SEGUIR A ESTRELA RUMO A JESUS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Profunda a mensagem teológica da solenidade da Epifania do Senhor. O trecho do Evangelho narrado por São Mateus (2,1-12) reporta à profecia de Isaias (60,1-6) e é explanado magnificamente por São Paulo na sua Carta aos Efésios, (3,2-3;5-6) mostrando tais passagens bíblicas que o Messias que os judeus aguardavam a tantos séculos, veio a este mundo para trazer a salvação para todos os povos. Isaías convida vivamente Jerusalém a uma verdadeira eclosão de júbilo perante todas as nações às quais chega a luz redentora. Os Magos vindos do Oriente experimentam um júbilo inefável, após estarem com Herodes e verem novamente a estrela que os guiava e os levou até onde se encontrava Jesus, com Maria sua mãe. Idêntica alegria partilha todo cristão, pois a salvação apareceu para todos de boa vontade. Cumpre, porém, irradiar esta felicidade, precisamente enquanto seguidor de Cristo, pois como mostra São Paulo é necessário ser por toda parte mensageiro da boa nova. Todos devem se associar à mesma promessa em Jesus por meio do evangelho que é preciso seja anunciado. Será sempre em Jesus que se encontrará a luminosidade para não se perder nas trevas e a força para superar as inúmeras dificuldades por esta passagem por um exílio terreno. A longa viagem realizada pelos Magos mostra que para encontrar Cristo é preciso esforço pessoal e desejo ardente de estar com o Redentor. Na verdade aqueles Sábios procuravam um Deus que, por primeiro, veio ao encontro do homem. De fato, é sempre o Ser Supremo que vem ao encontro daquele que foi criado à sua imagem e semelhança. Há, contudo maneiras bem diferentes de O acolher. Com efeito, de um lado, o rei Herodes que « foi tomado de inquietude e toda Jerusalém com ele ». Herodes queria ir até Jesus para o matar. De outra parte, os Magos que « experimentaram uma grande alegria ». Ontem, hoje e sempre, a humanidade se divide entre os que amam a Cristo e os que O rejeitam. Herodes era o tipo do tirano que via seu poder não como serviço, mas como dominação. Ele era a imagem de toda autoridade totalitária que não só massacra os outros, como arrogantemente se volta contra Deus. Os sumos sacerdotes e os mestres da lei sabiam que o Messias devia nascer em Belém, mas não fizeram esforço para ir procurá-lo. Tinham dele um conhecimento puramente livresco, acadêmico, mas isto não os movia a caminhar para junto do Salvador. A Bíblia será sempre estéril se não há fé e o ardor do desejo da revelação do Ser Supremo. Ela é uma linguagem de fogo incandescente, mas para quem abre o seu coração e sua inteligência para Deus. Os doutores da Lei conheciam as Escrituras, mas seu coração estava fechado e eles não tinham sede da Verdade. Esta, contudo, impulsionava os Magos e os levou a seguir a Estrela até o fim. Aquele que foi batizado, crismado, fez a primeira Eucaristia deve se manter em contato permanente com a luz divina e trihar a rota da vida verdadeira. Por vezes, Deus se esconde, como aconteceu com a estrela dos Magos e podem surgir dúvidas, interrogações, mas quem tem fé persevera e sabe que as luzes do Alto de novo o envolverão. Cumpre não desanimar nunca. O conhecimento da Bíblia, fundamenal embora, não basta para dar acesso a Deus. É necessária o claro-escuro da fé, que leva à total confiança neste Deus que se revela não nos palácios dos reis, mas na pequenez de um pobre Menino. Pelo fato de ser cristão, de ter reconhecido, a exemplo dos Magos, a divindade de Jesus, não significa que se possui um bilhete de entrada para o céu, o qual Cristo veio abrir para a humanidade. A fé tem que ser operosa e transformante, ou seja, deve impregnar toda a vida do cristão que precisa crescer continuamante no conhecimento do Mestre divino, procurando sempre novos caminhos da perfeição. Cumpre se ajoelhar diante do Deus Menino e acolher plenamente sua mensagem salvadora, deixando-se cada um guiar pela luz de seus ensinamentos compediados no Evangelho, acatando seu domínio sobre a existência individual numa renovação constante de propósitos e de metas. O que o Redentor quer está bem simbolizado nos presentes que recebeu daqueles sábios orientais, isto é, o ouro de um amor sincero, a mirra de uma mortificação contínua e o incenso de uma adoração que leve a uma submissão completa aos desígnios divinos. Para isto mister se faz fugir de todos os perigos, como fizeram os Magos que não voltaram a Herodes, traindo o Deus que encontraram. Hoje mais do que nunca é preciso que o cristão esteja consciente de que « quem ama o perigo nele perecerá » e cumpre fugir de tudo que possa conspurcar a própria consciencia, afastando-o dos caminhos de Jesus, seguindo apenas a estrela luminosa da fé. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
sábado, 24 de dezembro de 2011
terça-feira, 20 de dezembro de 2011
O CELIBATO ECLESIÁSTICO
O CELIBATO ECLESIÁSTICO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Muita celeuma causa a questão do celibato eclesiástico, ou seja, o fato de os sacerdotes não contraírem matrimônio. Trata-se de uma disciplina da Igreja que longe de ser uma imposição é um estado de vida abraçado livre e conscientemente por quem deseja o estado sacerdotal. Sociedade bem estruturada, a Igreja tem o direito de estabelecer normas disciplinares. Como não se trata de um preceito divino, é a História Eclesiástica que deve ser consultada quando se ventila tão importante questão. Em primeiro lugar é bom que se ressalte que Jesus Cristo não se casou e que o Apóstolo Paulo levou vida celibatária e a recomendou. Aos Coríntios assim se expressou: “Digo aos solteiros e às viúvas que lhes é bom se permanecerem assim, como também eu (1 Cor 7,8). O celibato voluntário começou a ser fielmente praticado praticamente desde o começo do século II, quer no Oriente, quer no Ocidente. Na Síria, na Ásia Menor, na Grécia e em Roma inúmeros os que anteciparam a vida futura, vivendo como anjos de Deus. Entre os testemunhos desta verdade está o relato de São Justino (I Apolog. 29; 14,2;15,6). Cristo foi muito claro: “Os filhos deste século casam e são dados em casamento, mas os que forem julgados dignos daquele (outro) século, e da (ditosa) ressurreição dos mortos, nem os homens desposarão mulheres, nem as mulheres homens; porque não poderão jamais morrer; porquanto são semelhantes aos anjos e são filhos de Deus, visto serem filhos da ressurreição” (Lc 20, 34-36). Mencionam o celibato no século IV Eusébio ( Dem. Evang. I,9; 260-340), S. Cirilo de Jerusalém (Cat. 12, 25;315-386; São Jerônimo ( Ad Vig. 2. 340-420; Santo Epifânio ( Adv. Haer. 59,4; 315-493). O Concílio de Elvira no Cânon 33, na Espanha estabeleceu pela vez primeira o preceito do celibato eclesiástico por volta do ano 300, consagrando uma prática que já tinha se estendido amplamente e dado opimos frutos espirituais. O Concílio Romano, celebrado sob o Papa Sirício (384-399) mandou documento para a Espanha e para a África urgindo a observância do celibato por parte dos sacerdotes e bispos. Na época de São Leão Magno (440-461) esta disposição disciplinar já era obrigatória em todo o Ocidente. O Concílio de Nicéia (325), ainda que não fale abertamente da lei celibatária, proibia que o clero tivesse em sua casa mulher que pudesse motivar suspeitas de imoralidade e lembrava que os sacerdotes tivessem junto a si sua mãe, irmãs ou outros familiares. A Constituição Apostólica do ano de 400 vedava aos Bispos, Sacerdotes e Diáconos casar depois de ordenados. A Igreja russa e armênia, que admite Clero secular casado, escolhe os bispos dentre os monges que são celibatários. Nos períodos posteriores o Espírito Santo suscitou sempre papas que pugnaram pela consagração total do clero ao serviço do Altar. Assim Leão X (1049-1054), Gregório VII (1073-1085), Urbano II (1088-1099), Calisto II (1119-1124), entre tantos outros. Todos os papas deste século XX, de São Pio X a João Paulo II, têm encarecido o significado e a importância do celibato. O sacerdote, de fato, tem necessidade de estar inteiramente disponível ao serviço das almas, sendo o evangelizador privilegiado da Palavra de Deus. O celibato não é impossível, dado que Deus concede sua graça abundantemente a todo aquele que lhe implora favores especiais para viver esta condição de vida. Uma das armas espirituais mais poderosas é a Liturgia das Horas a alimentar uma vida de oração intensa. Aqueles sacerdotes que foram dispensados pela Igreja dos votos e contraíram o Santo Sacramento do Matrimônio têm podido demonstrar na sociedade seu espírito de fé profunda e fazem de sua cultura, de seu saber instrumento de edificação do Reino dos Céus no novo estado de vida que abraçaram. O celibato, porém, há de continuar sendo uma das glórias do Clero com dedicação exclusiva à união profunda com Deus, anunciando as realidades do mundo que há de vir!
• Professor No Seminário de Mariana durante 40 anos
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Muita celeuma causa a questão do celibato eclesiástico, ou seja, o fato de os sacerdotes não contraírem matrimônio. Trata-se de uma disciplina da Igreja que longe de ser uma imposição é um estado de vida abraçado livre e conscientemente por quem deseja o estado sacerdotal. Sociedade bem estruturada, a Igreja tem o direito de estabelecer normas disciplinares. Como não se trata de um preceito divino, é a História Eclesiástica que deve ser consultada quando se ventila tão importante questão. Em primeiro lugar é bom que se ressalte que Jesus Cristo não se casou e que o Apóstolo Paulo levou vida celibatária e a recomendou. Aos Coríntios assim se expressou: “Digo aos solteiros e às viúvas que lhes é bom se permanecerem assim, como também eu (1 Cor 7,8). O celibato voluntário começou a ser fielmente praticado praticamente desde o começo do século II, quer no Oriente, quer no Ocidente. Na Síria, na Ásia Menor, na Grécia e em Roma inúmeros os que anteciparam a vida futura, vivendo como anjos de Deus. Entre os testemunhos desta verdade está o relato de São Justino (I Apolog. 29; 14,2;15,6). Cristo foi muito claro: “Os filhos deste século casam e são dados em casamento, mas os que forem julgados dignos daquele (outro) século, e da (ditosa) ressurreição dos mortos, nem os homens desposarão mulheres, nem as mulheres homens; porque não poderão jamais morrer; porquanto são semelhantes aos anjos e são filhos de Deus, visto serem filhos da ressurreição” (Lc 20, 34-36). Mencionam o celibato no século IV Eusébio ( Dem. Evang. I,9; 260-340), S. Cirilo de Jerusalém (Cat. 12, 25;315-386; São Jerônimo ( Ad Vig. 2. 340-420; Santo Epifânio ( Adv. Haer. 59,4; 315-493). O Concílio de Elvira no Cânon 33, na Espanha estabeleceu pela vez primeira o preceito do celibato eclesiástico por volta do ano 300, consagrando uma prática que já tinha se estendido amplamente e dado opimos frutos espirituais. O Concílio Romano, celebrado sob o Papa Sirício (384-399) mandou documento para a Espanha e para a África urgindo a observância do celibato por parte dos sacerdotes e bispos. Na época de São Leão Magno (440-461) esta disposição disciplinar já era obrigatória em todo o Ocidente. O Concílio de Nicéia (325), ainda que não fale abertamente da lei celibatária, proibia que o clero tivesse em sua casa mulher que pudesse motivar suspeitas de imoralidade e lembrava que os sacerdotes tivessem junto a si sua mãe, irmãs ou outros familiares. A Constituição Apostólica do ano de 400 vedava aos Bispos, Sacerdotes e Diáconos casar depois de ordenados. A Igreja russa e armênia, que admite Clero secular casado, escolhe os bispos dentre os monges que são celibatários. Nos períodos posteriores o Espírito Santo suscitou sempre papas que pugnaram pela consagração total do clero ao serviço do Altar. Assim Leão X (1049-1054), Gregório VII (1073-1085), Urbano II (1088-1099), Calisto II (1119-1124), entre tantos outros. Todos os papas deste século XX, de São Pio X a João Paulo II, têm encarecido o significado e a importância do celibato. O sacerdote, de fato, tem necessidade de estar inteiramente disponível ao serviço das almas, sendo o evangelizador privilegiado da Palavra de Deus. O celibato não é impossível, dado que Deus concede sua graça abundantemente a todo aquele que lhe implora favores especiais para viver esta condição de vida. Uma das armas espirituais mais poderosas é a Liturgia das Horas a alimentar uma vida de oração intensa. Aqueles sacerdotes que foram dispensados pela Igreja dos votos e contraíram o Santo Sacramento do Matrimônio têm podido demonstrar na sociedade seu espírito de fé profunda e fazem de sua cultura, de seu saber instrumento de edificação do Reino dos Céus no novo estado de vida que abraçaram. O celibato, porém, há de continuar sendo uma das glórias do Clero com dedicação exclusiva à união profunda com Deus, anunciando as realidades do mundo que há de vir!
• Professor No Seminário de Mariana durante 40 anos
sexta-feira, 16 de dezembro de 2011
Dignidade do Sacramento do Matrimônio
A DIGNIDADE DO SACRAMENTO DO MATRIMÔNIO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
O matrimônio é o alicerce da família, é o suporte da primeira sociedade humana do planeta terra, é o vínculo sublime que, prendendo duas pessoas, perpetua neste mundo a humanidade. Não há instituição mais admirável, nem mais importante e respeitável. Em todos os tempos e para todos os povos o matrimônio teve sempre um caráter religioso, porque a família é uma sociedade indissolúvel e santa, que não se pode privar das bênçãos divinas. Cristo firmou esta verdade quando declarou que a união do homem com a mulher é uma união legítima e perpétua, que está acima do abalo das paixões, e, sendo instituída pelo próprio Deus, não pode estar sujeita aos caprichos dos homens. Jesus fez do matrimônio um dos sacramentos de sua Igreja. O que muitas vezes se esquece é que o matrimônio é da esfera da família e do indivíduo; o matrimônio se inaugura dentro da família; os nubentes saem da família e saem para constituir nova família. É pois um ato que se realiza em função da família e dentro da família e aí produz os seus efeitos. O contrato civil é mera formalidade legal para regularizar os interesses materiais dos esposos, mas não pode ser considerado como matrimônio. É apenas sob este ângulo que os fiéis cumprem rigorosamente as leis do Estado. Eis porque as pessoas, que se contentam unicamente com essa formalidade legal, não podem receber os sacramentos da penitência e da comunhão. O matrimônio de fato, é uma instituição santa. Sua origem é divina, como lemos nas primeiras páginas da Bíblia: “Deus criou o homem à sua imagem, criou-o à imagem de Deus, e criou-os homem e mulher. E Deus abençoou-os, dizendo-lhes: “Proliferai e multiplicai-vos, e povoai a terra” (Gên 1,27-28). Deste modo, o Ser Supremo querendo consagrar o primeiro casamento, estendeu a mão sobre a fronte do homem e da mulher e os santificou impondo-lhes a lei da fecundidade. Bênção que outorgou ao homem vigor e fez de Adão e Eva os pais de toda a raça humana. Um dia interrogado pelos Fariseus se era permitido despedir a esposa por qualquer motivo, Jesus, claramente, respondeu: “Não lestes que o Criador, desde o princípio, os fez homem e mulher, e disse: - Por isso deixa o homem pai e mãe e une-se com sua mulher e os dois formam uma só carne? – Portanto, já não são dois, mas uma só carne. “Não separe, pois, o homem o que Deus uniu” (Mt 19,3-7). Jesus não se contentou em restituir ao matrimônio a sua forma primitiva, mas ainda quis purificá-lo de todas as manchas (Mt 18, 8-10). São Paulo, comparando a união dos esposos com a união que existe entre Cristo e a Igreja declarou: “Grande mistério é este; mas digo-o referindo-me a Cristo e à Igreja. Resta, portanto, que ame também cada um de vós sua mulher como a si próprio e que a mulher respeite o marido (Ef 5, 32-33). Como a união de Cristo com a Igreja é santa, imaculada e permanente, também a união matrimonial deve ser santa, religiosa e perpétua. Uma não seria a imagem, a figura e a representação da outra, se não houvesse uma virtude santificante, que somente o sacramento pode conferir. Concede aos esposos a graça de se amarem com o mesmo amor com que Cristo amou a sua Igreja. A graça do sacramento leva à perfeição o amor humano dos esposos, consolida sua unidade indissolúvel e os santifica no caminho da vida eterna. O homem não amaria a sua esposa como o Cristo ama a Igreja, nem a mulher amaria o esposo como a Igreja ama Cristo, sem uma graça especial que purifique e sobrenaturalize o amor conjugal. O Salvador, entregando-se à sua Igreja, a santifica; o homem e a mulher, dando-se um ao outro, devem mutuamente santificar-se. Eis porque o matrimônio é um grande sacramento. O matrimônio é, realmente, algo sublime, um ato da vida ao qual Deus deve presidir e deve comunicar suas graças poderosas, a fim de que os esposos se conservem na mesma dileção e guardem fidelidade um ao outro até o último momento da vida. A essência natural do matrimônio é o amor que principia pela misteriosa simpatia e elevada empatia que surge entre duas pessoas. A bênção sacramental santifica este amor. A graça conferida pelo sacramento purifica a união, torna toleráveis as naturais dificuldades da existência neste vale de lágrimas até os últimos dias de vida de cada um dos esposos. A força do sacramento confere a perseverança e transforma os desgostos em virtudes; confere coragem para que suportem mutuamente as imperfeições um do outro, garantindo a fidelidade absoluta em qualquer circunstância da vida, garantindo uma grande recompensa no céu pela dedicação aos filhos, pelo amparo mútuo, pelos grandes triunfos que juntos conquistam para o tempo e a eternidade. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
O matrimônio é o alicerce da família, é o suporte da primeira sociedade humana do planeta terra, é o vínculo sublime que, prendendo duas pessoas, perpetua neste mundo a humanidade. Não há instituição mais admirável, nem mais importante e respeitável. Em todos os tempos e para todos os povos o matrimônio teve sempre um caráter religioso, porque a família é uma sociedade indissolúvel e santa, que não se pode privar das bênçãos divinas. Cristo firmou esta verdade quando declarou que a união do homem com a mulher é uma união legítima e perpétua, que está acima do abalo das paixões, e, sendo instituída pelo próprio Deus, não pode estar sujeita aos caprichos dos homens. Jesus fez do matrimônio um dos sacramentos de sua Igreja. O que muitas vezes se esquece é que o matrimônio é da esfera da família e do indivíduo; o matrimônio se inaugura dentro da família; os nubentes saem da família e saem para constituir nova família. É pois um ato que se realiza em função da família e dentro da família e aí produz os seus efeitos. O contrato civil é mera formalidade legal para regularizar os interesses materiais dos esposos, mas não pode ser considerado como matrimônio. É apenas sob este ângulo que os fiéis cumprem rigorosamente as leis do Estado. Eis porque as pessoas, que se contentam unicamente com essa formalidade legal, não podem receber os sacramentos da penitência e da comunhão. O matrimônio de fato, é uma instituição santa. Sua origem é divina, como lemos nas primeiras páginas da Bíblia: “Deus criou o homem à sua imagem, criou-o à imagem de Deus, e criou-os homem e mulher. E Deus abençoou-os, dizendo-lhes: “Proliferai e multiplicai-vos, e povoai a terra” (Gên 1,27-28). Deste modo, o Ser Supremo querendo consagrar o primeiro casamento, estendeu a mão sobre a fronte do homem e da mulher e os santificou impondo-lhes a lei da fecundidade. Bênção que outorgou ao homem vigor e fez de Adão e Eva os pais de toda a raça humana. Um dia interrogado pelos Fariseus se era permitido despedir a esposa por qualquer motivo, Jesus, claramente, respondeu: “Não lestes que o Criador, desde o princípio, os fez homem e mulher, e disse: - Por isso deixa o homem pai e mãe e une-se com sua mulher e os dois formam uma só carne? – Portanto, já não são dois, mas uma só carne. “Não separe, pois, o homem o que Deus uniu” (Mt 19,3-7). Jesus não se contentou em restituir ao matrimônio a sua forma primitiva, mas ainda quis purificá-lo de todas as manchas (Mt 18, 8-10). São Paulo, comparando a união dos esposos com a união que existe entre Cristo e a Igreja declarou: “Grande mistério é este; mas digo-o referindo-me a Cristo e à Igreja. Resta, portanto, que ame também cada um de vós sua mulher como a si próprio e que a mulher respeite o marido (Ef 5, 32-33). Como a união de Cristo com a Igreja é santa, imaculada e permanente, também a união matrimonial deve ser santa, religiosa e perpétua. Uma não seria a imagem, a figura e a representação da outra, se não houvesse uma virtude santificante, que somente o sacramento pode conferir. Concede aos esposos a graça de se amarem com o mesmo amor com que Cristo amou a sua Igreja. A graça do sacramento leva à perfeição o amor humano dos esposos, consolida sua unidade indissolúvel e os santifica no caminho da vida eterna. O homem não amaria a sua esposa como o Cristo ama a Igreja, nem a mulher amaria o esposo como a Igreja ama Cristo, sem uma graça especial que purifique e sobrenaturalize o amor conjugal. O Salvador, entregando-se à sua Igreja, a santifica; o homem e a mulher, dando-se um ao outro, devem mutuamente santificar-se. Eis porque o matrimônio é um grande sacramento. O matrimônio é, realmente, algo sublime, um ato da vida ao qual Deus deve presidir e deve comunicar suas graças poderosas, a fim de que os esposos se conservem na mesma dileção e guardem fidelidade um ao outro até o último momento da vida. A essência natural do matrimônio é o amor que principia pela misteriosa simpatia e elevada empatia que surge entre duas pessoas. A bênção sacramental santifica este amor. A graça conferida pelo sacramento purifica a união, torna toleráveis as naturais dificuldades da existência neste vale de lágrimas até os últimos dias de vida de cada um dos esposos. A força do sacramento confere a perseverança e transforma os desgostos em virtudes; confere coragem para que suportem mutuamente as imperfeições um do outro, garantindo a fidelidade absoluta em qualquer circunstância da vida, garantindo uma grande recompensa no céu pela dedicação aos filhos, pelo amparo mútuo, pelos grandes triunfos que juntos conquistam para o tempo e a eternidade. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
sábado, 10 de dezembro de 2011
Louvores à Mãe de Família
LOUVORES Á MÃE DE FAMÍLIA
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Nunca se reflete demais sobre a grandeza da mãe. Em maio o dia das mães fica instrumentalizado pelo comércio e nem sempre se reflete profundamente sobre o papel deste anjo de bondade. O próprio Filho de Deus, vindo a este mundo não dispensou os cuidados maternos. Do presépio até sua morte no alto da Cruz Maria esteve a seu lado, tendo os evangelistas registrado lances maravilhosos da presença desta mãe admirável.
