quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Concebida sem pecado original

CONCEBIDA SEM PECADO ORIGINAL
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
O Prefácio da Missa da solenidade da Imaculada Conceição de Maria apresenta uma síntese admirável sobre esta verdade. Nele são rendidas graças ao Pai, porque Ele preservou a Virgem Maria de toda a mancha do pecado original, para que, enriquecida com a plenitude da graça divina, fosse a digna Mãe do seu Filho. Nela Ele deu início à santa Igreja, esposa de Cristo, sem mancha e sem ruga, resplandecente de beleza e santidade. Dela, Virgem puríssima, devia nascer o seu Filho, Cordeiro inocente que tira o pecado do mundo. Ele a destinou acima de todas as criaturas, a fim de ser, para todo o povo, advogada da graça e modelo de santidade. Foi, exatamente, por tudo isto que Maria é, na verdade, a filha amada do Ser Supremo. Quando o Pai, desde toda a eternidade, determinou salvar o mundo pela encarnação do Verbo Divino, e que este inefável mistério se realizaria no seio de uma Virgem por obra do Espírito Santo, Ele a predestinou, escolheu, adotou como a mais predileta dos seres racionais, isto, porém, de um modo especial e com uma ternura sem igual. Ela, verdadeiramente, devia ser, no tempo, a esposa do Espírito Santo, a mãe venerada do seu Filho, a mãe, outrossim, por uma misteriosa extensão, de todos os filhos da Igreja, Corpo Místico do Redentor. Uma vez que a Santíssima Trindade determinou a salvação da humanidade, esta mulher bendita esteve sempre no pensamento divino. O amor do Pai para com o Filho, esse eterno e incomparável objeto de suas complacências, se estendeu também, desde então, sobre Maria como um princípio da santa humanidade do Redentor. O poder desse amor e a liberalidade dos dons do Senhor de tudo deviam ser sem limites. Donde podemos julgar quanto foi excelente essa adoção, que derivava de tão grande dileção. Daí podemos julgar a eficácia da graça divina, não deixando um só instante o pecado introduzir-se nessa alma tão pura, que conceberia pelo poder do Espírito Santo. Maria foi, portanto, adotada como filha bem-amada de Deus desde o instante em que foi formada no seio materno e, imediatamente, ornada da graça santificante, da santidade e da justiça. A sua concepção foi sem pecado, foi imaculada. Eis o mistério celebrado no dia oito de dezembro. É evidente que destinando uma criatura para tão grande missão, o Onipotente não podia consentir que coisa alguma faltasse à perfeição daquela que fora escolhida, bendita entre todas as mulheres. O Todo-Poderoso quis reviver em Maria toda a beleza, toda a pureza primitiva de sua imagem, conspurcada pelo pecado de Adão, e, por isso, Maria foi criada imaculada, sem mancha original, para que nessa filha muito amada rebrilhassem todas as virtudes, todos os privilégios, sendo puras e santas todas as suas ações, e Ele pudesse contemplá-la sem cessar com amor e satisfação. Por ser, de fato, a filha predileta do Pai, a esposa do Espírito Santo e Mãe do Verbo Eterno com laços tão grandiosos com a Santíssima Trindade, o embaixador celeste a ela enviado à cidade de Nazaré, além de lhe explicar todo o processo inicial do plano salvífico que teria início na Encarnação da Segunda Pessoa da Trindade Santa a chamou de “cheia de graças”. Plenitude esta que inclui naturalmente a prerrogativa de sua conceição sem a mácula original. Os acontecimentos estão registrados no Evangelho, oferecendo-nos elementos grandiosos da fé cristã, alicerçando a doutrina da Igreja. O que se esquece muitas vezes é que há na religião verdades, que iluminando a nossa razão, a deixam abismada na contemplação de conhecimentos que vão além de todas as suas forças e de todas as suas luzes. O que se conhece, contudo, pela fé não é luz que cega e fulmina, mas luz que ilumina, encanta e alegra. O espírito aí se apraz, e a razão clarificada pela crença se sente enriquecida. O Cristianismo recebe a verdade revelada por um ato de simples obediência à autoridade de Deus e de sua Igreja, mas não há nenhuma verdade revelada, nenhum dogma que exige a adesão a um absurdo. O mistério ultrapassa a inteligência, mas esta pode captar uma coerência intrínseca na verdade revelada. No Cristianismo os grandes teólogos não foram menos filósofos do que crédulos submissos, e isto até os nossos dias. Esses elevados e belos estudos sobre as questões da fé foram a origem da filosofia cristã, filosofia ao mesmo tempo divina e humana, onde se vêem reunidas em um admirável esplendor todas as luzes naturais e sobrenaturais que iluminam a humanidade. Assim se expressou Santo Anselmo: “Crer, nada mais é senão pensar consentido [...] Todo o que crê, pensa; crendo pensa, e pensando crê [ ...] A fé, se não for pensada, nada é [ ...] quando se tira o assentimento, tira-se a fé, pois, sem o assentimento, realmente não se crê” [...] E notável a sentença deste sábio santo: “Creio para entender; eu entendo para crer”. Estas considerações devem também reforçar então a fé daqueles que crêem na Imaculada Conceição de Maria, verdade tão cara aos cristãos de todos os tempos. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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