CONVERTEI-VOS
Côn. Jose ‘Geraldo Vidigal de
Carvalho*
Ao aproximarmos
do Natal, Deus nos leva ao deserto para aí escutar o apelo do Precursor, um
novo convite à conversão (Mt 3,1-12), Mateus começa sua narrativa da vida
pública de Jesus descrevendo o ministério de João Batista: “Naqueles dias
apareceu João Batista que proclama no deserto da Judéia: “Convertei-vos que está próximo o reino dos céus”. A insistência
está colocada em sua mensagem e é em seguida somente nos versículos 7 a 13 é que São Mateus
falará de seu batismo. Paradoxalmente, João escolheu para pregar no deserto junto
de colinas áridas batidas por um sol intenso, local que convidava à solidão e ao
recolhimento interior. Era situado a
alguns quilômetros de Jerusalém. João não se colocou nas praças das cidades ou
nas grandes encruzilhadas onde as pessoas são forçadas a passar. Ele preferiu o
deserto. Deste modo, todos aqueles que desejassem ouvi-lo deveriam procurar um
caminho e deixar de lado qualquer comodidade. É que a linguagem de João é de
austeridade e do esforço: “Convertei-vos”. Proclama ele. Tratava-se de um
programa de vida espiritual. Isto porque a conversão não é somente uma mudança
de mentalidade, mas, sim, de toda uma caminhada para Deus. Imagina-se que a
conversão é um instante privilegiado numa existência, mas é, porém, muito mais
que isto. É toda uma vida que recomeça a partir de um momento de reencontro. A conversão
é um rumo a ser adotado. Um retorno, certamente, mas sobretudo um retorno que
deve durar a vida toda. Não se trata de algo passageiro que conduz o ser humano
a refletir sobre si mesmo ou sobre suas faltas, mas uma peregrinação de amor
que leva o homem para Alguém, para aquele que chama para o Reino de Deus, ou seja,
para o Deus que oferece a paz e a alegria. Se há conversão é porque “o Reino de
Deus está próximo”. O Reino de Deus, ou
seja, o Reino dos céus, é o estabelecimento na terra da autoridade soberana do
Ser Supremo, a realização de seu plano de salvação. Este Reino de Deus nos
atrai, dirá Jesus (Mt 12,28), porque é lá que se encontra o Messias, que se
tornou próximo de nós para sempre. É o encontro com o Enviado de Deus,
pessoalmente, em casa, na fraternidade, na comunidade, é a grande empreitada de
uma vida, é o momento que não se pode perder, é o caminho que não se deve
abandonar. Depois de haver resumido a mensagem do Batista, São Mateus para um
instante sobre sua personalidade fora de série e o seu papel na história da
salvação. O alimento de João Batista eram gafanhotos e mel silvestre numa
sobriedade admirável. Quanto a vestimenta era -uma túnica de pelos de camelo e
um cinto em volta dos rins, lembrando Elias (Rãs 1,8) e sua simplicidade, por
seu modo de vestir pois sua intenção era colocar toda sua vida no rastro do
grande profeta de Javé. O Evangelista Mateus aliás inseriu explicitamente o Batista na linha dos
grandes profetas: “Este João é aquele
do qual falou o Profeta Isaias: “No deserto
uma voz clama: preparai o caminho do Senhor, endireitai suas veredas (Si 40,3)
Como o Profeta que anuncia o retorno dos deportados no século 6º. antes de Cristo, João inaugurava
os tempos novos. Deus por Jesus vai livrar seu povo de toda escravidão. Depois
São Mateus retorna à mensagem do Batista e, especialmente, à sua severidade
para com os Fariseus e os Saduceus: “!
Raça de víboras”, e de novo diz “Vós não produzis senão obras de morte”. É
certo que eles chegam em grande número, mas João não desejava que recebessem o
batismo por esnobismo. Ele era claro:” Produzi um fruto que exprime vossa conversão”.
Deus, com efeito não se contentará com simples sentimentos nem com práticas
puramente exteriores: Ele quer atos concretos, que envolvam o homem todo
inteiro. A fé mesma deve se purificar de toda a procura de comodidade. “Não
digais a vós mesmos: Temos Abraão por pai!”. Segundo a doutrina judia corrente,
Israel usufruía os méritos de Abraão, mas, para o Batista, contar sobre estes méritos
seria simplesmente ainda se apoiar sobre um privilégio religioso, A conversão
seria incompleta. Os verdadeiro filhos de Abraão são todos aqueles, Israelitas
ou não, que imitam sua fé e seu engajamento total no projeto de Deus. Através
dos Fariseus e dos Saduceus, é nós que somos tomados a parte pelo Precursor.
Porque nós também somos ameaçados pela
rotina e nossos retornos ao Senhor ficam frequentemente algo passageiro. *
Professor no Seminário de Mariana durante
40 anos.
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