A mãe é a expressão mais perfeita da dileção. Pelos engenho do seu amor, pelos afetos de sua ternura, ela apodera-se do coração e do espírito, de sorte que pode comunicar à alma dos filhos os melhores anseios da virtude, do bem, do temor e do amor a Deus. Ela transmite uma fé viva e forte e faz a alma abrir-se aos fulgores da religião, como a flor aos raios do sol. Desde o alvorecer da sua existência, o ser pensante, junto do seu berço, percebe a afeição materna, que vela sobre sua vida. Eis porque ao lado dos grandes personagens e dos mais ilustres santos, contemplamos, geralmente, uma mulher extraordinária, a mãe de família, que os guiou com a fulgor dos suas recomendações e das suas exortações, como o farol sobre os rochedos guia o navio na rota dos mares. Quando se percorre a vida dos homens, que mais ilustraram a humanidade e a Igreja logo se indaga quem foi sua mãe. Ao lado de S. Basílio vemos Emélia, sua carinhosa genitora; com S. Agostinho aparece S. Mônica, que se sacrificou dia e noite para obter a conversão do filho; junto ao berço de S. Luis está Branca de Castela a inspirar-lhe a aversão do pecado; ao lado de São João Bosco surge a figura humilde e simpática de Margarida Occhiena; de Santo Afonso de Ligório, Ana Cavalieri; de São João Berchmans, Elizabeth Hove; de Santa Luzia, Eutíquia; de Santa Maria Goretti, Assunta. Estas piedosas mães, entre milhares de outras, se fizeram exemplo a serem imitado. As mães cristãs se parecem com a Igreja, que também é mãe. A Igreja trabalha, luta e sofre, para salvar os seus filhos que, neste mundo, estão expostos a muitos perigos; não esquece aqueles que morreram na graça divina e, por causa de algumas imperfeições, purificam-se no purgatório antes de entrarem no reino celeste. Recorda-se ainda dos que exultam na eternidade junto de Deus, gozando das delícias eternas. Por causa destas várias maneiras de sua existência, a Igreja recebe os títulos de Igreja militante, padecente e triunfante. A mãe de família também muito trabalha e muito sofre pelos seus filhos. Algumas vezes trás o coração dilacerado pelo filho que se desviou e se entrega às drogas e outros vícios; outras vezes se imerge na verdadeira alegria, vendo o filho, já homem, seguir o bom caminho, de sorte que o amor materno é também um amor militante, padecente e triunfante. O mistério materno é uma pugna contínua. Antes de tudo é um ministério de consagração. Ainda não nasceu a criança e as mães imitando a Virgem Santíssima, quando em seu seio trazia o menino Jesus, já repetem o mesmo cântico: “Minha alma glorifica o Senhor, exulta o meu espírito em Deus meu salvador”, pois degusta desde a concepção do filho a grandeza da maternidade. Quantas mães poderiam repetir com estas ou outras palavras o que Madalena d’Aguesseau escreveu para o seu filho: “Ainda te trazia em meu seio e já tinha te consagrado a Deus. Quando te apresentaram a mim, depois do batismo, dirigi ao céu esta oração: Confirmai, Senhor, o que fizestes em vosso santo templo. Eu vos dou graças de todo o bem que fizestes a esta criança, e vo-la ofereço de todo coração. Mais do que a mim ela vos pertence”. Santa Isabel da Hungria, depois do batismo de seus filhos, tinha o costume de ir visitar qualquer igreja da cidade. Colocava então o filhinho sobre o altar, dizendo: “Senhor Jesus, eu vos ofereço assim como à vossa santa mãe, a Virgem Maria, esta criança, fruto do meu seio. Eu vo-la entrego como vós me destes. Sois o soberano e o pai carinhoso da mãe e do filho. A única oração que hoje vos dirijo, a única graça que vos peço, é de receber este menino, ainda banhado com minhas lágrimas e com o vosso santo batismo, no número dos vossos amigos e de dar-lhe vossa santa bênção”. Assim são as mães cristãs que depois se dedicam à formação, educação e formação do corpo e da alma de seus filhos. Pela sua dedicação, pelos seus sacrifícios, pela suas provas de ternura as mães merecem todas as atenções de seus filhos. Nada mais desagrada a Deus do que a falta de amor e respeito àquela que o gerou. Mormente no final de suas existências elas devem receber toda assistência, todo carinho. Muitos filhos desalmados, porém, não dão assistência a suas mães na doença e, tantas vezes, a jogam num asilo e nem as vão visitar. Venturosos, contudo, os filhos que sabem honrar suas mães e as alegram com uma vida nobre e digna. Terão sempre de Deus as melhores bênçãos e graças! * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Nunca se reflete demais sobre a grandeza da mãe. Em maio o dia das mães fica instrumentalizado pelo comércio e nem sempre se reflete profundamente sobre o papel deste anjo de bondade. O próprio Filho de Deus, vindo a este mundo não dispensou os cuidados maternos. Do presépio até sua morte no alto da Cruz Maria esteve a seu lado, tendo os evangelistas registrado lances maravilhosos da presença desta mãe admirável.
A mãe é a expressão mais perfeita da dileção. Pelos engenho do seu amor, pelos afetos de sua ternura, ela apodera-se do coração e do espírito, de sorte que pode comunicar à alma dos filhos os melhores anseios da virtude, do bem, do temor e do amor a Deus. Ela transmite uma fé viva e forte e faz a alma abrir-se aos fulgores da religião, como a flor aos raios do sol. Desde o alvorecer da sua existência, o ser pensante, junto do seu berço, percebe a afeição materna, que vela sobre sua vida. Eis porque ao lado dos grandes personagens e dos mais ilustres santos, contemplamos, geralmente, uma mulher extraordinária, a mãe de família, que os guiou com a fulgor dos suas recomendações e das suas exortações, como o farol sobre os rochedos guia o navio na rota dos mares. Quando se percorre a vida dos homens, que mais ilustraram a humanidade e a Igreja logo se indaga quem foi sua mãe. Ao lado de S. Basílio vemos Emélia, sua carinhosa genitora; com S. Agostinho aparece S. Mônica, que se sacrificou dia e noite para obter a conversão do filho; junto ao berço de S. Luis está Branca de Castela a inspirar-lhe a aversão do pecado; ao lado de São João Bosco surge a figura humilde e simpática de Margarida Occhiena; de Santo Afonso de Ligório, Ana Cavalieri; de São João Berchmans, Elizabeth Hove; de Santa Luzia, Eutíquia; de Santa Maria Goretti, Assunta. Estas piedosas mães, entre milhares de outras, se fizeram exemplo a serem imitado. As mães cristãs se parecem com a Igreja, que também é mãe. A Igreja trabalha, luta e sofre, para salvar os seus filhos que, neste mundo, estão expostos a muitos perigos; não esquece aqueles que morreram na graça divina e, por causa de algumas imperfeições, purificam-se no purgatório antes de entrarem no reino celeste. Recorda-se ainda dos que exultam na eternidade junto de Deus, gozando das delícias eternas. Por causa destas várias maneiras de sua existência, a Igreja recebe os títulos de Igreja militante, padecente e triunfante. A mãe de família também muito trabalha e muito sofre pelos seus filhos. Algumas vezes trás o coração dilacerado pelo filho que se desviou e se entrega às drogas e outros vícios; outras vezes se imerge na verdadeira alegria, vendo o filho, já homem, seguir o bom caminho, de sorte que o amor materno é também um amor militante, padecente e triunfante. O mistério materno é uma pugna contínua. Antes de tudo é um ministério de consagração. Ainda não nasceu a criança e as mães imitando a Virgem Santíssima, quando em seu seio trazia o menino Jesus, já repetem o mesmo cântico: “Minha alma glorifica o Senhor, exulta o meu espírito em Deus meu salvador”, pois degusta desde a concepção do filho a grandeza da maternidade. Quantas mães poderiam repetir com estas ou outras palavras o que Madalena d’Aguesseau escreveu para o seu filho: “Ainda te trazia em meu seio e já tinha te consagrado a Deus. Quando te apresentaram a mim, depois do batismo, dirigi ao céu esta oração: Confirmai, Senhor, o que fizestes em vosso santo templo. Eu vos dou graças de todo o bem que fizestes a esta criança, e vo-la ofereço de todo coração. Mais do que a mim ela vos pertence”. Santa Isabel da Hungria, depois do batismo de seus filhos, tinha o costume de ir visitar qualquer igreja da cidade. Colocava então o filhinho sobre o altar, dizendo: “Senhor Jesus, eu vos ofereço assim como à vossa santa mãe, a Virgem Maria, esta criança, fruto do meu seio. Eu vo-la entrego como vós me destes. Sois o soberano e o pai carinhoso da mãe e do filho. A única oração que hoje vos dirijo, a única graça que vos peço, é de receber este menino, ainda banhado com minhas lágrimas e com o vosso santo batismo, no número dos vossos amigos e de dar-lhe vossa santa bênção”. Assim são as mães cristãs que depois se dedicam à formação, educação e formação do corpo e da alma de seus filhos. Pela sua dedicação, pelos seus sacrifícios, pela suas provas de ternura as mães merecem todas as atenções de seus filhos. Nada mais desagrada a Deus do que a falta de amor e respeito àquela que o gerou. Mormente no final de suas existências elas devem receber toda assistência, todo carinho. Muitos filhos desalmados, porém, não dão assistência a suas mães na doença e, tantas vezes, a jogam num asilo e nem as vão visitar. Venturosos, contudo, os filhos que sabem honrar suas mães e as alegram com uma vida nobre e digna. Terão sempre de Deus as melhores bênçãos e graças! * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
sexta-feira, 9 de dezembro de 2011
Imenso valor das preces dos pais
IMENSO VALOR DAS PRECES DOS PAIS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Nunca se reflete demais sobre a importância das preces e bênçãos do pai e da mãe. Num mundo conturbado como o de hoje, mais do que nunca, os pais precisam ter confiança plena, total. absoluta no valor de suas orações pelos filhos, procurando abençoá-los na certeza de que são, de fato, os representantes de Deus, responsáveis pela felicidade daqueles que trouxeram a este mundo. O capítulo 49 de Gênesis narra como Jacó, reunidos os seus filhos e após lhes falar, abençoou-os cada um dos doze com uma bênção peculiar. A bênção dos patriarcas não só assegurava aos seus descendentes a herança temporal, mas ainda dava-lhes a esperança do Messias que nasceria numa família humana. Do mesmo modo a bênção dos pais confere a proteção divina, e atrai as graças divinas para aqueles que devem ser herdeiros do reino dos céus. Lê-se no Livro do Eclesiástico: “A bênção paterna fortalece a casa de seus filhos, a maldição de uma mãe a arrasa até os alicerces. (Ecl 3,11). Grande responsabilidade dos pais! Em outros tempos, os filhos pela manhã e à noite pediam a bênção de seus pais, costume que ainda reina, venturosamente, porém, em muitos lares. Mesmo que os filhos não tomem explicitamente esta atitude, cumpre a seus progenitores nas suas ardentes preces pedirem a Deus proteção tão necessária, mormente, no contexto atual no qual se multiplicam os perigos que levam à perdição eterna. Como é belo o gesto de um pai e de uma mãe a traçar o sinal da cruz no seu filhinho! É que a casa paterna é um santuário sagrado onde tudo se alcança do Todo-Poderoso. A família, sendo uma instituição santa e divina, torna o lar doméstico é, realmente, um lugar sagrado, no qual um ato religioso exercido pelo pai e pela mãe de família é de vital necessidade. Pode ser que pelas estradas da vida este ou aquele filho se extravie, mas, um dia, mais hora menos hora, voltará ao bom caminho. Os genitores receberam de Deus o poder de abençoar e, como o Ser Supremo abençoou o cosmos, a criação e a humanidade, os pais abençoam os filhos e a família que são, por assim dizer, a sua criação. Na hagiografia lemos que os mártires pediam a bênção paterna, e os pais, muitas vezes, com os braços carregados de cadeias, caminhando ao suplício, abençoavam os filhos nas prisões ou na rota que levava ao martírio. Santa Felicidade, em Cartago, abençoou sua filha nascida na prisão e morreu tranqüila e uma senhora cristã tomou a guarda da menina e educou. São Basílio de Cesárea pedia e recebia sempre a bênção de sua venerável mãe Emélia. Na história das nações aparece o imperador romano do Ocidente, Teodósio, abençoando publicamente, antes de partir para a guerra, os seus dois filhos, aos quais iria entregar o governo do império. S. Luis, Rei de França, morrendo entre as ruínas da cidade de Cartago, deu a bênção suprema ao filho que lhe devia suceder no trono. O guerreiro francês Pierre Terrail, senhor de Bayard, antes de partir para o campo militar inclinou-se respeitosamente diante de seu pai e tomou-lhe a bênção, a fim de que nunca ousasse praticar o mal. Entre os sábios se encontra, por exemplo, João Gerson, Chanceler da Universidade de Paris, vindo todos os dias rogar a seu pai e a sua mãe que o abençoassem. Entre os magistrados e os grandes homens de Estado cita-se Thomaz Morus, ilustre ministro inglês, não faltando um só dia, mesmo no tempo de sua maior glória, de pedir a bênção paterna. A idade não dispensa a prática deste gesto filial, porque, em qualquer tempo, as graças divinas são necessárias através destes seus representantes. A bênção é um augúrio de ventura, é a vontade paterna suplicando a vontade divina para que os filhos sejam ditosos. Não é uma simples saudação, como aquela que se verifica entre amigos, mas é um ato santo que atrai sobre os que são abençoados as graças do céu. Quando o pai ou a mãe aproximam-se de um filho para abençoá-lo, oram a Deus, e o simples ato de abençoar equivale, segundo grandes teólogos a esta oração: “Sê feliz, ó meu filho! Seja Deus a tua guarda e a tua defesa contra o mal. Não sendo eu o senhor do tempo, nem tão pouco sabendo o que te possa acontecer, entrego-te àquele que te ama muito mais do que eu, que sabe mais do que eu e pode mais do que eu. Minha vigilância não poderá te acompanhar por toda parte, nem o meu braço te proteger, mas Deus está presente em todo lugar, e o sinal da cruz, que faço sobre a tua fronte, será, longe de mim, tua força e tua proteção. Que Deus pois te abençoe”. Trata-se de um voto e de uma oração que infalivelmente sobe até o céu. O pai e a mãe de família, tendo obrigação de abençoar e de orar, têm o direito de serem atendidos. A bênção, por conseguinte, dada em nome de Deus, de quem são os lugar-tenentes no lar doméstico, possui uma eficácia divina. Que os pais sempre abençoem seus filhos, rezem por eles e que os filhos confiem nesta bênção e nestas preces e o mundo será melhor! * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Nunca se reflete demais sobre a importância das preces e bênçãos do pai e da mãe. Num mundo conturbado como o de hoje, mais do que nunca, os pais precisam ter confiança plena, total. absoluta no valor de suas orações pelos filhos, procurando abençoá-los na certeza de que são, de fato, os representantes de Deus, responsáveis pela felicidade daqueles que trouxeram a este mundo. O capítulo 49 de Gênesis narra como Jacó, reunidos os seus filhos e após lhes falar, abençoou-os cada um dos doze com uma bênção peculiar. A bênção dos patriarcas não só assegurava aos seus descendentes a herança temporal, mas ainda dava-lhes a esperança do Messias que nasceria numa família humana. Do mesmo modo a bênção dos pais confere a proteção divina, e atrai as graças divinas para aqueles que devem ser herdeiros do reino dos céus. Lê-se no Livro do Eclesiástico: “A bênção paterna fortalece a casa de seus filhos, a maldição de uma mãe a arrasa até os alicerces. (Ecl 3,11). Grande responsabilidade dos pais! Em outros tempos, os filhos pela manhã e à noite pediam a bênção de seus pais, costume que ainda reina, venturosamente, porém, em muitos lares. Mesmo que os filhos não tomem explicitamente esta atitude, cumpre a seus progenitores nas suas ardentes preces pedirem a Deus proteção tão necessária, mormente, no contexto atual no qual se multiplicam os perigos que levam à perdição eterna. Como é belo o gesto de um pai e de uma mãe a traçar o sinal da cruz no seu filhinho! É que a casa paterna é um santuário sagrado onde tudo se alcança do Todo-Poderoso. A família, sendo uma instituição santa e divina, torna o lar doméstico é, realmente, um lugar sagrado, no qual um ato religioso exercido pelo pai e pela mãe de família é de vital necessidade. Pode ser que pelas estradas da vida este ou aquele filho se extravie, mas, um dia, mais hora menos hora, voltará ao bom caminho. Os genitores receberam de Deus o poder de abençoar e, como o Ser Supremo abençoou o cosmos, a criação e a humanidade, os pais abençoam os filhos e a família que são, por assim dizer, a sua criação. Na hagiografia lemos que os mártires pediam a bênção paterna, e os pais, muitas vezes, com os braços carregados de cadeias, caminhando ao suplício, abençoavam os filhos nas prisões ou na rota que levava ao martírio. Santa Felicidade, em Cartago, abençoou sua filha nascida na prisão e morreu tranqüila e uma senhora cristã tomou a guarda da menina e educou. São Basílio de Cesárea pedia e recebia sempre a bênção de sua venerável mãe Emélia. Na história das nações aparece o imperador romano do Ocidente, Teodósio, abençoando publicamente, antes de partir para a guerra, os seus dois filhos, aos quais iria entregar o governo do império. S. Luis, Rei de França, morrendo entre as ruínas da cidade de Cartago, deu a bênção suprema ao filho que lhe devia suceder no trono. O guerreiro francês Pierre Terrail, senhor de Bayard, antes de partir para o campo militar inclinou-se respeitosamente diante de seu pai e tomou-lhe a bênção, a fim de que nunca ousasse praticar o mal. Entre os sábios se encontra, por exemplo, João Gerson, Chanceler da Universidade de Paris, vindo todos os dias rogar a seu pai e a sua mãe que o abençoassem. Entre os magistrados e os grandes homens de Estado cita-se Thomaz Morus, ilustre ministro inglês, não faltando um só dia, mesmo no tempo de sua maior glória, de pedir a bênção paterna. A idade não dispensa a prática deste gesto filial, porque, em qualquer tempo, as graças divinas são necessárias através destes seus representantes. A bênção é um augúrio de ventura, é a vontade paterna suplicando a vontade divina para que os filhos sejam ditosos. Não é uma simples saudação, como aquela que se verifica entre amigos, mas é um ato santo que atrai sobre os que são abençoados as graças do céu. Quando o pai ou a mãe aproximam-se de um filho para abençoá-lo, oram a Deus, e o simples ato de abençoar equivale, segundo grandes teólogos a esta oração: “Sê feliz, ó meu filho! Seja Deus a tua guarda e a tua defesa contra o mal. Não sendo eu o senhor do tempo, nem tão pouco sabendo o que te possa acontecer, entrego-te àquele que te ama muito mais do que eu, que sabe mais do que eu e pode mais do que eu. Minha vigilância não poderá te acompanhar por toda parte, nem o meu braço te proteger, mas Deus está presente em todo lugar, e o sinal da cruz, que faço sobre a tua fronte, será, longe de mim, tua força e tua proteção. Que Deus pois te abençoe”. Trata-se de um voto e de uma oração que infalivelmente sobe até o céu. O pai e a mãe de família, tendo obrigação de abençoar e de orar, têm o direito de serem atendidos. A bênção, por conseguinte, dada em nome de Deus, de quem são os lugar-tenentes no lar doméstico, possui uma eficácia divina. Que os pais sempre abençoem seus filhos, rezem por eles e que os filhos confiem nesta bênção e nestas preces e o mundo será melhor! * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
quinta-feira, 8 de dezembro de 2011
IMACULADA CONCEIÇÃO
IMACULADA CONCEIÇÃO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
A glória de Maria procede de sua dignidade de Mãe de Jesus Cristo, mas esta prerrogativa outorgou a ela outros privilégios, de sorte que em redor do título de Genitora do Filho de Deus Encarnado florescem todas as perfeições que nela contemplamos. Entre os privilégios desta mulher singular fulge a Imaculada Conceição, ou seja, a isenção do pecado original no mesmo momento em que a sua alma foi criada e unida ao corpo. Todos nós nascemos privados da graça santificante, da pureza primitiva, da amizade de Deus. Ela, porém, foi pura, imaculada, como outrora nossos primeiros pais no paraíso terrestre. Eles desobedeceram a Deus, perderam sua amizade e nos legaram o pecado original. Para a Rainha das Virgens, entretanto, tudo é luz. Ela entrou no mundo destinada a ser a progenitora do Redentor da humanidade, brilhando com todos os esplendores da divindade de Cristo a quem conceberia pelo poder do Espírito Santo. Eis porque todas as belas-artes, cujo ideal é a beleza sem mancha e sem defeitos, inclinaram-se diante da Virgem imaculada, prestando-lhe homenagens, proclamando-a a sua rainha e procurando reproduzir-lhe os traços nos mais primorosos trabalhos humanos. Foi a beleza imaculada de Maria que arrancou do gênio de Rafael as suas Madonas, do pincel de Murilo as suas Conceições, da virtude de Fra-Angélico as suas Virgens. Foi a beleza imaculada de Maria que fez vibrar a alma de Mozart e de Gounod, entoando a Ave-Maria; foi a beleza imaculada de Maria que guiou o buril dos artistas na pureza das linhas, na graciosidade dos contornos, na harmonia do conjunto dessas estátuas que fazem o encanto de nossas igrejas e o ornamento das nossas cidades. Foi a beleza imaculada de Maria que fascinou e encantou o coração da humanidade, a ponto de reformar os seus costumes e de purificar os seus sentimentos; foi a beleza imaculada de Maria que suscitou através dos tempos as virgens cristãs em sua radiante pureza e na sublimidade do seu heroísmo. Foi quem depositou na fronte de nossas mães a modéstia, a graça, uma doce majestade que são ao mesmo tempo a honra, a segurança e a felicidade da família. Ela é a cheia de graça, a bendita entre todas as mulheres. Na vida de Maria Santíssima não houve um só momento em que ela estivesse sujeita ao pecado, e esta crença universal de todos os séculos cristãos foi solenemente proclamada dogma de fé a 8 de dezembro de 1854 pelo Papa Pio IX: «Declaramos que a Bem-aventurada Virgem Maria, desde o primeiro instante de sua concepção, por uma graça especial e um privilégio do Altíssimo, em vista dos méritos de Jesus Cristo, o Salvador da raça humana, foi preservada da mancha do pecado original». Este privilégio excepcional, esta glória sem igual, lhe vieram unicamente dos merecimentos infinitos do Verbo de Deus que em seu seio se encarnou, para redimir o gênero humano. Como a nuvem da tarde reveste-se de púrpura e de luz, refletindo os últimos raios solares, quando o astro do dia vai desaparecendo no horizonte, assim Maria, recebendo a eficácia dos méritos do Redentor, apareceu na terra iluminada e foi sempre pura, santa, sem mancha, original. Jesus é realmente o Deus feito Homem e, por conseguinte, a humanidade lhe é tão necessária como a divindade. Maria entrou nos planos salvíficos do Ser Supremo. O sangue que correu nas veias do Cristo procedeu da vida de Maria, e a fonte desse sangue não poderia ser impura, o princípio dessa vida não poderia ser viciado. A Virgem santa, que apresenta ao mundo o vencedor do pecado, não poderia estar um instante sequer sob a lei do pecado. Aquela por cujo intermédio a graça divina derrama-se sobre a criatura não viveria, ainda que um só momento, fora da graça. A desonra materna tornar-se-ia a ignomínia do Filho, e ainda que Cristo destruísse o império do pecado, haveria sempre uma sombra em sua glória, pois antes de ser o vencedor do mal, não teria podido vencer o mal em sua santa Mãe, e a graça, que tudo purifica, teria sido impotente na Conceição de Maria. Não nos basta, porém, recordar toda a grandeza da Virgem Imaculada. Cumpre imitar sua pureza sem mancha numa pugna constante contra tudo que possa conspurcar a alma numa fuga perseverante das ocasiões de pecado, das novelas obscenas, dos sites pornográficos, enfim de tudo que a mídia sob inspiração do Maligno oferece para perdição eterna. Observância total, absoluta do sexto e do nono mandamentos sagrados da Lei de Deus. Por isto, o cristão está sempre a repetir: “O Maria concebida sem pecado original, rogai a Deus por nós que recorremos a vós”! * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
