sábado, 30 de junho de 2012

HONRAR SEMPRE A MÃE DE DEUS

HONRAR SEMPRE A MÃE DE DEUS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Quem verdadeiramente ama a Cristo há de venerar  sua santa Mãe. No Evangelho Maria está junto de Jesus no presépio de Belém, na fuga para o Egito, na casa de Nazaré, em Jerusalém, na via dolorosa, aos pés da Cruz redentora. Após a ascensão do Redentor os apóstolos aguardavam a vinda do Espírito Santo prometido e “todos eles perseveravam concordes na oração, com as mulheres e Maria, mãe de Jesus” (Atos 1, 14). Aos Gálatas disse São Paulo: “Ao chegar a plenitude dos tempos enviou Deus o seu Filho nascido duma mulher, nascido sob a lei, a fim de resgatar os que estavam sujeitos à lei, e para que nós recebêssemos a adoção de filhos” (Gl 4, 4-5). Bela referência àquela na qual o Senhor fez maravilhas. Ao lado de Jesus encontra-se, de fato,  esta figura encantadora, sua santa Mãe, a cheia de graças. Os cristãos não poderiam então conservar-se insensíveis e indiferentes diante da Genitora do Salvador, bendita entre todas as mulheres. Do céu vieram as primeiras homenagens, a Maria  o primeiro ato do seu culto, as primeiras palavras de sua glória através  do mensageiro divino, o Arcanjo Gabriel (Lc 1, 26-38). Isabel a primeira teóloga do Novo Testamento, quando Maria foi até ela assim a saudou: “E donde me dado a graça que venha visitar-me a mãe de meu Senhor?”(Lc 1, 43). Da maternidade divina fluem todas as prerrogativas marianas e a ela se deve, realmente, o culto de hiperdulia. A glória desta Virgem não procede da terra, mas lhe foi dada pelo próprio Ser Supremo.  Aquele que é poderoso e cujo nome é santo fez nela grandes coisas. Eis porque é digna de louvor e de respeito.  Entre a Virgem de Nazaré e Jesus há uma tão grande união, uma tão sublime harmonia não somente da inteligência e do coração, mas de todo o seu ser.  Não é uma simples relação de conhecimento ou de amizade, mas uma relação de mãe a filho, que é a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, Deus desde toda eternidade com o Pai e o Espírito Santo. É toda a natureza que concorre para estreitar essa união entre Maria e Jesus, de sorte que as homenagens devidas a um refletem naturalmente sobre o outro. Se o filho é rei, a mãe deve ser rainha e rainha em toda a extensão do império e, por conseguinte, Maria, mãe de Deus, tem direito à  mais expressiva glorificação. A terra, em consequencia, deve unir sua débil voz à harmonia celeste para exaltar a mãe do Salvador e cantar os seus louvores. Os verdadeiros cristãos a mais de dois mil anos inclinam-se diante dela e a saúdam com os mais belos títulos e multiplicam seus hinos e lhe consagram altares e templos, sabendo que honrando a Mãe estão homenageando seu Filho, nosso único Redentor. Espetáculo grandioso este concerto universal que sempre lhe dedicou a Igreja Católica.  Os fiéis de todas as partes do mundo consagram-lhe monumentos e estátuas, Os seus altares são ornados com gosto e elegância por mãos piedosas e os dias dos principais acontecimentos de sua vida são dias de festa e de júbilo. A Igreja, inspirada pelo Espírito Santo jamais julgou uma usurpação do direito divino esse louvor universal a Maria Santíssima. A virgem Maria, como toda criatura, é um ser contingente, mas foi a escolhida para ser a Mãe do Messias prometido.  Deste modo, asseverar que louvores a Maria são ofensas a Deus é rasgar páginas luminosas da Bíblia Sagrada.  Se é permitido aos cidadãos de uma nação preparar apoteoses aos seus personagens ilustres, é permitido também aos filhos da Igreja manifestar veneração à mãe de Jesus. Adite-se que os seus devotos não se limitam a cantar os seus louvores, mas se empenham em imitar suas peregrinas virtudes. Procedendo desse modo estão seguindo  o impulso do Espírito Santo e se unem a todas as gerações, para a proclamar  bem-aventurada. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

sexta-feira, 29 de junho de 2012

JESUS, DEUS E HOMEM VERDADEIRO

JESUS, DEUS E HOMEM VERDADEIRO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
          Desde toda eternidade a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade possui a natureza divina. Ao se encarnar no seio da Virgem Maria ele assumiu também a natureza humana. São João assim se expressou: “O Verbo de Deus se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1,14). Deste modo há um só Cristo, um só Filho de Deus, um só Senhor. Por causa da união das duas naturezas, divina e humana, em Cristo adoramos o corpo sagrado do Salvador por causa da divindade de sua pessoa. Ele o Redentor, verdadeiro homem concebido do Espírito Santo e nascido da Virgem Maria, sendo Deus, merece o culto de latria, de adoração. São Paulo assim se expressou: “Ao nome de Jesus, todo joelho Se dobre nos céus, na terra, e abaixo da terra, e toda a língua proclame que Jesus Cristo é o Senhor para glória de Deus Pai” (Fl 2,10-11). A humanidade de Cristo jamais pode ser pensada separada da pessoa divina à qual está unida, de sorte que devemos à essa humanidade assumida pelo Filho de Deus o mesmo culto de adoração que devemos ao Pai e ao Espírito Santo. A natureza humana e a natureza divina da pessoa do Verbo são inseparáveis. Num momento de pulcra inspiração S. João Damasceno desta maneira doutrinou: “Eu digo que a carne tem direito à adoração, porque é adorada na única pessoa do Verbo que lhe serviu de hipóstase. Certamente não é como carne que a adoramos, mas como unida à divindade, não tendo com o Deus Verbo senão uma única pessoa e uma única hipóstase pela união das duas naturezas. Eu temo tocar o carvão ardente por causa do fogo que o penetra; eu adoro as duas naturezas do Cristo por causa da divindade unida à carne”. De todas estas considerações resulta, por exemplo, a legitimidade da  devoção do Sagrado Coração de Jesus. Esse culto é a conseqüência natural da união hipostática. Venera-se e adora-se o coração corporal e carnal de Jesus, mas a  adoração não para nesse órgão, ela se volta ao Verbo eterno, infinito, ao Filho de Deus consubstancial ao Pai celeste e Deus como ele, que está unido pessoalmente ao corpo e a todas as partes do corpo por ele tomado em Nazaré. Em todas as línguas humanas, o coração é o símbolo das afeições e dos sentimentos, o culto do Coração de Jesus vem recordar todas as afabilidades humanas que o Verbo Divino acatou e divinizou ao tomar natureza humana. O objeto, portanto, direto desta adoração é o próprio coração do Salvador, seu destino último é a segunda Pessoa da SS. Trindade e o seu motivo são as emoções sensíveis e puramente humanas do Verbo encarnado, particularmente sua dileção, sua misericórdia, sua bondade, sua benignidade imensas sem limites. Foi este coração amabilíssimo de Cristo que palpitou no presépio, na cruz, e continua palpitando na Eucaristia. É deste coração adorável  que descem sobre os que o Salvador remiu com seu sangue preciosíssimo  a vida, a força, o perdão e  todas as  graças. O Coração de Jesus é o amor total lançando sobre o mundo todos os seus raios e atraindo os homens pelo excesso de sua clemência. Cumpre então honrar, amar e reparar o Coração de Jesus que através dos séculos continua ferido pelas ingratidões humanas, pelos pecados e toda sorte de desprezo. Neste início de milênio, sobretudo, num contexto histórico  entorpecido pela incredulidade e pelos prazeres carnais,  é preciso não apenas que o cristão se refugie dentro deste Coração divino, mas ainda que saiba oferecer atos de reparação pelos crimes mais hediondos que se cometem mundo todo.  O Coração do Redentor é a única esperança no meio das provações deste exílio terreno. Felizes os que nele encontram seu único refúgio! Ele é o apoio seguro,  inefável.  Tal é o seu sublime convite: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei”. Acrescentou, entretanto: “Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para  vossas almas” (Mt 11,28).  Para atravessar os perigos hodiernos é necessário, mais do que nunca, meditar nestas palavras do Mestre divino.  É preciso ainda ter um coração ardente e conquistador, um coração de apóstolo, abrasado da glória divina, procurando levar a Jesus esses os que infelizmente se acham longe dele. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.



