sábado, 16 de junho de 2012

O festim de Cristo

                            O FESTIM DE CRISTO
                Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Aos cristãos o divino Redentor oferece um banquete celestial, tendo afirmado: “Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna” (Jo. 6, 55). Assim como o corpo necessita de um alimento para viver, conservar-se e desenvolver-se, a alma também exige um elemento restaurador. Tudo o que vive e palpita no mundo busca um sustento para perpetuar a existência. O  corpo humano procede da terra e é na terra onde procura o seu nutrimento. A alma, porém,  vem do céu e nele necessita buscar a vida. A inteligência alimenta-se da verdade, a vontade se nutre do bem e o coração do amor. Como Deus é a verdade eterna, o supremo bem e o amor infinito, a  alma deve alimentar-se de Deus. Jesus tinha, portanto, razão quando asseverou: “Eu sou o pão vivo que desceu do céu; se alguém comer deste pão, viverá eternamente; e o pão que eu darei é a minha carne pela vida do mundo” (Jo 6, 11). Eis porque, na última ceia, Ele instituiu o Sacramento da Eucaristia no qual se dá em alimento espiritual. A alma que não vive de Deus está morta pelo pecado e o poeta tem razão: “Não são os mortos os que vivem nas tumbas frias, mortos são os que têm morta a alma e vivem todavia”. A criatura humana pode apresentar vigor e beleza, como os  belos mausoléus dos cemitérios  que não deixam, contudo, de ser a morada da morte. Uma alma sem Deus é uma alma sem vida. Cristo então deixou o meio pelo qual os homens seriam capazes de evitar a morte espiritual e sair vitoriosos na luta contra o pecado, fortificados no bem. Tal a finalidade da Eucaristia. A comunhão eucarística torna o fiel robusto e destemido diante das aliciações do mal e  quem comunga com as disposições necessárias é imbatível na pugna contra satanás e seus sequazes. Muitos, porém, ocupados com os seus interesses e prazeres, pouca ou nenhuma importância dão à Comunhão por se entregarem aos deleites mundanos, aos vícios, às paixões desregradas.   Como poderiam, deste modo, ouvir o convite divino para espiritualmente se alimentarem? Para tomar parte no festim de Cristo é necessário ter a alma pura, amiga da verdade e da justiça,  é preciso renunciar às desordens da vida, contentar-se com o que se possui, aceitar com resignação a cruz que a Providencia envia e seguir generosamente a Jesus. Sem a veste nupcial da graça seria um sacrilégio se aproximar da mesa eucarística. Para que o alimento seja útil ao corpo é preciso que o corpo viva. A nutrição não produz a vida, mas conserva, desenvolve e aumenta. Os cadáveres não se alimentam, porque não vivem. Na ordem espiritual a alma está sujeita às mesmas leis. É preciso viver sobrenaturalmente, é necessário estar em estado de graça para tomar parte no banquete eucarístico. O pecado é a morte da alma; a graça de Deus, porém, é sua vida. Os que se deixam levar pelo espírito do mundo temem tudo o que condena as suas ações e não querendo reparar pela penitencia o mal praticado, declinam o convite do Salvador. Este amável convite poderá levantar algum remorso em sua consciência, mas o mal é tão profundo que não lhes permite sair do abismo em que se acham. Eis o motivo pelo qual muitas pessoas  ostentam pomposamente os seus dotes físicos,  mas não passam de sepulcros de almas dominadas pelo pecado. Os que vivem em contínua agitação e preocupações mundanas não se lembram mais dos seus deveres religiosos e, por isto, se afastam do caminho que conduz à beatitude eterna.  Os negócios materiais não devem, contudo,   desviar da eternidade, dado que a terra não pode  fazer esquecer o céu. Cumpre ter o espírito desapegado dos bens terrenos que devem estar a serviço da sustentação da vida própria e do próximo, mas é preciso não estar  dominado pela obsessão  da fortuna, do luxo e do bem-estar, das vaidades ilusórias e muito menos se deixar levar, em consequência, pelas más ações. O que conduz a muitos a se afastarem do banquete eucarístico é, de fato,  a barreira  do orgulho,  da ambição e do prazer pecaminoso. Eis porque é necessário imitar o filho pródigo arrependido, fazer uma boa confissão e procurar o Redentor que o receberá com amor infinito à hora sagrada da Comunhão. Então o cristão se torna novamente o herdeiro do reino dos céus e estará aparelhado  para todas as pugnas da vida. Quando alguém comunga aufere, realmente,  a força e a vida de Deus. Quando o homem recebe o Deus eucarístico  é possante para as batalhas da existência, para todos os sacrifícios, para todas as virtudes, porque Deus é a vida de sua alma. Eis a razão pela qual a Liturgia afirma: “Felizes os convidados para a ceia do Senhor. [...] Venturosos os que encontram em Jesus seu único refúgio” * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.


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