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O FIM DO ANO E OS FUNCIONÁRIOS DO LAR
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
No lar doméstico há pessoas que, sem estarem unidas pelos laços do parentesco, fazem, entretanto, parte da família. Eram antigamente chamados de criados ou empregados, mas agora foram promovidos a funcionários (as) ou secretários (as) do lar. São domésticos, isto é, pessoas da casa, embora hoje com as leis empregatícias cumpram um horário que lhes permite retornar a suas moradias. Eles inspiram confiança, granjeando e estima dos que os contratam. Seus bons serviços deixam vestígios que geram gratidão. A Bíblia se refere aos que exercem esta atividade com sumo respeito, grande delicadeza e caridade peculiar. Assim aconteceu com o servo de Abraão, Eliezer, cujas ocupações fizeram prosperar a casa do seu amo; Judith que tomou parte na heróica expedição de sua senhora; a dedicada assistente do leproso Naaman que tanto trabalhou pela saúde de seu senhor. A lei mosaica sobre os deveres dos empregadores é toda cheia de equidade e de mansidão, mas foi sobrepujada pela a lei do Evangelho, que é a norma da dileção, ainda mais delicada e mais caritativa. Aliás, o Filho de Deus foi visto como um simples serviçal, lavando os pés dos seus discípulos. Nota-se mesmo alguma preferência do divino Mestre para com aqueles que prestam tais misteres. Um dia, um nobre da sinagoga, um ilustre de Israel vem suplicar-lhe que tenha dele compaixão e restitua a saúde ao seu filho que está agonizando. O Mestre divino acata o pedido, mas ele não vai à casa do enfermo. Um outro dia, porém, não é mais um príncipe, um poderoso do mundo, que vem implorar a sua proteção divina, é um empregado do centurião romano. Jesus não somente atende a suplica, mas vai em pessoa ver o doente à beira da morte. O mesmo amor divino brilha em um e outro caso, porém, há mais atenção ainda no segundo, patenteando uma preferência especial do Redentor pelos humildes e pequeninos. Grandes, contudo, os deveres daqueles que se relacionam como empregadores e os que acatam lhes prestarem préstimos. Antes de tudo convém notar que estes devem respeitar os que os aceitam como colaboradores, realizando todas as tarefas com competência, se adaptando ao perfil caracteriológico de quem os contratou e, outrossim, às recomendações do mesmo. Muitas vezes, ficar falando o tempo todo acaba por aborrecer, sobretudo se o dono da casa se entrega a trabalhos intelectuais que exigem concentração contínua. Se assim não procedem, não fazem jus aos seus salários, porque ninguém paga o outro para ser molestado ou mal servido por ele. Para que algo seja devido é necessário merecê-lo ou ganhá-lo, cumprindo escrupulosamente o que foi estipulado entre aquele que serve e aquele que é servido. O dever conhecido e observado pelos que foram contratados e a bondade por parte do contratante. Todos somos irmãos em Cristo. Eles poderiam responder como uma personagem da corte do rei francês Luiz XV rebatendo à princesa Luiza. A jovem senhora, em um ímpeto de impertinência, lhe tinha dito: “Não sabeis que sou a filha do vosso rei?” — “E não sabeis, replicou a outra, que eu sou a filha do vosso Deus?” É que empregados e empregadores devem ver no outro a figura de Cristo. Pode-se dizer que os dois são úteis e necessários não sendo um mais útil e mais indispensável do que o outro, ou seja, aquele que serve ou aquele que é servido. Felizes aqueles que podem contar os serviços de pessoas competentes, educadas e de fina sensibilidade, como venturosos aqueles que mourejam numa casa onde seus direitos são respeitados e valorizado tudo o que fazem. Uns não valem mais que outros. Ambos devem praticar as virtudes do bom cristão. Henri Lacordaire dominicano, sacerdote, jornalista, educador, deputado e acadêmico e restaurador em França da Ordem dos Pregadores, escrevendo a um amigo, dizia-lhe: “Felicito-te por saber que encontraste um bom e digno empregado. Não esqueças que um servo fiel e dedicado é um dos grandes benefícios de Deus e um elemento poderoso de alegria”. Um elemento primordial é o respeito mútuo segundo os ditames do Evangelho e da boa educação. Há uma hierarquia a ser considerada. A divina Providencia estabeleceu a hierarquia entre os homens, e esta é a base da sociedade doméstica, onde a ordem não pode existir sem que cada individuo ocupe o seu lugar. Ora, o lugar dos empregadores é de dirigir e de governar, fazendo-se respeitar e obedecer, como o dos contratados é de executar fielmente as obrigações que lhes competem, acatando as diretrizes dos seus superiores e se esforçando para que nada se lhes possa censurar. O cumprimento do dever mútuo é a garantia da harmonia dentro de uma casa. Ao findar do ano uma reflexão como esta é importante para empregadores e secretários (as) do lar. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
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