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quinta-feira, 28 de junho de 2012

A RELIGIOSIDADE HUMANA

                     A RELIGIOSIDADE HUMANA
                                 Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
O novo Catecismo da Igreja Católica mostra como o homem tem um desejo profundo de Ser Supremo. Este anelo está “inscrito no coração humano, por que o ser racional foi criado por Deus e para Deus. Deus não cessa de atrair o homem para Ele e é somente em Deus que o homem encontrará a verdade e a felicidade que não cessa de procurar. O aspecto mais sublime da dignidade humana se encontra nesta vocação de cada um em se comunicar com Deus”. Daí a importância vital da elevação da mente ao Criador quer em particular, quer em comunidade. A religião é, realmente, o laço poderoso e necessário que une o homem ao Ente Necessário. É a luz que projeta viva claridade sobre a verdade das coisas criadas e sobre os mistérios da vida futura. É o único sustentáculo dos bons costumes, da moral e da virtude.  O sentimento religioso envolve os atos da vida particular e tende a se manifestar publicamente. É lógico que as paixões desregradas sufocam este direcionamento para o Criador e reprimem a religiosidade inata na alma que se deixa então dominar pela ilusão terrena e pelo efêmero. Muitos criam ídolos que não podem oferecer eutimia, mas que se tornam um substitutivo falaz daquele que é a fonte da autêntica felicidade. Aqueles, contudo, que ultrapassam a barreira do material se entregam a práticas religiosas, a um culto interior e público ao Senhor do Universo. Não há meio mais forte e eficaz para solidificar a sociedade do que poder contar com pessoas tementes a Deus. A religião forma bons cidadãos e concorre para a harmonia e o respeito  das normas oferecidas pelas legítimas autoridades civis, mesmo porque já dizia São Paulo: “Toda autoridade vem de Deus” (Rm 13,1). Fora desta concepção religiosa reina a tirania por parte dos governantes e a desordem popular. Por tudo isto, cumpre incentivar o culto público a Deus nos quais os fiéis se irmanam e passam a lutar para comunidades bem estruturadas. Foi o que aconteceu no início do cristianismo quando os pagãos admirados diziam: “Vejam como eles se amam”  (Tertuliano Apolog. 39).  Através dos tempos as assembléias religiosas dos discípulos de Cristo se tornaram uma escola de virtudes para todas as classes sociais e para todas as idades. Como é belo no domingo, o dia do Senhor, ver os fiéis reunidos para escutar a palavra de Deus e prestar ao Ser Supremo a melhor de todas as homenagens por Cristo, em Cristo e com Cristo no momento sublime do Santo Sacrifício da Missa. Durante estas celebrações todas as virtudes são ensinadas. O pobre aprende a ser paciente, o rico a ser misericordioso, o ancião a santificar o resto de sua vida, o jovem a desconfiar das ilusões de sua idade, a criança a procurar desde cedo as veredas dos verdadeiros valores. Aí  se exalta  o que é bom, o que é honesto. Forma-se o bom pai, o bom filho, o bom irmão, o bom amigo. É incentivado tudo o que preserva a paz doméstica e faz florescer os bons costumes no meio das famílias. A semente da verdade é lançada e, em tempo oportuno, passa a produzir frutos. Brilham ensinamentos que tornam os pais mais vigilantes, os esposos mais unidos, os filhos mais respeitosos, os funcionários mais dedicados, os empregadores mais justos. Importantes são, outrossim, os demais momentos, quando grupos de pessoas piedosas se reúnem para rever sua vida cristã e para se entregarem à oração. Num concerto unânime de vozes a alma sobe naturalmente até o trono divino. Reunidos os discípulos de Cristo em preces comunitárias, o amor faz esquecer as discórdias, a vingança e as emulações e todos se sentem filhos do mesmo Deus, irmãos da mesma família. É evidente que o culto público leva naturalmente o seguidor de Cristo a fazer também suas preces individuais segundo o conselho do Mestre divino: “Mas tu, quando orares, entra no teu quarto, fecha a tua porta, ora a teu Pai, que vê o que está oculto; e teu Pai, que vê o que está oculto, te recompensará” (Mt 6, 6). Deste modo, Jesus mostrou o valor imenso da prece individual. Ele, porém, também ensinou que se deve rezar comunitariamente: “Quando dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estarei no meio deles” (Mt 18,20). A oração é, deste modo, a essência mesma da religiosidade humana. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.



DANOS CAUSADOS PELA MALDADE HUMANA

                                                DANOS CAUSADOS PELA MALDADE HUMANA
                                                            Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
                Através de uma palavra, de um gesto, de um escrito ou de uma ação malfazeja o mal-intencionado arrasa a verdade e destrói a virtude na alma do próximo. Expressões faladas ou escritas, gesticulações maliciosas, atos escandalosos que ferem o senso moral, propagam o vício e se tornam um obstáculo para o bem. Há dois aspectos na conduta iníqua de quem viola a ética: um ativo da parte daquele que pratica ações condenáveis e outra passiva da parte de  quem recebe e assimila o erro, seguindo o mesmo caminho da perversidade. Quem fere a moralidade  não somente é um calamitoso, mas ainda faz a desgraça de outrem.  Ele oferece o veneno que vai matar os valores morais no indivíduo, na família e na sociedade. Semeia a erva daninha que vai danificar o  bem e impedi-lo de crescer e de se desenvolver no mundo. Nada mais danoso, de fato, que os maus exemplos, a disseminação da obscenidade, os quais levam os outros aos vícios e às atitudes torpes. É o que se dá, sobretudo, nos filmes, nos sites pornográficos da internet, nas novelas televisivas, nas revistas, nos perversos formadores de opinião que atropelam os preceitos divinos e ridicularizam a religião. Aqueles que não controlam suas paixões desregradas e os ímpetos de sua natureza malvada guiam para as veredas trevosas os incautos e todos que não possuem um senso crítico apurado. Eis porque Davi pedia a Deus: “Preservai-me do laço que armaram e das armadilhas dos malfeitores. Caiam os malvados nas suas próprias malhas, enquanto ao mesmo tempo eu passo adiante” (Sl 142,9-10). A virtude não pode florescer na alma dos que não agem como este salmista que assim desejava não se prender nas emboscadas dos maliciosos. Os libertinos usam as armas  mortíferas do poder das trevas e flagelam o mundo com o cancro da iniquidade que vai destruindo as qualidades inatas no ser humano que se deixa enredar pela fascinação das ilusões terrenas. Esta triste realidade, infelizmente, está por toda parte, em todos os recantos, em todas as sociedades, em todos os lares. São Pedro já  alertava: “Sede sóbrios e vigiai! O vosso adversário, o diabo, rodeia-vos como leão que ruge, à procura de quem devorar. Resisti-lhe, firmes na fé. [...] E Deus autor de toda a graça, que vos  chamou para a sua eterna glória em Cristo,  depois de um pouco de sofrimento, ele mesmo vos aperfeiçoará e vos tornará firmes, fortes, inabaláveis” (1 Pd 5, 8-10), O Príncipe dos Apóstolos adverte e oferece, ao mesmo tempo, o recurso para a vitória e incentiva com o resultado faustoso de quem não cai na garra de satanás e seus adeptos.  Alerta, sim, porque as forças diabólicas  devoram como um incêndio que se alastra, arruinando as almas, de tal sorte que neste início de milênio com a tecnologia a seu serviço o príncipe das trevas ilude facilmente os que não buscam as armas da luz.   Cumpre evitar as más companhias e policiar os cinco sentidos, mortificando-os e, outrossim, é necessária muita oração, reflexão e usufruir as maravilhas que o Criador espalhou pelo mundo. Embora o quadro acima descrito seja tétrico, é preciso, porém, ter otimismo, porque o bem é mais poderoso do que o mal. Este precisa fazer alvoroço, enquanto a santidade  que reina em milhares de seguidores de Cristo também se comunica e coloca barreiras à voragem horripila da improbidade. Sem número os que sabem se blindar e buscam a honra, a paz, o verdadeiro amor. Morigerados, entregam-se às conquistas gloriosas rumo à pátria celeste.  Sabem vencer o antagonismo entre o bom senso e a insensatez e evitam toda compatibilidade com o que pode perverter os corações retos, honestos e idealistas. Oram para que os impudicos, os tímidos, os fracos se convertam e fazem um apostolado admirável que arranca das trevas os iludidos por aqueles que se enriquecem através das multinacionais dos crimes. Apóstolos denodados que cooperam com Cristo na redenção da humanidade, coadjutores na obra divina da salvação, iluminando os horizontes fulgurantes da vida futura na Casa do Pai. É esta têmpera dos justos que contrabalança a justiça divina, a qual sempre oferece oportunidade de conversão para todos. Os autênticos cristãos necessitam, contudo, estar à altura de sua nobre missão que é serem “sal da terra e luz do mundo”. Estejam conscientes de que eles reparam pela sua vida modesta, humilde, santa os estragos causados pelos crápulas e irradiam os esplendores da dignidade e do pundonor.* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
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quarta-feira, 27 de junho de 2012

