A DIGNIDADE DO SACRAMENTO DO MATRIMÔNIO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
O matrimônio é o alicerce da família, é o suporte da primeira sociedade humana do planeta terra, é o vínculo sublime que, prendendo duas pessoas, perpetua neste mundo a humanidade. Não há instituição mais admirável, nem mais importante e respeitável. Em todos os tempos e para todos os povos o matrimônio teve sempre um caráter religioso, porque a família é uma sociedade indissolúvel e santa, que não se pode privar das bênçãos divinas. Cristo firmou esta verdade quando declarou que a união do homem com a mulher é uma união legítima e perpétua, que está acima do abalo das paixões, e, sendo instituída pelo próprio Deus, não pode estar sujeita aos caprichos dos homens. Jesus fez do matrimônio um dos sacramentos de sua Igreja. O que muitas vezes se esquece é que o matrimônio é da esfera da família e do indivíduo; o matrimônio se inaugura dentro da família; os nubentes saem da família e saem para constituir nova família. É pois um ato que se realiza em função da família e dentro da família e aí produz os seus efeitos. O contrato civil é mera formalidade legal para regularizar os interesses materiais dos esposos, mas não pode ser considerado como matrimônio. É apenas sob este ângulo que os fiéis cumprem rigorosamente as leis do Estado. Eis porque as pessoas, que se contentam unicamente com essa formalidade legal, não podem receber os sacramentos da penitência e da comunhão. O matrimônio de fato, é uma instituição santa. Sua origem é divina, como lemos nas primeiras páginas da Bíblia: “Deus criou o homem à sua imagem, criou-o à imagem de Deus, e criou-os homem e mulher. E Deus abençoou-os, dizendo-lhes: “Proliferai e multiplicai-vos, e povoai a terra” (Gên 1,27-28). Deste modo, o Ser Supremo querendo consagrar o primeiro casamento, estendeu a mão sobre a fronte do homem e da mulher e os santificou impondo-lhes a lei da fecundidade. Bênção que outorgou ao homem vigor e fez de Adão e Eva os pais de toda a raça humana. Um dia interrogado pelos Fariseus se era permitido despedir a esposa por qualquer motivo, Jesus, claramente, respondeu: “Não lestes que o Criador, desde o princípio, os fez homem e mulher, e disse: - Por isso deixa o homem pai e mãe e une-se com sua mulher e os dois formam uma só carne? – Portanto, já não são dois, mas uma só carne. “Não separe, pois, o homem o que Deus uniu” (Mt 19,3-7). Jesus não se contentou em restituir ao matrimônio a sua forma primitiva, mas ainda quis purificá-lo de todas as manchas (Mt 18, 8-10). São Paulo, comparando a união dos esposos com a união que existe entre Cristo e a Igreja declarou: “Grande mistério é este; mas digo-o referindo-me a Cristo e à Igreja. Resta, portanto, que ame também cada um de vós sua mulher como a si próprio e que a mulher respeite o marido (Ef 5, 32-33). Como a união de Cristo com a Igreja é santa, imaculada e permanente, também a união matrimonial deve ser santa, religiosa e perpétua. Uma não seria a imagem, a figura e a representação da outra, se não houvesse uma virtude santificante, que somente o sacramento pode conferir. Concede aos esposos a graça de se amarem com o mesmo amor com que Cristo amou a sua Igreja. A graça do sacramento leva à perfeição o amor humano dos esposos, consolida sua unidade indissolúvel e os santifica no caminho da vida eterna. O homem não amaria a sua esposa como o Cristo ama a Igreja, nem a mulher amaria o esposo como a Igreja ama Cristo, sem uma graça especial que purifique e sobrenaturalize o amor conjugal. O Salvador, entregando-se à sua Igreja, a santifica; o homem e a mulher, dando-se um ao outro, devem mutuamente santificar-se. Eis porque o matrimônio é um grande sacramento. O matrimônio é, realmente, algo sublime, um ato da vida ao qual Deus deve presidir e deve comunicar suas graças poderosas, a fim de que os esposos se conservem na mesma dileção e guardem fidelidade um ao outro até o último momento da vida. A essência natural do matrimônio é o amor que principia pela misteriosa simpatia e elevada empatia que surge entre duas pessoas. A bênção sacramental santifica este amor. A graça conferida pelo sacramento purifica a união, torna toleráveis as naturais dificuldades da existência neste vale de lágrimas até os últimos dias de vida de cada um dos esposos. A força do sacramento confere a perseverança e transforma os desgostos em virtudes; confere coragem para que suportem mutuamente as imperfeições um do outro, garantindo a fidelidade absoluta em qualquer circunstância da vida, garantindo uma grande recompensa no céu pela dedicação aos filhos, pelo amparo mútuo, pelos grandes triunfos que juntos conquistam para o tempo e a eternidade. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
sexta-feira, 16 de dezembro de 2011
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