SE ALGUÉM QUER ME SERVIR, SIGA-ME
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
O diácono Lourenço, um dos santos mais venerados pela Antiguidade cristã e pela Idade Média e, depois, através dos tempos, foi um exemplo magnífico do que disse Jesus: “Se alguém quer me servir, siga-me” (Jo 12,26). Ele foi exaltado por grandes poetas como Prudêncio e Dante na Divina Comédia e foi representado por obras primas de pinturas de renomados artistas. Ele não só imitou o Mestre divino no serviço aos pobres de Roma, como ainda no martírio. Na perseguição de Valeriano foi preso e assado vivo sobre uma grelha, entregando, sereno e confiante, sua alma a Deus no dia 10 de agosto de 258. Um seguidor de Cristo, como São Lourenço, deixa uma mensagem sublime de engajamento total no Filho de Deus nos caminhos que Ele traçou para cada um. Trata-se do encontro com a pessoa de Jesus num desapego total de si mesmo. Isto significa que Filho de Deus deve ser o centro de gravidade em torno do qual tudo ganha sentido na vida do cristão, oferecendo o motivo da finalidade de cada ato determinado, realizado na mais total conformidade com Ele, pois enquanto homem Ele pôde afirmar que seu alimento era fazer a vontade do Pai (Jo 4,34). Portanto, segui-lO é fazer em tudo o que Deus quer nas circunstâncias da existência de cada um. Sob este ponto de vista tudo que o cristão realiza se torna um ato espiritual redimensionado, repleto de méritos para a eternidade. É o viver inteiramente para Cristo e em Cristo, como aconteceu com São Paulo que afirmou: “O meu viver é Cristo” (Fl 1,21). Então esta dileção ao divino Redentor, ainda que não exija um sacrifício tão grandioso como foi o de São Lourenço, faz com que o amor a Jesus seja o maior dos tesouros, vencendo todo egoísmo, todo entrave para uma total união com Deus, superando todos os obstáculos. Cumpre para isto inflamar o coração com o desejo ardente de um seguimento persistente daquele que se fez o caminho para se chegar à Casa do Pai. A abnegação que Jesus requer de seus discípulos deve ser dulcificada pela dedicação total a Ele. Esta é a maneira de se vencer todos os empecilhos que impedem o batizado de ser outro Cristo. O desejo de O seguir aquece o coração e então a cruz de cada instante se torna leve e rapidamente suportável e o dever específico de cada um é luminosamente executado. É que em Jesus deve estar imerso todo o ser de quem O segue. Ele quer consumar e transformar a vida do cristão em vida repleta de graça e de glória. Isto não se consegue com nenhuma técnica específica, pois é a verdade fundamental, que é o próprio Cristo, o que fortalece, robustece, como aconteceu com São Lourenço para quem o Mestre Divino nunca estava ausente, distante. É lógico que esta realidade só se pode dar para quem procura a paz interior para sentir-se sempre envolvido na presença divina. Esta quietude que se depara nos momentos de uma prece ardente faz entrever a sublime realidade de ser livre, jamais deixando de colocar seus passos nos passos de Jesus. No Evangelho de São João está escrito o que Cristo falou: “Eu sou a videira e vós os ramos” (Jo 15,5). Os ramos não estão separados da videira, mas fazem um com ela. Se alguém corta um ramo, ele logo seca, estiola. É nisto que muitos não pensam, esquecidos de que a maneira como se vê a Deus é a maneira mesma pela qual Deus vê o ser humano, uma mesma visão, um mesmo conhecimento, um mesmo amor. No Batismo, de fato, se dá uma metamorfose admirável, extraordinária, pois Deus se comunica à alma e lhe mostra uma total dileção, generosa, imensa como o oceano, com a qual Ele se comunica ternamente, fortalecendo para a superação dos percalços da condição humana sempre atraída para o que é terreno e não para o que é celeste. Compreende-se então o conselho de São Paulo: “Vós que ressuscitastes com Cristo, procurai as coisas do alto e não as da terra” (Col 3,1). Foi o que compreendeu magnificamente São Lourenço a ponto de sacrificar sua própria vida num tormento de proporções assustadoras. Por isto é que se pede a Deus na oração de sua festa conceder a cada um amar o que ele amou e praticar o que ele ensinou.
* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
quarta-feira, 10 de agosto de 2011
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