VALOR DOS MANDAMENTOS DA IGREJA




                               VALOR DOS  MANDAMENTOS DA IGREJA
                               Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
  A Igreja por ser Mãe e Mestra  estabeleceu cinco mandamentos, visando o progresso  da vida espiritual dos seguidores de Cristo. Insiste, então na participação  nas Missas aos Domingos e dias santos de guarda, na obrigação de se confessar ao menos uma vez cada ano, de comungar ainda que seja  pela Páscoa da Ressurreição, de jejuar  e abster-se de carne na Quarta-feira de Cinzas e na Sexta-feira Santa e contribuir com o dízimo. O objetivo da Igreja é  facilitar a observância do que Cristo ensinou, dando normas práticas para cumprir o que está no Evangelho. O homem foi criado para ser eternamente feliz, mas para conseguir essa eterna felicidade no reino de Deus não basta crer as verdades que a religião ensina, é necessário ainda  empregar os meios para cultuar a divindade. Asseverou Jesus: “Nem todo o que me diz; - Senhor, Senhor entrará no reino dos céus, mas o que faz a vontade de meu Pai que está nos céus” (Mt 721). O propósito eclesial é detalhar alguns aspectos fundamentais daquilo que Deus quer.  A Igreja é a sociedade dos filhos da redenção, sociedade perfeita, santa e infalível, cujo chefe invisível é o próprio Cristo. Este, subindo ao céu, entregou  à Igreja a salvação de suas ovelhas  e para isso conferiu-lhe todos os poderes. A autoridade da Igreja provém, de fato, de seu Fundador. Este poder está a serviço da santificação e salvação das almas. Para conseguir esse resultado ela tem os seus mandamentos, que todo cristão deve observar.  Deus nos ordenou no Decálogo que O amássemos  sobre todas as coisas e impôs a obrigação de lhe consagrar um dia da semana e a Igreja  nos ensina como devemos adorá-lo e como podemos santificar o domingo, participando do santo Sacrifício da Missa. Cristo  impôs o preceito de confessar os pecados e de receber a santa comunhão e a Igreja determina a época em que convém cumprir esse dever. Deus ainda ordena a fazer penitência e a Igreja indica os meios de pôr em execução esse preceito divino,  lembrando o jejum e a abstinência. A contribuição para o culto divino aparece como uma norma em várias passagens bíblicas e a Igreja orienta os fiéis como colaborar com o dízimo e lhes explica a pedagogia deste gesto sublime. Cumpre, por tudo isto,  bendizer esta Igreja que indica a seus filhos o caminho seguro de amar e servir a Deus, afim de que todos possam um dia ter entrada na pátria da ventura eterna. Antes de tudo, a Missa dominical e nos dias de preceito, na qual se recebe a bênção de  Cristo, na qual o cristão mostra estar disposto a passar santamente a semana. Em segundo lugar o sacramento da Confissão, para que o peso dos  pecados não seja um obstáculo na marcha para a eternidade. Depois a Comunhão para robustecer cada um .para as lutas diárias. Em seguida, a mortificação dos sentidos pelo o jejum e  pela abstinência, para que as ilusões do mundo não desviem da prática das virtudes e, finalmente, o reconhecimento do supremo domínio de Deus com uma doação destinada à glória divina.  Eis o que são os mandamentos da Igreja, meios poderosos e eficazes, recursos de que Deus se serve para santificar os epígonos de Cristo.  Felizes os que obedecem aos cinco mandamentos desta Igreja, porque vão beber nas fontes do Salvador, vão de encontro à prática da penitência, atraindo com uma modesta contribuição as bênçãos do céu.  Todo cristão deve procurar a própria perfeição no estado de vida a que Deus o destinou e as palavras de Jesus foram claras: “Sede perfeitos como vosso Pai celeste é perfeito” ( Mt 5,48). Ora, um dos meios para se atingir este belo ideal  é, exatamente, a obediência às cinco normas eclesiásticas de enorme valor pedagógico, que conduzem à santificação pessoal. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.


terça-feira, 26 de junho de 2012

AMAR A DEUS ACIMA DE TUDO

AMAR A DEUS ACIMA DE TUDO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
O primeiro mandamento da Lei de Deus mostra que cumpre reconhecer no Ser Absoluto e Supremo, do qual todos os seres contingentes dependem,  a superioridade que, de fato, Ele tem sobre tudo que existe. É preciso então adorá-lo, servi-lo e amá-lo de todo o coração (Mt 18,37). Obrigação elementar porque  foi Ele o primeiro a nos amar, e nos amou com um amor infinito.Por tudo isto é preciso louvá-lo, embora não haja louvor que dele seja digno.  Deus, realmente,  deve estar a frente de todos os  pensamentos, de todas as  afeições e de todos os  atos.  No pensamento humano Ele deve possuir um trono do qual nenhum concorrente poderá jamais se aproximar. Ele tem que ser o ideal supremo de todas as fases da vida do ser racional  e de  todas as suas admirações, de todas as suas  afeições . Ele o poderoso Criador que tudo fez, porque a dileção é sua essência mesma como declarou São João (Jo 4,8) e o Bem é de si difusivo. Eis porque não há verdadeira virtude sem a dileção profunda para com o Senhor de tudo.  Não existe   fulgor  de inteligência  longe da Verdade Eterna.  Não desabrocha em plenitude a  delicadeza real  de sentimentos  longe da fonte suprema da Vida. Aquele que não conhece  a Deus e não O ama acima de tudo é então um mutilado no espírito e no coração. Não deve, portanto, haver termo, qualquer limite,  no relacionamento do homem com Deus.  Desde que Ele  é conhecido, é forçoso dedicar a Ele os sentimentos mais ardentes que fluem do íntimo de cada um. Explicou São João: “Deus é espírito e em espírito e verdade há de ser adorado” (Jo 4,24). No fundo do ser humano, porém,  travam-se terríveis combates presenciados unicamente por Deus, lutas devidas à inclinação para o mal decorrente do pecado original e das insídias diabólicas, mas tais batalhas devem terminar com a imolação da natureza inferior em holocausto ao amor divino. Por isto é que se diz que o pecado é o não-amor. Se o pobre coração do ser racional descobrisse uma fibra que não pulsasse por Deus, ela deve ser imediatamente extirpada. Não bastam palavras nem sentimentos,  dado que Deus quer atos e amá-lo é observar os seus mandamentos. Foi o que aconteceu com os santos que tudo sacrificaram para não se apartarem de seu Deus. Célebres as palavras de Santo Agostinho: “Tarde Vos amei,  ó Beleza tão antiga e tão nova, tarde Vos amei!  Eis que habitáveis dentro de mim,  e eu, lá fora, a procurar-Vos! Disforme, lançava-me sobre estas formosuras que criastes. Estáveis comigo e eu não estava convosco! Retinha-me longe de Vós aquilo que não existiria, se não existisse em Vós.
Porém
, chamastes-me, com uma voz tão forte, que rompestes a minha Surdez! Brilhastes, cintilastes, e logo afugentastes a minha cegueira! Exalastes Perfume: respirei-o, a plenos pulmões, suspirando por Vós. Saboreei-Vos e, agora, tenho fome e sede de Vós. Tocastes-me e ardi, no desejo da Vossa Paz".  Isto porque percebeu que  Ele é o sol das inteligências, e tudo penetra com a sua luz divina. Onde se aparta Deus tudo  é escuridão, noite nas almas, noite, na história, nas ciências, nas leis e nos costumes. Aqueles que não vivem sob a claridade desse sol vão debalde pedir luzes aos conhecimentos humanos, os quais arrancam da vida a esperança e a consolação, lançando os corações  nas trevas do desespero. Em Deus apenas a fortaleza, pois Ele é o Deus forte. É  combatido pelos ímpios, injuriado pelos ateus,  mas é sempre vencedor e sempre aclamado pelas almas nobres muito mais numerosas.Quando consideramos os acontecimentos superficialmente parece ser Deus esquecido. Entretanto, quando se faz o balanço da história da humanidade e dos séculos, Ele aparece triunfante, porque sem número são aqueles que proclamam: “Santo, Santo, Santo é o Senhor Deus do universo”. Porque Ele é eterno, é paciente e  abre os seus braços divinos aos pecadores para perdoá-los, aos infelizes para consolá-los. No correr dos séculos, milhões de corações levantaram-se, de fato,  para cantar os seus louvores, e as almas encontraram  neste Deus que é Pai amoroso, o único ente digno de adoração e de amor. Este amor infinito quis entrar na história humana e “o Verbo de Deus se fez carne e habitou entre nós”. Manifestou por palavras e obras uma dileção imensa e sua vida  terminou em um drama de amor, e esse drama foi doloroso e sangrento. Entre Deus e os homens passou a existir o Calvário, prova visível da caridade divina.  Eis porque o Filho de Deus proclamou: “Não há maior prova de  amor do que a daquele que dá a sua vida pela pessoa amada”. Ninguém nos amou assim, e ninguém nos amará jamais com tais proporções. O Calvário e o altar, onde se renova o Sacrifício do Gólgota,  são as últimas palavras do amor tanto no céu como na terra. Retribuir tudo isto é amar a Deus acima de tudo e sem medidas! * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.





