sua astúcia acabou sendo recompensada. Transformar nossas
debilidades num desejo de um encontro saudável, oferece forças impensáveis. É
preciso subir em um sicômoro, ser pequenino aos olhos dos outros e não se
deixar paralisar ante tais esforços a serem feitos e não se deixar sem ação ante
as dificuldades. Zaqueu ignorou as fragilidades de seu coração e vai lá até
onde Jesus passaria. Ele não deixou passar a hora de Deus. No cimo da árvore
ele aguarda, ele espera. Ele não previa o que iria acontecer. Eis que Jesus se
aproxima e o olha e diz: “Zaqueu desce depressa é preciso que hoje eu fique na
tua casa”! Não é preciso grandes coisas para que Jesus venha até nós. Basta que
Ele, quando nós o aguardamos, veja o nosso olhar e vislumbre um pequeno ato de fé, de
sinceridade. Isto ainda que o passado seja pesado, o presente doloroso, e o
futuro incerto. E depois? Tudo mais virá da grande bondade divina. O que
importa, dia a dia, e Zaqueu naquele dia o percebeu, é O acolher com alegria e sinceridade
Não pode ser triste coração que recebe Cristo a quem se deve oferecer toda a
nossa vontade de conversão, todas as misérias do nosso coração, todo anseio de
acertar os passos com Deus. Jesus vem a nós procurar o que pode parecer
perdido, nossas misérias que para Ele nunca estão ocultas. Ele quer, porém que
vamos a Ele com absoluta confiança e abramos diante dele nossas mãos arrependidas
e Ele as encherá do júbilo de uma total remissão. Ele indo à casa de Zaqueu não foi para o
honrar um homem rico, mas para transformar o seu coração, para que ele se
convertesse, para o salvar, mudando de vida. Ele vem ao encontro dos pecadores para os converter.
Como ocorreu com Zaqueu, ele quer ser
acolhido com júbilo, sendo recebido o seu amor Jesus deseja prontidão. Ele
então disse s Zaqueu: “Zaqueu desce depressa “E “Ele desceu rapidamente”. Deus
não tolera tergiversações, dubiedades, demoras inúteis. Ele estava no seu interior
desejoso exatamente de algo pessoal da parte de Jesus. Zaqueu reconheceu no seu
interior a grandiosidade da graça recebida. Disse então:” Vê, Senhor, dou aos pobres metade
de meus bens e, se defraudei alguém, em qualquer coisa, vou restituir o
quádruplo”. Ele passava a praticar a beneficência. Jesus, por sua vez, voltando-se
para ele disse: “Hoje salvação veio a esta casa por ser também filho de Abraão.
O Filho do homem veio procurar e salvar o que estava perdido”. Este evangelho
quer nos ensinar que todos os homens e mulheres são objeto da misericórdia de
Deus. Conforme Jesus disse, no céu haverá alegria entre os anjos por causa de
um pecador que venha a se arrepender. Porém, para alcançar a misericórdia é
preciso que nós tenhamos um mínimo de conhecimento daquele que nos pode
oferecê-la e amá-lo COM toda nossa alma. Zaqueu encontrou-se com o próprio
autor do perdão, porque teve a oportunidade de realizar um verdadeiro processo
de conversão. Analisou os próprios erros do passado, prometeu se corrigir e
ajudar principalmente aqueles aos quais, de alguma forma, havia prejudicado. Professor no Seminário de Mariana durante 40
anos.
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