A glória de Maria procede de sua dignidade de Mãe de Jesus Cristo, mas esta prerrogativa outorgou a ela outros privilégios, de sorte que em redor do título de Genitora do Filho de Deus Encarnado florescem todas as perfeições que nela contemplamos. Entre os privilégios desta mulher singular fulge a Imaculada Conceição, ou seja, a isenção do pecado original no mesmo momento em que a sua alma foi criada e unida ao corpo. Todos nós nascemos privados da graça santificante, da pureza primitiva, da amizade de Deus. Ela, porém, foi pura, imaculada, como outrora nossos primeiros pais no paraíso terrestre. Eles desobedeceram a Deus, perderam sua amizade e nos legaram o pecado original. Para a Rainha das Virgens, entretanto, tudo é luz. Ela entrou no mundo destinada a ser a progenitora do Redentor da humanidade, brilhando com todos os esplendores da divindade de Cristo a quem conceberia pelo poder do Espírito Santo. Eis porque todas as belas-artes, cujo ideal é a beleza sem mancha e sem defeitos, inclinaram-se diante da Virgem imaculada, prestando-lhe homenagens, proclamando-a a sua rainha e procurando reproduzir-lhe os traços nos mais primorosos trabalhos humanos. Foi a beleza imaculada de Maria que arrancou do gênio de Rafael as suas Madonas, do pincel de Murilo as suas Conceições, da virtude de Fra-Angélico as suas Virgens. Foi a beleza imaculada de Maria que fez vibrar a alma de Mozart e de Gounod, entoando a Ave-Maria; foi a beleza imaculada de Maria que guiou o buril dos artistas na pureza das linhas, na graciosidade dos contornos, na harmonia do conjunto dessas estátuas que fazem o encanto de nossas igrejas e o ornamento das nossas cidades. Foi a beleza imaculada de Maria que fascinou e encantou o coração da humanidade, a ponto de reformar os seus costumes e de purificar os seus sentimentos; foi a beleza imaculada de Maria que suscitou através dos tempos as virgens cristãs em sua radiante pureza e na sublimidade do seu heroísmo. Foi quem depositou na fronte de nossas mães a modéstia, a graça, uma doce majestade que são ao mesmo tempo a honra, a segurança e a felicidade da família. Ela é a cheia de graça, a bendita entre todas as mulheres. Na vida de Maria Santíssima não houve um só momento em que ela estivesse sujeita ao pecado, e esta crença universal de todos os séculos cristãos foi solenemente proclamada dogma de fé a 8 de dezembro de 1854 pelo Papa Pio IX: «Declaramos que a Bem-aventurada Virgem Maria, desde o primeiro instante de sua concepção, por uma graça especial e um privilégio do Altíssimo, em vista dos méritos de Jesus Cristo, o Salvador da raça humana, foi preservada da mancha do pecado original». Este privilégio excepcional, esta glória sem igual, lhe vieram unicamente dos merecimentos infinitos do Verbo de Deus que em seu seio se encarnou, para redimir o gênero humano. Como a nuvem da tarde reveste-se de púrpura e de luz, refletindo os últimos raios solares, quando o astro do dia vai desaparecendo no horizonte, assim Maria, recebendo a eficácia dos méritos do Redentor, apareceu na terra iluminada e foi sempre pura, santa, sem mancha, original. Jesus é realmente o Deus feito Homem e, por conseguinte, a humanidade lhe é tão necessária como a divindade. Maria entrou nos planos salvíficos do Ser Supremo. O sangue que correu nas veias do Cristo procedeu da vida de Maria, e a fonte desse sangue não poderia ser impura, o princípio dessa vida não poderia ser viciado. A Virgem santa, que apresenta ao mundo o vencedor do pecado, não poderia estar um instante sequer sob a lei do pecado. Aquela por cujo intermédio a graça divina derrama-se sobre a criatura não viveria, ainda que um só momento, fora da graça. A desonra materna tornar-se-ia a ignomínia do Filho, e ainda que Cristo destruísse o império do pecado, haveria sempre uma sombra em sua glória, pois antes de ser o vencedor do mal, não teria podido vencer o mal em sua santa Mãe, e a graça, que tudo purifica, teria sido impotente na Conceição de Maria. Não nos basta, porém, recordar toda a grandeza da Virgem Imaculada. Cumpre imitar sua pureza sem mancha numa pugna constante contra tudo que possa conspurcar a alma numa fuga perseverante das ocasiões de pecado, das novelas obscenas, dos sites pornográficos, enfim de tudo que a mídia sob inspiração do Maligno oferece para perdição eterna. Observância total, absoluta do sexto e do nono mandamentos sagrados da Lei de Deus. Por isto, o cristão está sempre a repetir: “O Maria concebida sem pecado original, rogai a Deus por nós que recorremos a vós”! * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
quarta-feira, 7 de dezembro de 2011
A verdadeira fraternidade
A VERDADEIRA FRATERNIDADE
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
No contexto histórico atual, conturbado e no qual muitos valores são desprezados cumpre se recorde a necessidade da fraternidade nos lares. O respeito e a dileção entre os irmãos devem ser sempre mais incrementados. Jesus honrou de um modo especial a companhia fraterna. O Mestre divino tendo escolhido doze apóstolos, entre esses doze há seis irmãos: Pedro e André; Judas e Tiago o menor; João e Tiago o maior, de sorte que a metade do colégio apostólico estava unida pelos laços da fraternidade. Esta união entre irmãos, que Deus fez tão profunda, mostra claramente quão esplêndido é este laço familiar. Fraternidade é a associação das mesmas convicções, dos mesmos ideais e interesses. Os irmãos têm o dever de se amarem, de se santificarem e de se protegerem. Afeição, santificação e auxílio mútuo, eis o que precisa fulgir na sociedade fraterna. Antes de tudo entre irmãos e irmãs deve haver a união dos corações. Ninguém pode verdadeiramente amar se não ama em casa o seu irmão ou sua irmã. A força do laço que Deus formou entre irmãos, dando-lhes os mesmos pais, fazendo-os sair da mesma família, nutrindo-os com o mesmo leite, honrando-os com o mesmo nome familiar, os une completa e intimamente. Nada pode quebrar e destruir esses vínculos de sangue. Há, porém, outros não menos fortes, formados pela vida em comum, a saber: a companhia da infância e da adolescência, os mesmos brinquedos, as mesmas alegrias, as mesmas tristezas, os mesmos estudos primários e, mais tarde, a recordação desses dias vividos em comum, são recordações influentes que levam conservar a união entre esses que descendem dos mesmos pais. A Bíblia encontra imagens vivas para exprimir a graça, a beleza e a doçura que há na amizade fraterna. Diz Davi: “Oh, como é bom, como é agradável para irmãos unidos viverem juntos. (Sl 132,1) Deus lhes dará a sua bênção, e essa bênção os acompanhará nesta vida e na outra. O Livro santo declara dignos do reino dos céus os irmãos que, se protegendo mutuamente, atravessam a vida ligada por um laço invisível que os prenderá na eternidade. A família vê neles um tesouro e Deus do alto do céu os espera e os abençoa. A história da Igreja mostra muitos destes modelos. Apresenta os irmãos mártires João e Paulo, Donaciano e Rogaciano, Cosme e Damião, marchando alegres para o suplicio, animando-se para que soubessem sofrer por Cristo. Lembra na cidade de Nazianzo Gregório, Cesário e a sua jovem irmã Gorgonia, ternamente a amarem seus velhos pais, e não consentindo que o luxo e a indolência penetrassem na casa paterna. Na cidade de Cesareia vemos São Basílio e, entre seus nove irmãos que viviam a autêntica fraternidade, figuraram Gregório de Nissa, Macrina, a Jovem e Pedro de Sebaste, todos canonizados pela Igreja. Em Milão, Santo Ambrósio e a virgem Marcelina viviam da mesma vida, das mesmas virtudes e da mesma santidade. A História patenteia infelizmente também o espantoso espetáculo de irmãos inimigos. A humanidade começava apenas, e já o fratricídio ensangüentava a terra. Caim assassinava o seu irmão Abel. Desde esse dia a guerra não desapareceu mais do seio da família, como do grêmio das nações. José foi vendido pelos seus irmãos; Jacó foi perseguido por Esaú. Tudo isto fruto da inveja e da devassidão. Foi a invídia que levou Caim a assassinar o seu irmão; a inveja e a ambição foram as causas de José ser vendido por seus irmãos. Ainda hoje dá-se o mesmo espetáculo reproduzido pelos mesmos vícios. Alguém, vendo o seu irmão mais conceituado, mais estimado, ocupando na sociedade posição mais saliente, o detesta. Uma irmã virtuosa, delicada e amável, só encontra repulsão junto de um irmão que ela desejaria conservar puro e bom. Os conselhos fraternos são mal recebidos. Tudo isto porque a invídia e sobretudo a corrupção já destruíram o verdadeiro amor, único laço que pode conservar unidos os corações. Os mesmos sentimentos, o mesmo pensar, as mesmas alegrias desaparecem e lá onde não há união dos corações não pode haver amizade. Como é triste o desespero de tantas mães a se queixarem que seus filhos estão em pé de guerra por causa das drogas e outros desvios morais! Corações nobres, honestos, delicados não chegam jamais a tais aberrações. Tudo isto por falta do temor de Deus que é o início da sabedoria. Mais do que nunca a santidade precisa reinar nos lares. A fé, a prática cristã, os bons princípios, os bons exemplos devem existir no tesouro da amizade fraterna. Irmãos, não por um dia, mas para sempre, e seria um desgosto, um desespero, para a verdadeira fraternidade, se o seu destino não fosse a eternidade feliz. Todos os irmãos um dia na Casa do Pai, eis o projeto de vida dos que foram criados na mesma casa e pelos mesmos pais. Quando é impossível corrigir os defeitos e os erros do irmão com os conselhos, cumpre mostrar-lhe o exemplo. Além de tudo, isto é preciso a proteção mutua. Os irmãos que se protegem mutuamente são como uma cidade forte e bem defendida. A família revela assim um novo vigor, mostra a sua grande força de coesão dentro do plano divino * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
No contexto histórico atual, conturbado e no qual muitos valores são desprezados cumpre se recorde a necessidade da fraternidade nos lares. O respeito e a dileção entre os irmãos devem ser sempre mais incrementados. Jesus honrou de um modo especial a companhia fraterna. O Mestre divino tendo escolhido doze apóstolos, entre esses doze há seis irmãos: Pedro e André; Judas e Tiago o menor; João e Tiago o maior, de sorte que a metade do colégio apostólico estava unida pelos laços da fraternidade. Esta união entre irmãos, que Deus fez tão profunda, mostra claramente quão esplêndido é este laço familiar. Fraternidade é a associação das mesmas convicções, dos mesmos ideais e interesses. Os irmãos têm o dever de se amarem, de se santificarem e de se protegerem. Afeição, santificação e auxílio mútuo, eis o que precisa fulgir na sociedade fraterna. Antes de tudo entre irmãos e irmãs deve haver a união dos corações. Ninguém pode verdadeiramente amar se não ama em casa o seu irmão ou sua irmã. A força do laço que Deus formou entre irmãos, dando-lhes os mesmos pais, fazendo-os sair da mesma família, nutrindo-os com o mesmo leite, honrando-os com o mesmo nome familiar, os une completa e intimamente. Nada pode quebrar e destruir esses vínculos de sangue. Há, porém, outros não menos fortes, formados pela vida em comum, a saber: a companhia da infância e da adolescência, os mesmos brinquedos, as mesmas alegrias, as mesmas tristezas, os mesmos estudos primários e, mais tarde, a recordação desses dias vividos em comum, são recordações influentes que levam conservar a união entre esses que descendem dos mesmos pais. A Bíblia encontra imagens vivas para exprimir a graça, a beleza e a doçura que há na amizade fraterna. Diz Davi: “Oh, como é bom, como é agradável para irmãos unidos viverem juntos. (Sl 132,1) Deus lhes dará a sua bênção, e essa bênção os acompanhará nesta vida e na outra. O Livro santo declara dignos do reino dos céus os irmãos que, se protegendo mutuamente, atravessam a vida ligada por um laço invisível que os prenderá na eternidade. A família vê neles um tesouro e Deus do alto do céu os espera e os abençoa. A história da Igreja mostra muitos destes modelos. Apresenta os irmãos mártires João e Paulo, Donaciano e Rogaciano, Cosme e Damião, marchando alegres para o suplicio, animando-se para que soubessem sofrer por Cristo. Lembra na cidade de Nazianzo Gregório, Cesário e a sua jovem irmã Gorgonia, ternamente a amarem seus velhos pais, e não consentindo que o luxo e a indolência penetrassem na casa paterna. Na cidade de Cesareia vemos São Basílio e, entre seus nove irmãos que viviam a autêntica fraternidade, figuraram Gregório de Nissa, Macrina, a Jovem e Pedro de Sebaste, todos canonizados pela Igreja. Em Milão, Santo Ambrósio e a virgem Marcelina viviam da mesma vida, das mesmas virtudes e da mesma santidade. A História patenteia infelizmente também o espantoso espetáculo de irmãos inimigos. A humanidade começava apenas, e já o fratricídio ensangüentava a terra. Caim assassinava o seu irmão Abel. Desde esse dia a guerra não desapareceu mais do seio da família, como do grêmio das nações. José foi vendido pelos seus irmãos; Jacó foi perseguido por Esaú. Tudo isto fruto da inveja e da devassidão. Foi a invídia que levou Caim a assassinar o seu irmão; a inveja e a ambição foram as causas de José ser vendido por seus irmãos. Ainda hoje dá-se o mesmo espetáculo reproduzido pelos mesmos vícios. Alguém, vendo o seu irmão mais conceituado, mais estimado, ocupando na sociedade posição mais saliente, o detesta. Uma irmã virtuosa, delicada e amável, só encontra repulsão junto de um irmão que ela desejaria conservar puro e bom. Os conselhos fraternos são mal recebidos. Tudo isto porque a invídia e sobretudo a corrupção já destruíram o verdadeiro amor, único laço que pode conservar unidos os corações. Os mesmos sentimentos, o mesmo pensar, as mesmas alegrias desaparecem e lá onde não há união dos corações não pode haver amizade. Como é triste o desespero de tantas mães a se queixarem que seus filhos estão em pé de guerra por causa das drogas e outros desvios morais! Corações nobres, honestos, delicados não chegam jamais a tais aberrações. Tudo isto por falta do temor de Deus que é o início da sabedoria. Mais do que nunca a santidade precisa reinar nos lares. A fé, a prática cristã, os bons princípios, os bons exemplos devem existir no tesouro da amizade fraterna. Irmãos, não por um dia, mas para sempre, e seria um desgosto, um desespero, para a verdadeira fraternidade, se o seu destino não fosse a eternidade feliz. Todos os irmãos um dia na Casa do Pai, eis o projeto de vida dos que foram criados na mesma casa e pelos mesmos pais. Quando é impossível corrigir os defeitos e os erros do irmão com os conselhos, cumpre mostrar-lhe o exemplo. Além de tudo, isto é preciso a proteção mutua. Os irmãos que se protegem mutuamente são como uma cidade forte e bem defendida. A família revela assim um novo vigor, mostra a sua grande força de coesão dentro do plano divino * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
terça-feira, 6 de dezembro de 2011
O FIM DO ANO E OS EMPREGADOS DOMÉSTICOS
O
O FIM DO ANO E OS FUNCIONÁRIOS DO LAR
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
No lar doméstico há pessoas que, sem estarem unidas pelos laços do parentesco, fazem, entretanto, parte da família. Eram antigamente chamados de criados ou empregados, mas agora foram promovidos a funcionários (as) ou secretários (as) do lar. São domésticos, isto é, pessoas da casa, embora hoje com as leis empregatícias cumpram um horário que lhes permite retornar a suas moradias. Eles inspiram confiança, granjeando e estima dos que os contratam. Seus bons serviços deixam vestígios que geram gratidão. A Bíblia se refere aos que exercem esta atividade com sumo respeito, grande delicadeza e caridade peculiar. Assim aconteceu com o servo de Abraão, Eliezer, cujas ocupações fizeram prosperar a casa do seu amo; Judith que tomou parte na heróica expedição de sua senhora; a dedicada assistente do leproso Naaman que tanto trabalhou pela saúde de seu senhor. A lei mosaica sobre os deveres dos empregadores é toda cheia de equidade e de mansidão, mas foi sobrepujada pela a lei do Evangelho, que é a norma da dileção, ainda mais delicada e mais caritativa. Aliás, o Filho de Deus foi visto como um simples serviçal, lavando os pés dos seus discípulos. Nota-se mesmo alguma preferência do divino Mestre para com aqueles que prestam tais misteres. Um dia, um nobre da sinagoga, um ilustre de Israel vem suplicar-lhe que tenha dele compaixão e restitua a saúde ao seu filho que está agonizando. O Mestre divino acata o pedido, mas ele não vai à casa do enfermo. Um outro dia, porém, não é mais um príncipe, um poderoso do mundo, que vem implorar a sua proteção divina, é um empregado do centurião romano. Jesus não somente atende a suplica, mas vai em pessoa ver o doente à beira da morte. O mesmo amor divino brilha em um e outro caso, porém, há mais atenção ainda no segundo, patenteando uma preferência especial do Redentor pelos humildes e pequeninos. Grandes, contudo, os deveres daqueles que se relacionam como empregadores e os que acatam lhes prestarem préstimos. Antes de tudo convém notar que estes devem respeitar os que os aceitam como colaboradores, realizando todas as tarefas com competência, se adaptando ao perfil caracteriológico de quem os contratou e, outrossim, às recomendações do mesmo. Muitas vezes, ficar falando o tempo todo acaba por aborrecer, sobretudo se o dono da casa se entrega a trabalhos intelectuais que exigem concentração contínua. Se assim não procedem, não fazem jus aos seus salários, porque ninguém paga o outro para ser molestado ou mal servido por ele. Para que algo seja devido é necessário merecê-lo ou ganhá-lo, cumprindo escrupulosamente o que foi estipulado entre aquele que serve e aquele que é servido. O dever conhecido e observado pelos que foram contratados e a bondade por parte do contratante. Todos somos irmãos em Cristo. Eles poderiam responder como uma personagem da corte do rei francês Luiz XV rebatendo à princesa Luiza. A jovem senhora, em um ímpeto de impertinência, lhe tinha dito: “Não sabeis que sou a filha do vosso rei?” — “E não sabeis, replicou a outra, que eu sou a filha do vosso Deus?” É que empregados e empregadores devem ver no outro a figura de Cristo. Pode-se dizer que os dois são úteis e necessários não sendo um mais útil e mais indispensável do que o outro, ou seja, aquele que serve ou aquele que é servido. Felizes aqueles que podem contar os serviços de pessoas competentes, educadas e de fina sensibilidade, como venturosos aqueles que mourejam numa casa onde seus direitos são respeitados e valorizado tudo o que fazem. Uns não valem mais que outros. Ambos devem praticar as virtudes do bom cristão. Henri Lacordaire dominicano, sacerdote, jornalista, educador, deputado e acadêmico e restaurador em França da Ordem dos Pregadores, escrevendo a um amigo, dizia-lhe: “Felicito-te por saber que encontraste um bom e digno empregado. Não esqueças que um servo fiel e dedicado é um dos grandes benefícios de Deus e um elemento poderoso de alegria”. Um elemento primordial é o respeito mútuo segundo os ditames do Evangelho e da boa educação. Há uma hierarquia a ser considerada. A divina Providencia estabeleceu a hierarquia entre os homens, e esta é a base da sociedade doméstica, onde a ordem não pode existir sem que cada individuo ocupe o seu lugar. Ora, o lugar dos empregadores é de dirigir e de governar, fazendo-se respeitar e obedecer, como o dos contratados é de executar fielmente as obrigações que lhes competem, acatando as diretrizes dos seus superiores e se esforçando para que nada se lhes possa censurar. O cumprimento do dever mútuo é a garantia da harmonia dentro de uma casa. Ao findar do ano uma reflexão como esta é importante para empregadores e secretários (as) do lar. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
O FIM DO ANO E OS FUNCIONÁRIOS DO LAR
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
No lar doméstico há pessoas que, sem estarem unidas pelos laços do parentesco, fazem, entretanto, parte da família. Eram antigamente chamados de criados ou empregados, mas agora foram promovidos a funcionários (as) ou secretários (as) do lar. São domésticos, isto é, pessoas da casa, embora hoje com as leis empregatícias cumpram um horário que lhes permite retornar a suas moradias. Eles inspiram confiança, granjeando e estima dos que os contratam. Seus bons serviços deixam vestígios que geram gratidão. A Bíblia se refere aos que exercem esta atividade com sumo respeito, grande delicadeza e caridade peculiar. Assim aconteceu com o servo de Abraão, Eliezer, cujas ocupações fizeram prosperar a casa do seu amo; Judith que tomou parte na heróica expedição de sua senhora; a dedicada assistente do leproso Naaman que tanto trabalhou pela saúde de seu senhor. A lei mosaica sobre os deveres dos empregadores é toda cheia de equidade e de mansidão, mas foi sobrepujada pela a lei do Evangelho, que é a norma da dileção, ainda mais delicada e mais caritativa. Aliás, o Filho de Deus foi visto como um simples serviçal, lavando os pés dos seus discípulos. Nota-se mesmo alguma preferência do divino Mestre para com aqueles que prestam tais misteres. Um dia, um nobre da sinagoga, um ilustre de Israel vem suplicar-lhe que tenha dele compaixão e restitua a saúde ao seu filho que está agonizando. O Mestre divino acata o pedido, mas ele não vai à casa do enfermo. Um outro dia, porém, não é mais um príncipe, um poderoso do mundo, que vem implorar a sua proteção divina, é um empregado do centurião romano. Jesus não somente atende a suplica, mas vai em pessoa ver o doente à beira da morte. O mesmo amor divino brilha em um e outro caso, porém, há mais atenção ainda no segundo, patenteando uma preferência especial do Redentor pelos humildes e pequeninos. Grandes, contudo, os deveres daqueles que se relacionam como empregadores e os que acatam lhes prestarem préstimos. Antes de tudo convém notar que estes devem respeitar os que os aceitam como colaboradores, realizando todas as tarefas com competência, se adaptando ao perfil caracteriológico de quem os contratou e, outrossim, às recomendações do mesmo. Muitas vezes, ficar falando o tempo todo acaba por aborrecer, sobretudo se o dono da casa se entrega a trabalhos intelectuais que exigem concentração contínua. Se assim não procedem, não fazem jus aos seus salários, porque ninguém paga o outro para ser molestado ou mal servido por ele. Para que algo seja devido é necessário merecê-lo ou ganhá-lo, cumprindo escrupulosamente o que foi estipulado entre aquele que serve e aquele que é servido. O dever conhecido e observado pelos que foram contratados e a bondade por parte do contratante. Todos somos irmãos em Cristo. Eles poderiam responder como uma personagem da corte do rei francês Luiz XV rebatendo à princesa Luiza. A jovem senhora, em um ímpeto de impertinência, lhe tinha dito: “Não sabeis que sou a filha do vosso rei?” — “E não sabeis, replicou a outra, que eu sou a filha do vosso Deus?” É que empregados e empregadores devem ver no outro a figura de Cristo. Pode-se dizer que os dois são úteis e necessários não sendo um mais útil e mais indispensável do que o outro, ou seja, aquele que serve ou aquele que é servido. Felizes aqueles que podem contar os serviços de pessoas competentes, educadas e de fina sensibilidade, como venturosos aqueles que mourejam numa casa onde seus direitos são respeitados e valorizado tudo o que fazem. Uns não valem mais que outros. Ambos devem praticar as virtudes do bom cristão. Henri Lacordaire dominicano, sacerdote, jornalista, educador, deputado e acadêmico e restaurador em França da Ordem dos Pregadores, escrevendo a um amigo, dizia-lhe: “Felicito-te por saber que encontraste um bom e digno empregado. Não esqueças que um servo fiel e dedicado é um dos grandes benefícios de Deus e um elemento poderoso de alegria”. Um elemento primordial é o respeito mútuo segundo os ditames do Evangelho e da boa educação. Há uma hierarquia a ser considerada. A divina Providencia estabeleceu a hierarquia entre os homens, e esta é a base da sociedade doméstica, onde a ordem não pode existir sem que cada individuo ocupe o seu lugar. Ora, o lugar dos empregadores é de dirigir e de governar, fazendo-se respeitar e obedecer, como o dos contratados é de executar fielmente as obrigações que lhes competem, acatando as diretrizes dos seus superiores e se esforçando para que nada se lhes possa censurar. O cumprimento do dever mútuo é a garantia da harmonia dentro de uma casa. Ao findar do ano uma reflexão como esta é importante para empregadores e secretários (as) do lar. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
sexta-feira, 2 de dezembro de 2011
O VERBO DE DEUS HABITOU ENTRE NÓS
O VERBO DE DEUS HABITOU ENTRE NÓS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
No contexto materializado de hoje o que se esquece muitas vezes é que o Natal é por excelência o dia de festa, de perdão e de alegria, mas isto porque o Verbo de Deus nasceu e habitou entre nós. Há na mídia em geral o direcionamento da atenção para aspectos inteiramente deslocados da figura do Redentor. Numa emissora de televisão se escutou um absurdo como este: “Há falta de pessoas para representarem o Papai Noel e sem Papai Noel não há Natal” (sic). Adite-se a ceia do Natal, não como uma reunião familiar para se festejar o Menino Deus, mas para gastos gastronômicos exorbitantes regados com as mais requintadas bebidas, o que é também ocasião para lucro dos supermercados que instrumentalizam a data sagrada A grande preocupação do comércio é o ganho que deverá ser maior do que no ano precedente. Jesus, que precisa ser homenageado, fica em segundo plano. A humanidade recebeu do Divino Infante uma palavra que purificou e salvou e, contudo, muitos deixam de lhe preparar o coração para uma fervorosa, piedosa, celebração natalina. Tudo renasceu com Cristo, de sorte que o Natal do Jesus necessita ser ao mesmo tempo sua presença na existência de cada um de seus discípulos. Dia venturoso, de fato, no qual o Deus humanado para nós nasceu. Natal tem que ser o nosso dia de festa cristã e não pagã. A salvação não veio do palácio, nem do exército, nem da ciência, nem da força. Ela veio de um presépio, da pobreza, do que há de mais humilde e de mais fraco. Os anjos aos pastores de Belém, anunciando-lhes o nascimento de Cristo, lhes comunicou: “Não temais, pois vos anuncio um grande júbilo, para todo o povo. Nasceu-vos hoje, na cidade de Davi, um Salvador que é o Cristo Senhor. Isto vos servirá de sinal:encontrareis um menino envolvido em faixas e deitado numa manjedoura” (Lc 2,10-13.). Os homens carecem de um pedestal suntuoso para que possam ser distinguidos por outros. Jesus procurou a humilhação. Sua grandeza, porém, é tãoverdadeira, o seu poder tão grande, a sua glória, tão sublime, que nem a pobreza, nem o abandono, nem os sofrimentos, podem ofuscar-lhe o fulgor. Ele nasce em um estábulo, mas a sua mãe é uma virgem; escolhe o silêncio da noite, mas uma estrela, iluminando o espaço, revela ao longe o nascimento do Salvador do mundo; apenas José e Maria presenciam fato tão maravilhoso, mas os pastores vêm adorá-lo e apresentar-lhe as primícias do amor da humanidade. Porque é Deus, Ele procede como Deus. A sua modéstia vai indicar aos homens o caminho da reabilitação e da virtude; a sua humilhação dir-lhes-á que na terra tudo é vaidade e soberba; os seus sofrimentos ensinarão que os prazeres terrenos corrompem e desvirtuam. Se, em vez da obscuridade de uma gruta e da pobreza do presépio, Jesus buscasse o esplendor e a opulência, suas mensagens não teriam penetrado tão fundo na consciência humana, o povo estaria dele afastado, os infelizes viveriam sem esperanças e os homens não teriam um Salvador. Assim a penúria de Jesus é um sinal, como disseram os anjos, mas um penhor de salvação. Escreveu François René Auguste de Chateaubriand, célebre escritor, diplomata e político francês que “quando o mundo inteiro levantasse a voz contra Jesus Cristo, quando todas as luzes da ciência se reunissem contra os seus dogmas, nunca nos persuadiriam que uma religião fundada sobre semelhante base seja uma religião humana. Aquele que nasce em um estábulo e vai morrer depois sobre uma cruz, oferece aos homens, como digno de um culto especial, a humanidade padecente, a virtude perseguida, aquele, nós juramos, não pode ser senão um Deus”. Foi, realmente,com seu despojamento que Cristo se tornou o Redentor dos homens. Quando o mundo pagão, com o seu cortejo de devassidões e de vícios, encontrou-se frente a frente com Ele, parou atônito e confuso, e Jesus soube lançar através da corrupção reinante os raios do seu amor, de sua verdade. Quando os bárbaros invadiram a Europa, levando por toda parte a violência e a desordem, Cristo soube ainda comover aqueles corações de ferro, fazendo-se amar por eles. Quando os missionários percorreram a terra, os selvagens admirados, ouviram então falar desse Filho de Deus, que veio arrancá-los das sombras da morte, e O adoraram. Hoje, mais do que nunca mister se faz reabilitar a grandeza do Natal e refletir sobre tudo isto, deixando de lado aquilo que é secundário na celebração de solenidade tão fulgente. Os corações devem a Ele pertencerem. Ele ensina-nos a sofrer, a lutar e a esperar. Mostra como suportar o peso da vida apoiados em sua misericórdia. Seja o dia do seu nascimento o verdadeiro natal da humanidade, o dia de salvação. A participação na Missa deste dia, a reflexão sobre as grandes mensagens bíblicas natalinas, a aproximação da Mesa Eucarística, o júbilo de uma consciência em paz com Deus devem ser a característica do glorioso 25 de dezembro. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