IMAGENS QUEBRADAS QUE NÃO TÊM MAIS CONSERTO

IMAGENS QUEBRADAS QUE NÃO TÊM MAIS CONSERTO
            Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho
Eis a questão que foi proposta a este articulista: O que fazer com imagens quebradas que não têm mais conserto?  Quando o fiel dispõe de um local no qual as possa enterrar é a melhor maneira de se desfazer de imagens que se quebraram ou de outros objetos sagrados que se estragaram. Não sendo isto possível, o melhor é acabar de quebrá-los, colocá-los numa sacola plástica para que os detritos sejam  depositados  na lixeira. Com relação às estampas de papel, se a pessoa não possui uma fragmentadora, o melhor é queimá-las ou rasgá-las, embrulhando os pedaços antes os jogar fora. Trata-se de um respeito ao objeto que foi abençoado ou que representa Cristo, anjos e santos. Esta atitude de reverência é idêntica ao que se faz com as fotos dos pais, parentes ou amigos que não são simplesmente jogadas no lixo. Quanto às imagens, a questão proposta oferece uma consideração sobre o que está no livro do Êxodo 20,4-5. Deus proibiu aos israelitas a confecção de imagens, estátuas ou coisas semelhantes porque entre os pagãos  eram considerados  símbolos em que a Divindade estava presente. Eram adoradas. Esta proibição  foi dada pelo perigo de idolatria que continuamente ameaçava Israel e pelo fato de que Deus nunca se manifestava com alguma forma ou figura que pudessem ser reproduzidas.  Em certos casos, porém, Deus não só permitiu, mas mandou se confeccionassem imagens sagradas para fomentar a piedade do povo eleito.  Foi o que se deu, por exemplo, na fabricação da Arca da Aliança: “Farás dois  querubins de ouro, trabalhados a martelo nas duas extremidades do propiciatório, Farás, pois, um querubim na extremidade de cá e outro querubim na extremidade de lá. Fareis os querubins de uma só peça com o propiciatório, nas duas extremidades” (Ex 25,17-20). Adite-se no templo construído por Salomão foram confeccionados querubins de madeira preciosa. Eis o texto: “Todas as paredes do templo em redor, quer interior, que exterior, eram entalhadas com figuras de querubins, palmas e flores” (1 Rs , 6,29). Claro está que as imagens não são objeto de adoração que convém somente a Deus. À Virgem Maria, aos santos e anjos se presta um culto de veneração ou dulia. Através das imagens se elevam os pensamentos para as pessoas que elas representam Trazem a lembrança de suas peregrinas virtudes que devem ser imitadas. Lembra-se de pedir sua intercessão junto do trono de Deus.  Os santos nada podem conceder por si mesmos. Podem, contudo, por suas preces ajudar aos fiéis a obter as bênçãos do Doador de todas as graças. Nas Bodas de Caná, por exemplo, Jesus atendeu o pedido de sua Mãe e transformou a água em vinho.  Lê-se no Antigo Testamento esta passagem bem elucidativa, mostrando como  Deus quer se servir dos santos, atendendo-os e, assim glorificando-os: “O Senhor voltou-se para Ellifaz, o temanita, dizendo-lhe: “Estou indignado por não terdes falado de mim tão retamente como o meus servo Jó.  [...]  Ide ao meu servo Jó [...] Jó rogará por vós, a fim de que em atenção a ele, eu não vos puna pela vossa estultícia” (Jó 42, 7-9). Bem explicou, na Constituição dogmática  “Lúmen Gentium”, o Concílio Vaticano II: “O consórcio com os Santos nos une também a Cristo, do qual como de sua Fonte e Cabeça promana toda graça e a vida do próprio Povo de Deus. Convém portanto sumamente que amemos esses amigos e co-herdeiros de Jesus Cristo, além disso irmãos e exímios benfeitores nossos, rendamos devidas graças a Deus por eles, “os invoquemos com súplicas e que recorramos às suas orações, à sua intercessão e ao seu auxílio para impetrarmos de Deus as graças necessárias, por meio de Seu Filho Jesus Cristo, único Redentor e Salvador nosso. Pois todo o genuíno testemunho de amor manifestado por nós aos habitantes do céu, por sua própria natureza, tende para Cristo e termina em Cristo, que é “a coroa de todos os Santos”, e por Ele em Deus que é admirável nos seus Santos e neles é engrandecido”. Além disto, quem tem o hábito de ler a biografia dos santos aprende com eles a fidelidade a Cristo . * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.


O VALOR DO SACRAMENTO DA CONFIRMAÇÃO

VALOR  DO SACRAMENTO DA CONFIRMAÇÃO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Pelo Sacramento da Confirmação, ou do Crisma, o Espírito Santo  comunica a quem foi batizado os seus dons celestes e o torna perfeito cristão, apto a enfrentar corajosamente os embates da vida. Deus faz descer sobre seus filhos o Paráclito e os mimoseia como espírito de sabedoria, de inteligência, de piedade, de conselho, de fortaleza, de ciência e do temor de Deus. Na recepção deste Sacramento se recebem os mesmos efeitos sobrenaturais do dia de Pentecostes. O cristão se torna, então, um aguerrido soldado de Jesus Cristo. Eis porque, normalmente, a Confirmação é ministrada pelo Bispo, chefe da milícia cristã. Fortificado na fé o batizado pode, com ânimo e entusiasmo, percorrer as rotas da santidade, vencendo briosamente as forças infernais. Fica ainda mais iluminado pela Terceira Pessoa da Santíssima Trindade e seu coração passa a arder mais intensamente, se dispondo a corrigir os defeitos devidos à fragilidade humana. A timidez, a covardia em professar o Evangelho ficam desterrados. Por este sacramento realizam-se as palavras de Cristo:  “Quando o Espírito Santo tiver descido sobre vós, recebereis vigor e sereis minhas testemunhas em Jerusalém, como em toda a Judéia e Samaria, e até às extremidades da Terra” (Atos 1,8). Neste início de milênio, mas do que nunca, cumpre ao discípulo de Jesus anunciá-lo por toda parte. Vivem os cristãos num meio corrompido, assediados pelas tentações, ameaçados de perder a fé pelas seduções do mundo. A ciência e a tecnologia, colocadas a serviço do espírito infernal, infestam os lares com as novelas obscenas, com os filmes que desrespeitam os mandamentos divinos, com os sites pornográficos da internet e, se o cristão não recebe este sacramento e vive em função do Espírito Santo, ele se torna presa fácil do demônio e seus sequazes. Os incrédulos e os inimigos de Deus estão por toda parte e, com os seus exemplos, com as suas palavras e os seus escritos, corrompem a infância e a mocidade, pervertem a família e a sociedade. O mal é contagioso, e só com a força do Espírito Santo se pode opor resistência eficaz ao exército  de satanás. Cumpre, porém,  estar unido ao Defensor divino, invocá-lo sempre, cultivar seus doze frutos, exercitar  os seus sete dons e fugir das ocasiões perigosas, pois na luta espiritual vence quem evita as tentações, porque Deus não dá sua graça a quem se expõe ao pecado. O sacramento da Confirmação, porém, não opera mecanicamente, mas seus efeitos benéficos supõem um processo no qual o batizado tem que tomar parte ativa. Apenas assim o cristão se torna uma pessoa tranqüila por entre as dificuldades da vida, controla suas inquietações e se realiza na prática de todas as virtudes. Sem o sacramento da Confirmação o cristão  pode ser comparado a um soldado sem armas. Não está em condições de desempenhar perfeitamente a sua missão de um bom seguidor do divino Redentor. Surpreendido pelo inimigo, impossível lhe é opor a menor resistência. Será fatalmente vencido. Este é o motivo do malogro de muitas esperanças e da ruína de muitas virtudes. Sem a graça de Deus não se tem como resistir ao pecado. Se não se buscam os recursos espirituais, vivendo as graças do Sacramento é impossível perseverar.  É o santo temor de ofender a Deus, princípio de toda santidade,  que afasta dos vícios e paixões desregradas  e este é um dos efeitos do sacramento da Confirmação. Por ele o fiel está  armado para a conquista do céu e  para obter  sua eterna salvação. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Efeitos sobrenaturais do batismo

