quinta-feira, 28 de junho de 2012

A RELIGIOSIDADE HUMANA

                     A RELIGIOSIDADE HUMANA
                                 Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
O novo Catecismo da Igreja Católica mostra como o homem tem um desejo profundo de Ser Supremo. Este anelo está “inscrito no coração humano, por que o ser racional foi criado por Deus e para Deus. Deus não cessa de atrair o homem para Ele e é somente em Deus que o homem encontrará a verdade e a felicidade que não cessa de procurar. O aspecto mais sublime da dignidade humana se encontra nesta vocação de cada um em se comunicar com Deus”. Daí a importância vital da elevação da mente ao Criador quer em particular, quer em comunidade. A religião é, realmente, o laço poderoso e necessário que une o homem ao Ente Necessário. É a luz que projeta viva claridade sobre a verdade das coisas criadas e sobre os mistérios da vida futura. É o único sustentáculo dos bons costumes, da moral e da virtude.  O sentimento religioso envolve os atos da vida particular e tende a se manifestar publicamente. É lógico que as paixões desregradas sufocam este direcionamento para o Criador e reprimem a religiosidade inata na alma que se deixa então dominar pela ilusão terrena e pelo efêmero. Muitos criam ídolos que não podem oferecer eutimia, mas que se tornam um substitutivo falaz daquele que é a fonte da autêntica felicidade. Aqueles, contudo, que ultrapassam a barreira do material se entregam a práticas religiosas, a um culto interior e público ao Senhor do Universo. Não há meio mais forte e eficaz para solidificar a sociedade do que poder contar com pessoas tementes a Deus. A religião forma bons cidadãos e concorre para a harmonia e o respeito  das normas oferecidas pelas legítimas autoridades civis, mesmo porque já dizia São Paulo: “Toda autoridade vem de Deus” (Rm 13,1). Fora desta concepção religiosa reina a tirania por parte dos governantes e a desordem popular. Por tudo isto, cumpre incentivar o culto público a Deus nos quais os fiéis se irmanam e passam a lutar para comunidades bem estruturadas. Foi o que aconteceu no início do cristianismo quando os pagãos admirados diziam: “Vejam como eles se amam”  (Tertuliano Apolog. 39).  Através dos tempos as assembléias religiosas dos discípulos de Cristo se tornaram uma escola de virtudes para todas as classes sociais e para todas as idades. Como é belo no domingo, o dia do Senhor, ver os fiéis reunidos para escutar a palavra de Deus e prestar ao Ser Supremo a melhor de todas as homenagens por Cristo, em Cristo e com Cristo no momento sublime do Santo Sacrifício da Missa. Durante estas celebrações todas as virtudes são ensinadas. O pobre aprende a ser paciente, o rico a ser misericordioso, o ancião a santificar o resto de sua vida, o jovem a desconfiar das ilusões de sua idade, a criança a procurar desde cedo as veredas dos verdadeiros valores. Aí  se exalta  o que é bom, o que é honesto. Forma-se o bom pai, o bom filho, o bom irmão, o bom amigo. É incentivado tudo o que preserva a paz doméstica e faz florescer os bons costumes no meio das famílias. A semente da verdade é lançada e, em tempo oportuno, passa a produzir frutos. Brilham ensinamentos que tornam os pais mais vigilantes, os esposos mais unidos, os filhos mais respeitosos, os funcionários mais dedicados, os empregadores mais justos. Importantes são, outrossim, os demais momentos, quando grupos de pessoas piedosas se reúnem para rever sua vida cristã e para se entregarem à oração. Num concerto unânime de vozes a alma sobe naturalmente até o trono divino. Reunidos os discípulos de Cristo em preces comunitárias, o amor faz esquecer as discórdias, a vingança e as emulações e todos se sentem filhos do mesmo Deus, irmãos da mesma família. É evidente que o culto público leva naturalmente o seguidor de Cristo a fazer também suas preces individuais segundo o conselho do Mestre divino: “Mas tu, quando orares, entra no teu quarto, fecha a tua porta, ora a teu Pai, que vê o que está oculto; e teu Pai, que vê o que está oculto, te recompensará” (Mt 6, 6). Deste modo, Jesus mostrou o valor imenso da prece individual. Ele, porém, também ensinou que se deve rezar comunitariamente: “Quando dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estarei no meio deles” (Mt 18,20). A oração é, deste modo, a essência mesma da religiosidade humana. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.



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