No contexto materializado de hoje o que se esquece muitas vezes é que o Natal é por excelência o dia de festa, de perdão e de alegria, mas isto porque o Verbo de Deus nasceu e habitou entre nós. Há na mídia em geral o direcionamento da atenção para aspectos inteiramente deslocados da figura do Redentor. Numa emissora de televisão se escutou um absurdo como este: “Há falta de pessoas para representarem o Papai Noel e sem Papai Noel não há Natal” (sic). Adite-se a ceia do Natal, não como uma reunião familiar para se festejar o Menino Deus, mas para gastos gastronômicos exorbitantes regados com as mais requintadas bebidas, o que é também ocasião para lucro dos supermercados que instrumentalizam a data sagrada A grande preocupação do comércio é o ganho que deverá ser maior do que no ano precedente. Jesus, que precisa ser homenageado, fica em segundo plano. A humanidade recebeu do Divino Infante uma palavra que purificou e salvou e, contudo, muitos deixam de lhe preparar o coração para uma fervorosa, piedosa, celebração natalina. Tudo renasceu com Cristo, de sorte que o Natal do Jesus necessita ser ao mesmo tempo sua presença na existência de cada um de seus discípulos. Dia venturoso, de fato, no qual o Deus humanado para nós nasceu. Natal tem que ser o nosso dia de festa cristã e não pagã. A salvação não veio do palácio, nem do exército, nem da ciência, nem da força. Ela veio de um presépio, da pobreza, do que há de mais humilde e de mais fraco. Os anjos aos pastores de Belém, anunciando-lhes o nascimento de Cristo, lhes comunicou: “Não temais, pois vos anuncio um grande júbilo, para todo o povo. Nasceu-vos hoje, na cidade de Davi, um Salvador que é o Cristo Senhor. Isto vos servirá de sinal:encontrareis um menino envolvido em faixas e deitado numa manjedoura” (Lc 2,10-13.). Os homens carecem de um pedestal suntuoso para que possam ser distinguidos por outros. Jesus procurou a humilhação. Sua grandeza, porém, é tãoverdadeira, o seu poder tão grande, a sua glória, tão sublime, que nem a pobreza, nem o abandono, nem os sofrimentos, podem ofuscar-lhe o fulgor. Ele nasce em um estábulo, mas a sua mãe é uma virgem; escolhe o silêncio da noite, mas uma estrela, iluminando o espaço, revela ao longe o nascimento do Salvador do mundo; apenas José e Maria presenciam fato tão maravilhoso, mas os pastores vêm adorá-lo e apresentar-lhe as primícias do amor da humanidade. Porque é Deus, Ele procede como Deus. A sua modéstia vai indicar aos homens o caminho da reabilitação e da virtude; a sua humilhação dir-lhes-á que na terra tudo é vaidade e soberba; os seus sofrimentos ensinarão que os prazeres terrenos corrompem e desvirtuam. Se, em vez da obscuridade de uma gruta e da pobreza do presépio, Jesus buscasse o esplendor e a opulência, suas mensagens não teriam penetrado tão fundo na consciência humana, o povo estaria dele afastado, os infelizes viveriam sem esperanças e os homens não teriam um Salvador. Assim a penúria de Jesus é um sinal, como disseram os anjos, mas um penhor de salvação. Escreveu François René Auguste de Chateaubriand, célebre escritor, diplomata e político francês que “quando o mundo inteiro levantasse a voz contra Jesus Cristo, quando todas as luzes da ciência se reunissem contra os seus dogmas, nunca nos persuadiriam que uma religião fundada sobre semelhante base seja uma religião humana. Aquele que nasce em um estábulo e vai morrer depois sobre uma cruz, oferece aos homens, como digno de um culto especial, a humanidade padecente, a virtude perseguida, aquele, nós juramos, não pode ser senão um Deus”. Foi, realmente,com seu despojamento que Cristo se tornou o Redentor dos homens. Quando o mundo pagão, com o seu cortejo de devassidões e de vícios, encontrou-se frente a frente com Ele, parou atônito e confuso, e Jesus soube lançar através da corrupção reinante os raios do seu amor, de sua verdade. Quando os bárbaros invadiram a Europa, levando por toda parte a violência e a desordem, Cristo soube ainda comover aqueles corações de ferro, fazendo-se amar por eles. Quando os missionários percorreram a terra, os selvagens admirados, ouviram então falar desse Filho de Deus, que veio arrancá-los das sombras da morte, e O adoraram. Hoje, mais do que nunca mister se faz reabilitar a grandeza do Natal e refletir sobre tudo isto, deixando de lado aquilo que é secundário na celebração de solenidade tão fulgente. Os corações devem a Ele pertencerem. Ele ensina-nos a sofrer, a lutar e a esperar. Mostra como suportar o peso da vida apoiados em sua misericórdia. Seja o dia do seu nascimento o verdadeiro natal da humanidade, o dia de salvação. A participação na Missa deste dia, a reflexão sobre as grandes mensagens bíblicas natalinas, a aproximação da Mesa Eucarística, o júbilo de uma consciência em paz com Deus devem ser a característica do glorioso 25 de dezembro. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
NASCEU DA VIRGEM MARIA
NASCEU DA VIRGEM MARIA
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Uma das verdades mais importantes que o Natal de Jesus oferece é o fato de que sua mãe, é, verdadeiramente, Mãe de Deus. Com efeito, a maternidade diz ordem á pessoa e não à natureza e a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, que já possuía a natureza divina com o Pai e o Espírito Santo, assumiu no seio puríssimo de Maria a natureza humana. Deus e homem verdadeiro é aquele divino Infante que se contempla numa manjedoura! Daí todas as justas honras que a cristandade tem prestado a esta mulher bendita à qual São Paulo assim se refere: “Mas ao chegar a plenitude dos tempos enviou Deus o seu Filho, nascido duma mulher, nascido sob a lei, a fim de resgatar os que estavam sujeito à lei e para que nós recebêssemos a adoção de filhos” (Gl 4, 4-5).
Em todos os séculos posteriores as letras, as artes, os monumentos, as preces haveriam de render homenagens a essa mãe privilegiada. Ela mesma lançou sobre os séculos futuros esta profecia: “Todas as gerações vão me proclamar bem-aventurada” (Lc 1,48). Uma pobre donzela conjeturar assim o porvir só pode ter sido uma mulher inspirada por Deus, dado que ela sempre ostentava um perfeito equilíbrio em todas as suas palavras e ações. O que é mais sublime, porém, é que a predição se realizou como o comprova toda a História da Igreja.
Maria, não obstante ser mãe, é também virgem. Assim, de fato, se deu, porque puríssima devia ser a mãe do Verbo de Deus Encarnado cujo berço é o ponto inicial do processo soteriológico: “Nasceu o Salvador” (Lc 2,11). Os anjos entoaram hinos ao seu aparecimento na terra, os pastores e os reis Magos lhe trouxeram os primeiros dons e as primeiras reverências da humanidade. No presépio soprou à primeira brisa da salvação da humanidade, graças à cooperação daquela que disse ao Arcanjo Gabriel ser a serva do Senhor. Toda sua glória viria exatamente do fato maravilhoso de sua maternidade divina.
Jesus, o filho de Maria, nasceu pobre. O seu berço não estava ao lado de um trono e uma gruta, onde se refugiavam os rebanhos, foi o seu palácio. Nesta indigência, porém, não desapareceu Sua majestade divina. Tanto isto é verdade que 2011 anos depois reina uma alegria universal! Um frêmito geral de doce satisfação agita a humanidade. Todas as nações cristãs em festa, celebrando este fato único e encantador: o nascimento do Filho de Deus na terra.
Antes os Patriarcas O anunciaram, os Profetas O retrataram, os Justos o representaram, os povos ardentemente O desejaram e O aguardaram com grande expectativa.
Depois, os Apóstolos O fizeram conhecido pelo mundo afora, os Mártires morreram por Ele, as Virgens O seguiram, os Teólogos escreveram sobre Ele páginas encantadoras, os Santos imitaram as suas virtudes, as nações, purificadas pela Sua luz, se regeneraram, e vinte e um séculos de civilização nasceram do seu berço. A História passou a se dividir antes e depois dele! Ele é o ponto de chegada do mundo antigo e o ponto de partida do novo mundo, é o centro da História humana. Cristo nascido em Belém é a verdadeira luz do mundo. Por isto ele vem a cada cristão a toda hora a todo instante para derramar nos corações sinceros, retos, puros a abundância de suas graças. Todos que são por Ele, todos os que participam da redenção que Ele veio oferecer, reinarão por toda uma eternidade venturosa na Casa do Pai. Todos que O contradizem, mais dia menos dia, ruem por terra. Passam os grandes homens, dão-se as grandes transformações sociais, operaram-se progressos científicos inimagináveis, mas o divino Redentor permanece e permanecerá sempre como a única fonte da verdadeira felicidade e longe dele apenas decepções, falsas alegrias, aparentes conquistas. Ele, ontem, amanhã e sempre, o Rei imortal dos corações que buscam aquela ventura que o mundo e seus sequazes jamais poderão oferecer. Por tudo isto no Seu Natal honras são prestadas também à sua Mãe Santíssima que se tornou o caminho seguro para se ir até Ele, como aconteceu com os Magos que, segundo São Mateus, O “encontraram com Maria sua mãe” (Mt 2,11).* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Uma das verdades mais importantes que o Natal de Jesus oferece é o fato de que sua mãe, é, verdadeiramente, Mãe de Deus. Com efeito, a maternidade diz ordem á pessoa e não à natureza e a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, que já possuía a natureza divina com o Pai e o Espírito Santo, assumiu no seio puríssimo de Maria a natureza humana. Deus e homem verdadeiro é aquele divino Infante que se contempla numa manjedoura! Daí todas as justas honras que a cristandade tem prestado a esta mulher bendita à qual São Paulo assim se refere: “Mas ao chegar a plenitude dos tempos enviou Deus o seu Filho, nascido duma mulher, nascido sob a lei, a fim de resgatar os que estavam sujeito à lei e para que nós recebêssemos a adoção de filhos” (Gl 4, 4-5).
Em todos os séculos posteriores as letras, as artes, os monumentos, as preces haveriam de render homenagens a essa mãe privilegiada. Ela mesma lançou sobre os séculos futuros esta profecia: “Todas as gerações vão me proclamar bem-aventurada” (Lc 1,48). Uma pobre donzela conjeturar assim o porvir só pode ter sido uma mulher inspirada por Deus, dado que ela sempre ostentava um perfeito equilíbrio em todas as suas palavras e ações. O que é mais sublime, porém, é que a predição se realizou como o comprova toda a História da Igreja.
Maria, não obstante ser mãe, é também virgem. Assim, de fato, se deu, porque puríssima devia ser a mãe do Verbo de Deus Encarnado cujo berço é o ponto inicial do processo soteriológico: “Nasceu o Salvador” (Lc 2,11). Os anjos entoaram hinos ao seu aparecimento na terra, os pastores e os reis Magos lhe trouxeram os primeiros dons e as primeiras reverências da humanidade. No presépio soprou à primeira brisa da salvação da humanidade, graças à cooperação daquela que disse ao Arcanjo Gabriel ser a serva do Senhor. Toda sua glória viria exatamente do fato maravilhoso de sua maternidade divina.
Jesus, o filho de Maria, nasceu pobre. O seu berço não estava ao lado de um trono e uma gruta, onde se refugiavam os rebanhos, foi o seu palácio. Nesta indigência, porém, não desapareceu Sua majestade divina. Tanto isto é verdade que 2011 anos depois reina uma alegria universal! Um frêmito geral de doce satisfação agita a humanidade. Todas as nações cristãs em festa, celebrando este fato único e encantador: o nascimento do Filho de Deus na terra.
Antes os Patriarcas O anunciaram, os Profetas O retrataram, os Justos o representaram, os povos ardentemente O desejaram e O aguardaram com grande expectativa.
Depois, os Apóstolos O fizeram conhecido pelo mundo afora, os Mártires morreram por Ele, as Virgens O seguiram, os Teólogos escreveram sobre Ele páginas encantadoras, os Santos imitaram as suas virtudes, as nações, purificadas pela Sua luz, se regeneraram, e vinte e um séculos de civilização nasceram do seu berço. A História passou a se dividir antes e depois dele! Ele é o ponto de chegada do mundo antigo e o ponto de partida do novo mundo, é o centro da História humana. Cristo nascido em Belém é a verdadeira luz do mundo. Por isto ele vem a cada cristão a toda hora a todo instante para derramar nos corações sinceros, retos, puros a abundância de suas graças. Todos que são por Ele, todos os que participam da redenção que Ele veio oferecer, reinarão por toda uma eternidade venturosa na Casa do Pai. Todos que O contradizem, mais dia menos dia, ruem por terra. Passam os grandes homens, dão-se as grandes transformações sociais, operaram-se progressos científicos inimagináveis, mas o divino Redentor permanece e permanecerá sempre como a única fonte da verdadeira felicidade e longe dele apenas decepções, falsas alegrias, aparentes conquistas. Ele, ontem, amanhã e sempre, o Rei imortal dos corações que buscam aquela ventura que o mundo e seus sequazes jamais poderão oferecer. Por tudo isto no Seu Natal honras são prestadas também à sua Mãe Santíssima que se tornou o caminho seguro para se ir até Ele, como aconteceu com os Magos que, segundo São Mateus, O “encontraram com Maria sua mãe” (Mt 2,11).* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
quinta-feira, 1 de dezembro de 2011
Concebida sem pecado original
CONCEBIDA SEM PECADO ORIGINAL
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
O Prefácio da Missa da solenidade da Imaculada Conceição de Maria apresenta uma síntese admirável sobre esta verdade. Nele são rendidas graças ao Pai, porque Ele preservou a Virgem Maria de toda a mancha do pecado original, para que, enriquecida com a plenitude da graça divina, fosse a digna Mãe do seu Filho. Nela Ele deu início à santa Igreja, esposa de Cristo, sem mancha e sem ruga, resplandecente de beleza e santidade. Dela, Virgem puríssima, devia nascer o seu Filho, Cordeiro inocente que tira o pecado do mundo. Ele a destinou acima de todas as criaturas, a fim de ser, para todo o povo, advogada da graça e modelo de santidade. Foi, exatamente, por tudo isto que Maria é, na verdade, a filha amada do Ser Supremo. Quando o Pai, desde toda a eternidade, determinou salvar o mundo pela encarnação do Verbo Divino, e que este inefável mistério se realizaria no seio de uma Virgem por obra do Espírito Santo, Ele a predestinou, escolheu, adotou como a mais predileta dos seres racionais, isto, porém, de um modo especial e com uma ternura sem igual. Ela, verdadeiramente, devia ser, no tempo, a esposa do Espírito Santo, a mãe venerada do seu Filho, a mãe, outrossim, por uma misteriosa extensão, de todos os filhos da Igreja, Corpo Místico do Redentor. Uma vez que a Santíssima Trindade determinou a salvação da humanidade, esta mulher bendita esteve sempre no pensamento divino. O amor do Pai para com o Filho, esse eterno e incomparável objeto de suas complacências, se estendeu também, desde então, sobre Maria como um princípio da santa humanidade do Redentor. O poder desse amor e a liberalidade dos dons do Senhor de tudo deviam ser sem limites. Donde podemos julgar quanto foi excelente essa adoção, que derivava de tão grande dileção. Daí podemos julgar a eficácia da graça divina, não deixando um só instante o pecado introduzir-se nessa alma tão pura, que conceberia pelo poder do Espírito Santo. Maria foi, portanto, adotada como filha bem-amada de Deus desde o instante em que foi formada no seio materno e, imediatamente, ornada da graça santificante, da santidade e da justiça. A sua concepção foi sem pecado, foi imaculada. Eis o mistério celebrado no dia oito de dezembro. É evidente que destinando uma criatura para tão grande missão, o Onipotente não podia consentir que coisa alguma faltasse à perfeição daquela que fora escolhida, bendita entre todas as mulheres. O Todo-Poderoso quis reviver em Maria toda a beleza, toda a pureza primitiva de sua imagem, conspurcada pelo pecado de Adão, e, por isso, Maria foi criada imaculada, sem mancha original, para que nessa filha muito amada rebrilhassem todas as virtudes, todos os privilégios, sendo puras e santas todas as suas ações, e Ele pudesse contemplá-la sem cessar com amor e satisfação. Por ser, de fato, a filha predileta do Pai, a esposa do Espírito Santo e Mãe do Verbo Eterno com laços tão grandiosos com a Santíssima Trindade, o embaixador celeste a ela enviado à cidade de Nazaré, além de lhe explicar todo o processo inicial do plano salvífico que teria início na Encarnação da Segunda Pessoa da Trindade Santa a chamou de “cheia de graças”. Plenitude esta que inclui naturalmente a prerrogativa de sua conceição sem a mácula original. Os acontecimentos estão registrados no Evangelho, oferecendo-nos elementos grandiosos da fé cristã, alicerçando a doutrina da Igreja. O que se esquece muitas vezes é que há na religião verdades, que iluminando a nossa razão, a deixam abismada na contemplação de conhecimentos que vão além de todas as suas forças e de todas as suas luzes. O que se conhece, contudo, pela fé não é luz que cega e fulmina, mas luz que ilumina, encanta e alegra. O espírito aí se apraz, e a razão clarificada pela crença se sente enriquecida. O Cristianismo recebe a verdade revelada por um ato de simples obediência à autoridade de Deus e de sua Igreja, mas não há nenhuma verdade revelada, nenhum dogma que exige a adesão a um absurdo. O mistério ultrapassa a inteligência, mas esta pode captar uma coerência intrínseca na verdade revelada. No Cristianismo os grandes teólogos não foram menos filósofos do que crédulos submissos, e isto até os nossos dias. Esses elevados e belos estudos sobre as questões da fé foram a origem da filosofia cristã, filosofia ao mesmo tempo divina e humana, onde se vêem reunidas em um admirável esplendor todas as luzes naturais e sobrenaturais que iluminam a humanidade. Assim se expressou Santo Anselmo: “Crer, nada mais é senão pensar consentido [...] Todo o que crê, pensa; crendo pensa, e pensando crê [ ...] A fé, se não for pensada, nada é [ ...] quando se tira o assentimento, tira-se a fé, pois, sem o assentimento, realmente não se crê” [...] E notável a sentença deste sábio santo: “Creio para entender; eu entendo para crer”. Estas considerações devem também reforçar então a fé daqueles que crêem na Imaculada Conceição de Maria, verdade tão cara aos cristãos de todos os tempos. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
O Prefácio da Missa da solenidade da Imaculada Conceição de Maria apresenta uma síntese admirável sobre esta verdade. Nele são rendidas graças ao Pai, porque Ele preservou a Virgem Maria de toda a mancha do pecado original, para que, enriquecida com a plenitude da graça divina, fosse a digna Mãe do seu Filho. Nela Ele deu início à santa Igreja, esposa de Cristo, sem mancha e sem ruga, resplandecente de beleza e santidade. Dela, Virgem puríssima, devia nascer o seu Filho, Cordeiro inocente que tira o pecado do mundo. Ele a destinou acima de todas as criaturas, a fim de ser, para todo o povo, advogada da graça e modelo de santidade. Foi, exatamente, por tudo isto que Maria é, na verdade, a filha amada do Ser Supremo. Quando o Pai, desde toda a eternidade, determinou salvar o mundo pela encarnação do Verbo Divino, e que este inefável mistério se realizaria no seio de uma Virgem por obra do Espírito Santo, Ele a predestinou, escolheu, adotou como a mais predileta dos seres racionais, isto, porém, de um modo especial e com uma ternura sem igual. Ela, verdadeiramente, devia ser, no tempo, a esposa do Espírito Santo, a mãe venerada do seu Filho, a mãe, outrossim, por uma misteriosa extensão, de todos os filhos da Igreja, Corpo Místico do Redentor. Uma vez que a Santíssima Trindade determinou a salvação da humanidade, esta mulher bendita esteve sempre no pensamento divino. O amor do Pai para com o Filho, esse eterno e incomparável objeto de suas complacências, se estendeu também, desde então, sobre Maria como um princípio da santa humanidade do Redentor. O poder desse amor e a liberalidade dos dons do Senhor de tudo deviam ser sem limites. Donde podemos julgar quanto foi excelente essa adoção, que derivava de tão grande dileção. Daí podemos julgar a eficácia da graça divina, não deixando um só instante o pecado introduzir-se nessa alma tão pura, que conceberia pelo poder do Espírito Santo. Maria foi, portanto, adotada como filha bem-amada de Deus desde o instante em que foi formada no seio materno e, imediatamente, ornada da graça santificante, da santidade e da justiça. A sua concepção foi sem pecado, foi imaculada. Eis o mistério celebrado no dia oito de dezembro. É evidente que destinando uma criatura para tão grande missão, o Onipotente não podia consentir que coisa alguma faltasse à perfeição daquela que fora escolhida, bendita entre todas as mulheres. O Todo-Poderoso quis reviver em Maria toda a beleza, toda a pureza primitiva de sua imagem, conspurcada pelo pecado de Adão, e, por isso, Maria foi criada imaculada, sem mancha original, para que nessa filha muito amada rebrilhassem todas as virtudes, todos os privilégios, sendo puras e santas todas as suas ações, e Ele pudesse contemplá-la sem cessar com amor e satisfação. Por ser, de fato, a filha predileta do Pai, a esposa do Espírito Santo e Mãe do Verbo Eterno com laços tão grandiosos com a Santíssima Trindade, o embaixador celeste a ela enviado à cidade de Nazaré, além de lhe explicar todo o processo inicial do plano salvífico que teria início na Encarnação da Segunda Pessoa da Trindade Santa a chamou de “cheia de graças”. Plenitude esta que inclui naturalmente a prerrogativa de sua conceição sem a mácula original. Os acontecimentos estão registrados no Evangelho, oferecendo-nos elementos grandiosos da fé cristã, alicerçando a doutrina da Igreja. O que se esquece muitas vezes é que há na religião verdades, que iluminando a nossa razão, a deixam abismada na contemplação de conhecimentos que vão além de todas as suas forças e de todas as suas luzes. O que se conhece, contudo, pela fé não é luz que cega e fulmina, mas luz que ilumina, encanta e alegra. O espírito aí se apraz, e a razão clarificada pela crença se sente enriquecida. O Cristianismo recebe a verdade revelada por um ato de simples obediência à autoridade de Deus e de sua Igreja, mas não há nenhuma verdade revelada, nenhum dogma que exige a adesão a um absurdo. O mistério ultrapassa a inteligência, mas esta pode captar uma coerência intrínseca na verdade revelada. No Cristianismo os grandes teólogos não foram menos filósofos do que crédulos submissos, e isto até os nossos dias. Esses elevados e belos estudos sobre as questões da fé foram a origem da filosofia cristã, filosofia ao mesmo tempo divina e humana, onde se vêem reunidas em um admirável esplendor todas as luzes naturais e sobrenaturais que iluminam a humanidade. Assim se expressou Santo Anselmo: “Crer, nada mais é senão pensar consentido [...] Todo o que crê, pensa; crendo pensa, e pensando crê [ ...] A fé, se não for pensada, nada é [ ...] quando se tira o assentimento, tira-se a fé, pois, sem o assentimento, realmente não se crê” [...] E notável a sentença deste sábio santo: “Creio para entender; eu entendo para crer”. Estas considerações devem também reforçar então a fé daqueles que crêem na Imaculada Conceição de Maria, verdade tão cara aos cristãos de todos os tempos. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
domingo, 20 de novembro de 2011
VIGIAI
VIGIAI!
