FICAI PREPARADOS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
O alerta de Jesus “Vós também ficai preparados! Porque o Filho do Homem vai chegar na hora em que menos o esperardes” (Lc 12,40) deve levar o cristão a viver sempre, ininterruptamente, na presença de Deus. Daí a importância das preces curtas que podem ser repetidas a toda hora e em qualquer circunstância, pois elas criam inclusive um ambiente propício às outras orações às quais se dedica espaço maior de tempo. São poucas palavras que se assemelham às jaculatórias: Jesus; Meu Deus tem piedade de mim; Senhor eu te amo; ó Cristo eu confio em vós. Isto quer dizer atar a corda na âncora de pedra e, pela graça de Deus, a barca da vida do batizado atravessa serenamente as vagas mais tumultuosas. Esta barca é o coração que cumpre seja vigiado; a corda é o espírito humano que deve estar ligado a Deus o qual é a pedra inquebrantável que tem o poder sobre todas as ondas da travessia do mar da vida. O resultado desta postura é a ajuda divina na luta contras os pensamentos perturbadores, opressores, daí avindo a calma interior, a concentração em Deus longe das turbulências que podem se produzir como fruto das emoções, da imaginação não controlada. A quietude interior significa estar vigilante em qualquer momento e em qualquer hipótese. Isto supõe uma sábia disciplina espiritual que regula a bússola agitada das distrações que impedem estar imerso na imensidade daquele que é o Senhor no qual tudo existe. Trata-se de fixar continuamente a existência nas realidades sobrenaturais e não nas coisas da terra que precisam estar direcionadas unicamente para a própria santificação. Cumpre sair da prisão de tudo que impede a união com Deus que é amor, nunca se esquecendo o discípulo de Cristo que os seres todos participam deste amor divino. Isto coloca um óbice à agitação, a qualquer ansiedade e tira o cristão da ignorância do que com ele verdadeiramente ocorre, ou seja, que ele nunca está separado do Ser Supremo. Eis aí o grande dom oferecido a todos, antídoto contra o caos do espírito que leva à turbulência interior. A consciência de cada um, sua própria interioridade é mais profunda do que se supõe, pois a alma em estado de graça participa realmente da imensidão da luminosidade do Senhor de tudo. O ser pensante tem uma aptidão natural para estar unido ao Criador, mas não sabe muitas vezes explorar toda esta riqueza que se acha seu alcance. Muitos são os que se perdem em longas preces, mas sem se imergir de fato no oceano da bondade e grandeza divinas. É necessário treinar a inteligência do coração, centro profundo da pessoa humana que fica ciente que Deus é o fundo de todo o nosso ser. Diz Santo Agostinho: “Ele é teu ser, e nele tu és o que tu és”. Davi no salmo sessenta e dois deixou este conselho: “Em Deus apenas repousa-te, ó minha alma” (Sl 62,5). Deste modo é possível uma relação íntima do espírito humano com o Onipotente e tal cristão está sempre preparado para a chamada do mesmo com suas inspirações e, sobretudo, para o instante final da trajetória terrena. Fica tranquilo, sereno, imperturbável. Repete sempre “seja o que Deus quiser”, mas não de uma maneira fatalista, mas sim ontológica, bíblica, teológica. Deste modo tudo que o cristão faz fica espiritualizado com a retidão da intenção de se estar sempre servindo a Deus. Pode então com o salmista proclamar: “Júbilo para aquele que se abriga em Ti, Senhor, alegria eterna” (Sl 5,12). Atinge-se, desta maneira, a libertação, porque se deixa o Espírito Santo se manifestar sem colocar empecilhos à sua ação. Chega-se ao alto do monte de Sião onde habita Deus dentro de quem foi batizado e a alma fica livre das variações meteorológicas de que fala a Bíblia, porque o cristão rompe as cadeias que são as reações das divagações, da dolorosa alienação, dos ruídos exteriores. Se durante as preces surgem digressões indesejáveis, involuntárias, o fiel se acostuma a não fazer sobre elas comentários que se tornam as divagações das divagações, pois simplesmente as esquece. Deste modo, não desce da montanha sagrada onde Deus mora dentro dele. Assim se escapa do universo subtil das distrações, pois o Espírito Santo está no cristão, se o cristão quer estar imerso nele. Desta maneira, Deus faz maravilhas no interior de cada um. Santo Isaac, o Sírio, deixou esta magnífica orientação: “Esforça-te por entrar no recinto de teu coração, neste maravilhoso país do silêncio, encontrarás aí o tesouro do céu”. É, assim, que o verdadeiro discípulo de Jesus está sempre preparado como preceituou o Mestre divino. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
segunda-feira, 22 de agosto de 2011
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