JESUS, DEUS E HOMEM VERDADEIRO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Desde toda eternidade a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade possui a natureza divina. Ao se encarnar no seio da Virgem Maria ele assumiu também a natureza humana. São João assim se expressou: “O Verbo de Deus se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1,14). Deste modo há um só Cristo, um só Filho de Deus, um só Senhor. Por causa da união das duas naturezas, divina e humana, em Cristo adoramos o corpo sagrado do Salvador por causa da divindade de sua pessoa. Ele o Redentor, verdadeiro homem concebido do Espírito Santo e nascido da Virgem Maria, sendo Deus, merece o culto de latria, de adoração. São Paulo assim se expressou: “Ao nome de Jesus, todo joelho Se dobre nos céus, na terra, e abaixo da terra, e toda a língua proclame que Jesus Cristo é o Senhor para glória de Deus Pai” (Fl 2,10-11). A humanidade de Cristo jamais pode ser pensada separada da pessoa divina à qual está unida, de sorte que devemos à essa humanidade assumida pelo Filho de Deus o mesmo culto de adoração que devemos ao Pai e ao Espírito Santo. A natureza humana e a natureza divina da pessoa do Verbo são inseparáveis. Num momento de pulcra inspiração S. João Damasceno desta maneira doutrinou: “Eu digo que a carne tem direito à adoração, porque é adorada na única pessoa do Verbo que lhe serviu de hipóstase. Certamente não é como carne que a adoramos, mas como unida à divindade, não tendo com o Deus Verbo senão uma única pessoa e uma única hipóstase pela união das duas naturezas. Eu temo tocar o carvão ardente por causa do fogo que o penetra; eu adoro as duas naturezas do Cristo por causa da divindade unida à carne”. De todas estas considerações resulta, por exemplo, a legitimidade da devoção do Sagrado Coração de Jesus. Esse culto é a conseqüência natural da união hipostática. Venera-se e adora-se o coração corporal e carnal de Jesus, mas a adoração não para nesse órgão, ela se volta ao Verbo eterno, infinito, ao Filho de Deus consubstancial ao Pai celeste e Deus como ele, que está unido pessoalmente ao corpo e a todas as partes do corpo por ele tomado em Nazaré. Em todas as línguas humanas, o coração é o símbolo das afeições e dos sentimentos, o culto do Coração de Jesus vem recordar todas as afabilidades humanas que o Verbo Divino acatou e divinizou ao tomar natureza humana. O objeto, portanto, direto desta adoração é o próprio coração do Salvador, seu destino último é a segunda Pessoa da SS. Trindade e o seu motivo são as emoções sensíveis e puramente humanas do Verbo encarnado, particularmente sua dileção, sua misericórdia, sua bondade, sua benignidade imensas sem limites. Foi este coração amabilíssimo de Cristo que palpitou no presépio, na cruz, e continua palpitando na Eucaristia. É deste coração adorável que descem sobre os que o Salvador remiu com seu sangue preciosíssimo a vida, a força, o perdão e todas as graças. O Coração de Jesus é o amor total lançando sobre o mundo todos os seus raios e atraindo os homens pelo excesso de sua clemência. Cumpre então honrar, amar e reparar o Coração de Jesus que através dos séculos continua ferido pelas ingratidões humanas, pelos pecados e toda sorte de desprezo. Neste início de milênio, sobretudo, num contexto histórico entorpecido pela incredulidade e pelos prazeres carnais, é preciso não apenas que o cristão se refugie dentro deste Coração divino, mas ainda que saiba oferecer atos de reparação pelos crimes mais hediondos que se cometem mundo todo. O Coração do Redentor é a única esperança no meio das provações deste exílio terreno. Felizes os que nele encontram seu único refúgio! Ele é o apoio seguro, inefável. Tal é o seu sublime convite: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei”. Acrescentou, entretanto: “Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para vossas almas” (Mt 11,28). Para atravessar os perigos hodiernos é necessário, mais do que nunca, meditar nestas palavras do Mestre divino. É preciso ainda ter um coração ardente e conquistador, um coração de apóstolo, abrasado da glória divina, procurando levar a Jesus esses os que infelizmente se acham longe dele. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
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