A COMUNIDADE POLÍTICA E A IGREJA
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
A sábia resposta de Jesus aos fariseus sobre o imposto a ser pago ao império romano mostrou claramente que a Comunidade Política e a Igreja atuam cada uma no seu próprio campo, são independentes e autônomas uma da outra: “ Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus” (Mt 22, 21). Ambas, contudo, estão a serviço da vocação pessoal e social dos homens e das mulheres. Os deveres do Estado se resumem na função fundamental que é o de promover o bem comum, criando condições materiais, institucionais, culturais e morais necessárias para garantir a todos os cidadãos todas as possibilidades concretas de atingir níveis de vida compatíveis com a dignidade humana. O Estado pode tudo aquilo e só aquilo que é necessário para a promoção do bem comum. Aí está a síntese de todos os seus direitos, com relação às pessoas e grupos que lhe estão subordinados da qual não pode exorbitar, incidindo em alguma forma de totalitarismo, absolutismo ou de qualquer outro desvio que comprometa a vida dos cidadãos. Por outro lado este bem comum supõe exatamente que os poderes públicos administrem apenas e tão somente visando o progresso social e não os interesses próprios dos governantes do que resulta a corrupção, a malversação, o acúmulo de riqueza nas mãos de uns poucos e, em conseqüência. a miséria, o pauperismo, a má distribuição de renda. Ao cidadão cabe cumprir com seus deveres cívicos respeitando as autoridades constituídas, obedecendo às leis justas, jamais sonegando os impostos, enfim tudo fazendo a seu alcance para o desenvolvimento e o progresso social. Trata-se da atuação consciente e esclarecida de cada um no seio da comunidade, através de seu esforço em contribuir eficazmente para o engrandecimento da Pátria, do Estado, da cidade em que vive. O Concílio Vaticano II na Constituição Pastoral Gaudium et Spes sobre a “Igreja no Mundo de hoje” lavrou esta diretriz: “Todos os cristãos se tornem cônscios de seu papel próprio e especial na comunidade política”. Aos deveres cívicos o discípulo de Jesus une uma estrita observância do que o Mestre divino disse: “Dai a Deus o que é de Deus”. Isto significa uma fidelidade total, sem restrições ao Ser Supremo, fidelidade religiosa que é uma das mais importantes prescrições, cuja observância Cristo exige de seus discípulos (Mt 23,23). Esta postura caracteriza aqueles que são movidos pelo Espírito Santo. Isto refulge nas minudências da vida de quem foi batizado. O cerne, porém, da irrestrita lealdade para com Deus é o amor. Jesus insistiu nesse ponto: “Permanecei no meu amor. Se guardais os meus mandamentos, permaneceis no meu amor, como tenho guardado os mandamentos de meu Pai e permaneço no seu amor (Jo 15,9 ss). Trata-se de uma realidade dinâmica e criativa, adesão a um desígnio de dileção que se desdobra dia após dia em modalidades inéditas, desígnio procurado com obstinação para dar a Deus o que é de Deus. É o andar na verdade, vivendo inteiramente segundo o Decálogo. O cristão vive numa admirável tensão, sempre renovada, para renegar tudo que não é de Deus e para dar-lhe completamente o coração, a mente e todas as suas forças. Foi a resposta que Cristo deu ao fariseu que lhe interrogou sobre o maior mandamento da Lei: “Amarás o senhor teu Deus de todo o teu coração de toda a tua alma e de todo o teu entendimento” (Mt 22,17). Como ensinou São Paulo aos Efésios é preciso que o cristão seja santo e imaculado na presença santíssima de seu Senhor. Dar a Deus o que é de Deus é, deste modo, ser envolvido num processo de amor que não tem fim e avança para a eternidade. Isto supõe uma constância contínua que não tem limites de tempo. É que a fidelidade a Deus para ir às profundezas de sua realidade tem necessidade de duração ininterrupta. Entretanto o Tentador, que é o Espírito do mal, tem que ser enfrentado corajosamente, como ensinou São Pedro “firmes na fé” (1Pd 5,8). Tudo isto engloba a justiça para com Deus no qual, como ensina São Paulo “nós existimos, nos movemos e somos” (At 17,28). Dele tudo recebemos e é preciso viver em ação de graças como recomendou o mesmo Apóstolo (1 Ts 2,13). Este hino gratulatório ininterrupto culmina na participação da Missa dominical, na qual comunitariamente se presta ao Todo-Poderoso toda honra e toda glória por Cristo, com Cristo, em Cristo e na unidade do Espírito Santo. Felizes os que dão a César o que é de César e a Deus o que é de Deus, fazendo sempre e em toda parte a santíssima vontade deste Ser Supremo que tudo ordena para a felicidade da pátria e de cada cristão, que se torna assim um ótimo cidadão nesta terra e, depois, da Cidade dos eleitos na eternidade.* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos
sábado, 20 de agosto de 2011
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário