sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

O VERBO DE DEUS HABITOU ENTRE NÓS

O VERBO DE DEUS HABITOU ENTRE NÓS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
No contexto materializado de hoje o que se esquece muitas vezes é que o Natal é por excelência o dia de festa, de perdão e de alegria, mas isto porque o Verbo de Deus nasceu e habitou entre nós. Há na mídia em geral o direcionamento da atenção para aspectos inteiramente deslocados da figura do Redentor. Numa emissora de televisão se escutou um absurdo como este: “Há falta de pessoas para representarem o Papai Noel e sem Papai Noel não há Natal” (sic). Adite-se a ceia do Natal, não como uma reunião familiar para se festejar o Menino Deus, mas para gastos gastronômicos exorbitantes regados com as mais requintadas bebidas, o que é também ocasião para lucro dos supermercados que instrumentalizam a data sagrada A grande preocupação do comércio é o ganho que deverá ser maior do que no ano precedente. Jesus, que precisa ser homenageado, fica em segundo plano. A humanidade recebeu do Divino Infante uma palavra que purificou e salvou e, contudo, muitos deixam de lhe preparar o coração para uma fervorosa, piedosa, celebração natalina. Tudo renasceu com Cristo, de sorte que o Natal do Jesus necessita ser ao mesmo tempo sua presença na existência de cada um de seus discípulos. Dia venturoso, de fato, no qual o Deus humanado para nós nasceu. Natal tem que ser o nosso dia de festa cristã e não pagã. A salvação não veio do palácio, nem do exército, nem da ciência, nem da força. Ela veio de um presépio, da pobreza, do que há de mais humilde e de mais fraco. Os anjos aos pastores de Belém, anunciando-lhes o nascimento de Cristo, lhes comunicou: “Não temais, pois vos anuncio um grande júbilo, para todo o povo. Nasceu-vos hoje, na cidade de Davi, um Salvador que é o Cristo Senhor. Isto vos servirá de sinal:encontrareis um menino envolvido em faixas e deitado numa manjedoura” (Lc 2,10-13.). Os homens carecem de um pedestal suntuoso para que possam ser distinguidos por outros. Jesus procurou a humilhação. Sua grandeza, porém, é tãoverdadeira, o seu poder tão grande, a sua glória, tão sublime, que nem a pobreza, nem o abandono, nem os sofrimentos, podem ofuscar-lhe o fulgor. Ele nasce em um estábulo, mas a sua mãe é uma virgem; escolhe o silêncio da noite, mas uma estrela, iluminando o espaço, revela ao longe o nascimento do Salvador do mundo; apenas José e Maria presenciam fato tão maravilhoso, mas os pastores vêm adorá-lo e apresentar-lhe as primícias do amor da humanidade. Porque é Deus, Ele procede como Deus. A sua modéstia vai indicar aos homens o caminho da reabilitação e da virtude; a sua humilhação dir-lhes-á que na terra tudo é vaidade e soberba; os seus sofrimentos ensinarão que os prazeres terrenos corrompem e desvirtuam. Se, em vez da obscuridade de uma gruta e da pobreza do presépio, Jesus buscasse o esplendor e a opulência, suas mensagens não teriam penetrado tão fundo na consciência humana, o povo estaria dele afastado, os infelizes viveriam sem esperanças e os homens não teriam um Salvador. Assim a penúria de Jesus é um sinal, como disseram os anjos, mas um penhor de salvação. Escreveu François René Auguste de Chateaubriand, célebre escritor, diplomata e político francês que “quando o mundo inteiro levantasse a voz contra Jesus Cristo, quando todas as luzes da ciência se reunissem contra os seus dogmas, nunca nos persuadiriam que uma religião fundada sobre semelhante base seja uma religião humana. Aquele que nasce em um estábulo e vai morrer depois sobre uma cruz, oferece aos homens, como digno de um culto especial, a humanidade padecente, a virtude perseguida, aquele, nós juramos, não pode ser senão um Deus”. Foi, realmente,com seu despojamento que Cristo se tornou o Redentor dos homens. Quando o mundo pagão, com o seu cortejo de devassidões e de vícios, encontrou-se frente a frente com Ele, parou atônito e confuso, e Jesus soube lançar através da corrupção reinante os raios do seu amor, de sua verdade. Quando os bárbaros invadiram a Europa, levando por toda parte a violência e a desordem, Cristo soube ainda comover aqueles corações de ferro, fazendo-se amar por eles. Quando os missionários percorreram a terra, os selvagens admirados, ouviram então falar desse Filho de Deus, que veio arrancá-los das sombras da morte, e O adoraram. Hoje, mais do que nunca mister se faz reabilitar a grandeza do Natal e refletir sobre tudo isto, deixando de lado aquilo que é secundário na celebração de solenidade tão fulgente. Os corações devem a Ele pertencerem. Ele ensina-nos a sofrer, a lutar e a esperar. Mostra como suportar o peso da vida apoiados em sua misericórdia. Seja o dia do seu nascimento o verdadeiro natal da humanidade, o dia de salvação. A participação na Missa deste dia, a reflexão sobre as grandes mensagens bíblicas natalinas, a aproximação da Mesa Eucarística, o júbilo de uma consciência em paz com Deus devem ser a característica do glorioso 25 de dezembro. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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