quinta-feira, 10 de novembro de 2022

 

CRISTO REI DO UNIVERSO

Côn. José Geraldo  Vidigal de Carvalho*

 No tempo de Jesus, quando se levava um homem ao suplício, em todo o percurso até o lugar da execução, o condenado levava  um letreiro  com letras bem visíveis  dizendo o motivo do castigo. Eis o que se pode ler, fixado sobre a cruz de Cristo “Rei dos Judeus”. Ora nesta mesma época a região denominada Palestina não estava sem rei. Eram aliás dois: Herodes  Antipas na Galileia e  na Transjordânia,   e Felipe  em Golan. Apenas a Judéia com Jerusalém era controlada diretamente pelo procurador romano. Se os juízes de Jesus,  em particular o romano, o haviam podido  reter contra Ele esta anotação  política  “ele  quis se fazer rei” é que espontaneamente  durante a vida pública de Jesus muitos,  sobretudo entre o povo  haviam reconhecido nele o Messias aguardado por Isael e, na verdade,  um Messias Rei . Esperava-se que Jesus tomaria em mãos os destinos políticos do paíz, ele que havia alimentado  uma multidão, multiplicando os pães num local deserto. Esperava-se que afastaria  o jugo do ocupante e daria novamente a independência  a seu povo. Jesus não acreditava nestas manifestações, nem no que seria colocado  sobre a cruz.  Messias, filho de Davi, ele o era de fato, Messias o  enviado de Deus, mas não queria que o assimilassem aos reis terrestres. Eis porque no decorrer de seu processo Ele respondera a Pilatos: “Meu reino não é deste mundo” (Jo 18,36). A cena da crucifixão nos permite mesurar também a esperança que Jesus havia suscitado; e o desapontamento   da multidão diante de um Messias crucificado. São Lucas nos descreve   grupos  de homens perto da cruz: os chefes judeus que ironizavam:   os soldados romanos que zombavam;  o povo que O olhava; Maria, mãe do crucificado, João evangelista e outros fiéis. Jesus na cruz  era bem, com diz São Paulo,  “um escândalo  para os judeus  e uma loucura para os pagãos” (1 Cor 1,23). Dois malfeitores estavam  crucificados com Jesus  sendo que um fazia coro com  os zombadores .  As contestações  traziam referência ao verbo salvar, em ligação com o nome Messias, (Cristo) ou rei: “ Ele salvou os outros, que salve a si mesmo, se é o Cristo, o Eleito”; “ se és  o rei dos judeus, salve-te a ti mesmo” “ Não és o Cristo? Salva-te a ti mesmo e a nós”. Sem o saber estes homens que desafiavam Jesus  nos orientam para o essencial do mistério  de seus sofrimentos  e de sua morte. Jesus não quer se salvar da cruz, porque ele queria nos salvar pela cruz, pelo amor que Ele tem a seu Pai sobre a cruz. Porque é o amor que traz a salvação e não o sofrimento por  si  mesmo. Nós temos lá diante de Jesus sofredor uma luz que esclarece nosso próprio destino e o destino de todos aqueles que nós amamos. Jesus não nos salva da cruz, de nossa cruz, mas Ele nos salva pela sua cruz, pelo amor  que Ele nos provou ter sobre  a cruz e Ele nos oferece a oportunidade  de nossa parte  fazer de nossa cruz uma prova de amor. Ele mesmo afirmou: “Aquele que quer me seguir, tome sua cruz e me siga”. Qual é nossa cruz? É o real de nossa existência, o cotidiano de nossas vidas, todas as grandes provas das tribulações, tudo que devemos suportar  para ficar fiéis a Deus e servir Jesus nos irmãos, enfim tudo que nós assumimos por amor, para melhor reproduzir a imagem di do Filho de Deus. Ele a nos dizer : “Toma tua cruz de teu combate  para demonstrar uma autenticidade cristã, a cruz  de teu esforço de caridade, a cruz das preocupações com o apostolado, tudo isto por amor. É deste modo que nossa vida deve ser imolada a Cristo, Rei do universo e vivida  em função do soberano enviado pelo Pai. Nossa vida já não nos pertence, mas àquele que por nós morreu e ressuscitou como primeiro  entre os mortos. Este é o destino pascal  inscrito já no nosso batismo, fundamento de todos os filhos de Deus, leigos ou consagrados¸ crianças, jovens ou adultos. É no cotidiano  que se adere à vontade do Pai e se dá um encontro maravilhoso com a cruz deste Rei singular, É no dia a dia que  se diz a Deus que nós O amamos.. Trata-se de uma dileção e uma alegria cristãs. É em nossa vida de todos os dias que Cristo Rei, o Messias quer ser nosso soberano, porque  Ele  quer ser rei antes de tudo dos corações livres e sinceros. Sua realeza não é deste mundo,  ela não se apoia em estruturas  políticas, ela não se  impõe pela força nem pela subserviência das consciências. A realeza de Jesus  é o brilho universal de sua  palavra, é a iluminação de cada coração  dos que creem, é o incêndio  da caridade até os confins da terra, a  começar pelo incêndio de nosso coração, onde tudo deve receber o fogo da imolação para glória de Deus e salvação do mundo * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos .

 

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