TODO AQUELE QUE SE HUMILHAR SERÁ EXALTADO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Muitas vezes se tem da humildade cristã uma falsa idéia, o que leva a não serem decodificadas corretamente as palavras de Jesus: “Quem se humilha será exaltado” (Mt 23,12). A humildade é uma virtude, palavra que vem do latim virtus, ou seja, força, robustez, e não implica, portanto, fraqueza, pusilanimidade, baixa-estima. A humildade tem por fim moderar a inclinação inata ao ser humano para a grandeza, as honras, não permitindo que se ultrapassem as fronteiras marcadas por Deus, conhecidas pela razão e pela fé. Eis porque proclama o salmo 11: “Atrás da soberba vem a ignomínia, mas com os humildes segue a sabedoria” (Sl 11,2). Donde o conselho do Eclesiástico: “Quanto mais importante fores, tanto mais humilha-te” (Eclo 3,18). Santo Afonso de Ligório ensinou que “o primeiro traço da humildade é o modesto conceito de si mesmo”. A humildade, realmente, prospera nos corações que bem conhecem sua própria indigência, persuadidos intimamente de que tudo que possui procede de Deus. Cumpre, entretanto, criar raízes no coração para que nele impere tal atitude tão sublime contrária ao orgulho. Quem percorre os textos bíblicos conclui que se torna humilde quem sempre se põe diante do Ser Supremo, Ente necessário, sendo suas criaturas contingentes, isto é, existem, poderiam não existir e, existindo, tudo recebe do Todo-poderoso Senhor, Daí a argüição de São Paulo: “Que tens que tu não hajas recebido? E se o recebeste, porque te glorias como se não o tivesses recebido?” (1 Cor 4,7). É que a humildade nasce do conhecimento ontológico do Criador e apenas quem se põe em relação pessoa com Ele através da fé vence a soberba. Quem reconhece a glória e o poder divinos, percebe sua insignificância perante o Senhor do universo. Reconhece então as qualidades, os predicados que possui, mas não as atribui a si mesmo e, deste modo, se mostra agradecido a Deus e não se julga superior aos outros. São Tiago, por isto mesmo, proclamou: “Todo dom vem do alto e desce do Pai das luzes” (Tg 1,17). Por si mesmo, ninguém nada tem de si mesmo. Em segundo lugar, o humilde reconhece suas falhas humanas e é capaz de se corrigir. Se torna apto a perceber que somente Deus é santo e, por força do pecado original, a fraqueza leva muitas vezes ao pecado. Foi o que reconheceu São Pedro, quando Jesus mostrou seu poderio na pesca milagrosa: “Afasta-te de mim, Senhor, porque sou um homem pecador” (Lc 5,8). Esta postura, contudo, não leva ao ódio de si, o que seria uma amostra de empáfia, mas reabilita a pessoa que se volta para Deus com as palavras do salmista: “Senhor, se observares as nossas faltas, quem poderá subsistir?” (Sl 129,3) Arrepende-se sempre e isto o eleva, o exalta perante Deus. Eis por que o humilde tem uma confiança inabalável neste Deus que não resiste a um ato de humildade, como afirmou Davi: “Um coração contrito e humilhado, ó Deus, não desprezais” (Sl 50,19). Ele fez esta assertiva depois de ter assim orado: “Piedade de mim, ó Deus, pela vossa misericórdia e pela vossa grande clemência apagai os meus delitos (Idem v.3). Esta atitude mobiliza o poder divino para o humilde. Foi o que mostrou a Virgem Maria no seu hino gratulatório, dizendo que Deus resiste aos soberbos, aos humildes, porém, Ele dá a sua graça (Lc 1,52). O orgulhoso obscurece a glória do Senhor e não é capaz de reconhecer seus erros por se julgar mais sábio do que aquele que estabeleceu os mandamentos. De fato, todo pecado é um ato de arrogância, porque ao cometer conscientemente uma falta o homem passa recibo de ignorância a Deus e se julga no direito de fazer exatamente o contrário do que se acha no Decálogo. Enquanto o homem se confronta só consigo mesmo e com os outros ele deve ser pôr diante de Deus e da Palavra revelada que é o espelho no qual descobre seu verdadeiro rosto interior. Então adere a Cristo e O segue aonde ele for e se torna como ele “manso e humilde de coração” (Mt 11,28-30). Perante os outros o humilde sabe reconhecer as boas obras praticadas pelo próximo, enxerga suas qualidades e se torna incapaz de se julgar superior ao seu semelhante e imita a Jesus que não veio para ser servido, mas para servir e que preceituou: “Não julgueis e não sereis julgados”. A humildade não é só um ato interior, mas deve brotar atos concretos. O humilde obedece às autoridades constituídas e se submete às orientações do magistério eclesiástico. Esta virtude conduz então ao coração de Cristo que se humilhou, fazendo-se carne para permitir que o homem chegue à sua intimidade de amor. Tudo isto gera paz, serenidade, porque o humilde não é ambicioso, reconhece seus limites e uma vez que sabe que tudo lhe vem de Deus passa a cultivar os bens recebidos e, assim, tudo prospera em seu derredor. O humilde sempre cantará vitórias!* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
quinta-feira, 25 de agosto de 2011
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