quarta-feira, 16 de novembro de 2022

 

 CONVERTEI-VOS

Côn. Jose ‘Geraldo Vidigal de Carvalho*

Ao aproximarmos do Natal, Deus nos leva ao deserto para aí escutar o apelo do Precursor, um novo convite à conversão (Mt 3,1-12), Mateus começa sua narrativa da vida pública de Jesus descrevendo o ministério de João Batista: “Naqueles dias apareceu João Batista que proclama no deserto da Judéia: “Convertei-vos   que está próximo o reino dos céus”. A insistência está colocada em sua mensagem e é em seguida somente   nos versículos 7 a 13 é que São Mateus falará de seu batismo. Paradoxalmente, João escolheu para pregar no deserto junto de colinas áridas batidas por um sol intenso, local que convidava à solidão e ao recolhimento interior.  Era situado a alguns quilômetros de Jerusalém. João não se colocou nas praças das cidades ou nas grandes encruzilhadas onde as pessoas são forçadas a passar. Ele preferiu o deserto. Deste modo, todos aqueles que desejassem ouvi-lo deveriam procurar um caminho e deixar de lado qualquer comodidade. É que a linguagem de João é de austeridade e do esforço: “Convertei-vos”. Proclama ele. Tratava-se de um programa de vida espiritual. Isto porque a conversão não é somente uma mudança de mentalidade, mas, sim, de toda uma caminhada para Deus. Imagina-se que a conversão é um instante privilegiado numa existência, mas é, porém, muito mais que isto. É toda uma vida que recomeça a partir de um momento de reencontro. A conversão é um rumo a ser adotado. Um retorno, certamente, mas sobretudo um retorno que deve durar a vida toda. Não se trata de algo passageiro que conduz o ser humano a refletir sobre si mesmo ou sobre suas faltas, mas uma peregrinação de amor que leva o homem para Alguém, para aquele que chama para o Reino de Deus, ou seja, para o Deus que oferece a paz e a alegria. Se há conversão é porque “o Reino de Deus está próximo”.  O Reino de Deus, ou seja, o Reino dos céus, é o estabelecimento na terra da autoridade soberana do Ser Supremo, a realização de seu plano de salvação. Este Reino de Deus nos atrai, dirá Jesus (Mt 12,28), porque é lá que se encontra o Messias, que se tornou próximo de nós para sempre. É o encontro com o Enviado de Deus, pessoalmente, em casa, na fraternidade, na comunidade, é a grande empreitada de uma vida, é o momento que não se pode perder, é o caminho que não se deve abandonar. Depois de haver resumido a mensagem do Batista, São Mateus para um instante sobre sua personalidade fora de série e o seu papel na história da salvação. O alimento de João Batista eram gafanhotos e mel silvestre numa sobriedade admirável. Quanto a vestimenta era -uma túnica de pelos de camelo e um cinto em volta dos rins, lembrando Elias (Rãs 1,8) e sua simplicidade, por seu modo de vestir pois sua intenção era colocar toda sua vida no rastro do grande profeta de Javé. O Evangelista Mateus aliás inseriu   explicitamente o Batista na linha dos grandes profetas: “Este João   é aquele do qual falou o Profeta Isaias: “No deserto uma voz clama: preparai o caminho do Senhor, endireitai suas veredas (Si 40,3) Como o Profeta que anuncia o retorno dos deportados   no século 6º. antes de Cristo, João inaugurava os tempos novos. Deus por Jesus vai livrar seu povo de toda escravidão. Depois São Mateus retorna à mensagem do Batista e, especialmente, à sua severidade para com os   Fariseus e os Saduceus: “! Raça de víboras”, e de novo diz “Vós não produzis senão obras de morte”. É certo que eles chegam em grande número, mas João não desejava que recebessem o batismo por esnobismo. Ele era claro:” Produzi um fruto que exprime vossa conversão”. Deus, com efeito não se contentará com simples sentimentos nem com práticas puramente exteriores: Ele quer atos concretos, que envolvam o homem todo inteiro. A fé mesma deve se purificar de toda a procura de comodidade. “Não digais a vós mesmos: Temos Abraão por pai!”. Segundo a doutrina judia corrente, Israel usufruía os méritos de Abraão, mas, para o Batista, contar sobre estes méritos seria simplesmente ainda se apoiar sobre um privilégio religioso, A conversão seria incompleta. Os verdadeiro filhos de Abraão são todos aqueles, Israelitas ou não, que imitam sua fé e seu engajamento total no projeto de Deus. Através dos Fariseus e dos Saduceus, é nós que somos tomados a parte pelo Precursor. Porque nós também somos   ameaçados pela rotina e nossos retornos ao Senhor ficam frequentemente algo passageiro. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário