sábado, 6 de agosto de 2011

Médico do Corpo e da Alma

MÉDICO DO CORPO E DA ALMA
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho
A cura da filha da Cananéia mostra como Jesus é, de fato, o médico do corpo e da alma. Ele que curava todas as enfermidades físicas, também vinha de encontro às doenças espirituais. Ele escutou os brados de uma mãe aflita: “Minha filha está cruelmente atormentada por um demônio” (Mt 15,22). Após testar a humildade e a fé daquela suplicante, sua faustosa resposta: “Seja como tu queres. E desde esse momento sua filha ficou curada”. É que Cristo, o Verbo feito carne, é o grande salvador vindo do céu, poderoso para medicar todos os males humanos. No seu livro Confissões, assim se dirigiu Santo Agostinho ao Redentor: “Tu és o médico, eu sou o enfermo; tu és a misericórdia, eu sou a miséria” (X 28,39). Esta figura do Filho de Deus está no coração da teologia agostiniana. O grande doutor da Igreja focalizava sobretudo as curas espirituais das almas feridas pelo pecado ou vexadas pelo demônio, quando Jesus aplicava então sua terapêutica divina e, com seu poder, sempre triunfava do Inimigo. Ele, porém, continua esta ação através dos tempos. Sabe sempre diagnosticar o mal que atinge o homem e lhe oferece o remédio oportuno com uma notável competência celeste. Aliás, o próprio Jesus afirmara: “Não são os que têm boa saúde que precisam de médico, mas os doentes” (Mt 9,12). Muitas vezes as curas corporais que fazia eram também sinal de um restabelecimento espiritual. Ele olhava a situação psicossomática dos que a Ele recorriam com fé. Na parábola do Bom Samaritano ele exaltou a misericórdia de alguém devotado aos sofrimentos de um abandonado semimorto no caminho para Jericó. Era a figura dele mesmo continuamente cheio de amor para com os sofredores. A Cananéia estava aflita porque sua filha estava atormentada por satanás, que foi então inteiramente expulso daquela que o demônio amofinava, como, além disso, ocorreu com tantos endemoninhados. Em todos estes episódios, Cristo não apenas debelava o mal, mas oferecia o medicamento, ou seja, uma fé profunda. Esta inclui em si a humildade, porque se deixa de confiar nos homens e nos recursos naturais, para unicamente depositar nele a certeza de que Ele é, realmente, o senhor todo-poderoso que pode restaurar o ser racional na sua total integridade. Não há situação desesperadora, feridas profundas que Ele não possa definitivamente medicinar. Será, contudo, pelo espírito de fé que sua ação se irradia naquele que vem implorar seu olhar clínico. Ele se fez homem para que todos os humanos, que são carnais, pudessem perceber ao vivo sua divindade onipotente. Deste modo, se compreende melhor a dupla dimensão da Encarnação e da Redenção. Se Ele se fez carne e habitou entre nós foi para se adaptar à humanidade sofredora que viera remir. Demonstrou, porém, toda sua incontestável competência de médico do corpo e da alma e disto deve resultar uma confiança irremovível nele, uma esperança inalterável. São ambas os antídotos prescritos, mesmo porque não basta consultar um grande especialista, mas cumpre tomar rigorosamente os remédios. Entretanto, a grande diferença entre Cristo e os demais médicos é que Ele leva a quem Ele cura a participar de sua natureza divina, incorruptível, vitoriosa do mal dos males que é a morte. Pôde, com efeito, afirmar: “Quem crê em mim tem a vida eterna” (Jo 6,47). Isto porque Ele transfunde sua santidade, sua justiça para o corpo e para a alma daquele que crê ser Ele verdadeiramente o Filho de Deus que veio para que todos tivessem a vida e a tivessem em abundância (Jo 10,10), como acontecia com a Cananéia, a clamar: “Senhor, socorre-me”. Se ela julgasse que Ele era um simples homem não teria lançado apelo tão significativo. Para que se obtenha, porém, o socorro de qualquer médico é preciso estar consciente da gravidade do mal e desejar a saúde, insistir, lutar, pedir. Eis porque o mesmo Cristo advertiu: “Pedi e recebereis, buscai e encontrareis, batei e a porta se vos abrirá” (Mt 7,7). A Cananéia havia irritado de maneira tal os discípulos que eles tinham dito ao Mestre: “Manda embora essa mulher, pois ela vem gritando atrás de nós”. Ela, porém, foi persistente e, até, argumentou com Jesus, usando os próprios termos por Ele usados: “Até os cachorrinhos também comem as migalhas que caem da mesa de seus donos”, demonstrando não só uma profunda humildade, mas, sobretudo, a vontade firme de obter a cura da filha. Às vezes, Deus tarda um pouco a responder, mas se trata de um método pedagógico, tendendo a educar a pessoa para reconhecer a profundidade do mal em tela e a aumentar a certeza no seu poder. Eis porque, antes de proclamar a cura da filha da Cananéia, ele a elogiou: “Mulher, grande é a tua fé!" Nunca se deve esquecer que o tempo de Deus não é o tempo dos homens e que Jesus, o Médico divino, jamais falha e se deixa tocar sempre pelos que nele inteiramente confiam. *Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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