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Com o Advento a Igreja leva os fiéis à preparação para o dia do Natal e a palavra chave do primeiro domingo do novo ano litúrgico é esta: Vigiai! O alerta de Jesus deve ressoar fundo nos corações: “Ficai de sobreaviso, vigiai, porque não sabeis quando será o tempo” (Mc 13,33). Esta exortação, que se encontra na parábola do homem que partiu em viagem e deixou a sua casa, delegando sua autoridade aos servos, indicando o trabalho de cada um, e que mandou o porteiro que vigiasse, é a mesma que lemos na narrativa das dez virgens que aguardavam a vinda de seu senhor (Mt 25,13). Aos Apóstolos, adormecidos no Getsêmani disse Jesus: “Vigiai e orai” (Mc 14.38). Trata-se, portanto, de uma séria advertência do Mestre divino. Este não pregou uma atitude passiva, fatalista, mas um alerta constante na presença de Deus, dado que a vida de seu seguidor deve ser uma oração contínua. Eis porque aos Efésios preceituou São Paulo:
“Por meio de toda a espécie de orações e de súplicas, orai incessantemente movidos pelo Espírito” (Ef 6,18) e aos Colossenses: “Perseverai assiduamente na oração e vigiai com ação de graças”. Como o cristão tem a reta intenção de tudo fazer para a glória de Deus ele se acha ininterruptamente em clima de união com o seu Senhor e pode repetir o que se lê no Livro Cântico dos Cânticos: “Eu durmo, mas o meu coração vigia” (Cant 5, 2). O efeito desta comunhão com o Ser Supremo se desdobra e aí está a razão pela qual o Apóstolo detalhadamente aconselhou aos Coríntios: “Vigiai, sede constantes na fé, tende ânimo viril, sede fortes. Que tudo entre vós se realize na caridade” (1 Cor 16, 13-14). Quem tem fé sabe que Deus bate à porta dos corações a todas as horas e é necessário responder prontamente à sua chamada. No Apocalipse Ele usa uma expressão bem forte: “Eis que sobrevenho à maneira de um ladrão. Feliz daquele que vigiar” (Ap 26, 15). É preciso, por isto, estar não de mãos vazias, mas repletas de boas obras, fruto da fortaleza e de um irradiante amor. Compreende-se então que a vigilância é imprescindível para a chegada de Cristo não apenas no momento de se deixar este mundo, o que é o mais certo dos fatos, embora o mais incerto no que tange à hora, o lugar, as circunstâncias. É de vital necessidade ainda para a vinda de Jesus no seu Natal. Com efeito, pela Liturgia a cada ano este fato histórico se repete envolvendo o cristão nas graças específicas daquele acontecimento tão de perto vivido por Maria e José lá no presépio, anunciado aos pastores pelos anjos, concitando-os a se envolverem num profundo júbilo. Deste modo, o apelo à vigilância neste primeiro domingo do Advento deriva da comunicação das grandezas de Deus e do desejo palpitante de receber novas luzes, novas graças. O amor-desejo mantém o cristão acordado, em estado de alerta, envolto em efusões revigorantes que produzem a certeza de uma imersão total na realidade natalina que se aproxima, tornando-o consciente de que mister se faz uma preparação condigna ao se avizinhar o mistério a ser revivido. Por tudo isto, a mística do Advento leva a um cumprimento ainda mais aprimorado dos deveres quotidianos. A caminhada até o dia 25 de dezembro move o cristão a purificar ainda mais o seu espírito, condição necessária para acolher o divino o Infante. Deste modo a comunidade cristã, com a liturgia do advento, é chamada a viver algumas atitudes essenciais à expressão evangélica existencial. Cumpre a espera vigilante e jubilosa, a esperança e a conversão. É que este Jesus cujo nascimento deve ser comemorado cristamente questiona seu discípulo. A “operação natal” que dinamizará em dezembro o comércio, numa sociedade industrial e consumista, tem para o verdadeiro cristão outro sentido, pois exige uma revisão de vida que seja comprometida com valores e atitudes que estejam de acordo com a visão teológica da Encarnação do Verbo de Deus. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
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Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Com o Advento a Igreja leva os fiéis à preparação para o dia do Natal e a palavra chave do primeiro domingo do novo ano litúrgico é esta: Vigiai! O alerta de Jesus deve ressoar fundo nos corações: “Ficai de sobreaviso, vigiai, porque não sabeis quando será o tempo” (Mc 13,33). Esta exortação, que se encontra na parábola do homem que partiu em viagem e deixou a sua casa, delegando sua autoridade aos servos, indicando o trabalho de cada um, e que mandou o porteiro que vigiasse, é a mesma que lemos na narrativa das dez virgens que aguardavam a vinda de seu senhor (Mt 25,13). Aos Apóstolos, adormecidos no Getsêmani disse Jesus: “Vigiai e orai” (Mc 14.38). Trata-se, portanto, de uma séria advertência do Mestre divino. Este não pregou uma atitude passiva, fatalista, mas um alerta constante na presença de Deus, dado que a vida de seu seguidor deve ser uma oração contínua. Eis porque aos Efésios preceituou São Paulo:
“Por meio de toda a espécie de orações e de súplicas, orai incessantemente movidos pelo Espírito” (Ef 6,18) e aos Colossenses: “Perseverai assiduamente na oração e vigiai com ação de graças”. Como o cristão tem a reta intenção de tudo fazer para a glória de Deus ele se acha ininterruptamente em clima de união com o seu Senhor e pode repetir o que se lê no Livro Cântico dos Cânticos: “Eu durmo, mas o meu coração vigia” (Cant 5, 2). O efeito desta comunhão com o Ser Supremo se desdobra e aí está a razão pela qual o Apóstolo detalhadamente aconselhou aos Coríntios: “Vigiai, sede constantes na fé, tende ânimo viril, sede fortes. Que tudo entre vós se realize na caridade” (1 Cor 16, 13-14). Quem tem fé sabe que Deus bate à porta dos corações a todas as horas e é necessário responder prontamente à sua chamada. No Apocalipse Ele usa uma expressão bem forte: “Eis que sobrevenho à maneira de um ladrão. Feliz daquele que vigiar” (Ap 26, 15). É preciso, por isto, estar não de mãos vazias, mas repletas de boas obras, fruto da fortaleza e de um irradiante amor. Compreende-se então que a vigilância é imprescindível para a chegada de Cristo não apenas no momento de se deixar este mundo, o que é o mais certo dos fatos, embora o mais incerto no que tange à hora, o lugar, as circunstâncias. É de vital necessidade ainda para a vinda de Jesus no seu Natal. Com efeito, pela Liturgia a cada ano este fato histórico se repete envolvendo o cristão nas graças específicas daquele acontecimento tão de perto vivido por Maria e José lá no presépio, anunciado aos pastores pelos anjos, concitando-os a se envolverem num profundo júbilo. Deste modo, o apelo à vigilância neste primeiro domingo do Advento deriva da comunicação das grandezas de Deus e do desejo palpitante de receber novas luzes, novas graças. O amor-desejo mantém o cristão acordado, em estado de alerta, envolto em efusões revigorantes que produzem a certeza de uma imersão total na realidade natalina que se aproxima, tornando-o consciente de que mister se faz uma preparação condigna ao se avizinhar o mistério a ser revivido. Por tudo isto, a mística do Advento leva a um cumprimento ainda mais aprimorado dos deveres quotidianos. A caminhada até o dia 25 de dezembro move o cristão a purificar ainda mais o seu espírito, condição necessária para acolher o divino o Infante. Deste modo a comunidade cristã, com a liturgia do advento, é chamada a viver algumas atitudes essenciais à expressão evangélica existencial. Cumpre a espera vigilante e jubilosa, a esperança e a conversão. É que este Jesus cujo nascimento deve ser comemorado cristamente questiona seu discípulo. A “operação natal” que dinamizará em dezembro o comércio, numa sociedade industrial e consumista, tem para o verdadeiro cristão outro sentido, pois exige uma revisão de vida que seja comprometida com valores e atitudes que estejam de acordo com a visão teológica da Encarnação do Verbo de Deus. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
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sexta-feira, 18 de novembro de 2011
INSEMINAÇÃO ARTIFICIAL
INSEMINAÇÃO ARTIFICIAL - FERTILIZAÇÃO IN VITRO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho
Cumpre, em primeiro lugar, lembrar o que o Papa Paulo VI ensinou na encíclica Humanae Vitae: “A procriação humana está fundada sobre a conexão inseparável que Deus quis e que o homem não pode alterar por sua iniciativa, entre os dois significados do ato conjugal: o significado unitivo e o procriador. Na verdade, pela sua estrutura intima, o ato conjugal, ao mesmo tempo que une profundamente os esposos, torna-os aptos para a geração de novas vidas, segundo leis inscritas no próprio ser do homem e da mulher “ (n.12).
Adite-se o que a Congregação para a Doutrina da fé falou sobre o respeito que se deve à vida humana nascente e a dignidade da procriação: “O único lugar digno da procriação humana é o ato de amor conjugal”, sendo, portanto, ilícito qualquer outro processo que a ciência venha a preconizar. A fecundação artificial homóloga é imoral quando se utiliza proveta ou promove a fecundação fora do organismo feminino.
A fortiori, a fecundação heteróloga, ou seja, a técnica destinada a obter uma concepção humana, a partir de gametas provenientes de ao menos um doador diverso dos esposos unidos em matrimonio, é inteiramente ilícita, imoral. É contraria a unidade do matrimonio, a dignidade dos esposos, a vocação própria dos pais e do direito do filho ser concebido e posto no mundo no matrimônio e pelo matrimônio.
O Catecismo da Igreja Católica doutrina: “As técnicas que provocam uma dissociação do parentesco, pela intervenção de uma pessoa estranha ao casal (doação de esperma ou de óvulo, empréstimo de útero), são gravemente desonestas. Estas técnicas (inseminação e fecundação artificiais heterólogas) lesam o direito da criança de nascer de um pai e uma mãe conhecidos dela e ligados entre si pelo casamento. Elas traem "o direito exclusivo de se tornar pai e mãe somente um por meio do outro". No que tange a esterilidade o Papa João Paulo II afirmou: “Desejo encorajar as pesquisas cientificas destinadas a superação natural da esterilidade nos casais, assim como desejo exortar os peritos a aperfeiçoar aquelas intervenções que podem resultar úteis para esta finalidade”.
A Igreja há de sempre salvaguardar o bem comum, ante a manipulação tecnológica das mesmas fontes de vida.
Portanto, de acordo com doutrina católica a única forma de procriação é o ato sexual praticado por pessoas casadas. *Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho
Cumpre, em primeiro lugar, lembrar o que o Papa Paulo VI ensinou na encíclica Humanae Vitae: “A procriação humana está fundada sobre a conexão inseparável que Deus quis e que o homem não pode alterar por sua iniciativa, entre os dois significados do ato conjugal: o significado unitivo e o procriador. Na verdade, pela sua estrutura intima, o ato conjugal, ao mesmo tempo que une profundamente os esposos, torna-os aptos para a geração de novas vidas, segundo leis inscritas no próprio ser do homem e da mulher “ (n.12).
Adite-se o que a Congregação para a Doutrina da fé falou sobre o respeito que se deve à vida humana nascente e a dignidade da procriação: “O único lugar digno da procriação humana é o ato de amor conjugal”, sendo, portanto, ilícito qualquer outro processo que a ciência venha a preconizar. A fecundação artificial homóloga é imoral quando se utiliza proveta ou promove a fecundação fora do organismo feminino.
A fortiori, a fecundação heteróloga, ou seja, a técnica destinada a obter uma concepção humana, a partir de gametas provenientes de ao menos um doador diverso dos esposos unidos em matrimonio, é inteiramente ilícita, imoral. É contraria a unidade do matrimonio, a dignidade dos esposos, a vocação própria dos pais e do direito do filho ser concebido e posto no mundo no matrimônio e pelo matrimônio.
O Catecismo da Igreja Católica doutrina: “As técnicas que provocam uma dissociação do parentesco, pela intervenção de uma pessoa estranha ao casal (doação de esperma ou de óvulo, empréstimo de útero), são gravemente desonestas. Estas técnicas (inseminação e fecundação artificiais heterólogas) lesam o direito da criança de nascer de um pai e uma mãe conhecidos dela e ligados entre si pelo casamento. Elas traem "o direito exclusivo de se tornar pai e mãe somente um por meio do outro". No que tange a esterilidade o Papa João Paulo II afirmou: “Desejo encorajar as pesquisas cientificas destinadas a superação natural da esterilidade nos casais, assim como desejo exortar os peritos a aperfeiçoar aquelas intervenções que podem resultar úteis para esta finalidade”.
A Igreja há de sempre salvaguardar o bem comum, ante a manipulação tecnológica das mesmas fontes de vida.
Portanto, de acordo com doutrina católica a única forma de procriação é o ato sexual praticado por pessoas casadas. *Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
quinta-feira, 17 de novembro de 2011
O VALOR DA AMIZADE
O VALOR DA AMIZADE
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
A palavra amigo aparece mais de duzentas e trinta vezes na Bíblia. Sublime o que afirmou Jesus: “Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz seu senhor. Mas chamei-vos amigos, pois vos dei a conhecer tudo quanto ouvi de meu Pai” (Jo 15,15). Ele, realmente, o verdadeiro amigo que deu a vida como prova de sua dileção: “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida por seus amigos (Jo 15,13). Aliás, já dizia o Livro dos Provérbios: “ O amigo ama em todo o tempo: na desgraça, ele se torna um irmão (Pv 17). Luminosa a sentença do Eclesiástico: “Um amigo fiel é uma poderosa proteção: quem o achou descobriu um tesouro (Ecl 6,14). Eis porque se lê no Livro Imitação de Cristo: «Ninguém pode viver sem amigo. Tomai e guardai como amigo aquele que nunca vos faltará», referindo-se ao Mestre divino. Que felicidade então ter Jesus como o amigo dos amigos. Ele é o celestial modelo e o ideal supremo da amizade. Uma mesma fé nele deve unir os amigos. Esta é a primeira cláusula do código da amizade. A fé, portanto, em Cristo e em sua Igreja deve existir em toda amizade, dado que, seguindo o Redentor e seus ensinamentos os amigos se influenciam mutuamente no caminho do bem. Associam-se por esta fé; procuram defendê-la contra o mundo, contra a indiferença e contra as blasfêmias, ou seja, contra tudo que ultraja a divindade ou a religião. Essa deve ser a eficácia da amizade cristã sobretudo num contexto como o atual, divorciado das realidades eternas, quando os dez mandamentos são impiamente desprezados. S. Paulo chama a fé um escudo. Os antigos, quando sitiavam uma cidade, no momento do ataque, uniam sobre as suas cabeças os escudos um ao lado do outro, de sorte a formar uma enorme couraça impenetrável, e assim protegidos avançavam resolutos. Imitando os antigos; unidos os escudos da mesma fé contra os ataques da descrença, os amigos se ajudam mutuamente contra as ofensivas diabólicas de um mundo hedonista, ganancioso, perverso. Unem-se por isto mesmo na esperança da chegada à Casa do Pai, na Jerusalém celeste. Modelos de amizade cristã foram dois jovens amigos no século XVI, Ignácio de Loyola e Francisco Xavier, e, deste modo, um conseguiu fazer do outro um santo, e ambos estão sobre os altares da Igreja de Deus e lá no céu já se encontraram usufruindo a felicidade perene que o Ser Supremo reserva para os justos. Marco Túlio Cícero, que não era cristão, no entanto escreveu no seu notável trabalho sobre os amigos que, “a verdadeira amizade é gerada e mantida pela virtude e sem virtude não pode haver amizade. Pois eu sinto que a amizade existe só entre os bons”. Cumpre por tudo isto servir os amigos, trabalhando para a sua santificação, corrigindo prudentemente os seus defeitos e socorrendo-os em suas necessidades. Donde ser de vital importância o bom exemplo que é um dever elementar de amizade. Feliz quem pode afirmar: “O meu amigo é a minha consciência exterior. Eu vejo o meu dever em sua existência. Se procedo bem, os seus olhos me dizem que ajo corretamente. Sei que nunca terei a coragem de fazer ou de pensar mal em sua presença.” Santo Agostinho dizia então com toda razão: “Não há melhor espelho que um bom amigo”. Aí está o motivo pelo qual a boa amizade leva à correção dos defeitos. O maior bem que se possa fazer aos amigos é torná-los melhores do que são, mais honestos, mais puros, mais virtuosos, mais santos. É preciso ainda saber que o verdadeiro amigo é como o anjo consolador que estende as mãos no momento do abandono e da dor. Célebre o dito de Demétrio I, rei da Macedônia: “Amigos são os que na prosperidade comparecem ao serem chamados e, na adversidade, sem ser chamados”. Proclamou Quinto Enneio: “O amigo certo, conhece-se na ocasião incerta”. Donde a máxima de Collins: “Na prosperidade, nossos amigos conhecem-nos; na adversidade, conhecemos os nossos verdadeiros amigos”. Sábio o conselho do poeta grego Píndaro: “Deves mostrar-te sempre o mesmo aos teus amigos, na boa ou má fortuna”. O cristão nunca deixa de orar pelos seus amigos e se interessa pela sua salvação eterna, sempre pedindo a Deus os conserve nas rotas da virtude. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
A palavra amigo aparece mais de duzentas e trinta vezes na Bíblia. Sublime o que afirmou Jesus: “Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz seu senhor. Mas chamei-vos amigos, pois vos dei a conhecer tudo quanto ouvi de meu Pai” (Jo 15,15). Ele, realmente, o verdadeiro amigo que deu a vida como prova de sua dileção: “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida por seus amigos (Jo 15,13). Aliás, já dizia o Livro dos Provérbios: “ O amigo ama em todo o tempo: na desgraça, ele se torna um irmão (Pv 17). Luminosa a sentença do Eclesiástico: “Um amigo fiel é uma poderosa proteção: quem o achou descobriu um tesouro (Ecl 6,14). Eis porque se lê no Livro Imitação de Cristo: «Ninguém pode viver sem amigo. Tomai e guardai como amigo aquele que nunca vos faltará», referindo-se ao Mestre divino. Que felicidade então ter Jesus como o amigo dos amigos. Ele é o celestial modelo e o ideal supremo da amizade. Uma mesma fé nele deve unir os amigos. Esta é a primeira cláusula do código da amizade. A fé, portanto, em Cristo e em sua Igreja deve existir em toda amizade, dado que, seguindo o Redentor e seus ensinamentos os amigos se influenciam mutuamente no caminho do bem. Associam-se por esta fé; procuram defendê-la contra o mundo, contra a indiferença e contra as blasfêmias, ou seja, contra tudo que ultraja a divindade ou a religião. Essa deve ser a eficácia da amizade cristã sobretudo num contexto como o atual, divorciado das realidades eternas, quando os dez mandamentos são impiamente desprezados. S. Paulo chama a fé um escudo. Os antigos, quando sitiavam uma cidade, no momento do ataque, uniam sobre as suas cabeças os escudos um ao lado do outro, de sorte a formar uma enorme couraça impenetrável, e assim protegidos avançavam resolutos. Imitando os antigos; unidos os escudos da mesma fé contra os ataques da descrença, os amigos se ajudam mutuamente contra as ofensivas diabólicas de um mundo hedonista, ganancioso, perverso. Unem-se por isto mesmo na esperança da chegada à Casa do Pai, na Jerusalém celeste. Modelos de amizade cristã foram dois jovens amigos no século XVI, Ignácio de Loyola e Francisco Xavier, e, deste modo, um conseguiu fazer do outro um santo, e ambos estão sobre os altares da Igreja de Deus e lá no céu já se encontraram usufruindo a felicidade perene que o Ser Supremo reserva para os justos. Marco Túlio Cícero, que não era cristão, no entanto escreveu no seu notável trabalho sobre os amigos que, “a verdadeira amizade é gerada e mantida pela virtude e sem virtude não pode haver amizade. Pois eu sinto que a amizade existe só entre os bons”. Cumpre por tudo isto servir os amigos, trabalhando para a sua santificação, corrigindo prudentemente os seus defeitos e socorrendo-os em suas necessidades. Donde ser de vital importância o bom exemplo que é um dever elementar de amizade. Feliz quem pode afirmar: “O meu amigo é a minha consciência exterior. Eu vejo o meu dever em sua existência. Se procedo bem, os seus olhos me dizem que ajo corretamente. Sei que nunca terei a coragem de fazer ou de pensar mal em sua presença.” Santo Agostinho dizia então com toda razão: “Não há melhor espelho que um bom amigo”. Aí está o motivo pelo qual a boa amizade leva à correção dos defeitos. O maior bem que se possa fazer aos amigos é torná-los melhores do que são, mais honestos, mais puros, mais virtuosos, mais santos. É preciso ainda saber que o verdadeiro amigo é como o anjo consolador que estende as mãos no momento do abandono e da dor. Célebre o dito de Demétrio I, rei da Macedônia: “Amigos são os que na prosperidade comparecem ao serem chamados e, na adversidade, sem ser chamados”. Proclamou Quinto Enneio: “O amigo certo, conhece-se na ocasião incerta”. Donde a máxima de Collins: “Na prosperidade, nossos amigos conhecem-nos; na adversidade, conhecemos os nossos verdadeiros amigos”. Sábio o conselho do poeta grego Píndaro: “Deves mostrar-te sempre o mesmo aos teus amigos, na boa ou má fortuna”. O cristão nunca deixa de orar pelos seus amigos e se interessa pela sua salvação eterna, sempre pedindo a Deus os conserve nas rotas da virtude. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
quarta-feira, 16 de novembro de 2011
DESAPEGO DOS BENS TERRENOS
