quinta-feira, 24 de novembro de 2022

 

56 A CAMINHADA DE SÃO JOSÉ

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho

Professamos no Credo que Jesus “foi concebido por uma ação única do Espírito Santo e nasceu da Virgem Maria”. Esta afirmação nos coloca na linha direta da primeira e da segunda gerações cristãs através das narrativas de São Mateus (1, 18-24) e de São Lucas. Lucas viu os acontecimentos sobretudo sob o ponto de vista de Maria e Mateus do ponto de vista de São José, e esta convergência não é profundamente significativa, mas nos leva ao seio mesmo da tradição primitiva. É evidente que gostaríamos de mais detalhes. No Antigo Testamento Deus se serve de casais estéreis para realizar seu plano, mas seguindo os processos ordinários da natureza. Porque neste caso de José e Maria não procedeu da mesma maneira? Somente Deus o sabe, Cabe a nós aceitar o plano divino. São Mateus não penetrou fundo na psicologia de São José, mas quis esclarecer teologicamente os fatos e deles tirar uma espécie de catequese para seus leitores, os cristãos vindos do mundo judaico. Sua narrativa sublinha duas ideias principais: “Jesus vem ao mundo na linhagem de Davi”, respondendo deste modo à expectativa de seu povo, e Ele o faz por intermédio de José que O adotou como filho. No que concerne a Jesus assim  Ele é dito que veio ao mundo na grande família de Abraão, descendente do rei Davi e deste modo  se expressa: “Matã gerou  Jacó, Jacó gerou José o esposo de Maria, da qual nasceu Jesus, chamado o Messias” (Mt 1,15-16)  São Paulo nos confirma isto a sua maneira: Ele nasceu da raça de Davi e desde a aurora do cristianismo, na comunidade  na qual ensinava São Mateus, reconhecia  em Jesus, nascido de Maria, o Messias , isto é, o Eleito de Deus, repleto do Espírito Santo para realizar sua missão no meio dos homens. O nome que recebeu aquele menino esperado por Maria é pleno de significado.  No Antigo Testamento o nome indica o que é e o que deve fazer um ser racional nos desígnios de Deus. É um resumo da pessoa e um programa de vida. Este Jesus que devia nascer seria “o Senhor que salva” e Ele seria aquele que libertaria seu povo de seus pecados, ou seja, a libertação de ordem moral e espiritual, e toda a libertação que, operada por Cristo, devia   promover a restauração da relação entre o homem e Deus. Libertação universal que se estenderia não somente ao povo da antiga aliança, mas a todos aqueles que pela fé se tornassem filhos de Abraão. O título Emanuel vem completar este retrato teológico do Filho de Maria. Ele vem do profeta Isaias e constitui, ele também, um programa, uma missão. Este Jesus seria “Deus conosco”, Deus presente na história dos homens que Ele veio remir, Deus caminhando com os homens para os reconciliar com Ele. Este título Emanuel Jesus o reivindicará solenemente no momento de deixar seus discípulos e depois de os ter enviado a todas as nações: “Eis que eu estarei convosco até o fim do mundo”. Entretanto, este Jesus que entra assim na missão de Messias na história do povo de Deus é por meio de São José que isto se dá. José que O adota legalmente como filho e este o outro. ponto sobre o qual São Mateus insiste. José era o homem justo. Justo no sentido bíblico, ou seja, alguém que acreditava e era coerente com sua fé, um homem disposto pela sua santidade a entrar no desígnio de Deus, seja qual fosse, um homem justo, porque totalmente “ajustado” ao querer divino. José sabia a importância que tinha a Lei para ele, e também que um fracasso perante a Lei teria terríveis consequências para Maria e o Menino; ele sabia a importância do querer de Deus. Ele decidira pela solução a mais discreta, a mais próxima do plano divino, simplesmente abandonando Maria, cuja gravidez ele inovava. Deus que estava já agindo pelo Espírito Santo na existência de Maria, interveio paralelamente na vida de José e lhe descore o essencial de seu plano. José imediatamente dá rumo certo a sua trajetória e recebe Maria como sua esposa e vai ter assim um papel importantíssimo nos desígnios divinos.  No fundo a grande força de São José foi acolher a iniciativa de Deus.  É nisto sobretudo que ele intimamente estava de acordo no que Maria vivia. Eis porque São José contesta nossas lentidões, nossas reticências e vem nos revelar que nunca devemos fazer de Deus um nosso satélite e de O colocar a nosso serviço. Diante da vontade divina cumpre jamais duvidar. Admiremos ainda a discrição de São José e a imitemos sempre. A discrição foi para São José uma forma heroica de adesão aos planos de Deus. Diante das situações aflitivas e até desesperadoras jamais reagir com agressividade e intransigência, mas saibamos sempre imitar o estilo da conduta de São José. Nada de gerar rupturas, incompreensões. Em tudo é preciso paciência, muita paciência, reanimarmos a nós mesmos e reanimar os outros, dispostos a acatar a vontade de Deus.  Ficar sereno nas tensões sejam elas quais forem. Agir sempre cristãmente, confiantes em Deus. Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos

 

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