EFEITOS SOBRENATURAIS DO BATISMO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Maravilhosos os efeitos sobrenaturais produzidos na alma pelo Batismo. Os pecados são perdoados, a graça divina  é comunicada e o batizado se torna o templo vivo da Santíssima Trindade, herdeiro do reino divino.  O amor de Deus pelos homens excede toda expectativa humana. Apenas nasce uma criança no mundo, Deus quer que  ela lhe seja consagrada pelos pais por um ato livre, mas necessário. Ele não quer se ocupar do ser racional unicamente como Criador; Ele quer que  ele seja seu filho e, para dar esse direito, instituiu o sacramento do Batismo, o qual, purificando a alma de todo e qualquer pecado,  aproxima o homem da Divindade e o destina para o céu. Dirá São Paulo que o cristão é concidadão dos santos e membro da família de Deus (Ef 2,19). Esse sacramento é ministrado logo ao começar da existência, para que, em todo tempo, se esteja marcado com o caráter indelével que faz o discípulo de Jesus participante de seu sacerdócio,  de seu múnus régio e profético.  Admirável o plano divino cumulando o ser racional de tantos benefícios.  O homem foi criado no estado de inocência e de santidade, mas, tendo desobedecido ao Criador, perdeu essa inocência e essa santidade. A sua alma foi viciada pelo pecado e o homem ficou sujeito à morte e a todos os sofrimentos do corpo e da alma, perdendo o direito ao reino dos céus. O pecado de Adão não ficou em sua pessoa, foi transmitido a todos os seus descendentes com todas as misérias que o acompanharam. É esta transmissão da culpa do primeiro homem a todos os homens que se chama pecado original. Apenas o Batismo  pode apagar esse pecado,  reconciliar com Deus e dar o direito ao reino dos céus. Claras as palavras do divino Redentor: “Quem crer e for batizado estará salvo” (Mc 16,16). É que o Filho de Deus veio ao mundo salvar o que estava perdido pelo pecado, veio purificar o coração e restabelecer a amizade divina que tinha sido perdida pelo pecado de Adão. O sacramento do Batismo é o meio necessário para apagar a mancha original, a única porta aberta para se ingressar no reino de Deus. Eis porque Jesus ordenou  aos Apóstolos  pregar somente a doutrina e  ensinar unicamente o Evangelho, mas ele mandou ainda  batizar os povos: “Ide ensinai todas as nações, batizando a todos em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo” (Mc 16,15). Os apóstolos cumpriram  fielmente esta santa missão. Eles batizavam todos aqueles que abraçavam a religião cristã, e sem esse sacramento ninguém era considerado membro da Igreja de Cristo nem podia pretender a salvação eterna. Por tudo isto fácil é compreender o grande erro  que cometem os pais que deixam de batizar os seus filhos o mais breve possível, expondo essas criaturas inocentes à uma desgraça eterna. Os primeiros cristãos, como afirma S. Agostinho, corriam com os seus recém- nascidos às fontes batismais, para que não ficassem privados da graça da regeneração. É de bom alvitre se lembrar que em caso de extrema necessidade qualquer cristão pode e deve batizar o nasceu há pouco e corre risco de vida, dizendo: “Eu te batizo em nome do Pai,do Filho e do Espírito Santo”. Esta criança então fica incorporada a Cristo e se torna membro da grande família cristã que é a família de Deus. Ela, sobrevivendo, depois se fará o registro na Paróquia e um sacerdote completará as cerimônias batismais de acordo com o Ritual deste Sacramento. O que muitos cristãos olvidam é  comemorar o dia de seu Batismo que lhes abriu as portas do céu e dos demais sacramentos. Os padrinhos não podem deixar de rezar sempre pelos seus afilhados para que eles sejam fiéis à Igreja, ótimos discípulos do Evangelho. Cumpre lhes dê o bom exemplo de uma vida cristã e cuidem de seu progresso espiritual nas veredas das virtudes. Nada dignifica tanto o ser racional do que poder dizer que foi batizado e é  epígono do Filho de Deus, se santificando a cada instante, tudo fazendo para glória divina. Dizia um grande santo: “Se és cristão, tens o mundo nas mãos”, pois quem foi batizado é luz do mundo e sal da terra.* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.




sábado, 23 de junho de 2012

A GRANDEZA DO SACERDÓCIO

                       A GRANDEZA DO SACERDÓCIO
                                   Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
O sacramento da Ordem foi instituído por Cristo para perpetuar sua missão salvadora no mundo. A excelência da dignidade sacerdotal procede toda das sublimes funções que tem a desempenhar no mundo. O padre é o emissário de Deus, encarregado de zelar pelo culto divino e de transmitir as graças da Redenção aos que têm fé.  Afirmou São Paulo: “Nós somos os embaixadores  a serviço de Cristo” (2 Cor 5,20). Jesus assim se expressou: “Como meu Pai me enviou, eu vos envio. Ide, ensinai todas as nações. Estarei convosco todos os dias até o fim dos tempos” (Mc 16,15). Disse também: “Aquele que vos ouve a mim ouve; aquele que vos despreza a mim  despreza, e aquele que me despreza, despreza aquele que me enviou” (Lc 10,16). É, de fato, grandiosa e sublime essa missão do sacerdote. Ele goza de uma autoridade e de uma especial predileção do  Filho de Deus que declarou aos apóstolos: “Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; chamei-vos,  amigos, porque vos ensinei tudo o que ouvi de meu Pai celeste” (Jo 15,15). Semeador da semente celestial que é a palavra de Deus, o padre prega, orienta, abençoa e traz o pecador arrependido de volta à amizade do Ser Supremo. Consagra o Corpo e Sangue de Jesus e O distribui aos fiéis. É o guardião da ortodoxia. É o pastor encarregado de proteger e de salvar o rebanho de Cristo. Como médico das almas sana as chagas feitas pelo pecado e lhes  restitui   a vida da graça santificante. O padre é, deste modo o mediador  entre Deus e os homens, mostrando continuamente que na outra margem da vida alguém está à espera dos que cumprirem os seus deveres e observarem os mandamentos: Jesus de Nazaré. Nem sempre a missão do padre é compreendida, mas ele encontra no Mestre divino a fortaleza para carregar as cruzes que a Providência lhe vai enviando, repetindo com São Paulo: “Eu tudo posso naquele que é a minha fortaleza” (Fl 4,13). Quando, porém, lhe chegam os aplausos humanos, ele não se vangloria, mas repete no íntimo de seu coração que tudo que realiza é  para glória e honra de Deus e bem das almas. Ao Criador atribui o benefício que tenha feito. Lembra-se, então, das palavras do Apóstolo: “Que tendes que não recebestes? E  se o recebeste, porque te glorias como se não o tivesses recebido?” (1 Cor 4,7). O padre, homem como os outros, nada tem de que se possa envaidecer, dado que o poder que tem lhe vem  de Deus e não lhe foi dado para satisfazer a sua presunção, mas para o felicidade de todos, lhes enriquecendo os corações com as benesses celestiais. Vive então o que falou São Paulo: “Eu plantei, Apollo regou, mas só Deus dá o crescimento. Portanto aquele que planta nada vale, nem aquele que rega, mas Deus que faz germinar e crescer” (1 Cor 3,7).  O padre  está, portanto, convencido de que é um simples intermediário divino e que apenas Deus confere a graça e a salvação. Por isto, procura ser humilde, puro e santo, para que o seu nome esteja escrito no céu e o seu ministério seja útil aos homens e agradável a seu Senhor. Cada sacerdote sabe que é  o santuário privilegiado no qual reside  Cristo para, através dos séculos, salvar as almas. É o representante e o vigário de  Cristo na terra.  Unido ao Salvador o padre repete o que disse Paulo de Tarso: “Vivo, mas não sou eu quem vive, é  Cristo que vive em mim” (Gl 2,20).  O sacerdote é o homem que coloca as suas forças, o seu coração e a sua voz à disposição de Jesus, para fazer ressoar a palavra divina nas almas. A palavra de Jesus é santa, imutável, eterna e poderosa, penetrando nas consciências, purificando os corações e santificando as almas.  O momento mais marcante na vida de um padre é quando ele está no altar e toma em tuas mãos a hóstia  e o vinho a serem consagrados e, com as mesmas palavras de Cristo na última Ceia,  pode renovar de modo incruento o Sacrifício do Gólgota.. Eis porque existe em todo sacerdote de um modo peculiar o fascínio da Santa Missa na qual ele se une tão intimamente ao Mestre divino. Este fervor é comunicativo e aí está a razão pela qual muitas vocações são suscitadas, por verem tantas crianças e jovens a felicidade estampada no rosto do Celebrante. Este, de fato, inocula sempre em tantos corações magnânimos o desejo de ser Padre para continuar a obra salvadora do Filho de Deus. Cumpre, porém, aos fiéis rezarem sempre pelas vocações, obedecendo a ordem de Cristo: “Rogai ao dono da messe para que envie operários parA sua messe (Mt 9,18). * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