DESAPEGO DOS BENS TERRENOS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Nem sempre se compreende bem o que Jesus proclamou: “Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus (Mt 5,3). O Mestre divino prega a interiorização da pobreza, ou seja, viver o dom de ser pobre, desapegado dos bens terrenos, disponível para realizar em tudo a vontade divina. Ele deu o exemplo. A condição para seguir Cristo consiste em se fazer pobre. Esta pobreza significa total confiança em Deus (Lc 12, 22-24); esperança na salvação divina longe da idolatria das riquezas; liberdade diante do supérfluo e integral desprendimento de tudo. Isto leva à consciência da prioridade e da excelência do reino de Deus. Assim sendo, os ricos também estão predestinados a essa ventura celeste, embora os pobres estejam mais perto, tenham maior facilidade de alcançá-la, porque não têm grandes obstáculos a vencer. O Evangelho ensina que as riquezas podem se tornar um fardo pesado, porque há o perigo do endeusamento daquilo que deve ser um meio e não um fim em si mesmo. Isto pode perturbar a caminhada rumo ao céu e as riquezas não devem ser espinhos que abafem a visão da eternidade, impedindo o crescimento espiritual. À luz da fé uma pessoa de posses pode se santificar, ajudando os mais necessitados, vendo neles a figura de Jesus, que sendo rico, se apresentou como pobre. Amparo às obras sociais, contribuição para uma sociedade mais justa e equânime na qual haja uma maior distribuição da riqueza. A pobreza de Jesus não significou uma falta de bens necessários à subsistência. Ele morou numa casa, na verdade modesta, mas que era propriedade de seu pai perante a lei, o carpinteiro José (Mt, 2,12). Depois o grupo de seus apóstolos recebiam subvenção dos amigos, sobretudo de senhoras abastadas da burguesia (Lc 8,1). Sua pobreza equivalia à liberdade (Mt 8,20), à mansidão e à humildade de coração, à disponibilidade diante da vontade do Pai (Jo 4,34) e foi pobre até a morte na cruz (Fl 2,8). Como mostrou São Paulo, de rico se fez pobre para enriquecer outros (2 Cor 8,9). Ele expressou solidariedade completa com os pobres a ponto de tomar sobre si os pecados do mundo (Jo 1,29). Ele curou os doentes e evangelizou os pobres (Mt 11,2-6). Ensinou que se deve amar os indigentes, honrá-los e servi-los. Do ponto de vista de Jesus é feliz o homem que tem a compreensão do necessitado e do carente de amparo. A Bíblia exalta a ajuda aos mais desprovidos de bens, pois a esmola redime os pecados e Deus tem compaixão de quem se interessa pelos marginalizados. Cristo está presente no pobre e no juízo final ele dirá aos eleitos: “Tive fome e destes-me de comer; tive sede e destes-me de beber; era peregrino e me hospedastes-me; andava nu e vestistes-me, estava doente e visitastes-me; estava no cárcere e fostes ver-me” (Mt 25,31 e ss). Trata-se de uma verdadeira exaltação do pobre! Eis porque, num momento de pulcra inspiração, Bossuet assim se expressou: “Não seja desprezada a pobreza, nem tratada com desdém. O rei de glória a tomou para si, a enobreceu, a divinizou, e concedeu aos pobres todos os privilégios do seu reino”. É que se deve ter a compreensão do pobre, vendo nele a pessoa de Cristo e tratando-o como se tratássemos a majestade padecente de Deus, que honra aquele que é caridoso, recebendo o óbolo da sua esmola. Cumpre lutar sempre para que todos os cidadãos tenham condição de trabalho e vejam sua dignidade respeitada. É preciso esforço para melhorar a sorte dos que sofrem e agir em tudo com espírito de solidariedade. Como ensina o salmo 81, é necessário fazer justiça ao fraco, ao órfão e acatar o direito do indigente que padece (Sl 81,3). É belo entrar no tugúrio do mendigo, assentar-se nas suas toscas cadeiras e deixar que ele desabafe suas amarguras e, até mesmo, aprender com sua experiência de vida. Com efeito, quantas virtudes sublimes e heróicas se escondem debaixo da miséria, sobretudo num país como o Brasil onde impera tanta corrupção e os impostos são tão mal empregados e, de fato, alarmantes os desvios do dinheiro público como os jornais, as revistas, e a televisão continuamente estão a denunciar. Nem se pode esquecer que a caridade coletiva tem um enorme valor, porque ela faz auxiliar estas associações caritativas, sobretudo, a Sociedade de São Vicente de Paulo, na qual os confrades vicentinos multiplicam a assistência aos desamparados, aplicando, religiosamente, os donativos. Não é necessário ser rico para dar, basta ser bom, porque os bons sempre encontram meios para fazer o bem. A oferta, porém, adquire um duplo valor quando é o fruto de algum sacrifício. Se ela é tirada dos nossos prazeres lícitos, das nossas necessidades particulares, então não damos somente um objeto material, damos alguma coisa da nossa alma, e Deus que vê a nossa esmola não deixará de nos recompensar. Nem se deve esquecer a esmola de um bom conselho, a esmola de uma boa palavra. Instruir, dirigir, proteger os infelizes em seus negócios temporais e espirituais, é um dos mais belos atos de caridade. É honroso ser semeador do bem, dando, assim, também a esmola do coração. A caridade cristã opera realmente maravilhas. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Nem sempre se compreende bem o que Jesus proclamou: “Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus (Mt 5,3). O Mestre divino prega a interiorização da pobreza, ou seja, viver o dom de ser pobre, desapegado dos bens terrenos, disponível para realizar em tudo a vontade divina. Ele deu o exemplo. A condição para seguir Cristo consiste em se fazer pobre. Esta pobreza significa total confiança em Deus (Lc 12, 22-24); esperança na salvação divina longe da idolatria das riquezas; liberdade diante do supérfluo e integral desprendimento de tudo. Isto leva à consciência da prioridade e da excelência do reino de Deus. Assim sendo, os ricos também estão predestinados a essa ventura celeste, embora os pobres estejam mais perto, tenham maior facilidade de alcançá-la, porque não têm grandes obstáculos a vencer. O Evangelho ensina que as riquezas podem se tornar um fardo pesado, porque há o perigo do endeusamento daquilo que deve ser um meio e não um fim em si mesmo. Isto pode perturbar a caminhada rumo ao céu e as riquezas não devem ser espinhos que abafem a visão da eternidade, impedindo o crescimento espiritual. À luz da fé uma pessoa de posses pode se santificar, ajudando os mais necessitados, vendo neles a figura de Jesus, que sendo rico, se apresentou como pobre. Amparo às obras sociais, contribuição para uma sociedade mais justa e equânime na qual haja uma maior distribuição da riqueza. A pobreza de Jesus não significou uma falta de bens necessários à subsistência. Ele morou numa casa, na verdade modesta, mas que era propriedade de seu pai perante a lei, o carpinteiro José (Mt, 2,12). Depois o grupo de seus apóstolos recebiam subvenção dos amigos, sobretudo de senhoras abastadas da burguesia (Lc 8,1). Sua pobreza equivalia à liberdade (Mt 8,20), à mansidão e à humildade de coração, à disponibilidade diante da vontade do Pai (Jo 4,34) e foi pobre até a morte na cruz (Fl 2,8). Como mostrou São Paulo, de rico se fez pobre para enriquecer outros (2 Cor 8,9). Ele expressou solidariedade completa com os pobres a ponto de tomar sobre si os pecados do mundo (Jo 1,29). Ele curou os doentes e evangelizou os pobres (Mt 11,2-6). Ensinou que se deve amar os indigentes, honrá-los e servi-los. Do ponto de vista de Jesus é feliz o homem que tem a compreensão do necessitado e do carente de amparo. A Bíblia exalta a ajuda aos mais desprovidos de bens, pois a esmola redime os pecados e Deus tem compaixão de quem se interessa pelos marginalizados. Cristo está presente no pobre e no juízo final ele dirá aos eleitos: “Tive fome e destes-me de comer; tive sede e destes-me de beber; era peregrino e me hospedastes-me; andava nu e vestistes-me, estava doente e visitastes-me; estava no cárcere e fostes ver-me” (Mt 25,31 e ss). Trata-se de uma verdadeira exaltação do pobre! Eis porque, num momento de pulcra inspiração, Bossuet assim se expressou: “Não seja desprezada a pobreza, nem tratada com desdém. O rei de glória a tomou para si, a enobreceu, a divinizou, e concedeu aos pobres todos os privilégios do seu reino”. É que se deve ter a compreensão do pobre, vendo nele a pessoa de Cristo e tratando-o como se tratássemos a majestade padecente de Deus, que honra aquele que é caridoso, recebendo o óbolo da sua esmola. Cumpre lutar sempre para que todos os cidadãos tenham condição de trabalho e vejam sua dignidade respeitada. É preciso esforço para melhorar a sorte dos que sofrem e agir em tudo com espírito de solidariedade. Como ensina o salmo 81, é necessário fazer justiça ao fraco, ao órfão e acatar o direito do indigente que padece (Sl 81,3). É belo entrar no tugúrio do mendigo, assentar-se nas suas toscas cadeiras e deixar que ele desabafe suas amarguras e, até mesmo, aprender com sua experiência de vida. Com efeito, quantas virtudes sublimes e heróicas se escondem debaixo da miséria, sobretudo num país como o Brasil onde impera tanta corrupção e os impostos são tão mal empregados e, de fato, alarmantes os desvios do dinheiro público como os jornais, as revistas, e a televisão continuamente estão a denunciar. Nem se pode esquecer que a caridade coletiva tem um enorme valor, porque ela faz auxiliar estas associações caritativas, sobretudo, a Sociedade de São Vicente de Paulo, na qual os confrades vicentinos multiplicam a assistência aos desamparados, aplicando, religiosamente, os donativos. Não é necessário ser rico para dar, basta ser bom, porque os bons sempre encontram meios para fazer o bem. A oferta, porém, adquire um duplo valor quando é o fruto de algum sacrifício. Se ela é tirada dos nossos prazeres lícitos, das nossas necessidades particulares, então não damos somente um objeto material, damos alguma coisa da nossa alma, e Deus que vê a nossa esmola não deixará de nos recompensar. Nem se deve esquecer a esmola de um bom conselho, a esmola de uma boa palavra. Instruir, dirigir, proteger os infelizes em seus negócios temporais e espirituais, é um dos mais belos atos de caridade. É honroso ser semeador do bem, dando, assim, também a esmola do coração. A caridade cristã opera realmente maravilhas. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
segunda-feira, 14 de novembro de 2011
EVITAR O PECADO
EVITAR O PECADO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Pelo batismo o cristão recebe a graça santificante a qual é um dom que Deus se digna conceder à alma do justo, a fim de o tornar seu filho adotivo (1 Jo 3, 1-3). Por esse dom o ser racional vem a ser realmente participante da natureza divina (2 Pd 1,4), templo do Espírito Santo (1 Cor 3,16), morada da Santíssima. Trindade (Jo 14,23). O pecado mortal, ou seja, uma transgressão da lei divina em matéria grave, com pleno conhecimento e pleno consentimento, leva a perda desta dignidade, que, pela misericórdia divina, pode, porém, ser recuperada no Sacramento da Confissão. O pecado é a negação dos direitos de Deus, é a revolta contra a sua autoridade, é a desobediência aos seus mandamentos. É um ato de soberba horrível, pois o pecador se julga mais sábio do que a Sabedoria infinita e age de uma maneira inteiramente contrária ao que o Ser Supremo preceituou. As faltas leves, ditas veniais, não levam à perda da graça santificante e delas nem os santos ficaram inteiramente livres, conforme está no salmo: “Se observardes as nossas faltas, quem poderá subsistir”? (Sl 129,3). São João assim se expressou: “Se dizemos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos, e a verdade não está em nós (1 Jo 1,8). É lógico que aqueles que buscam a perfeição evitam os menores desvios como aconteceu com os que foram canonizados e colocados no altar como exemplos a serem imitados. Deus é paciente porque é eterno, mas, um dia todos devem prestar contas de sua conduta nesta terra. Como tudo que se tem vem do Pai do Céu o pecado se torna a mais detestável das ingratidões, pois, ultrajando a Majestade divina é um atentado contra a própria Divindade. É o desprezo de Deus. O pecador levanta-se contra o Criador, não quer reconhecer os seus direitos, não quer a Ele obedecer e despreza os seus preceitos compendiados no Decálogo. Por tudo isto, o pecado é também um ultraje ao amor de Deus, porque dele procede a vida e tudo que é preciso para sua subsistência. O pecador serve-se dos bens recebidos para afrontar o seu Benfeitor. Eis porque o pecado é, realmente, o maior de todos os males. É uma injúria a Deus, a sua lei, a sua justiça, a sua dileção. Gravíssimas são as iniqüidades daqueles que receberam o batismo, daqueles que foram instruídos e educados na religião de Cristo e, não obstante, não pelejam contra o pecado. Os verdugos de Jesus, os perseguidores dos cristãos, são menos culpados que os cristãos pecadores. Aqueles desconheciam o Mestre divino, não eram os seus discípulos, enquanto estes O conhecem, O adoram, mas revoltam-se contra Ele. Entretanto, para o pecador arrependido há sempre salvação. Davi, que se entregou a crimes hediondos, conheceu a anistia divina e pôde afirmar no salmo 50: “Um coração contrito e humilhado Deus não despreza”. Nada se pode comparar à luminosidade, ao encanto da alma humana, quando ela é pura e sem pecado. Se alguém pudesse ver a beleza de uma alma em estado de graça já teria a visão beatífica. A alma, ferida de morte pelo pecado, se torna, porém, inimiga de Deus, que não pode habitar o mesmo espaço ocupado pelo mal. Ele que é a luz, a verdade, a vida, não pode suportar as trevas, a mentira, a desordem, não pode tolerar a maldade. Por tudo isto, cumpre evitar a todo custo o pecado, mesmo porque sem a graça santificante ninguém entrará no céu. Lembra o Catecismo da Igreja Católica: “O Estado de Graça Santificante, é o estado exigido para se alcançar a Vida Eterna porque sem esta união a Deus cá na terra, não é possível a vida de união a Deus na Visão Beatífica. Daí o cuidado em viver permanentemente na Graça de Deus, porque ninguém sabe o dia e a hora em que pode comparecer na presença de Deus e, uma morte súbita, sem preparação, sem o estado de graça, significa uma separação eterna!” (n. 2000). * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Pelo batismo o cristão recebe a graça santificante a qual é um dom que Deus se digna conceder à alma do justo, a fim de o tornar seu filho adotivo (1 Jo 3, 1-3). Por esse dom o ser racional vem a ser realmente participante da natureza divina (2 Pd 1,4), templo do Espírito Santo (1 Cor 3,16), morada da Santíssima. Trindade (Jo 14,23). O pecado mortal, ou seja, uma transgressão da lei divina em matéria grave, com pleno conhecimento e pleno consentimento, leva a perda desta dignidade, que, pela misericórdia divina, pode, porém, ser recuperada no Sacramento da Confissão. O pecado é a negação dos direitos de Deus, é a revolta contra a sua autoridade, é a desobediência aos seus mandamentos. É um ato de soberba horrível, pois o pecador se julga mais sábio do que a Sabedoria infinita e age de uma maneira inteiramente contrária ao que o Ser Supremo preceituou. As faltas leves, ditas veniais, não levam à perda da graça santificante e delas nem os santos ficaram inteiramente livres, conforme está no salmo: “Se observardes as nossas faltas, quem poderá subsistir”? (Sl 129,3). São João assim se expressou: “Se dizemos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos, e a verdade não está em nós (1 Jo 1,8). É lógico que aqueles que buscam a perfeição evitam os menores desvios como aconteceu com os que foram canonizados e colocados no altar como exemplos a serem imitados. Deus é paciente porque é eterno, mas, um dia todos devem prestar contas de sua conduta nesta terra. Como tudo que se tem vem do Pai do Céu o pecado se torna a mais detestável das ingratidões, pois, ultrajando a Majestade divina é um atentado contra a própria Divindade. É o desprezo de Deus. O pecador levanta-se contra o Criador, não quer reconhecer os seus direitos, não quer a Ele obedecer e despreza os seus preceitos compendiados no Decálogo. Por tudo isto, o pecado é também um ultraje ao amor de Deus, porque dele procede a vida e tudo que é preciso para sua subsistência. O pecador serve-se dos bens recebidos para afrontar o seu Benfeitor. Eis porque o pecado é, realmente, o maior de todos os males. É uma injúria a Deus, a sua lei, a sua justiça, a sua dileção. Gravíssimas são as iniqüidades daqueles que receberam o batismo, daqueles que foram instruídos e educados na religião de Cristo e, não obstante, não pelejam contra o pecado. Os verdugos de Jesus, os perseguidores dos cristãos, são menos culpados que os cristãos pecadores. Aqueles desconheciam o Mestre divino, não eram os seus discípulos, enquanto estes O conhecem, O adoram, mas revoltam-se contra Ele. Entretanto, para o pecador arrependido há sempre salvação. Davi, que se entregou a crimes hediondos, conheceu a anistia divina e pôde afirmar no salmo 50: “Um coração contrito e humilhado Deus não despreza”. Nada se pode comparar à luminosidade, ao encanto da alma humana, quando ela é pura e sem pecado. Se alguém pudesse ver a beleza de uma alma em estado de graça já teria a visão beatífica. A alma, ferida de morte pelo pecado, se torna, porém, inimiga de Deus, que não pode habitar o mesmo espaço ocupado pelo mal. Ele que é a luz, a verdade, a vida, não pode suportar as trevas, a mentira, a desordem, não pode tolerar a maldade. Por tudo isto, cumpre evitar a todo custo o pecado, mesmo porque sem a graça santificante ninguém entrará no céu. Lembra o Catecismo da Igreja Católica: “O Estado de Graça Santificante, é o estado exigido para se alcançar a Vida Eterna porque sem esta união a Deus cá na terra, não é possível a vida de união a Deus na Visão Beatífica. Daí o cuidado em viver permanentemente na Graça de Deus, porque ninguém sabe o dia e a hora em que pode comparecer na presença de Deus e, uma morte súbita, sem preparação, sem o estado de graça, significa uma separação eterna!” (n. 2000). * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
quinta-feira, 10 de novembro de 2011
JESUS VENCEU O MUNDO
JESUS VENCEU O MUNDO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Uma das recomendações do Filho de Deus nem sempre aprofundada foi esta: “No mundo tereis que sofrer. Mas tende confiança! Eu venci o mundo (Jo. 16, 33). Em São Lucas se encontra a expressão “os filhos deste mundo” em oposição aos “filhos da luz” (Lc 16,8). Este mundo é inferior ao mundo futuro, tanto física como moralmente. São Paulo fala no mundo mau (Gl1,4), sobre o qual impera satanás, o “deus deste mundo” (2 Cor 4,4). Deixa então uma exortação aos romanos para não se conformarem com este mundo (Rm 12,2). Jesus libertou os fiéis deste mundo perverso (Gl 1,4). É Cristo quem faz experimentar as maravilhas do mundo vindouro (Hb 6,5). Cumpre então ao discípulo do Mestre Divino, o triunfador sobre o mundo perverso, conhecer o mal para o detestar e ser vitorioso com Jesus e apreciar o bem para conhecer as delícias do reino do Redentor. Luta contínua contra o erro do qual se deve ser adversário irreconciliável e difusão ininterrupta da verdade da qual cumpre ser apóstolo e defensor. É uma realidade patente e dolorosa que o diabo apresenta aos cristãos duras e horrípilas condições para conseguirem superar o hedonismo e toda espécie de depravação. Isto observa-se especialmente na mídia que tem uma propensão irresistível para divulgar o que há de deletério, de corruptor e de imoral. Nesse assalto das potências infernais é necessário ao cristão deparar uma força poderosa, um aliado constante na sua fé inabalável em Jesus, o vencedor do demônio e seus comparsas. No contexto atual, infelizmente, a liberdade foi dada ao erro e ao mal e encontram proteção e garantia nas instituições públicas, de sorte que a crença de muitos batizados fica abalada em frente da negação emancipada e insolente. Basta que se lembrem as leis que ferem a família cristã, os absurdos das uniões entre pessoas do mesmo sexo, as tentativas de institucionalizar o aborto, enfim os maiores desatinos contra os dez sagrados mandamentos da Santa Lei do Senhor. Verifica-se que ao lado do poder público há também o poder dos formadores de opinião a serviço das multinacionais que se enriquecem com as desgraças alheias. Estas fazem uma propaganda diabólica a favor dos preservativos que não preservam de nada, patrocinam os maiores crimes e o poder econômico se torna dono das consciências dos incautos que não aprimoram o senso crítico. Trata-se de um pequeno grupo, que, nada tendo que perder, mas tudo a ganhar, despreza o Decálogo, pois não tem o senso da honra, da dignidade, da justiça, da honestidade, e se atribui o direito de tudo dizer e de tudo praticar. O amor livre é o leitmotiv das novelas e os filmes levam muitas vezes o espectador a ficar a favor do bandido, do imoral, corrupto. O próprio teor das propagandas é tantas vezes indutor de transgressões éticas. Coligam-se e se concentram as forças satânicas e procuram por todos os meios destruir o reino de Deus. O perigo da sedução é enorme e o veneno vai sendo perversamente instilado e em doses, por vezes, homeopáticas e muitos vão perdendo a sensibilidade moral. É preciso ser forte, é necessário ser verdadeiramente cristão e, portanto, herói para, vendo tantos que apressada e compactamente correndo aos seus prazeres e às suas desordens, não hesitar. Cumpre dizer: “Eu tomo um rumo oposto, serei fiel a Jesus. A verdade sempre terá em mim um estrênuo defensor”. Tal epígono de Cristo denuncia então o erro e tem coragem para diante da televisão ou em qualquer circunstância condenar o que vai contra a Religião, a Moral, o Evangelho. Nada de vacilos perante o que contraria os princípios bíblicos! A luta deve ser sem trégua, para que brilhe o arco-iris da fé sobre este dilúvio de males..A Igreja se apresenta como a grande esperança da humanidade. Daí a necessidade de se incrementar o culto da Eucaristia, do Coração de Jesus, de Maria e recordar a beleza de milhares de santos ontem e hoje fiéis à Verdade, ao Bem, a tudo que honra o ser humano. Apesar de tanta miséria para os que são do mundo, há milhões que vivem na atmosfera da graça divina e são o fermento da virtude. Cumpre ter otimismo cristão, porque Jesus venceu o mundo e o bem é mais forte do que o mal. Este é espalhafatoso e precisa, de fato, da divulgação através da imprensa falada e escrita. Hoje, mais do que nunca, é preciso, portanto, que o batizado tenha consciência desta realidade: Se ele é cristão, tem o mundo nas mãos para purificá-lo, tirando das garras de satanás os que se deixam iludir pelas ciladas do demônio e a vitória será da luz e não das trevas, porque Jesus venceu e vencerá sempre o mundo. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Uma das recomendações do Filho de Deus nem sempre aprofundada foi esta: “No mundo tereis que sofrer. Mas tende confiança! Eu venci o mundo (Jo. 16, 33). Em São Lucas se encontra a expressão “os filhos deste mundo” em oposição aos “filhos da luz” (Lc 16,8). Este mundo é inferior ao mundo futuro, tanto física como moralmente. São Paulo fala no mundo mau (Gl1,4), sobre o qual impera satanás, o “deus deste mundo” (2 Cor 4,4). Deixa então uma exortação aos romanos para não se conformarem com este mundo (Rm 12,2). Jesus libertou os fiéis deste mundo perverso (Gl 1,4). É Cristo quem faz experimentar as maravilhas do mundo vindouro (Hb 6,5). Cumpre então ao discípulo do Mestre Divino, o triunfador sobre o mundo perverso, conhecer o mal para o detestar e ser vitorioso com Jesus e apreciar o bem para conhecer as delícias do reino do Redentor. Luta contínua contra o erro do qual se deve ser adversário irreconciliável e difusão ininterrupta da verdade da qual cumpre ser apóstolo e defensor. É uma realidade patente e dolorosa que o diabo apresenta aos cristãos duras e horrípilas condições para conseguirem superar o hedonismo e toda espécie de depravação. Isto observa-se especialmente na mídia que tem uma propensão irresistível para divulgar o que há de deletério, de corruptor e de imoral. Nesse assalto das potências infernais é necessário ao cristão deparar uma força poderosa, um aliado constante na sua fé inabalável em Jesus, o vencedor do demônio e seus comparsas. No contexto atual, infelizmente, a liberdade foi dada ao erro e ao mal e encontram proteção e garantia nas instituições públicas, de sorte que a crença de muitos batizados fica abalada em frente da negação emancipada e insolente. Basta que se lembrem as leis que ferem a família cristã, os absurdos das uniões entre pessoas do mesmo sexo, as tentativas de institucionalizar o aborto, enfim os maiores desatinos contra os dez sagrados mandamentos da Santa Lei do Senhor. Verifica-se que ao lado do poder público há também o poder dos formadores de opinião a serviço das multinacionais que se enriquecem com as desgraças alheias. Estas fazem uma propaganda diabólica a favor dos preservativos que não preservam de nada, patrocinam os maiores crimes e o poder econômico se torna dono das consciências dos incautos que não aprimoram o senso crítico. Trata-se de um pequeno grupo, que, nada tendo que perder, mas tudo a ganhar, despreza o Decálogo, pois não tem o senso da honra, da dignidade, da justiça, da honestidade, e se atribui o direito de tudo dizer e de tudo praticar. O amor livre é o leitmotiv das novelas e os filmes levam muitas vezes o espectador a ficar a favor do bandido, do imoral, corrupto. O próprio teor das propagandas é tantas vezes indutor de transgressões éticas. Coligam-se e se concentram as forças satânicas e procuram por todos os meios destruir o reino de Deus. O perigo da sedução é enorme e o veneno vai sendo perversamente instilado e em doses, por vezes, homeopáticas e muitos vão perdendo a sensibilidade moral. É preciso ser forte, é necessário ser verdadeiramente cristão e, portanto, herói para, vendo tantos que apressada e compactamente correndo aos seus prazeres e às suas desordens, não hesitar. Cumpre dizer: “Eu tomo um rumo oposto, serei fiel a Jesus. A verdade sempre terá em mim um estrênuo defensor”. Tal epígono de Cristo denuncia então o erro e tem coragem para diante da televisão ou em qualquer circunstância condenar o que vai contra a Religião, a Moral, o Evangelho. Nada de vacilos perante o que contraria os princípios bíblicos! A luta deve ser sem trégua, para que brilhe o arco-iris da fé sobre este dilúvio de males..A Igreja se apresenta como a grande esperança da humanidade. Daí a necessidade de se incrementar o culto da Eucaristia, do Coração de Jesus, de Maria e recordar a beleza de milhares de santos ontem e hoje fiéis à Verdade, ao Bem, a tudo que honra o ser humano. Apesar de tanta miséria para os que são do mundo, há milhões que vivem na atmosfera da graça divina e são o fermento da virtude. Cumpre ter otimismo cristão, porque Jesus venceu o mundo e o bem é mais forte do que o mal. Este é espalhafatoso e precisa, de fato, da divulgação através da imprensa falada e escrita. Hoje, mais do que nunca, é preciso, portanto, que o batizado tenha consciência desta realidade: Se ele é cristão, tem o mundo nas mãos para purificá-lo, tirando das garras de satanás os que se deixam iludir pelas ciladas do demônio e a vitória será da luz e não das trevas, porque Jesus venceu e vencerá sempre o mundo. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
