quinta-feira, 17 de novembro de 2011

O VALOR DA AMIZADE

O VALOR DA AMIZADE
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
A palavra amigo aparece mais de duzentas e trinta vezes na Bíblia. Sublime o que afirmou Jesus: “Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz seu senhor. Mas chamei-vos amigos, pois vos dei a conhecer tudo quanto ouvi de meu Pai” (Jo 15,15). Ele, realmente, o verdadeiro amigo que deu a vida como prova de sua dileção: “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida por seus amigos (Jo 15,13). Aliás, já dizia o Livro dos Provérbios: “ O amigo ama em todo o tempo: na desgraça, ele se torna um irmão (Pv 17). Luminosa a sentença do Eclesiástico: “Um amigo fiel é uma poderosa proteção: quem o achou descobriu um tesouro (Ecl 6,14). Eis porque se lê no Livro Imitação de Cristo: «Ninguém pode viver sem amigo. Tomai e guardai como amigo aquele que nunca vos faltará», referindo-se ao Mestre divino. Que felicidade então ter Jesus como o amigo dos amigos. Ele é o celestial modelo e o ideal supremo da amizade. Uma mesma fé nele deve unir os amigos. Esta é a primeira cláusula do código da amizade. A fé, portanto, em Cristo e em sua Igreja deve existir em toda amizade, dado que, seguindo o Redentor e seus ensinamentos os amigos se influenciam mutuamente no caminho do bem. Associam-se por esta fé; procuram defendê-la contra o mundo, contra a indiferença e contra as blasfêmias, ou seja, contra tudo que ultraja a divindade ou a religião. Essa deve ser a eficácia da amizade cristã sobretudo num contexto como o atual, divorciado das realidades eternas, quando os dez mandamentos são impiamente desprezados. S. Paulo chama a fé um escudo. Os antigos, quando sitiavam uma cidade, no momento do ataque, uniam sobre as suas cabeças os escudos um ao lado do outro, de sorte a formar uma enorme couraça impenetrável, e assim protegidos avançavam resolutos. Imitando os antigos; unidos os escudos da mesma fé contra os ataques da descrença, os amigos se ajudam mutuamente contra as ofensivas diabólicas de um mundo hedonista, ganancioso, perverso. Unem-se por isto mesmo na esperança da chegada à Casa do Pai, na Jerusalém celeste. Modelos de amizade cristã foram dois jovens amigos no século XVI, Ignácio de Loyola e Francisco Xavier, e, deste modo, um conseguiu fazer do outro um santo, e ambos estão sobre os altares da Igreja de Deus e lá no céu já se encontraram usufruindo a felicidade perene que o Ser Supremo reserva para os justos. Marco Túlio Cícero, que não era cristão, no entanto escreveu no seu notável trabalho sobre os amigos que, “a verdadeira amizade é gerada e mantida pela virtude e sem virtude não pode haver amizade. Pois eu sinto que a amizade existe só entre os bons”. Cumpre por tudo isto servir os amigos, trabalhando para a sua santificação, corrigindo prudentemente os seus defeitos e socorrendo-os em suas necessidades. Donde ser de vital importância o bom exemplo que é um dever elementar de amizade. Feliz quem pode afirmar: “O meu amigo é a minha consciência exterior. Eu vejo o meu dever em sua existência. Se procedo bem, os seus olhos me dizem que ajo corretamente. Sei que nunca terei a coragem de fazer ou de pensar mal em sua presença.” Santo Agostinho dizia então com toda razão: “Não há melhor espelho que um bom amigo”. Aí está o motivo pelo qual a boa amizade leva à correção dos defeitos. O maior bem que se possa fazer aos amigos é torná-los melhores do que são, mais honestos, mais puros, mais virtuosos, mais santos. É preciso ainda saber que o verdadeiro amigo é como o anjo consolador que estende as mãos no momento do abandono e da dor. Célebre o dito de Demétrio I, rei da Macedônia: “Amigos são os que na prosperidade comparecem ao serem chamados e, na adversidade, sem ser chamados”. Proclamou Quinto Enneio: “O amigo certo, conhece-se na ocasião incerta”. Donde a máxima de Collins: “Na prosperidade, nossos amigos conhecem-nos; na adversidade, conhecemos os nossos verdadeiros amigos”. Sábio o conselho do poeta grego Píndaro: “Deves mostrar-te sempre o mesmo aos teus amigos, na boa ou má fortuna”. O cristão nunca deixa de orar pelos seus amigos e se interessa pela sua salvação eterna, sempre pedindo a Deus os conserve nas rotas da virtude. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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