O DECÁLOGO SAGRADO

                                        O DECÁLOGO  SAGRADO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Foi na montanha de Sinai que Deus se manifestou a Moisés e, por entre relâmpagos e trovões,  promulgou os dez mandamentos, o decálogo, lei fundamental do pacto entre Deus e o povo (Gên. 20).. São preceitos de índole ética e religiosa que têm, assim, um  valor universal. Mais tarde Jesus dirá ao jovem rico “Se queres entrar na vida eterna, observa os mandamentos (Mt. 19,17). Estes  foram,  de fato,  dados aos homens pelo próprio Deus. Um dia, quando terminar esta vida da terra, cada um será  julgado segundo essa lei, de modo que a  salvação ou a condenação eterna depende da fiel observância destes preceitos divinos. Davi que havia pecado, depois de se arrepender, assim se expressou: “Bem-aventurados os homens cujo proceder é ilibado, os que procedem segundo a lei do Senhor. Bem-aventurados os  que praticam as suas advertências e de todo o coração o buscam; os que não perpetram iniqüidade alguma, mas andam nos seus caminhos. Promulgastes, Senhor,  os vossos preceitos para serem guardados à risca” (Sl 119 1-3). Fora da lei divina não há felicidade verdadeira e, realmente, feliz os que trilham os caminhos traçados pela sabedoria do Criador. Se alguém, porém, inflige gravemente algum destes dez mandamentos e se arrepende, o Ser Supremo, misericordioso que é, perdoa: “Um coração contrito e humilhado Deus não despreza” (Sl  50,19). Neste arrependimento deve estar inclusive incluído a disposição de evitar as ocasiões de pecado. Com efeito, diz a Bíblia: “Quem ama o perigo nele perecerá” (Ecl 3,27). O decálogo é o roteiro seguro para se chegar ao céu e, por isto, todo cuidado é pouco para que se evite transgredi-lo. Assim sendo, é de vital importância compreender o valor e a absoluta necessidade de conhecer e de praticar os mandamentos divinos, implorando continuamente a força da graça sem a qual ninguém pode praticar o bem e evitar o mal. O Criador imprimiu no coração do homem o conhecimento do bem e do mal e as obrigações contidas nos mandamentos. Para conhecer essas obrigações basta interrogar a própria consciência. Eis porque, antes e depois de sua promulgação, a observância dos dez mandamentos de Deus foi sempre obrigatória para todos os homens e é o único  caminho seguro para se chegar à Jerusalém do alto. O ser racional, porém,  esquece-se facilmente do dever e se deixa seduzir pela ilusão das paixões. Deus, contudo,  não abandona a criatura, mesmo quando ela se torna culpada e digna de condenação. A misericórdia divina é incomensurável. Para ajudar ainda mais o homem, Deus não apenas insculpiu no íntimo do coração sua vontade santíssima, mas ainda mais quis  promulgar de um modo solene os seus mandamentos  que devem ser  praticados  para alcançar a salvação eterna. Deus  gravou esses mandamentos sobre a pedra e encarregou a Moisés, o legislador do povo hebreu, de comunicá-los aos homens. Nada mais justo, mais verdadeiro e  mais sábio do que esses preceitos, pois a lei natural está toda aí contida e eles respondem aos desejos mais legítimos dos  corações e às luzes mais puras das  inteligências e das  consciências. Cumpre, portanto,  amar a Deus sobre todas as coisas, não tomar seu santo o nome  em vão,  guardar domingos e festas de guarda., honrar pai e mãe, não matar, não pecar contra a castidade, não furtar, não levantar falso testemunho, não desejar a mulher do próximo, não cobiçar as coisas alheias.  Os três primeiros mandamentos dizem respeito, precipuamente, à honra de Deus e os sete últimos ao proveito do próximo  Todos eles resumen-se no duplo preceito da caridade, ou seja amor de Deus e amor do próximo, como explicou Jesus: “Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento.  Este é o grande e primeiro mandamento.  E o segundo, semelhante a este, é: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo.  “Destes dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas” (Mt 22,37-40).  Se todas as precrições divinas fossem sempre observadas o ser humano seria inteiramente feliz e reinaria paz e prosperidade na sociedade humana. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.



















quinta-feira, 21 de junho de 2012

UMA INSTITUIÇÃO SANTA E RELIGIOSA


UMA INSTITUIÇÃO SANTA E RELIGIOSA
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
 O matrimônio é uma instituição santa e religiosa e a sua origem é divina como se lê nas primeiras páginas da Bíblia. É o alicerce da família, o baluarte da primeira sociedade que a história humana conheceu, o vínculo misterioso que, unindo duas pessoas, perpetua no mundo o gênero humano. Instituição belissima a que se encontram ligados interesses vitais da humanidade. A família é, de fato, uma sociedade indissolúvel e santa, que necessita desde seu início da bênção divina. A união do homem com a mulher é uma união pura e perpétua, que está acima do tumulto das paixões, e,  instituída pelo próprio Deus, não pode estar sujeita aos caprichos dos homens. Para quem é discípulo de Cristo não há o divórcio, porque a promessa matrimonial foi selada e dignificada com a solenidade de um sacramento e só pode ser rompido pela morte de um dos cônjuges. : O que constitui a sociedade pública, o estado, a nação, é a família. Eis porque uma é posterior a outra e a família existiu antes de haver governo civil. Ora o que, porém, constitui a família, é o matrimônio. Logo o matrimônio, sendo o fundamento da família, é anterior cronologicamente e pela sua mesma natureza a toda sociedade política. Não há organização política qualquer sem a família, sem o matrimônio. O matrimônio é, portanto, da esfera da família e do indivíduo, se inaugura dentro da família. Os nubentes saem da família e saem para constituir nova família. É, pois, um ato que se realiza dentro da família e aí produz os seus efeitos. No que tange o contrato civil a Igreja o admite e aconselha como formalidade legal para regularizar os interesses materiais dos esposos, mas não o admite como matrimônio, união legítima de homem com mulher. É sob este ponto de vista que os fiéis devem cumprir escrupulosamente as normas do Direito civil.. Assim sendo, as pessoas que se contentam unicamente com essa formalidade legal e desprezam o casamento religioso não podem receber os sacramentos da Confissão e da Comunhão. É de se notar que o  apóstolo Paulo comparou a união dos esposos com a união que existe entre Cristo e a Igreja (Ef 5,32). Como a união de Cristo com a Igreja é santa, imaculada e permanente, também a união matrimonial deve ser santa, religiosa e perpétua. Uma não seria a imagem, a figura e a representação da outra, se não houvesse uma virtude santificante que somente o sacramento pode conferir. O homem não amaria a sua esposa como Cristo ama a Igreja, nem a mulher amaria o esposo como a Igreja ama Cristo, sem uma graça que purifique e divinize o amor conjugal. O Salvador, dando-se à sua Igreja, a santifica; o homem e a mulher, dando-se um ao outro, devem santificar-se mutuamente. Eis aí a grandeza da união matrimonial. Trata-se de um ato que envolve vida, ato que Deus deve presidir e deve comunicar a sua graça, a fim de que os esposos se conservem no mesmo amor e guardem fidelidade um ao outro até o último momento da vida, não obstante os percalços inerentes ao presente exílio. A graça conferida pelo sacramento, porém, purifica a união entre os esposos, torna suportáveis as adversidades e amável a velhice. Além disto, inspira a prudência e transforma os desgostos em virtudes; dá coragem para que suportem mutuamente os defeitos um do outro, encontrando uma perfeita compatibilização dos perfis caracterlógicos, fazendo com que as qualidades de um possa ir enriquecendo o outro. A graça de Deus, se correspondida, sempre solicitada, faz o amor fiel em todas as circunstâncias e santifica o matrimônio. Quando, contudo o homem ou a mulher abandonam a honestidade e a virtude para entregarem-se ao vício, exilando Deus de suas vidas, todas as desgraças acontecem e os filhos se tornam vítimas das incongruências de seus pais. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.