quarta-feira, 9 de novembro de 2011
MULTIPLICAR OS TALENTOS
MULTIPLICAR OS TALENTOS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Na parábola dos talentos recebidos e restituídos se depara o magnífico elogio aos que os multiplicaram: “Muito bem, servo bom e fiel” (Mt 25, 21.23) e se encontra ao que nenhum lucro apresentou terrível reprimenda: “Servo inútil”. Os primeiros entraram para a felicidade de seu senhor, este último foi lançado nas trevas. A mensagem do Mestre divino é patente: da administração sábia e eficiente do tempo da vida presente depende a salvação eterna. O julgamento divino será justo e a recompensa perene ou será uma pena eterna. Num dos elementos do processo da gerência dos dons recebidos está incluído o zelo pela salvação do próximo, uma vez que ninguém entrará no Reino dos Céus sozinho, dado que as boas obras arrastam infalivelmente os outros para os caminhos de Deus. Para isto é necessário o cuidado contínuo, bem valorizando a comunicação verbal e a não verbal. As pessoas, com efeito, não se comunicam apenas por palavras, mas ainda através de seu modo de ser e de viver. Estudos atualizados mostram que a comunicação não verbal é tão ou até mais importante do que aquilo se diz. Esquece-se, muitas vezes, que menos da metade da boa comunicação é composta pela fala, o restante está ligado à vivência do comunicador. Isto não apenas pelo seu exemplo de vida, mas também porque o que ele fala só tocará o receptor da mensagem se esta tiver inteiramente impregnado a mente daquele que a profere. Bem disse o Pe. Antônio Vieira que “palavras sem exemplo são tiros sem balas”. Eis porque o apóstolo de Cristo na multiplicação dos carismas sagrados doados por Deus se esforça para se tornar semelhante a Cristo, o Verbo divino, que se fez modelo para todos. Não bastam as expressões orais, os conselhos oportunos, mas é preciso também a ratificação com a conduta condizente com as mesmas. Foi o que acontecia com São Paulo que pôde dizer aos Tessalonisenses: “Sabemos que a nossa pregação do Evangelho não se deu entre vós, somente com palavras, mas também com obras poderosas, com a força do Espírito Santo, com plena convicção” (1 Ts 1,5). O modo como se fala é de suma importância, pois o coração e a vida passam então em borbulhar na mensagem transmitida. Os catequistas, os pais, os mestres, os cristãos em geral, enfim todos que são discípulos de Jesus devem se lembrar das palavras do mesmo Apóstolo aos Coríntios: “Somos embaixadores de Cristo” (2 Cor 5,10). É desta maneira que se frutificam os talentos outorgados por Deus a cada um. Com efeito, a palavra foi dada não apenas para cantar os louvores de Deus, para Lhe dar graças, mas ainda para instruir os irmãos e lhes passar sábias inspirações, alicerçadas com o testemunho existencial. Tudo isto, é claro, com muito discernimento, doçura, perspicácia, perseverança. Feliz aquele que pode repetir sempre: “Coloquei a minha vida a serviço do próximo e o próximo é Jesus Cristo”, o qual proclamou que veio para servir e não para ser servido. O que se esquece é que em qualquer situação sempre se está a serviço dos outros em casa, na Igreja, no trabalho, nas diversões. Pela reta intenção se pode então valorizar, e muito, os talentos. Para tanto é mister se lembrar sempre a advertência de Cristo: “Vós sois o sal da terra e a luz do mundo”. Os talentos foram concedidos exatamente para que esta missão seja cumprida e, em consequência, se possa frutificar em boas obras. O sal não é sal por si mesmo e em certos países serve até para fazer a terra dar bons frutos. É que multiplicar os talentos não é viver para si mesmo, mas para os outros através de uma espiritualidade potente, irradiante. Esta espiritualidade é que torna o cristão luz, um reflexo da grandeza de Deus, vivendo coerentemente as promessas batismais. Multiplicar os talentos é também viver o espírito das bem-aventuranças. Condoer-se com os que choram; consolar os que sofrem; perdoar os que nos injuriam; ser artesão da paz, da não violência; não procurar o próprio interesse e estar atento aos marginalizados; é ser desapegado dos bens terrenos, multiplicando dentro de si os valores morais; é ter puro o coração sem se deixar contaminar com a depravação imposta pela mídia, pelos sites pornográficos; é ter fome e sede de justiça, é ser misericordioso. É, em síntese, realizar a metáfora do sal da terra dando gosto, sabor a uma sociedade que muitas vezes se divorcia de Deus. É ser luz nas trevas, iluminando os que trilham os caminhos do erro nunca se esquecendo que não há nada tão prodigioso como o testemunho existencial e que nunca praticamos grandes bens ou grandes males sem produzirem os seus efeitos nos nossos semelhantes. As boas ações são imitadas por emulações e as más pela malícia da natureza humana e esta aprisiona, enquanto o bom exemplo liberta dos vícios e arrasta para o bem e multiplicando os talentos de cada um. Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Na parábola dos talentos recebidos e restituídos se depara o magnífico elogio aos que os multiplicaram: “Muito bem, servo bom e fiel” (Mt 25, 21.23) e se encontra ao que nenhum lucro apresentou terrível reprimenda: “Servo inútil”. Os primeiros entraram para a felicidade de seu senhor, este último foi lançado nas trevas. A mensagem do Mestre divino é patente: da administração sábia e eficiente do tempo da vida presente depende a salvação eterna. O julgamento divino será justo e a recompensa perene ou será uma pena eterna. Num dos elementos do processo da gerência dos dons recebidos está incluído o zelo pela salvação do próximo, uma vez que ninguém entrará no Reino dos Céus sozinho, dado que as boas obras arrastam infalivelmente os outros para os caminhos de Deus. Para isto é necessário o cuidado contínuo, bem valorizando a comunicação verbal e a não verbal. As pessoas, com efeito, não se comunicam apenas por palavras, mas ainda através de seu modo de ser e de viver. Estudos atualizados mostram que a comunicação não verbal é tão ou até mais importante do que aquilo se diz. Esquece-se, muitas vezes, que menos da metade da boa comunicação é composta pela fala, o restante está ligado à vivência do comunicador. Isto não apenas pelo seu exemplo de vida, mas também porque o que ele fala só tocará o receptor da mensagem se esta tiver inteiramente impregnado a mente daquele que a profere. Bem disse o Pe. Antônio Vieira que “palavras sem exemplo são tiros sem balas”. Eis porque o apóstolo de Cristo na multiplicação dos carismas sagrados doados por Deus se esforça para se tornar semelhante a Cristo, o Verbo divino, que se fez modelo para todos. Não bastam as expressões orais, os conselhos oportunos, mas é preciso também a ratificação com a conduta condizente com as mesmas. Foi o que acontecia com São Paulo que pôde dizer aos Tessalonisenses: “Sabemos que a nossa pregação do Evangelho não se deu entre vós, somente com palavras, mas também com obras poderosas, com a força do Espírito Santo, com plena convicção” (1 Ts 1,5). O modo como se fala é de suma importância, pois o coração e a vida passam então em borbulhar na mensagem transmitida. Os catequistas, os pais, os mestres, os cristãos em geral, enfim todos que são discípulos de Jesus devem se lembrar das palavras do mesmo Apóstolo aos Coríntios: “Somos embaixadores de Cristo” (2 Cor 5,10). É desta maneira que se frutificam os talentos outorgados por Deus a cada um. Com efeito, a palavra foi dada não apenas para cantar os louvores de Deus, para Lhe dar graças, mas ainda para instruir os irmãos e lhes passar sábias inspirações, alicerçadas com o testemunho existencial. Tudo isto, é claro, com muito discernimento, doçura, perspicácia, perseverança. Feliz aquele que pode repetir sempre: “Coloquei a minha vida a serviço do próximo e o próximo é Jesus Cristo”, o qual proclamou que veio para servir e não para ser servido. O que se esquece é que em qualquer situação sempre se está a serviço dos outros em casa, na Igreja, no trabalho, nas diversões. Pela reta intenção se pode então valorizar, e muito, os talentos. Para tanto é mister se lembrar sempre a advertência de Cristo: “Vós sois o sal da terra e a luz do mundo”. Os talentos foram concedidos exatamente para que esta missão seja cumprida e, em consequência, se possa frutificar em boas obras. O sal não é sal por si mesmo e em certos países serve até para fazer a terra dar bons frutos. É que multiplicar os talentos não é viver para si mesmo, mas para os outros através de uma espiritualidade potente, irradiante. Esta espiritualidade é que torna o cristão luz, um reflexo da grandeza de Deus, vivendo coerentemente as promessas batismais. Multiplicar os talentos é também viver o espírito das bem-aventuranças. Condoer-se com os que choram; consolar os que sofrem; perdoar os que nos injuriam; ser artesão da paz, da não violência; não procurar o próprio interesse e estar atento aos marginalizados; é ser desapegado dos bens terrenos, multiplicando dentro de si os valores morais; é ter puro o coração sem se deixar contaminar com a depravação imposta pela mídia, pelos sites pornográficos; é ter fome e sede de justiça, é ser misericordioso. É, em síntese, realizar a metáfora do sal da terra dando gosto, sabor a uma sociedade que muitas vezes se divorcia de Deus. É ser luz nas trevas, iluminando os que trilham os caminhos do erro nunca se esquecendo que não há nada tão prodigioso como o testemunho existencial e que nunca praticamos grandes bens ou grandes males sem produzirem os seus efeitos nos nossos semelhantes. As boas ações são imitadas por emulações e as más pela malícia da natureza humana e esta aprisiona, enquanto o bom exemplo liberta dos vícios e arrasta para o bem e multiplicando os talentos de cada um. Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
JESUS, GLÓRIA DA HUMANIDADE
JESUS, GLÓRIA DA HUMANIDADE
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Filho de Deus feito Homem, possuindo assim duas naturezas, mas uma só pessoa, Ele a segunda Pessoa da Santíssima Trindade, Verbo Eterno de Deus, Jesus, tendo vindo a esta terra revolucionou a História. Tal a sua missão sublime: “Eu vim para que todos tenham vida e a vida em abundância" (Jo 10,10). Sua missão foi restabelecer o Plano de Deus, recuperar a Vida divina para a humanidade. Lembra São João: "De tal modo Deus amou o mundo que lhe deu seu Filho Único" (Jo 3,16), Em Cristo o pecado de nossos primeiros pais foi reparado. Explica São Paulo: "Por meio do sangue de Cristo é que fomos libertos e nele nossas faltas foram perdoadas, conforme a riqueza da sua graça. Deus nos fez conhecer o mistério da sua vontade, a livre decisão que havia tomado outrora de restaurar em Cristo todas as coisas, tanto as celestes como as terrestres." (Ef 1,7-10). Por Cristo, com Cristo e em Cristo os homens readquiriram o equilíbrio, a harmonia e a comunhão perdidos quando estes recusaram a vida divina no paraíso terrestre. O ser racional recebeu então uma função cultual no universo, pois como bem disse Bossuet: “O homem está à frente do mundo visível para ser o adorador da natureza invisível”. Esta tarefa é exercida, sobretudo, pelo cristão que tem uma Vida nova em Cristo, a vida da graça, a vida divina, dado que no batismo renasceu pela água e pelo Espírito Santo que o Salvador enviou de junto do Pai. A graça santificante no cristão é essencialmente comunitária, como a vida divina na Santíssima Trindade Em Cristo os homens podem dizer a Deus: "Pai Nosso”. Os homens, filhos de Deus, são desta forma "o Povo de Deus", a família de Deus, circulando em todos a mesma vida divina. Por tudo isto Cristo se tornou, de fato, a glória da humanidade. A vinda dele a este mundo foi o ponto culminante da História, onde se encontram o Antigo e o Novo Testamentos e para onde convergem todos os fatos, bem se dividindo a História em antes e depois dele. Jamais homem algum passou por um presépio e por uma cruz para subir sobre o altar, imolando-se pela humanidade e ninguém foi tão humilde e pobre para conquistar a terra. É que Ele, realmente, era o Sumo e Eterno Sacerdote. Ele quis nascer numa manjedoura, fraco e indigente como o mais carente dos renascidos. Os coros angélicos, contudo, celebraram com os seus cantos esse nascimento, os astros iluminaram a terra, reis poderosos se puseram em movimento para adorá-lo e o ouro, o incenso e a mirra lhe foram oferecidos, tudo isto patenteando uma revelação extraordinária dos céus. Ameaçado pela ambição de Herodes, ele fugiu para o Egito, ficando lá exilado. Veio depois para Nazaré, cresceu em idade e sabedoria, no trabalho e na obscuridade como as outras crianças daquela localidade. Aos doze anos foi a Jerusalém ensinou no templo aos doutores, revelando uma sabedoria até então desconhecida. Foi batizado no rio Jordão como os pecadores, mas o céu se abriu e atestou a sua filiação divina. Foi tentado no deserto como todos os homens, mas poucas palavras foram suficientes para confundir o tentador. Ele, pobre, teve fome e sede, mas alimentou multidões com cinco pães e alguns peixes. Não teve, de fato, onde descansar a cabeça, mas era o Senhor dos elementos cósmicos; tanto que repousou, mas durante o sono não permitiu que a barca dos pescadores naufragasse. Sentiu a tristeza e a fadiga, mas consolou os que padeciam em seu derredor e sanou enfermidades. Pranteou a morte de Lázaro, mas o ressuscitou, Foi, deste modo, sempre aparecendo a divindade ao lado da humanidade. No pretório de Pilatos, enquanto homem, foi vilmente julgado, mas, antes, no Tabor, fora reconhecido pelo Pai como o Filho bem-amado. Ele foi crucificado, mas a terra tremeu. Ele morreu, mas o sol se escondeu entre as nuvens e o firmamento se cobriu de luto. Foi sepultado, mas ressuscitou imortal e impassível. Durante quarenta dias, esteve ainda com os seus discípulos, mostrando a cada momento a sua humanidade, mas, no dia da Ascensão, do monte das Oliveiras, subiu aos céus, provando, mais uma vez, ser Ele o Deus glorioso e onipotente. Ele, enquanto homem, sofreu todas as nossas dores e misérias, mas enquanto Deus, nele apareceram todos os atributos divinos, o sublime da sabedoria, do poder e da glória. É Ele o representante mais ilustre da humanidade. São Paulo podia, portanto, com toda razão dizer aos Filipenses: “Ao nome de Jesus, todo joelho se dobre, no céu, na terra e nos infernos (Fl 2,10). * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Filho de Deus feito Homem, possuindo assim duas naturezas, mas uma só pessoa, Ele a segunda Pessoa da Santíssima Trindade, Verbo Eterno de Deus, Jesus, tendo vindo a esta terra revolucionou a História. Tal a sua missão sublime: “Eu vim para que todos tenham vida e a vida em abundância" (Jo 10,10). Sua missão foi restabelecer o Plano de Deus, recuperar a Vida divina para a humanidade. Lembra São João: "De tal modo Deus amou o mundo que lhe deu seu Filho Único" (Jo 3,16), Em Cristo o pecado de nossos primeiros pais foi reparado. Explica São Paulo: "Por meio do sangue de Cristo é que fomos libertos e nele nossas faltas foram perdoadas, conforme a riqueza da sua graça. Deus nos fez conhecer o mistério da sua vontade, a livre decisão que havia tomado outrora de restaurar em Cristo todas as coisas, tanto as celestes como as terrestres." (Ef 1,7-10). Por Cristo, com Cristo e em Cristo os homens readquiriram o equilíbrio, a harmonia e a comunhão perdidos quando estes recusaram a vida divina no paraíso terrestre. O ser racional recebeu então uma função cultual no universo, pois como bem disse Bossuet: “O homem está à frente do mundo visível para ser o adorador da natureza invisível”. Esta tarefa é exercida, sobretudo, pelo cristão que tem uma Vida nova em Cristo, a vida da graça, a vida divina, dado que no batismo renasceu pela água e pelo Espírito Santo que o Salvador enviou de junto do Pai. A graça santificante no cristão é essencialmente comunitária, como a vida divina na Santíssima Trindade Em Cristo os homens podem dizer a Deus: "Pai Nosso”. Os homens, filhos de Deus, são desta forma "o Povo de Deus", a família de Deus, circulando em todos a mesma vida divina. Por tudo isto Cristo se tornou, de fato, a glória da humanidade. A vinda dele a este mundo foi o ponto culminante da História, onde se encontram o Antigo e o Novo Testamentos e para onde convergem todos os fatos, bem se dividindo a História em antes e depois dele. Jamais homem algum passou por um presépio e por uma cruz para subir sobre o altar, imolando-se pela humanidade e ninguém foi tão humilde e pobre para conquistar a terra. É que Ele, realmente, era o Sumo e Eterno Sacerdote. Ele quis nascer numa manjedoura, fraco e indigente como o mais carente dos renascidos. Os coros angélicos, contudo, celebraram com os seus cantos esse nascimento, os astros iluminaram a terra, reis poderosos se puseram em movimento para adorá-lo e o ouro, o incenso e a mirra lhe foram oferecidos, tudo isto patenteando uma revelação extraordinária dos céus. Ameaçado pela ambição de Herodes, ele fugiu para o Egito, ficando lá exilado. Veio depois para Nazaré, cresceu em idade e sabedoria, no trabalho e na obscuridade como as outras crianças daquela localidade. Aos doze anos foi a Jerusalém ensinou no templo aos doutores, revelando uma sabedoria até então desconhecida. Foi batizado no rio Jordão como os pecadores, mas o céu se abriu e atestou a sua filiação divina. Foi tentado no deserto como todos os homens, mas poucas palavras foram suficientes para confundir o tentador. Ele, pobre, teve fome e sede, mas alimentou multidões com cinco pães e alguns peixes. Não teve, de fato, onde descansar a cabeça, mas era o Senhor dos elementos cósmicos; tanto que repousou, mas durante o sono não permitiu que a barca dos pescadores naufragasse. Sentiu a tristeza e a fadiga, mas consolou os que padeciam em seu derredor e sanou enfermidades. Pranteou a morte de Lázaro, mas o ressuscitou, Foi, deste modo, sempre aparecendo a divindade ao lado da humanidade. No pretório de Pilatos, enquanto homem, foi vilmente julgado, mas, antes, no Tabor, fora reconhecido pelo Pai como o Filho bem-amado. Ele foi crucificado, mas a terra tremeu. Ele morreu, mas o sol se escondeu entre as nuvens e o firmamento se cobriu de luto. Foi sepultado, mas ressuscitou imortal e impassível. Durante quarenta dias, esteve ainda com os seus discípulos, mostrando a cada momento a sua humanidade, mas, no dia da Ascensão, do monte das Oliveiras, subiu aos céus, provando, mais uma vez, ser Ele o Deus glorioso e onipotente. Ele, enquanto homem, sofreu todas as nossas dores e misérias, mas enquanto Deus, nele apareceram todos os atributos divinos, o sublime da sabedoria, do poder e da glória. É Ele o representante mais ilustre da humanidade. São Paulo podia, portanto, com toda razão dizer aos Filipenses: “Ao nome de Jesus, todo joelho se dobre, no céu, na terra e nos infernos (Fl 2,10). * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
terça-feira, 8 de novembro de 2011
O NASCIMENTO DE JESUS
