segunda-feira, 14 de novembro de 2022

 


IMACULADA CONCEIÇÃO

  Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

A glória de Maria procede de sua dignidade de Mãe de Jesus Cristo, mas
esta prerrogativa outorgou a ela outros privilégios, de sorte que em
redor do título de Genitora do Filho de Deus Encarnado florescem todas
as perfeições que nela contemplamos. Entre os privilégios desta mulher
singular fulge a Imaculada Conceição, ou seja, a isenção do pecado
original no mesmo momento em que a sua alma foi criada e unida ao
corpo. Todos nós nascemos privados da graça santificante, da pureza
primitiva, da amizade de Deus. Ela, porém, foi pura, imaculada, como
outrora nossos primeiros pais no paraíso terrestre. Eles desobedeceram
a Deus, perderam sua amizade e nos legaram o pecado original.  Para a
Rainha das Virgens, entretanto, tudo é luz.  Ela entrou no mundo
destinada a ser a progenitora do Redentor da humanidade, brilhando com
todos os esplendores da divindade de Cristo a quem conceberia pelo
poder do Espírito Santo. Eis porque todas as belas-artes, cujo ideal é
a beleza sem mancha e sem defeitos, inclinaram-se diante da Virgem
imaculada, prestando-lhe homenagens, proclamando-a a sua rainha e
procurando reproduzir lhe os traços nos mais primorosos trabalhos
humanos. Foi a beleza imaculada de Maria que arrancou do gênio de
Rafael as suas Madonas, do pincel de Murilo as suas Conceições, da
virtude de Fra-Angélico as suas Virgens. Foi a beleza imaculada de
Maria que fez vibrar a alma de Mozart e de Gounod, entoando a
“Ave-Maria”; foi a beleza imaculada de Maria que guiou o buril dos
artistas na pureza das linhas, na graciosidade dos contornos, na
harmonia do conjunto dessas estátuas que fazem o encanto de nossas
igrejas e o ornamento das nossas cidades. Foi a beleza imaculada de
Maria que fascinou e encantou o coração da humanidade, a ponto de
reformar os seus costumes e de purificar os seus sentimentos; foi a
beleza imaculada de Maria que suscitou através dos tempos as virgens
cristãs em sua radiante pureza e na sublimidade do seu heroísmo. Foi
quem depositou na fronte de nossas mães a modéstia, a graça, uma doce
majestade que são ao mesmo tempo a honra, a segurança e a felicidade
da família. Ela é a cheia de graça, a bendita entre todas as mulheres.
Na vida de Maria Santíssima não houve um só momento em que ela
estivesse sujeita ao pecado, e esta crença universal de todos os
séculos cristãos foi solenemente proclamada dogma de fé a 8 de
dezembro de 1854 pelo Papa Pio IX: «Declaramos que a Bem-aventurada
Virgem Maria, desde o primeiro instante de sua concepção, por uma
graça especial e um privilégio do Altíssimo, em vista dos méritos de
Jesus Cristo, o Salvador da raça humana, foi preservada da mancha do
pecado original». Este privilégio excepcional, esta glória sem igual,
lhe vieram unicamente dos merecimentos infinitos do Verbo de Deus que
em seu seio se encarnou, para redimir o gênero humano. Como a nuvem da
tarde reveste-se de púrpura e de luz, refletindo os últimos raios
solares, quando o astro do dia vai desaparecendo no horizonte, assim
Maria, recebendo a eficácia dos méritos do Redentor, apareceu na terra
iluminada e foi sempre pura, santa, sem mancha original. Jesus é
realmente o Deus feito Homem e, por conseguinte, a humanidade lhe é
tão necessária como a divindade. Maria entrou nos planos salvíficos do
Ser Supremo. O sangue que correu nas veias do Cristo procedeu da vida
de Maria, e a fonte desse sangue não poderia ser impura, o princípio
dessa vida não poderia ser manchado. A Virgem santa, que apresenta ao
mundo o vencedor do pecado, não deveria estar um instante sequer sob a
lei do pecado. Aquela por cujo intermédio a graça divina derrama-se
sobre a criatura não viveria, ainda que um só momento, fora da graça.
A desonra materna tornar-se-ia a ignomínia do Filho, e ainda que
Cristo destruísse o império do pecado, haveria sempre uma sombra em
sua glória, pois antes de ser o vencedor do mal, não teria podido
vencer o mal em sua santa Mãe, e a graça, que tudo purifica, teria
sido impotente na Conceição de Maria. Não nos basta, porém, recordar
toda a grandeza da Virgem Imaculada. Cumpre imitar sua pureza sem
mancha numa pugna constante contra tudo que possa conspurcar a alma
numa fuga perseverante das ocasiões de pecado, das novelas imorais,
dos sites pornográficos, enfim de tudo que a mídia sob inspiração do
Maligno oferece para perdição eterna. Observância total, absoluta do
sexto e do nono mandamentos sagrados da Lei de Deus. Por isto, o
cristão está sempre a repetir: “O Maria concebida sem pecado original,
rogai a Deus por nós que recorremos a vós”! * Professor no Seminário
de Mariana durante 40 anos.

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