CRISTO REI DO UNIVERSO
Côn.
José Geraldo Vidigal de Carvalho*
No tempo de Jesus,
quando se levava um homem ao suplício, em todo o percurso até o lugar da
execução, o condenado levava um
letreiro com letras bem visíveis dizendo o motivo do castigo. Eis o que se
pode ler, fixado sobre a cruz de Cristo “Rei dos Judeus”. Ora nesta mesma época
a região denominada Palestina não estava sem rei. Eram aliás dois: Herodes Antipas na Galileia e na Transjordânia, e Felipe
em Golan. Apenas a Judéia com Jerusalém era controlada diretamente pelo
procurador romano. Se os juízes de Jesus,
em particular o romano, o haviam podido
reter contra Ele esta anotação política “ele
quis se fazer rei” é que espontaneamente
durante a vida pública de Jesus muitos,
sobretudo entre o povo haviam
reconhecido nele o Messias aguardado por Isael e, na verdade, um Messias Rei . Esperava-se que Jesus tomaria
em mãos os destinos políticos do paíz, ele que havia alimentado uma multidão, multiplicando os pães num local
deserto. Esperava-se que afastaria o
jugo do ocupante e daria novamente a independência a seu povo. Jesus não acreditava nestas manifestações,
nem no que seria colocado sobre a
cruz. Messias, filho de Davi, ele o era
de fato, Messias o enviado de Deus, mas
não queria que o assimilassem aos reis terrestres. Eis porque no decorrer de seu
processo Ele respondera a Pilatos: “Meu reino não é deste mundo” (Jo 18,36). A
cena da crucifixão nos permite mesurar também a esperança que Jesus havia
suscitado; e o desapontamento da multidão
diante de um Messias crucificado. São Lucas nos descreve grupos de homens perto da cruz: os chefes judeus que
ironizavam: os soldados romanos que
zombavam; o povo que O olhava; Maria,
mãe do crucificado, João evangelista e outros fiéis. Jesus na cruz era bem, com diz São Paulo, “um escândalo
para os judeus e uma loucura para
os pagãos” (1 Cor 1,23). Dois malfeitores estavam crucificados com Jesus sendo que um fazia coro com os zombadores . As contestações traziam referência ao verbo salvar, em
ligação com o nome Messias, (Cristo) ou rei: “ Ele salvou os outros, que salve
a si mesmo, se é o Cristo, o Eleito”; “ se és
o rei dos judeus, salve-te a ti mesmo” “ Não és o Cristo? Salva-te a ti
mesmo e a nós”. Sem o saber estes homens que desafiavam Jesus nos orientam para o essencial do mistério de seus sofrimentos e de sua morte. Jesus não quer se salvar da
cruz, porque ele queria nos salvar pela cruz, pelo amor que Ele tem a seu Pai
sobre a cruz. Porque é o amor que traz a salvação e não o sofrimento por si mesmo. Nós temos lá diante de Jesus sofredor
uma luz que esclarece nosso próprio destino e o destino de todos aqueles que
nós amamos. Jesus não nos salva da cruz, de nossa cruz, mas Ele nos salva pela
sua cruz, pelo amor que Ele nos provou
ter sobre a cruz e Ele nos oferece a
oportunidade de nossa parte fazer de nossa cruz uma prova de amor. Ele
mesmo afirmou: “Aquele que quer me seguir, tome sua cruz e me siga”. Qual é
nossa cruz? É o real de nossa existência, o cotidiano de nossas vidas, todas as
grandes provas das tribulações, tudo que devemos suportar para ficar fiéis a Deus e servir Jesus nos
irmãos, enfim tudo que nós assumimos por amor, para melhor reproduzir a imagem
di do Filho de Deus. Ele a nos dizer : “Toma tua cruz de teu combate para demonstrar uma autenticidade cristã, a
cruz de teu esforço de caridade, a cruz
das preocupações com o apostolado, tudo isto por amor. É deste modo que nossa
vida deve ser imolada a Cristo, Rei do universo e vivida em função do soberano enviado pelo Pai. Nossa
vida já não nos pertence, mas àquele que por nós morreu e ressuscitou como
primeiro entre os mortos. Este é o
destino pascal inscrito já no nosso
batismo, fundamento de todos os filhos de Deus, leigos ou consagrados¸ crianças,
jovens ou adultos. É no cotidiano que se
adere à vontade do Pai e se dá um encontro maravilhoso com a cruz deste Rei singular,
É no dia a dia que se diz a Deus que nós
O amamos.. Trata-se de uma dileção e uma alegria cristãs. É em nossa vida de
todos os dias que Cristo Rei, o Messias quer ser nosso soberano, porque Ele
quer ser rei antes de tudo dos corações livres e sinceros. Sua realeza
não é deste mundo, ela não se apoia em
estruturas políticas, ela não se impõe pela força nem pela subserviência das
consciências. A realeza de Jesus é o
brilho universal de sua palavra, é a iluminação
de cada coração dos que creem, é o
incêndio da caridade até os confins da
terra, a começar pelo incêndio de nosso
coração, onde tudo deve receber o fogo da imolação para glória de Deus e
salvação do mundo * Professor no Seminário
de Mariana durante 40 anos .
Nenhum comentário:
Postar um comentário