quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

A verdadeira fraternidade

A VERDADEIRA FRATERNIDADE
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
No contexto histórico atual, conturbado e no qual muitos valores são desprezados cumpre se recorde a necessidade da fraternidade nos lares. O respeito e a dileção entre os irmãos devem ser sempre mais incrementados. Jesus honrou de um modo especial a companhia fraterna. O Mestre divino tendo escolhido doze apóstolos, entre esses doze há seis irmãos: Pedro e André; Judas e Tiago o menor; João e Tiago o maior, de sorte que a metade do colégio apostólico estava unida pelos laços da fraternidade. Esta união entre irmãos, que Deus fez tão profunda, mostra claramente quão esplêndido é este laço familiar. Fraternidade é a associação das mesmas convicções, dos mesmos ideais e interesses. Os irmãos têm o dever de se amarem, de se santificarem e de se protegerem. Afeição, santificação e auxílio mútuo, eis o que precisa fulgir na sociedade fraterna. Antes de tudo entre irmãos e irmãs deve haver a união dos corações. Ninguém pode verdadeiramente amar se não ama em casa o seu irmão ou sua irmã. A força do laço que Deus formou entre irmãos, dando-lhes os mesmos pais, fazendo-os sair da mesma família, nutrindo-os com o mesmo leite, honrando-os com o mesmo nome familiar, os une completa e intimamente. Nada pode quebrar e destruir esses vínculos de sangue. Há, porém, outros não menos fortes, formados pela vida em comum, a saber: a companhia da infância e da adolescência, os mesmos brinquedos, as mesmas alegrias, as mesmas tristezas, os mesmos estudos primários e, mais tarde, a recordação desses dias vividos em comum, são recordações influentes que levam conservar a união entre esses que descendem dos mesmos pais. A Bíblia encontra imagens vivas para exprimir a graça, a beleza e a doçura que há na amizade fraterna. Diz Davi: “Oh, como é bom, como é agradável para irmãos unidos viverem juntos. (Sl 132,1) Deus lhes dará a sua bênção, e essa bênção os acompanhará nesta vida e na outra. O Livro santo declara dignos do reino dos céus os irmãos que, se protegendo mutuamente, atravessam a vida ligada por um laço invisível que os prenderá na eternidade. A família vê neles um tesouro e Deus do alto do céu os espera e os abençoa. A história da Igreja mostra muitos destes modelos. Apresenta os irmãos mártires João e Paulo, Donaciano e Rogaciano, Cosme e Damião, marchando alegres para o suplicio, animando-se para que soubessem sofrer por Cristo. Lembra na cidade de Nazianzo Gregório, Cesário e a sua jovem irmã Gorgonia, ternamente a amarem seus velhos pais, e não consentindo que o luxo e a indolência penetrassem na casa paterna. Na cidade de Cesareia vemos São Basílio e, entre seus nove irmãos que viviam a autêntica fraternidade, figuraram Gregório de Nissa, Macrina, a Jovem e Pedro de Sebaste, todos canonizados pela Igreja. Em Milão, Santo Ambrósio e a virgem Marcelina viviam da mesma vida, das mesmas virtudes e da mesma santidade. A História patenteia infelizmente também o espantoso espetáculo de irmãos inimigos. A humanidade começava apenas, e já o fratricídio ensangüentava a terra. Caim assassinava o seu irmão Abel. Desde esse dia a guerra não desapareceu mais do seio da família, como do grêmio das nações. José foi vendido pelos seus irmãos; Jacó foi perseguido por Esaú. Tudo isto fruto da inveja e da devassidão. Foi a invídia que levou Caim a assassinar o seu irmão; a inveja e a ambição foram as causas de José ser vendido por seus irmãos. Ainda hoje dá-se o mesmo espetáculo reproduzido pelos mesmos vícios. Alguém, vendo o seu irmão mais conceituado, mais estimado, ocupando na sociedade posição mais saliente, o detesta. Uma irmã virtuosa, delicada e amável, só encontra repulsão junto de um irmão que ela desejaria conservar puro e bom. Os conselhos fraternos são mal recebidos. Tudo isto porque a invídia e sobretudo a corrupção já destruíram o verdadeiro amor, único laço que pode conservar unidos os corações. Os mesmos sentimentos, o mesmo pensar, as mesmas alegrias desaparecem e lá onde não há união dos corações não pode haver amizade. Como é triste o desespero de tantas mães a se queixarem que seus filhos estão em pé de guerra por causa das drogas e outros desvios morais! Corações nobres, honestos, delicados não chegam jamais a tais aberrações. Tudo isto por falta do temor de Deus que é o início da sabedoria. Mais do que nunca a santidade precisa reinar nos lares. A fé, a prática cristã, os bons princípios, os bons exemplos devem existir no tesouro da amizade fraterna. Irmãos, não por um dia, mas para sempre, e seria um desgosto, um desespero, para a verdadeira fraternidade, se o seu destino não fosse a eternidade feliz. Todos os irmãos um dia na Casa do Pai, eis o projeto de vida dos que foram criados na mesma casa e pelos mesmos pais. Quando é impossível corrigir os defeitos e os erros do irmão com os conselhos, cumpre mostrar-lhe o exemplo. Além de tudo, isto é preciso a proteção mutua. Os irmãos que se protegem mutuamente são como uma cidade forte e bem defendida. A família revela assim um novo vigor, mostra a sua grande força de coesão dentro do plano divino * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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