UMA UNÇÃO SALUTAR

                   UMA UNÇÃO SALUTAR
       Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Na Carta de São Tiago há um trecho que fala claramente do rito que a Igreja sempre empregou para os que se acham acometidos de grave enfermidade, ou seja, aquela que coloca em risco de morte.  Diz o Apóstolo: ”Está enfermo algum de vós? Mande chamar os presbíteros da Igreja e estes rezem sobre ele, ungindo-o com óleo em nome do Senhor. E a oração da fé salvará o enfermo e o Senhor o fará levantar-se e se tiver cometido pecados, ser-lhes-ão perdoados” (Tg 5,14-15). Admirável o trabalho que a Pastoral dos Enfermos tem realizado por toda parte providenciando que aos acamados não falte este Sacramento tão salutar. Jesus é, de fato,  o único que pode curar a alma sujeita às fraquezas humanas. Ele se apresenta através de seus Ministros, os quais depois de dar a absolvição dos pecados, ungem o corpo dominado por grave moléstia. O óleo santo sana as feridas da alma, purificando-a completamente dos seus pecados, e, muitas vezes, conforme asseverou São Tiago, Deus se compadece do enfermo e lhe restitui a saúde do corpo. É preciso, portanto, não rejeitar esse auxílio divino que tem a propriedade de diminuir o temor da morte, de elevar a coragem do cristão gravemente adoentado, de fortificar a alma para enfrentar a morte, e de purificá-la para a passagem desta vida terrestre à vida eterna no reino de Deus. Este sacramento, recebido com as devidas disposições, apaga os últimos vestígios do pecado. Grande é o alívio de quem tem fé por ver afastadas as ansiedades da consciência, o temor excessivo do julgamento divino, as tristezas pelos pecados passados, as dificuldades de seus sofrimentos. Adite-se que o Código do Direito Canônico diz que a velhice é motivo para se receber este Sacramento, pois a velhice, quando é avançada, de si, já coloca em risco de morte. Aliás,  Cícero, escritor latino, já dizia que “a vetustez é uma enfermidade”. A sabedoria e a bondade de Deus vela, deste modo, constantemente sobre a suas criaturas e lhes proporciona todos os meios para conseguir a felicidade eterna. É necessário, então, utilizar os imensos e inesgotáveis recursos que a misericórdia divina oferece. O orgulho, as paixões, o pecado,  cegam  muitos, de tal modo que acabam deixando este mundo sem os sacramentos, morrem sem a graça divina,  sem a esperança do céu, porque abandonam a Deus. Desde a origem do Cristianismo, quando os fieis sentiam a morte aproximar-se, reclamavam imediatamente essa unção salutar, à qual o divino Salvador comunicara as graças de um sacramento. Esta sempre foi a doutrina da Igreja ensinada e praticada em todos os tempos.  Orígenes no terceiro século assim se exprimia: “Há remissão dos pecados pela penitência e também quando o cristão seguindo o preceito do apóstolo São Thiago, chama o sacerdote no tempo da enfermidade, para que lhe imponha as mãos e lhe administre a unções com o sagrado óleo em nome do Senhor”. São João Maria Batista Vianney, o zeloso Cura d`Ars, pedia com insistência, em suas doenças, que não deixassem de lhe trazer um outro sacerdote para lhe dar  a unção dos enfermos, afim de que pudesse  encontrar a misericórdia divina. Todas estas considerações patenteiam a necessidade de cada um se preparar para o instante da morte, da qual não se sabe nem o dia nem a hora. A revelação da boa morte é a boa vida. A existência humana deve ser uma preparação consciente para a entrada na Casa do Pai.  A morte para os que não seguiram a Cristo é terrível, dado que é  uma vida que se acaba e uma eternidade infeliz que se inicia! Que aflição, que angústia para quem não correspondeu aos desígnios divinos e não cumpriu sua missão neste mundo! No momento da morte o que vai dar desgosto a cada um é o que ele buscou por seu próprio gosto e, muitas vezes, com tanto sacrifício inútil em busca de gozos passageiros, ilusórios. Quantos gostariam de voltar no tempo para refazer seus atos, mas já é tarde. Só então se compreenderá como se inutilizou a existência nesta terra e por todo o sempre. Entretanto, para quem cumpriu o seu dever, para o pecador sinceramente arrependido, para quem fez de sua vida um hino de louvor a Deus e de serviço ao próximo, fechar-se-á a porta do tempo e logo se abrirão os pórticos luminosos da Jerusalém celeste. O que causou pena, mas foi suportado com afeto a Deus é que dará alegria, porque naquele momento se poderá dizer com Jesus: “Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito Morrer em graça e ver garantida a salvação, eis o que mais deve preocupar quem tem bom senso neste mundo, pois tudo mais é secundário e só vai causar ansiedade ao chegar o instante de se deixar esta terra. Por tudo isto se deve valorizar, e muito, a Unção dos Enfermos. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

DESAGRAVAR A JUSTIÇA DIVINA

              DESAGRAVAR A JUSTIÇA DIVINA
                          Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
O sacrifício oferecido por Cristo no Calvário, ato de valor infinito, reparou inteiramente as ofensas da humanidade a seu Criador. No entanto, muitos se esquecem de que há necessidade de uma reparação pessoal pelos pecados cometidos. Cumpre, realmente,  satisfazer à justiça divina, uma vez recebida a absolvição no Sacramento da Penitência. Pela Confissão se alcança a misericórdia, pelos sacrifícios oferecidos a Deus se reverencia sua justiça. Deus não exige expiações extraordinárias, mas, sim, o esforço penoso que o cumprimento dos deveres cotidianos exige, sendo, assim, ofertado nesta intenção reparadora. Ainda Lhe são sumamente agradáveis o suportar pacientemente os aborrecimentos, as contrariedades inevitáveis que vão ocorrendo ao longo da vida de cada um. O sofrimento tolerado como paga das próprias faltas tem a virtude não só de reparar os  pecados pessoais, mas ainda de comunicar uma sublime grandeza moral por se tratar de uma homenagem à honra divina ultrajada. Aliás, foram claras as palavras de Cristo: “Quem quiser ser meu discípulo, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga” (Mt 16,24). A dele Ele já carregou, mas é preciso  a seu epígono não recusar as provações que a Providência lhe envia. Aceitá-las em desagravo ao Ser Supremo pelos erros cometidos é de suma importância, mas é preciso ainda atos reparadores pelos pecados que se cometem tão desabusadamente pelo mundo afora. Jesus assim se expressou “Se não fizerdes penitência, todos vós perecereis” (Lc 13,5). O fiel se torna então um para-raio que salva o mundo, fazendo com que a justiça divina tenha piedade daqueles que menoscabam sua lei santíssima. Foi neste sentido que São Paulo asseverou aos Colossenses: “Agora me alegro nos sofrimentos suportados por vós. O que falta às tribulações de Cristo, completo na minha carne, por seu corpo que é a Igreja (Cl 1,24) . É lógico que nada falta à Paixão de Cristo quanto ao mérito, mas quanto à aplicação depende das disposições de cada um. É aí que entra o significado das reparações que devem ser feitas numa valorização sublime da imolação do Filho de Deus lá no Calvário. Pela penitência, assim entendida, o pecador se purifica ainda mais e abre as portas para a conversão daqueles que se endurecem em seus crimes. Trata-se de colaborar com os trabalhos, sofrimentos, fadigas, orações, transformando-os assim em instrumentos da aplicação dos méritos infinitos do divino Salvador.  A lembrança dos sublimes mistérios da redenção do mundo pelo sacrifício e morte de Jesus,  a  recordação de sua paixão devem ser para  todo cristão  a prova mais evidente da necessidade da reparação devida por causa do pecado. Os atos reparadores comunicam novas forças à  alma, inspirando-lhe o horror do mal e o amor da virtude, apagam o escândalo dado pela má conduta. Além disto, quando alguém tem algum parente ou amigo que trilha maus caminhos, ao invés de falar mal dele, a medida mais salutar e agradável a Deus é oferecer sacrifícios e preces por seus erros e pela sua conversão. Quem converte deste modo um pecador, tem garantida a salvação eterna dele e a salvação própria, pois Deus não deixará de retribuir tão maravilhoso apostolado. A penitência é, deste modo, canal de graças especiais. É a consciência de que o pecado é uma injúria a Deus, um desprezo de seu amor que leva os bons cristãos à cultivarem esta espiritualidade que contrabalança as injúrias feitas ao Criador. Nem se deve esquecer também o valor imenso das Comunhões Reparadoras ao Coração de Jesus sobretudo às Primeiras Sextas-feiras as quais atraem tantos favores para os que praticam esta devoção, bem como para todos aqueles pelos quais se colocam preces especiais dentro deste Coração Amoroso pedindo a conversão dos que se extraviam do bom caminho. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

