ANÁLISE DA ORAÇÃO ENSINADA POR JESUS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Feliz o momento em que os discípulos pediram a Jesus: “Senhor, ensina-nos a rezar” (Lc 11,1). Do coração do Redentor fluiu uma oração repleta de ternura e contendo verdades maravilhosas. Ele mostrou como se dirigir ao Pai que está nos céus. Nada mais sublime nem tocante do que esta prece que brotou a sabedoria infinita do Mestre divino. Comovedora pela simplicidade, profunda pelo conteúdo, encerra, numa síntese surpreendente o que se deve suplicar a Deus para sua honra e glória e pelas mais prementes necessidades humanas. Pai é a primeira palavra desta prece inigualável. Pai é pujança suavizada, é dedicação, é fortaleza, é amparo. Pai é a sublimidade, a inteligência que ensina, a sabedoria que dirige, a força que protege, o vigor que anima, a antevisão que premune, a voz que acautela, o exemplo que arrasta, a luz que ilumina. Pai é nome que é título de glória, escudo, arma poderosa, manancial de esperanças e de proteção nos embates da vida. Pois bem, Cristo mostra que Deus é antes de tudo Pai amoroso, poderoso. Seja, pois, conhecido, adorado e santificado por toda a parte o nome desse Pai misericordioso e onipotente. Que o seu reino se dilate, de sorte que todos possam gozar da glória divina, e que o céu e a terra, submissos à sua santíssima vontade, sejam o santuário da Divindade. Uma coerência absoluta no ensinamento de Jesus! Lembrando, porém, o Pai celeste Ele não se esqueceu de inserir na sua prece o homem e suas maiores necessidades. Poucas palavras encerram as indigências do presente, do passado e do futuro. No presente o ser racional necessita viver, e, portanto, solicita, ardentemente, o pão substancial do corpo e da alma. O passado de nada precisa a não ser do perdão, mas para alcançar esse perdão, o homem começa perdoando a todos do íntimo de si mesmo. No futuro ele teme as tentações, as paixões desregradas, o pecado, e como os sofrimentos corporais e espirituais têm um grande império sobre o coração do homem e exercem o seu domínio em toda parte, a oração termina com um ato de confiança na proteção divina: “Não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal”. Esta oração, em consequência, não pode nunca ser mutilada sob pena de se estar censurando a Cristo. Certa vez, este sacerdote que traceja estas linhas, procurado por uma jovem, esta tinha um sério problema, dado que possuía um rancor intenso contra alguém que ela não perdoava. Foi-lhe indagado se ela rezava o “Pai Nosso”. Ela disse que sim. Perguntada então como dizia ao Pai que perdoava a quem a tinha ofendido, respondeu com uma simploriedade total: “Eu salto este pedaço”! (sic) É lógico que lhe foi dito que ela, infelizmente, não estava sendo uma boa cristã, não podia comungar, uma vez que não observava o preceito de Jesus que é anistiar a todos diante de suas ofensas. Pedagógica também, portanto, a oração que Cristo ensinou. Sintetiza o que diz respeito ao céu e o que diz respeito à terra, ao presente, ao passado como ao futuro, o tempo e à eternidade. Tudo aí está sob uma forma excelsa. É a oração universal. A bondade divina quis explicitar palavra por palavra dessa sublime oração que deve ser recitada pela manhã, durante o dia, à noite, em todos os momentos de perplexidade. Ela detém uma eficácia divina. O homem deste início de milênio, na azáfama do dia a dia, encontra nesta prece breve, completa, curta, substancial uma maneira bem adequada para se dirigir ao Ente Supremo sem poder das desculpas de que não tem tempo suficiente para orar. O espírito leviano e inconstante de quem vive na era pós-moderna encontra no “Pai Nosso” uma forma perfeita para não se furtar à sua vocação de orante, colocado que está à frente da natureza visível para ser o adorador da Natureza Invisível. O extraordinário desenvolvimento técnico e científico ofereceu aos homens preciosos instrumentos que projetam rapidamente novos fatos. Os historiadores e demais cientistas sociais analisam a aceleração da História, o mundo se tornou uma “aldeia global”, a palavra da moda é globalização. Transformou-se a sociedade. Rasgaram-se novos horizontes. Criaram-se novas perspectivas. Surgiram novos problemas. Era inteiramente diferente para a humanidade. Complexas questões nunca dantes imagináveis surgiram a envolver todas as estruturas sobre as quais repousa a felicidade comum. O ser racional se vê imerso numa agitação que nunca dantes o envolveu. Pois bem, ele encontra, porém, na recitação do “Pai Nosso” um oásis na turbulência em que vive. Seu coração volúvel e irrequieto depara então a tranquilidade, a imperturbabilidade e pode orar isento das perniciosas distrações. Os sete pedidos nessa admirável oração convêm aos justos e aos pecadores em todas as circunstâncias da vida e oferecem completa serenidade.* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
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