O PAI DARÁ O ESPÍRITO SANTO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Faustosa a promessa de Jesus: “O pai do céu dará o Espírito Santo aos que o pedirem” (Lc 11,13). Este Espírito faz desaparecer o insignificante em favor do essencial e diante das dificuldades não deixa desfalecer nem cair na agitação. Leva a deparar na fé a vontade divina. Comunica uma atividade calma que envolve num só olhar o conjunto das tarefas diárias. Ajuda a aceitar tranquilamente as contradições inerentes à condição humana e imerge quem O recebe na perspectiva da eternidade. Conduz para longe da desordem interior e sela a comunhão com o Ser Supremo, dando a tudo o sentido do eterno e perene júbilo causado pela Sua presença. Opera maravilhas no coração do discípulo de Jesus por ser Luz de vida, uma brisa suave como se manifestou ao profeta Elias. O importante é ter consciência de sua ação no íntimo daquele que recebeu o batismo. Ele está oculto, mas revela as grandezas da divindade que habita na alma em estado de graça. Faz conhecer Cristo e manifesta quem é o Pai. É luminosidade que tudo clareia, por ser a força viva da esperança nos bens celestes, impulsionando o fiel a caminhar resoluto para frente rumo à redenção total, abrindo as portas de todas as prisões que tendem a impedir a união com Deus. É um aliado constante, agindo de maneira concreta na espiritualização de quem o abriga, vindo a seu encontro em todas as dimensões psicossomáticas e sobrenaturais. Envolve a inteligência, a afetividade, a vontade e, sobretudo, a parte essencial que a Bíblia resume e simboliza com o termo coração. Abre todas as potências humanas além delas mesmas. Segundo São Paulo o “amor de Deus foi difundido em nossos corações pelo Espírito Santo” (Rm 5,5) e este amor retifica, santifica todos os atos da vida, dando a cura espiritual e corporal a quem realmente nele crê ou sustentando o cristão sempre a repetir: “Tua graça me basta é ela que eu imploro”. É que Ele confere a inteligência do coração. Por tudo isto o importante é estar sempre centrado e concentrado nele e se sentir envolto nele, fazendo dele o lugar de refúgio permanente, muito além do espírito meramente discursivo. Esta descoberta da presença do Espírito Santo responde ao problema da dispersão da imaginação. Para isto cumpre impor silêncio às preocupações como ensina São Boaventura. Refletir no secreto da própria alma, numa imersão sempre mais profunda neste hóspede divino. Pena que muitos cristãos não sabem fazer a sublime viagem ao país do silêncio por se deixarem envolver pelo ruído exterior e, deste modo, não percebem o turbilhão do amor divino em si mesmos. Há, realmente uma luminosa vastidão dentro de cada um. Está escrito no Profeta Isaías: “Se vos retirardes e vos aquietardes, sereis salvos; tranqüilidade e confiança serão vossa força” (Is 30, 15). Entra-se no país do silêncio pelo silêncio do abandono de tudo que é transitório ou que possa contristar o Espírito Santo. Não se trata de um estratagema, de um artifício espiritual mas de um hábito, um exercício vigilante, constante, na busca da prática da quietude interior, a tomada de consciência da presença divina. O Espírito Santo é o fundo de nosso ser e a união com Ele não é algo que se possa adquirir pelo esforço, pois basta escutá-lo num instante de uma verdadeira oração que não exige verbosidade, mas atenciosa apreensão e compreensão das mensagens recebidas. Cumpre deixar o Espírito Santo se manifestar. Santo Agostinho exclamou num momento de pulcra inspiração: “Ó Beleza tão antiga e tão nova quão tarde eu Te conheci, quão tarde eu Te amei”. Deus é mais íntimo de cada um do que cada um de si mesmo. O que se esquece muitas vezes é que o Espírito Santo quer encher a vida do cristão de graça e de glória. Pelo batismo e pela eucaristia Deus faz o dom de si mesmo e estes sacramentos dão uma identidade profunda com Ele. Este então se percebe que se está em Deus e vencidos ficam os pensamentos opressores. O fiel se sente o ramo na videira que é Cristo, uma gota no oceano do amor divino. O Espírito Santo é a densidade da dileção incomensurável e o cristão está submerso nesta densidade, mas precisa valorizar esta riqueza imensa que possui dentro de si, deixando Deus falar e agir. Esta união com Deus no silêncio do coração é o fundamento de todos os processos mentais, oferecendo um pensamento preciso, disciplinado longe do caos exterior. O país do silêncio é intensamente pessoal e ao mesmo tempo, paradoxalmente, profundamente comunitário, porque onde está o Espírito Santo estão o Pai e o Filho e entrar na corrente trinitária é se deixar inebriar na felicidade total, como se do céu se estivesse já degustar nesta terra. Eis porque é de incomensurável valia o lembrete de Jesus: “O Pai do céu dará o Espírito Santo aos que o pedirem”. Ele que havia dito: “Pedi e recebereis” *Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
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quinta-feira, 18 de agosto de 2011
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