quinta-feira, 27 de outubro de 2022

 

O FIM DOS TEMPOS

Côn. José Gerald Vidigal de Carvalho*

Um capítulo de São Lucas nos leva a meditar o que Jesus fala sobre o futuro (Luc 21,5-19). Ele descreve um futuro longínquo, sua volta no fim dos tempos e todo um conjunto de acontecimentos misteriosos, cuja data fica oculta no segredo do Pai Quando Ele evoca o cenário do fim, Jesus o faz sempre numa linguagem tradicional dos apocalipses e num grande quadro cósmico que engloba o céu e a terra, o sol, a lua e as estrelas. Jesus tem também em vista fatos mais próximos como a ruina do Templo, o julgamento de Jerusalém e retoma as ameaças dos profetas contra a cidade infiel. Enfim, Jesus faz alusão às provas de sua comunidade, às perseguições que sofrerão os discípulos através dos tempo da Igreja. É de se notar que as três perspectivas são estreitamente imbrincadas e, por vezes, indissociáveis, semelhantes a fotografias que se projetam, a saber, diante da última destruição do Templo se perfilam os sinais do fim do mundo, tendo como pano de fundo o julgamento de Jerusalém quando se proclama a vinda do Filho do Homem para julgar os vivos e os mortos. Tudo isto impossível de calcular e inútil querer prever. Entretanto, duas certezas aparecem claramente: a primeira é que a história do mundo entrou com a vinda de Jesus na sua fase definitiva, mesmo que esta fase deva durar por centenas e milhares de séculos, e a segunda certeza é que as declarações de Jesus, urgentes para hoje, restarão válidas até o fim dos tempos e por, isto, é preciso aguardar, vigiar, estar atentos. Com relação ao Templo que estava guarnecido com belas pedras e dons, Jesus afirmou: “De tudo o que estais vendo, dia virá em que não ficará pedra sobre pedra que não seja derrubada”. Daí a questão posta pelos discípulos sobre isto: “Quando, pois serão essas coisas, Mestre, e qual o sinal do seu próximo acontecimento”? Jesus respondeu, não mostrando um sinal preciso, mas dando um sinal de valor permanente em todo e qualquer tempo de provação: “Tomai cuidado para não serdes desencaminhados”. Depois São Lucas, quase sem transição abre até o fundo a perspectiva tomando uma palavra de Jesus no que concerne o fim dos tempos, isto é, haverá fatos terrificantes. O futuro, porém, pertence a Deus, o único que conhece tudo que acontecerá nos últimos tempos. Quanto a nós temos o tempo atual para O servir e O amar, praticando o bem e evitando o mal. Temos o espaço de nosso coração para acolher a palavra de Jesus e o espaço do mundo para receber com sabedoria suas mensagens de conversão e de paz. Cumpre trabalhar na construção do templo que é coração de cada um. É preciso ter a coragem da fé para não se curvar diante das exigências do mundo e suas ilusões, mas, ao contrário urge testemunhar fielmente, o amor de Deus, a palavra de Cristo.  Aquele que se entregar à prece estará aberto ao Espírito Santo que lhe dirá o que deve ser feito.  O verdadeiro seguidor de Cristo não se curva às exigências do mundo, mas pratica em plenitude a caridade, amando verdadeiramente a Deus e ao próximo e nada, assim, tem a temer. É preciso irradiar total harmonia, dando um autêntico testemunho do Evangelho firmar corajosamente o princípio de que o amanhã a Deus pertence. É pela perseverança que cada um obterá sua santificação rumo à eternidade. O seguidor de Cristo, porém, será sempre um sinal de contradição perante as incongruências de um mundo que se aparta das verdades eternas. O Reino dos céus estará reservado para os que lutam contra os inimigos da alma e enfrentam uma bela batalha de ininterrupta fraternidade. O cristão sabe que não há rosas sem espinhos e o caminho que leva ao céu supõe muita disposição para poder praticar as virtudes Isto supõe fortaleza interior afim de enfrentar as dificuldades e vencer as contradições naturais à caminhada por este mundo. Então, sim, o porvir será sempre encarado com tranquilidade sem preocupações estéreis. A perseverança no bem é, deste modo, fundamental, mesmo porque Jesus afirmou: “É pela vossa perseverança que obtereis a vida” (Lc 21,19). Com a força do amor, abraçado à cruz de Jesus, aceitando sempre a vontade divina que o cristão marcha sereno rumo à eternidade junto de seu Deus. A pobre vontade humana restará sempre firme, imerso cada um na certeza de um final feliz. Assim sendo, a perspectiva do fim dos tempos longe de levar a uma resignação condenável, conduz à paciência de se edificar com fé a própria vida sem atitudes estoicas e apreensões fúteis no que tange a consumação dos tempos. A paciência na qual deve viver o cristão o sustem longe de qualquer apreensão atinente ao fim do mundo, dado que quem ama Jesus tem a garantia da vida eterna. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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