COMO FAZER UMA BOA CONFISSÃO

COMO FAZER UMA BOA CONFISSÃO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Os teólogos falam no pecado dominante contra o qual o fiel luta mais diretamente para dele se libertar. Quando alguém se prepara para receber o Sacramento da Penitência deve, de plano, ao fazer o exame de sua consciência, verificar se não recaiu na falta que predomina na sua existência. Normalmente o que pesa na mente do batizado e o impede de receber a Eucaristia é exatamente o retorno ao mesmo erro. Assim, por exemplo, quem não se habitua a cumprir com o dever da Missa dominical precisa verificar se este aspecto de sua vida espiritual foi observado fielmente. Quem se confessa sempre faz com facilidade o diagnóstico de sua situação perante Deus, mas aquele que a muito tempo se ausentou do Sacramento da Penitência necessita percorrer os dez mandamentos para verificar se houve algum pecado mortal que necessita da absolvição. O número de faltas graves deve ser declarado para que o Confessor possa dar uma orientação correta e o mesmo acontece com tudo que agrava a má conduta, como, por exemplo, o pecado com uma pessoa casada é um adultério. Segundo a ordem dada por Jesus aos Apóstolos (Jo 20,23), cabe ao Ministro deste Sacramento perdoar ou reter os pecados. Para o confessor possa, então, desempenhar este encargo é necessário que conheça o estado das consciências, as suas disposições e o estado em que se encontra sua alma. Deste modo, quem não se dispõe a regularizar sua vida matrimonial não pode receber a absolvição sacramental. A confissão livre e espontânea de ter feito o mal é uma fonte de mérito e de perdão, mas exige um total empenho em evitar erros futuros, confiado o cristão na graça medicinal deste Sacramento. Além disto, o sentimento universal vê na franqueza a manifestação de uma grande alma que busca os caminhos de Deus. Quem deseja retirar-se livremente do mau caminho para não mais fazer o mal, mostra uma inclinação que tem para o bem e para a  virtude. Se toda ação má leva o ser humano facilmente a praticar uma outra, se todo erro vencendo a resistência da vontade, enfraquecendo os bons sentimentos, o  faz cair nas maiores desordens, a confissão voluntária é um meio para encontrar a correção  e para  a reabilitação completa diante de Deus. Traz um benefício imenso para a Igreja, uma vez que “uma alma que se eleva, eleva o mundo inteiro”. Quem deseja a saúde do corpo revela ao médico todos os seus sofrimentos, todas as circunstâncias e a causa da enfermidade. Se o temor e a vergonha impedem esta revelação, o doente não deve esperar que o galeno adivinhe a causa de sua moléstia. A medicina não tem remédios para males que não são diagnosticados. Ora, quem pretende recuperar a graça divina deve seguir as mesmas normas. É necessário que o confessor conheça os pecados e as disposições da alma para julgar se o pecador é digno de perdão e quais os conselhos e exortações que podem animá-lo a tomar novos rumos nas rotas da virtude. A acusação das culpas não ofende a dignidade humana, pelo contrário a reabilita. Deus certamente conhece todas as iniqüidades, mas este conhecimento é devido às perfeições divinas e Ele delegou ao sacerdote aplicar às almas os remédios celestiais. É natural, pois, que na Igreja de Cristo haja um sacramento ao qual o homem possa recorrer para se reconciliar com Deus pela própria confissão dos seus pecados.  Considerar-se em sua miséria, reconhecer-se errado em seus pensamentos, insensato em seus desejos, grosseiro em suas paixões, desonrado na sua má conduta,  eis o que pode reparar a empáfia humana O homem separa-se de Deus exaltando-se, não se sujeitando à dependência natural que une a criatura ao Criador e Deus chama o homem para as veredas da eutimia, restitui-lhe a sua estima, exigindo somente que se reconheça e declare sinceramente quem é, indo à fonte salvadora do Sacramento da Penitência. Deus exigindo a confissão dos pecados, para restituir a sua amizade, deseja a grandeza espiritual de quem prevaricou. Na confissão está a bondade e a misericórdia divinas. O tribunal da Penitência, diferente dos tribunais da terra e dos julgamentos do poder humano, não se compõe nem de acusadores nem de testemunhas. Se por acaso o confessor adverte é com bondade e dedicação que o faz e se impõe uma penitência ao pecador, esta penitência é sem proporção alguma com os pecados cometidos. Na pessoa do Confessor está o próprio Redentor, que durante sua vida neste mundo perdoou a tantos pecadores. Junto dele o indiferente depara coragem, o pecador encontra o  amor verdadeiro, acha a paz, a serenidade, a imperturbabilidade. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

terça-feira, 19 de junho de 2012

AS DIMENSÕES DA ORAÇÃO DE JESUS

AS DIMENSÕES DA ORAÇÃO DE JESUS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Quer o que ocorreu com o chefe da Sinagoga, quer o que se deu com a hemorroíssa (Mc 5, 21-43) são dois episódios, entre tantos outros, que mostram como Jesus atende sempre àquele que ora com fé sincera, profunda. Ele escuta a oração da fé seja ela expressa em palavras, como foi o caso de Jairo ou em silêncio como foi a atitude da mulher que há doze anos vinha sofrendo sem ser curada pelos médicos. A ela Ele declarou claramente: “Filha, a tua fé te salvou. Vai em paz e fica sã do teu mal”. À filha de Jairo, atendendo a súplica que seu pai Lhe fizera, após pegar a mão daquela que julgavam já morta, deu esta ordem peremptória: “Menina, eu te mando, levanta-te”.  Relatou ainda São Marcos: “A menina pôs-se logo em pé e começou a andar, pois tinha doze anos”. Santo Agostinho resumiu admiravelmente as três dimensões da oração de Jesus: “Ele ora por nós como nosso sacerdote, ora em nós como nossa cabeça, e a Ele sobe nossa prece como ao nosso Deus. Reconheçamos, pois, nele, os nossos clamores e em nós os seus clamores”. As atitudes de Jairo e da hemorroíssa  ilustra o que disse o douto Bispo de Hipona, pois fizeram chegar a Jesus pedidos que revelam uma certeza de que Ele tinha um poder milagroso. Esta fé na divindade do Redentor é que leva a contemplar nele o grande Mediador, Cabeça do Corpo Místico formado por todos que professam esta crença inabalável. Por tudo isto, orar se torna uma dimensão essencial da existência do cristão. Este faz da prece um encontro de amizade com o Todo-Poderoso Salvador que prometeu: “Vinde a mim, vós todos que estais aflitos sob o fardo, e eu vos aliviarei (Mt 11,28). Daí resulta a paz que Ele desejou à hemorroíssa e o orante passa a  viver em união com Ele e isto é a essência mesma de uma vida de oração, ou, no dizer agostiniano, a perceber em si os seus brados, as suas inspirações celestiais. Ele cura sempre os males por amor, mas exige reciprocidade de amor. Quem deposita nele sua fé inabalável passa a trilhar o caminho da verdadeira vida, isto é,  a crer, esperar e amar, trílogia sagrada que leva à santidade. Disto resulta uma irrestrita confiança em Jesus que é fiel e merece total dileção. Deste modo, se passa da súplica a uma existência de oração contínua. O cristão se deixa penetrar pela prece que lhe envolve então o corpo, o coração e o espírito. Jairo foi até Jesus, a hemorroíssa Lhe tocou a veste e até aí foram manifestações corporais, mas o coração deles estava repleto de uma certeza absoluta naquele que invocariam e, não há dúvida, seu espírito foi movido pelo Espírito Santo para tomarem corajosamente aquelas atitudes. Cumpre, porém, alimentar sempre a fé, a esperança e o amor a Cristo através da escuta de seus clamores que podem ser percebidos pela leitura da Sua palavra registrada na Bíblia, do que resultará o oferecimento a Ele de todos os atos, de tudo que se faz. Por meio do amor ao divino Redentor o coração se transforma e a prece produz frutos no cotidiano daquele que tem fé. Merece atenção no caso da filha de Jairo o fato de que Jesus após curá-la “mandou que dessem de comer à menina”. Pode-se tirar disto uma mensagem que é uma advertência. Quantos cristãos que alcançam graças especiais de Cristo, Médico divino, se esquecem de alimentar a gratidão para com Ele, buscando aquela perfeição que Ele preceituou: “Sede perfeito como o Pai celeste é perfeito” (Mt 5,43). É o clamor dele a que se referia Santo Agostino. A prece do fiel que escuta este brado se torna transformante e faz do dia a dia uma metanoia sem tréguas, isto é, uma conversão permanente rumo ao aprimoramento espiritual. Felizes os que compreendem as maravilhosas dimensões da oração de Jesus, o Onipotente Redentor, Cabeça do  seu Corpo Místico. Mister se faz alimentar, porém, esta realidade com preces ininterruptas. Nem deve ser desculpa a falta de tempo, pois o verdadeiro cristão o tempo todo deve ser um orante, tudo fazendo na presença de Deus e em nome do Senhor Jesus, consagrando-Lhe, contudo, momentos especiais de uma oração que signifique uma imersão naquele “no qual existimos, movemos e somos” (Atos 17,28). Assim sendo, as distrações se afastam, pois as atenções estão voltadas para o protagonista da vida de quem crê.  Para passar da preocupação que toma conta do coração e da imaginação para a atitude de liberdade é preciso convergir o olhar para o Coração do Mestre divino e transformar as preocupações em preces, tudo colocando neste Coração poderoso. Deste modo qualquer desgosto no orar se aparta do fiel, porque, movido da confiança que caracterizou Jairo e a hemorroíssa se reza com muito amor sem exigir de Jesus uma recompensa imediata. Todas estas considerações mostram que em Jesus, de fato, se pode sempre confiar, pois ele agirá no momento oportuno. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.