MUITOS CHAMADOS, POUCOS ESCOLHIDOS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Séria a advertência de Jesus: “Muitos são chamados, poucos escolhidos” (Mt 22, 14). Para entrar no Reino dos Céus o próprio Mestre divino deu a orientação: “Aquele que perseverar até o fim, esta estará salvo” (Mt 10,22). Para não ser excluído do Banquete eterno é preciso “o traje de festa” que é a graça santificante recebida no Batismo, a qual, se perdida pelo pecado grave, pode, entretanto, ser recuperada através do Sacramento da Penitência. Muitos são os perigos aos quais estão expostos aqueles que preiteiam estar junto de Deus por toda a eternidade na Cidade dos Santos. Estes lutaram bravamente contra as insídias diabólicas, as aliciações mundanas, numa vigilância contínua para a observância dos Mandamentos da Lei divina. Perseveraram, por isto foram escolhidos. Procuraram sempre obedecer à vontade de Deus, fugiram de tudo que pudesse levar a perder a dignidade de cristãos. Foram corajosos. Todo aquele que almeja ser salvo tem necessidade imperiosa da fidelidade total às inspirações do Divino Espírito Santo, da fuga ininterrupta e corajosa das ocasiões perigosas, da oração sem tréguas, da freqüência aos Sacramentos e da mortificação. Estes meios impedem o fiel de se entregar à iniqüidade, evitando o mal e praticando o bem. Tudo isto supõe que se renovem sempre os bons propósitos para lhes dar perenidade, do que resulta um caráter firme que nunca se desvia do caminho da retidão. Esta é a disposição de quem tem plena consciência de sua incorporação a Cristo ressuscitado. Desta incorporação ao Redentor vitorioso deduz São Paulo todas as normas da vida cristã, donde o seu conselho: “Entregai-vos todos a Deus como ressuscitados da morte para a vida”. Para que haja esta constância ininterrupta, o pensamento do céu fortalece o cristão nos embates contra as ciladas do demônio e do mundo, pois tal é a promessa de Deus no Apocalipse: “Sê fiel até a morte e te darei a coroa da vida” (Ap 2,10). Isto inclui a paciência por entre as lutas diárias contra tudo que coloque em risco a salvação eterna, impedindo a entrada no Banquete celeste. Está claro no Evangelho: “Mediante vossa paciência salvareis as vossas almas” (Lc 21,19). É deste modo que se obtém o vigor para a prática das virtudes que serão premiadas por toda a eternidade. Adite-se a todos estes recursos valiosos para se tornar um eleito do Senhor a imprescindível vigilância que é a irmã gêmea da prudência na conduta de todos os momentos. É o que advertiu Jesus: “Velai, pois, já que ã sabeis a que hora em que há vir o vosso Senhor” (Mt 24,42). O desejo da salvação é grande, mas a carne é fraca e daí ser imprescindível estar alerta para não sucumbir na caminhada para a felicidade eterna. Todo cuidado é pouco para que não se tornem pesados os corações com a libertinagem, a embriaguez e as preocupações da vida e se possa estar sempre entre os eleitos. Velar, pois, orando em todo o tempo para se achar em condições de estar firmes na presença de Deus na hora da morte. Eis o motivo pelo qual é preciso estar em vida morto para os prazeres ilícitos, para o vício, para o pecado, para o mal. Como muito bem disse o poeta, “mortos não são aqueles que jazem numa tumba fria, mortos são os que têm morta a alma e vivem todavia”. Entretanto para quem cumpriu o seu dever, para o pecador sinceramente arrependido, para quem fez de sua vida um hino de louvor a Deus e de serviço ao próximo fechar-se-á a porta do tempo e logo se abrirão os pórticos luminosos da Jerusalém celeste. Este, sim, estará arrolado entre os escolhidos para a ventura perene no Reino dos céus. O que causou pena durante a vida, mas foi suportado com afeto a Deus é que dará alegria. Aliás, na hora da morte o que causará pesar, foi o que se buscou com gosto, por vezes com tantos desgostos, fora dos caminhos de Deus. Garantir a salvação, eis o que mais deve preocupar quem tem bom senso neste mundo, pois tudo mais é secundário e nada deve impedir a chegada ao céu. É preciso que durante todos os momentos desta trajetória terrena se esteja procedendo como um eleito. Este pensamento é altamente construtivo. Deve enfronhar todas as ações, decisões, aspirações; iluminar todas as atividades; aclarar todos os ideais; impregnar todas as lides; fortificar todas as resoluções; dourar todas as afeições; alicerçar todos os anelos; fundamentar todos os desejos; enflorar todas as aspirações. Apenas assim se estará preparado para o chamado para as Bodas do Cordeiro. Este fato não tem hora, nem lugar. A incerteza marca terrivelmente o mais certo dos fatos. Não sabemos o lugar, as circunstâncias, o momento em que ele se dará. Daí a sapientíssima advertência do Apóstolo Paulo: “Enquanto temos tempo, façamos o bem!” (Gl 6,10), uma vez que muitos são os chamados e poucos os escolhidos. Pensemos cuidadosamente nisto! *Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
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quinta-feira, 18 de agosto de 2011
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