O NASCIMENTO DE JESUS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Misterioso são sempre as veredas de Deus e bem registrou o Profeta Isaias: “Os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos os meus caminhos, diz o Senhor (Is 55,8). O Salvador, suspirado pelos Patriarcas, predito pelos Profetas, esperado ansiosamente pela humanidade, se apresentou ao mundo humilde, pobre e abandonado, sendo colocado numa simples manjedoura. Os homens haveriam de O reconhecer pela sua indigência, pelos seus sofrimentos. Ele mesmo dirá: “As raposas têm suas tocas e as aves do céu, seus ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde repousar a cabeça. (Mt 8,20) Mistério divino! Incompreensível a sabedoria de Deus! Tudo o que é pequenino para nós é glorioso para Ele; tudo que é indigente e fraco para os homens é grandeza e virtude para o Ser Supremo. Não foi no fausto, nem no esplendor, nem na celebridade que Ele quis nascer. A salvação que viera trazer não vinha dos palácios, nem das riquezas, nem da força, nem da ciência. Procedia da pobreza e da humildade, derivava da fraqueza e da pobreza. Eis o sinal para reconhecer o Redentor da humanidade, disseram os Anjos aos pastores de Belém: “Encontrareis um menino envolto em faixas e deitado num presépio” (Lc 2,12). Foi aí, à beira de uma estrada, no mais completo abandono, na mais profunda penúria, que nasceu Jesus, o Redentor do mundo, o Messias prometido, o Desejado das nações. O Todo-poderoso para salvar a humanidade, para ser o vencedor do mundo, quis empregar meios que confundem a razão humana. Ele aparece sem pompa, sem aparato, sem glória, sem coisa alguma daquilo que os homens reverenciam ou temem, e nessa indigência completa ele inicia a realização do fato mais grandioso, mais estupendo, mais sublime que a história conhece. É que Ele veio para refrear todas as paixões humanas, a fim de corrigir todos os defeitos, purificar todos os corações e santificar todas as almas. Ele haveria de ensinar: “Entrai pela porta estreita, porque larga é a porta e espaçosa a via que leva à perdição e são muitos os que entram por ela. Mas quão estreita a porta e apertada a passagem que leva à vida, e poucos são os que passam por ela” (Mt 7,13-14). Ele proclamaria: “Bem-aventurados os pobres em espírito porque deles é o reino dos céus” (Mt 5,3). Por isto quis aparecer nesta terra pobre e humilde, ensinando sacrifícios e abnegação. Se Jesus tivesse descido do céu com todo esplendor divino, com toda a auréola celeste, teria facilmente seduzido os homens, conquistado simpatias e atraído o mundo, mas suas mensagens não levariam à metamorfose espiritual que exigiria de seus epígonos. O seu berço foi um presépio, mas daí ele vai passar para o coração dos homens e para o santuário das almas puras que viveriam intensamente as oito bem-aventuranças. Estamos no século XXI, décadas e décadas já passaram depois que Jesus nasceu pobremente na gruta de Belém, mas desde esse dia Ele nunca deixou de reinar sobre aqueles que nele reconhecem o Libertador, cujas inteligências se acham iluminadas pela fé. Através da História sempre se encontram mães a ensinarem seus filhinhos a balbuciarem amorosamente o doce nome do Menino Deus; jovens que buscam no amor de Cristo um apoio sólido enfrentarem as aliciações do Inimigo; adultos fiéis aos seus deveres e aos mandamentos divinos; anciãos a murmurarem continuamente: “Jesus, eu confio em vós; dai-me a graça de chegar ao céu”. É que o nome adorável do Redentor, oferece para todas as idades um raio de esperança por entre sofrimentos, na pugna pelo bem, na prática das virtudes. Quando o pobre sucumbe sob o peso de sua penúria, ele se lembra do Deus pobre, nascido em um estábulo e essa lembrança, atravessando suas aflições, faz aflorar de novo o sorriso em seus lábios e a esperança em seu coração. Quando a força oprime a fraqueza, quando a autoridade esquece que o poder é um serviço, quando a corrupção impera, a recordação do Deus nascido em Belém, vindo ao mundo para servir e não para ser servido, trás às almas conforto e ânimo para enfrentar as situações mais penosas. Cumpre, porém, sempre corresponder ao grande amor do Filho de Deus nascido para nos salvar. Ele é o Salvador, Ele é a glória, Ele é a garantia da felicidade eterna. Ele é Deus e Homem verdadeiro que nos abriu as portas do reino celeste. Sigamo-lo, sendo leais seguidores dos seus sublimes ensinamentos, a fim de que, depois de tê-lo conhecido e amado nesta vida, Ele nos glorifique na felicidade perene do céu. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Misterioso são sempre as veredas de Deus e bem registrou o Profeta Isaias: “Os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos os meus caminhos, diz o Senhor (Is 55,8). O Salvador, suspirado pelos Patriarcas, predito pelos Profetas, esperado ansiosamente pela humanidade, se apresentou ao mundo humilde, pobre e abandonado, sendo colocado numa simples manjedoura. Os homens haveriam de O reconhecer pela sua indigência, pelos seus sofrimentos. Ele mesmo dirá: “As raposas têm suas tocas e as aves do céu, seus ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde repousar a cabeça. (Mt 8,20) Mistério divino! Incompreensível a sabedoria de Deus! Tudo o que é pequenino para nós é glorioso para Ele; tudo que é indigente e fraco para os homens é grandeza e virtude para o Ser Supremo. Não foi no fausto, nem no esplendor, nem na celebridade que Ele quis nascer. A salvação que viera trazer não vinha dos palácios, nem das riquezas, nem da força, nem da ciência. Procedia da pobreza e da humildade, derivava da fraqueza e da pobreza. Eis o sinal para reconhecer o Redentor da humanidade, disseram os Anjos aos pastores de Belém: “Encontrareis um menino envolto em faixas e deitado num presépio” (Lc 2,12). Foi aí, à beira de uma estrada, no mais completo abandono, na mais profunda penúria, que nasceu Jesus, o Redentor do mundo, o Messias prometido, o Desejado das nações. O Todo-poderoso para salvar a humanidade, para ser o vencedor do mundo, quis empregar meios que confundem a razão humana. Ele aparece sem pompa, sem aparato, sem glória, sem coisa alguma daquilo que os homens reverenciam ou temem, e nessa indigência completa ele inicia a realização do fato mais grandioso, mais estupendo, mais sublime que a história conhece. É que Ele veio para refrear todas as paixões humanas, a fim de corrigir todos os defeitos, purificar todos os corações e santificar todas as almas. Ele haveria de ensinar: “Entrai pela porta estreita, porque larga é a porta e espaçosa a via que leva à perdição e são muitos os que entram por ela. Mas quão estreita a porta e apertada a passagem que leva à vida, e poucos são os que passam por ela” (Mt 7,13-14). Ele proclamaria: “Bem-aventurados os pobres em espírito porque deles é o reino dos céus” (Mt 5,3). Por isto quis aparecer nesta terra pobre e humilde, ensinando sacrifícios e abnegação. Se Jesus tivesse descido do céu com todo esplendor divino, com toda a auréola celeste, teria facilmente seduzido os homens, conquistado simpatias e atraído o mundo, mas suas mensagens não levariam à metamorfose espiritual que exigiria de seus epígonos. O seu berço foi um presépio, mas daí ele vai passar para o coração dos homens e para o santuário das almas puras que viveriam intensamente as oito bem-aventuranças. Estamos no século XXI, décadas e décadas já passaram depois que Jesus nasceu pobremente na gruta de Belém, mas desde esse dia Ele nunca deixou de reinar sobre aqueles que nele reconhecem o Libertador, cujas inteligências se acham iluminadas pela fé. Através da História sempre se encontram mães a ensinarem seus filhinhos a balbuciarem amorosamente o doce nome do Menino Deus; jovens que buscam no amor de Cristo um apoio sólido enfrentarem as aliciações do Inimigo; adultos fiéis aos seus deveres e aos mandamentos divinos; anciãos a murmurarem continuamente: “Jesus, eu confio em vós; dai-me a graça de chegar ao céu”. É que o nome adorável do Redentor, oferece para todas as idades um raio de esperança por entre sofrimentos, na pugna pelo bem, na prática das virtudes. Quando o pobre sucumbe sob o peso de sua penúria, ele se lembra do Deus pobre, nascido em um estábulo e essa lembrança, atravessando suas aflições, faz aflorar de novo o sorriso em seus lábios e a esperança em seu coração. Quando a força oprime a fraqueza, quando a autoridade esquece que o poder é um serviço, quando a corrupção impera, a recordação do Deus nascido em Belém, vindo ao mundo para servir e não para ser servido, trás às almas conforto e ânimo para enfrentar as situações mais penosas. Cumpre, porém, sempre corresponder ao grande amor do Filho de Deus nascido para nos salvar. Ele é o Salvador, Ele é a glória, Ele é a garantia da felicidade eterna. Ele é Deus e Homem verdadeiro que nos abriu as portas do reino celeste. Sigamo-lo, sendo leais seguidores dos seus sublimes ensinamentos, a fim de que, depois de tê-lo conhecido e amado nesta vida, Ele nos glorifique na felicidade perene do céu. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
segunda-feira, 7 de novembro de 2011
O ESPÍRITO SANTO NA VIDA DA IGREJA
O ESPIRITO SANTO NA VIDA DA IGREJA
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Notável promessa aquela que Cristo fez aos Apóstolos: “Digo-vos a verdade: é melhor para vós que eu vá, porque se não for, o Confortador não virá a vós; mas se eu for, enviar-vo-lo-ei. E assim que ele tiver chegado, redarguirá ao mundo quanto ao pecado, quanto à justiça e quanto ao julgamento” (Jo 16,7-9). No dia de Pentecostes (Atos 2,1-13), esta promessa se realizou. Poderosa e irresistível foi a ação do Espírito Santo sobre os apóstolos de Cristo, sobre os seus sucessores e sobre todos os batizados. A história mostra que se tornou uma realidade o que afirmara o Divino Mestre. As nações foram ensinadas e os povos cristianizados. A fé na pessoa do Messias submeteu as inteligências aos admiráveis ensinamentos de Sua doutrina e floriram as virtudes. Os espíritos nobres e os corações briosos de milhares de seguidores de Jesus têm através dos tempos reservado a Ele um amor desconhecido das idades antigas e jamais igualado à dileção dedicada a qualquer outro personagem. Isto não obstante as forças do mal sempre se coligarem contra a Igreja, cuja História começou no Cenáculo. Aliaram-se sempre as forças do inferno, mas nem o endeusamento da riqueza, o sensualismo, nem as políticas humanas ou os governos ateus cantaram vitória contra o célebre Galileu, pois este enviara desde o princípio o Espírito Santo com seus sete dons para sustentar os seus fiéis na pugna contra as potências diabólicas. Luta universal e sem tréguas, que ainda hoje continua em todas as regiões, mas os seus discípulos sempre impelidos e dirigidos pelo Espírito Santo saem vencedores, firmes no que disse Jesus: “No mundo tereis aflições. Mas tende coragem! Eu venci o mundo" (Jo 16,33). Os apóstolos viram levantar-se contra eles todos os poderes da terra. Proibiram-lhes que falassem do Salvador e de sua doutrina; foram perseguidos, lançados nas prisões públicas, sentenciados a morte, devorados pelos animais ferozes. Depois outros mártires também derramaram o sangue e morreram nos suplícios, mas Cristo foi diuturnamente conhecido e adorado pelo mundo afora. Brilharam nesta terra os exemplos dos grandes santos de todas as idades, de todas as condições sociais mostrando o vigor e a beleza do Evangelho. Seus trabalhos, suas abnegações, suas imolações pelos semelhantes, sua fidelidade aos preceitos divinos provam claramente que o Espírito Santo enviado por Jesus nunca deixou de atuar santificando as almas, purificando os corações com seus dons e carismas. Para conseguir resultado tão grandioso como a santidade no seio da Igreja era necessária a presença do Espírito Santo, iluminando as inteligências, purificando os corações, fortificando as vontades. A verdade é que graças à ação da Terceira Pessoa da Santíssima Trindade o Redentor tem sido conhecido e amado em todas as nações. A cruz que um dia iluminou a colina do Calvário se acha plantada em todos os continentes. Foi graças ao Espírito Santo que a doutrina de Jesus, quebrando todos os obstáculos e vencendo todas as resistências se fez conhecida e praticada por toda parte. Não faltaram nunca semeadores das mensagens do Filho de Deus e ressoou nas mais longínquas regiões o clamor triunfante: “Cristo vive, Cristo reina, Cristo impera”! No momento de separar-se de seus discípulos Cristo indicou-lhes a missão a que estavam destinados: "Ide, pois, e ensinai a todas as nações" (Mt 28,19). A história não registra em seus anais ordem mais prodigiosa, projeto mais arrojado e de mais difícil execução do que esta determinação do Filho de Deus aos seus primeiros discípulos. A ambição humana nunca exigiu tanto, e nunca pretendeu obter uma universalidade semelhante, tanto mais quanto essa universalidade gozaria de uma perpetuidade incomparável, pois o mesmo Cristo acrescentou: “Eis que estarei convosco todos os dias até o fim dos séculos” (Mt 28,20). É que Jesus sabia que a força do Espírito Santo desceria sobre seus epígonos e eles seriam suas testemunhas até as extremidades da terra. Eis porque a Igreja nunca deixou de invocar as luzes e as forças deste Espírito divino e por Ele iluminada e confortada jamais traiu sua missão e será sempre verdade o que proclamou Jesus, dizendo que a portas do inferno jamais prevaleceriam contra esta sua Igreja (Mt 16,18). Esta, porém, nunca deixou de implorar: “Vinde Espírito Santo, enchei os corações de vossos fiéis e acendei neles o fogo do vosso amor”. Este fogo abrasador que não se extingue nunca é a garantia da vitória dos cristãos e a certeza da prevalência do bem contra o mal e a razão de ser de toda santidade que impera lá onde Jesus é conhecido e amado. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Notável promessa aquela que Cristo fez aos Apóstolos: “Digo-vos a verdade: é melhor para vós que eu vá, porque se não for, o Confortador não virá a vós; mas se eu for, enviar-vo-lo-ei. E assim que ele tiver chegado, redarguirá ao mundo quanto ao pecado, quanto à justiça e quanto ao julgamento” (Jo 16,7-9). No dia de Pentecostes (Atos 2,1-13), esta promessa se realizou. Poderosa e irresistível foi a ação do Espírito Santo sobre os apóstolos de Cristo, sobre os seus sucessores e sobre todos os batizados. A história mostra que se tornou uma realidade o que afirmara o Divino Mestre. As nações foram ensinadas e os povos cristianizados. A fé na pessoa do Messias submeteu as inteligências aos admiráveis ensinamentos de Sua doutrina e floriram as virtudes. Os espíritos nobres e os corações briosos de milhares de seguidores de Jesus têm através dos tempos reservado a Ele um amor desconhecido das idades antigas e jamais igualado à dileção dedicada a qualquer outro personagem. Isto não obstante as forças do mal sempre se coligarem contra a Igreja, cuja História começou no Cenáculo. Aliaram-se sempre as forças do inferno, mas nem o endeusamento da riqueza, o sensualismo, nem as políticas humanas ou os governos ateus cantaram vitória contra o célebre Galileu, pois este enviara desde o princípio o Espírito Santo com seus sete dons para sustentar os seus fiéis na pugna contra as potências diabólicas. Luta universal e sem tréguas, que ainda hoje continua em todas as regiões, mas os seus discípulos sempre impelidos e dirigidos pelo Espírito Santo saem vencedores, firmes no que disse Jesus: “No mundo tereis aflições. Mas tende coragem! Eu venci o mundo" (Jo 16,33). Os apóstolos viram levantar-se contra eles todos os poderes da terra. Proibiram-lhes que falassem do Salvador e de sua doutrina; foram perseguidos, lançados nas prisões públicas, sentenciados a morte, devorados pelos animais ferozes. Depois outros mártires também derramaram o sangue e morreram nos suplícios, mas Cristo foi diuturnamente conhecido e adorado pelo mundo afora. Brilharam nesta terra os exemplos dos grandes santos de todas as idades, de todas as condições sociais mostrando o vigor e a beleza do Evangelho. Seus trabalhos, suas abnegações, suas imolações pelos semelhantes, sua fidelidade aos preceitos divinos provam claramente que o Espírito Santo enviado por Jesus nunca deixou de atuar santificando as almas, purificando os corações com seus dons e carismas. Para conseguir resultado tão grandioso como a santidade no seio da Igreja era necessária a presença do Espírito Santo, iluminando as inteligências, purificando os corações, fortificando as vontades. A verdade é que graças à ação da Terceira Pessoa da Santíssima Trindade o Redentor tem sido conhecido e amado em todas as nações. A cruz que um dia iluminou a colina do Calvário se acha plantada em todos os continentes. Foi graças ao Espírito Santo que a doutrina de Jesus, quebrando todos os obstáculos e vencendo todas as resistências se fez conhecida e praticada por toda parte. Não faltaram nunca semeadores das mensagens do Filho de Deus e ressoou nas mais longínquas regiões o clamor triunfante: “Cristo vive, Cristo reina, Cristo impera”! No momento de separar-se de seus discípulos Cristo indicou-lhes a missão a que estavam destinados: "Ide, pois, e ensinai a todas as nações" (Mt 28,19). A história não registra em seus anais ordem mais prodigiosa, projeto mais arrojado e de mais difícil execução do que esta determinação do Filho de Deus aos seus primeiros discípulos. A ambição humana nunca exigiu tanto, e nunca pretendeu obter uma universalidade semelhante, tanto mais quanto essa universalidade gozaria de uma perpetuidade incomparável, pois o mesmo Cristo acrescentou: “Eis que estarei convosco todos os dias até o fim dos séculos” (Mt 28,20). É que Jesus sabia que a força do Espírito Santo desceria sobre seus epígonos e eles seriam suas testemunhas até as extremidades da terra. Eis porque a Igreja nunca deixou de invocar as luzes e as forças deste Espírito divino e por Ele iluminada e confortada jamais traiu sua missão e será sempre verdade o que proclamou Jesus, dizendo que a portas do inferno jamais prevaleceriam contra esta sua Igreja (Mt 16,18). Esta, porém, nunca deixou de implorar: “Vinde Espírito Santo, enchei os corações de vossos fiéis e acendei neles o fogo do vosso amor”. Este fogo abrasador que não se extingue nunca é a garantia da vitória dos cristãos e a certeza da prevalência do bem contra o mal e a razão de ser de toda santidade que impera lá onde Jesus é conhecido e amado. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
quinta-feira, 3 de novembro de 2011
A SALVAÇÃO ETERNA
A SALVAÇÃO ETERNA
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
São Leão Magno, Doutor da Igreja, reconhecido como um dos Papas mais importantes da história eclesiástica, num de seus notáveis escritos assim se expressou: “Cristãos, tende um ideal, e esse ideal deve ser para todos a salvação eterna, o céu; colocai bem alto o vosso ideal, acima dos prazeres do mundo, acima das vossas paixões e dos interesses da terra; defendei contra tudo e conservai cuidadosamente o vosso ideal, porque a única coisa necessária ao homem é a salvação, é o céu.. O ideal é a síntese de tudo a que aspiramos, de toda a perfeição que concebemos ou se pode conceber. Para o cristão é a concretização do preceito de Jesus: “Sede perfeitos como o Pai celestial é perfeito” (Mt 5,48). O discípulo de Cristo procura a perfeição porque crê na vida eterna e, por isto, almeja se santificar em todos os momentos de sua vida, fazendo em tudo a vontade santíssima de Deus no estado de vida no qual cada um foi colocado pela Providência. Evita então tudo que significa faltar com o dever do dia a dia e vai em busca da prática das virtudes. Tem sempre em vista o céu, pensamento que oferece forças para os árduos embates da existência. Possui sempre o entendimento envolto na Verdade suprema e para Ela volta todas as manifestações do coração, porque Deus é o amor infinito. Nele centra toda sua vontade, porque Ele é o Bem eterno. Isto porque, quem tem bom senso, sabe que só Deus faz a felicidade do homem, e só ele merece toda a dileção. Usufrui então paz, serenidade, tranquilidade, total imperturbabilidade. Entra-se desta maneira no combate da vida com ardor, entusiasmo e esperança. O vigor passa a correr nas veias e procura o cristão irradiar exteriormente o Deus que habita em sua alma em estado de graça. O sol da alegria brilha em todas as circunstâncias do autêntico seguidor de Cristo e a jornada rumo à Casa do Pai fica não só viável, mas agradável, e conta-se sempre com a vitória sobre os inimigos da salvação. A etapa é longa, a estrada é, por vezes, poeirenta. E pode sobrevir a fadiga, o cansaço, mas não se perdem de vista os pináculos refulgentes da Jerusalém celeste. Muitos, contudo, desanimam e a desesperança predomina, o entusiasmo desaparece e as armas da fé caem das suas mãos. São os que se deixam abater, se assentam à beira do caminho, deixam de lado o heroísmo, olham para a terra e perdem a vista do céu. No mundo, porém, o cumprimento exato dos deveres não é a regra, é a exceção. O espetáculo da corrupção social é patente; todos os caminhos se apresentam tomados pela devassidão; o egoísmo se cobre com o manto da sabedoria, a hipocrisia se mostra até sob a forma de piedade, a traição aparece até na amizade. Nesse meio é fácil escorregar, cair e arrastar-se, abandonando o Mestre divino. Alguns chegam a perguntar se a fé, a justiça, a virtude, a honra, valem alguma coisa, influenciados pela televisão, pelos falsos formadores de opinião que pululam na sociedade atual. Este modo de pensar é a perda do ideal, é a sua derrota completa. Muitos que foram batizados não se ocupam, deste modo, a não ser com a moda de suas vestes, não têm outras idéias senão as que vão haurir nos jornais, nas novelas, nos sites pornográficos da internet e não têm outros desejos senão os dos prazeres de um contexto hedonista, divorciado da doutrina do Evangelho. São como mariposas que, tendo queimado as asas ao contato da luz, não podem mais voar, e se arrastam por terra, comprometendo a salvação de suas almas. Acontece, por isto mesmo, que o pecado faz irrupção em suas vidas. Vem o remorso, mas o aviso da consciência vai sendo abafado e tais cristãos ficam presas do Inimigo. Esquecem-se de que “errar é humano, mas perseverar no erro é diabólico” e, deste modo, abandonam o Sacramento da Confissão, a Santa Missa e no mar da vida se transformam numa nau sem rumo. Cumpre, na verdade, reagir corajosamente. Avançar resolutamente, perseverantemente no caminho do dever, da honra e da virtude, apoiado o autêntico cristão nos ensinamentos bíblicos e armado com a cruz de Cristo. Aqueles serão a luz que jamais deixará haver as trevas do desalento e esta será a arma poderosa de vitória e, como Jesus o verdadeiro cristão vence o mundo e, um dia, fará sua entrada triunfante no céu. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
São Leão Magno, Doutor da Igreja, reconhecido como um dos Papas mais importantes da história eclesiástica, num de seus notáveis escritos assim se expressou: “Cristãos, tende um ideal, e esse ideal deve ser para todos a salvação eterna, o céu; colocai bem alto o vosso ideal, acima dos prazeres do mundo, acima das vossas paixões e dos interesses da terra; defendei contra tudo e conservai cuidadosamente o vosso ideal, porque a única coisa necessária ao homem é a salvação, é o céu.. O ideal é a síntese de tudo a que aspiramos, de toda a perfeição que concebemos ou se pode conceber. Para o cristão é a concretização do preceito de Jesus: “Sede perfeitos como o Pai celestial é perfeito” (Mt 5,48). O discípulo de Cristo procura a perfeição porque crê na vida eterna e, por isto, almeja se santificar em todos os momentos de sua vida, fazendo em tudo a vontade santíssima de Deus no estado de vida no qual cada um foi colocado pela Providência. Evita então tudo que significa faltar com o dever do dia a dia e vai em busca da prática das virtudes. Tem sempre em vista o céu, pensamento que oferece forças para os árduos embates da existência. Possui sempre o entendimento envolto na Verdade suprema e para Ela volta todas as manifestações do coração, porque Deus é o amor infinito. Nele centra toda sua vontade, porque Ele é o Bem eterno. Isto porque, quem tem bom senso, sabe que só Deus faz a felicidade do homem, e só ele merece toda a dileção. Usufrui então paz, serenidade, tranquilidade, total imperturbabilidade. Entra-se desta maneira no combate da vida com ardor, entusiasmo e esperança. O vigor passa a correr nas veias e procura o cristão irradiar exteriormente o Deus que habita em sua alma em estado de graça. O sol da alegria brilha em todas as circunstâncias do autêntico seguidor de Cristo e a jornada rumo à Casa do Pai fica não só viável, mas agradável, e conta-se sempre com a vitória sobre os inimigos da salvação. A etapa é longa, a estrada é, por vezes, poeirenta. E pode sobrevir a fadiga, o cansaço, mas não se perdem de vista os pináculos refulgentes da Jerusalém celeste. Muitos, contudo, desanimam e a desesperança predomina, o entusiasmo desaparece e as armas da fé caem das suas mãos. São os que se deixam abater, se assentam à beira do caminho, deixam de lado o heroísmo, olham para a terra e perdem a vista do céu. No mundo, porém, o cumprimento exato dos deveres não é a regra, é a exceção. O espetáculo da corrupção social é patente; todos os caminhos se apresentam tomados pela devassidão; o egoísmo se cobre com o manto da sabedoria, a hipocrisia se mostra até sob a forma de piedade, a traição aparece até na amizade. Nesse meio é fácil escorregar, cair e arrastar-se, abandonando o Mestre divino. Alguns chegam a perguntar se a fé, a justiça, a virtude, a honra, valem alguma coisa, influenciados pela televisão, pelos falsos formadores de opinião que pululam na sociedade atual. Este modo de pensar é a perda do ideal, é a sua derrota completa. Muitos que foram batizados não se ocupam, deste modo, a não ser com a moda de suas vestes, não têm outras idéias senão as que vão haurir nos jornais, nas novelas, nos sites pornográficos da internet e não têm outros desejos senão os dos prazeres de um contexto hedonista, divorciado da doutrina do Evangelho. São como mariposas que, tendo queimado as asas ao contato da luz, não podem mais voar, e se arrastam por terra, comprometendo a salvação de suas almas. Acontece, por isto mesmo, que o pecado faz irrupção em suas vidas. Vem o remorso, mas o aviso da consciência vai sendo abafado e tais cristãos ficam presas do Inimigo. Esquecem-se de que “errar é humano, mas perseverar no erro é diabólico” e, deste modo, abandonam o Sacramento da Confissão, a Santa Missa e no mar da vida se transformam numa nau sem rumo. Cumpre, na verdade, reagir corajosamente. Avançar resolutamente, perseverantemente no caminho do dever, da honra e da virtude, apoiado o autêntico cristão nos ensinamentos bíblicos e armado com a cruz de Cristo. Aqueles serão a luz que jamais deixará haver as trevas do desalento e esta será a arma poderosa de vitória e, como Jesus o verdadeiro cristão vence o mundo e, um dia, fará sua entrada triunfante no céu. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
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