O REINO DE DEUS ESTÁ ENTRE VÓS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Cristo asseverou: “O reino de Deus está entre vós” (Lc 17,21). Trata-se a presença do Divino Espírito Santo no coração de quem se acha em estado de graça. Quando o cristão entra no país do silêncio, recolhendo-se na adoração do Ser Supremo presente dentro de si, nesta quietude jamais se sente a separação daquele do qual tudo se recebe e em tudo depende. É preciso uma imersão no oceano infinito da grandeza divina, consciência lúcida da habitação da Santíssima Trindade no íntimo de cada um. Este Deus não sabe ser ausente, se o coração não permanece de pedra, insensível, pois Ele deseja encher de paz, serenidade, de glória a vida de quem Lhe é fiel. Cumpre saber repousar nele, numa adesão incondicional às suas inspirações de cada momento. Desta maneira, a alma se liberta do vôo dos pensamentos opressores, desalentadores, longe das sombras da inquietude, do medo, da fobia, por se encontrar envolta na luminosidade celeste. Disto resulta a atenção de um espírito permanentemente sereno que invoca ininterruptamente as luzes do seu Senhor. Para isto é necessária a vigilância constante que controla a imaginação e as más sugestões do Inimigo, assim evitadas e vencidas galhardamente com a graça que nunca falta a quem corresponde à mesma. Esta prática contemplativa é possível a todos os batizados que não deixam de estar na presença de Deus. Todo e qualquer pânico é afastado conforme o que disse o salmista: “Com Deus faremos proezas” (Sl 60,12). Tudo se transforma em instrumento para o aprimoramento espiritual, em veículo para a busca do que Cristo preceituou: “Sede perfeitos como o Pai celeste é perfeito” (Mt 5,48). A alma não fica nunca prisioneira da instabilidade interior, das apreensões. Deixa brilhar o sol resplandecente que é Deus, o qual se acha no centro de si mesma. Renuncia às interpretações ilusórias dos acontecimentos. Os comentários sugeridos pela imaginação ficam sob controle, uma vez que a concentração no Hóspede divino impede divagações inúteis, justificativas sem fundamento perante qualquer aborrecimento. O esforço ininterrupto, visando este equilíbrio interior, engendra o hábito e certa continuidade da atenção que, por seu turno, procura uma visão direta de qualquer combate espiritual, sustentada pela prece constante que leva ao suave descanso do espírito. É o convite divino à serenidade por meio dos olhares voltados para a vastidão do Ser Infinito e tudo que poderia ser entrave para a comunhão com Ele se torna ocasião de progresso, apesar das vulnerabilidade própria da condição humana limitada, finita. A desconfiança de si mesmo é mudada na confiança radical em Deus e se compreende porque Jesus afirmou que “o Reino de Deus está entre vós”. Qualquer avalanche mental é superada. Os problemas se diluem, uma vez que o contato com Deus faz ver que a maioria das preocupações jamais vão acontecer e que são fruto apenas da imaginação. É a comunhão vivificadora, dinâmica e libertadora com o Espírito Santo. As feridas próprias do ser contingente podem existir e existirão sempre, mas o antítodo, que é esta união com a divindade, soluciona tudo. O olhar sábio para o Deus das misericórdias sem limites leva a uma fé jubilosa por entre qualquer sofrimento. Percebe-se que degustar plenamente a felicidade total só se dará lá no céu, onde há a realização completa do Reino, iniciado nesta terra, onde a paciência se faz necessária para não se desligar das realidades futuras na cidade permanente de que fala São Paulo (Hb 13,14). Tudo que conspira contra a percepção fica vencido por que no fundo do coração se capta a presença do Todo-poderoso. Deste modo, o cristão não recrimina nunca a si mesmo, porque entrega tudo ao juízo de Deus. Corrige o que deve ser corrigido, mas sem turbulência e sem a perda da tranqüilidade. A humildade, contudo, é condição basilar para se viver desta maneira o Reino de Deus e a alma se lembra continuamente de que os espinhos fazem parte de uma rosa como suas belas pétalas. Fixa-se na reta intenção que é o perfume que mais agrada a Deus. Os estratagemas mentais deletérios suscitados pela divagação do espírito são então inteiramente desarticulados, pois o reconhecimento da própria precariedade leva à maturidade espiritual. Chega-se ao autêntico conhecimento de si mesmo indispensável para não se esquecer que o Reino de Deus já está entre os que O amam. A entrega nas Suas mãos divinas leva ao abandono de si mesmo, das próprias fraquezas porque, no silêncio da união com Deus, nesta percepção clara de que o Seu Reino se encontra já entre nós, está a força que tudo vence, transformando as próprias debilidades em riqueza imensa. Os enigmas interiores ficam decifrados e nada pode abalar o cristão. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
terça-feira, 30 de agosto de 2011
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