VIGIAI!
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Com o Advento a Igreja leva os fiéis à preparação para o dia do Natal e a palavra chave do primeiro domingo do novo ano litúrgico é esta: Vigiai! O alerta de Jesus deve ressoar fundo nos corações: “Ficai de sobreaviso, vigiai, porque não sabeis quando será o tempo” (Mc 13,33). Esta exortação, que se encontra na parábola do homem que partiu em viagem e deixou a sua casa, delegando sua autoridade aos servos, indicando o trabalho de cada um, e que mandou o porteiro que vigiasse, é a mesma que lemos na narrativa das dez virgens que aguardavam a vinda de seu senhor (Mt 25,13). Aos Apóstolos, adormecidos no Getsêmani disse Jesus: “Vigiai e orai” (Mc 14.38). Trata-se, portanto, de uma séria advertência do Mestre divino. Este não pregou uma atitude passiva, fatalista, mas um alerta constante na presença de Deus, dado que a vida de seu seguidor deve ser uma oração contínua. Eis porque aos Efésios preceituou São Paulo:
“Por meio de toda a espécie de orações e de súplicas, orai incessantemente movidos pelo Espírito” (Ef 6,18) e aos Colossenses: “Perseverai assiduamente na oração e vigiai com ação de graças”. Como o cristão tem a reta intenção de tudo fazer para a glória de Deus ele se acha ininterruptamente em clima de união com o seu Senhor e pode repetir o que se lê no Livro Cântico dos Cânticos: “Eu durmo, mas o meu coração vigia” (Cant 5, 2). O efeito desta comunhão com o Ser Supremo se desdobra e aí está a razão pela qual o Apóstolo detalhadamente aconselhou aos Coríntios: “Vigiai, sede constantes na fé, tende ânimo viril, sede fortes. Que tudo entre vós se realize na caridade” (1 Cor 16, 13-14). Quem tem fé sabe que Deus bate à porta dos corações a todas as horas e é necessário responder prontamente à sua chamada. No Apocalipse Ele usa uma expressão bem forte: “Eis que sobrevenho à maneira de um ladrão. Feliz daquele que vigiar” (Ap 26, 15). É preciso, por isto, estar não de mãos vazias, mas repletas de boas obras, fruto da fortaleza e de um irradiante amor. Compreende-se então que a vigilância é imprescindível para a chegada de Cristo não apenas no momento de se deixar este mundo, o que é o mais certo dos fatos, embora o mais incerto no que tange à hora, o lugar, as circunstâncias. É de vital necessidade ainda para a vinda de Jesus no seu Natal. Com efeito, pela Liturgia a cada ano este fato histórico se repete envolvendo o cristão nas graças específicas daquele acontecimento tão de perto vivido por Maria e José lá no presépio, anunciado aos pastores pelos anjos, concitando-os a se envolverem num profundo júbilo. Deste modo, o apelo à vigilância neste primeiro domingo do Advento deriva da comunicação das grandezas de Deus e do desejo palpitante de receber novas luzes, novas graças. O amor-desejo mantém o cristão acordado, em estado de alerta, envolto em efusões revigorantes que produzem a certeza de uma imersão total na realidade natalina que se aproxima, tornando-o consciente de que mister se faz uma preparação condigna ao se avizinhar o mistério a ser revivido. Por tudo isto, a mística do Advento leva a um cumprimento ainda mais aprimorado dos deveres quotidianos. A caminhada até o dia 25 de dezembro move o cristão a purificar ainda mais o seu espírito, condição necessária para acolher o divino o Infante. Deste modo a comunidade cristã, com a liturgia do advento, é chamada a viver algumas atitudes essenciais à expressão evangélica existencial. Cumpre a espera vigilante e jubilosa, a esperança e a conversão. É que este Jesus cujo nascimento deve ser comemorado cristamente questiona seu discípulo. A “operação natal” que dinamizará em dezembro o comércio, numa sociedade industrial e consumista, tem para o verdadeiro cristão outro sentido, pois exige uma revisão de vida que seja comprometida com valores e atitudes que estejam de acordo com a visão teológica da Encarnação do Verbo de Deus. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
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domingo, 20 de novembro de 2011
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