AMOR COM AMOR SE PAGA
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Deparamos no Antigo Testamento a prova definitiva de que em Deus a essência é igual à existência, pois Ele é eterno: “Eu sou o que sou” (Ex 3,14). No Novo Testamento, São João mostra que Ele é o oceano infinito de caridade: “Deus é amor” (1 Jo 2,16). É, realmente, o Amor criador, santificador, salvador. O Evangelho é a grande revelação desta sublime dileção divina, a base da devoção ao Sagrado Coração, caminho para usufruir a imensa ternura de Deus. Cumpre, por isto, recordar sempre como este Coração de Cristo se nos manifestou nos milagres, nas parábolas, nas conversões, na sua paixão e morte. A cena da multiplicação dos pães foi sumamente sugestiva: “Tenho compaixão deste povo” (Mt 13,32). Adite-se que Jesus não passou insensível ao lado da nossa dor: chorou sobre Lázaro a tristeza de Marta e Maria. Pediu, por onde passou, apenas um pouco de fé e a condicionou aos maiores prodígios. Assim se deu com o Pai do endemoninhado: “Se podes crer, tudo é possível ao que crê” (Mc 9,22). Esteve pronto para ouvir até um único suspiro, a mais curta oração: “Senhor, que eu veja!” (Lc 18,41). Às vezes antecipou-se ao pedido e foi ao encontro do sofrimento sem ser invocado, como ocorreu com a viúva de Naim e com o paralítico de Betsaida. Ostentou sempre um coração sensível e delicado em face da ingratidão: “Não foram dez (leprosos) que curei? E os demais nove onde estão?” (Lc 17,17). Ensinou a superioridade e a prioridade do amor fraternal sobre todas as outras observâncias, como se vê na cura em dia de sábado da mão seca: “Pois o sábado foi feito para o homem e não o homem para o sábado” (Mc 2,27). Sarou o corpo para chegar à alma, curá-la e salvar assim o homem inteiro, corpo e alma, como ocorreu com o paralítico: “Filho, tem confiança, são-te perdoados teus pecados” (Mt 9,2) e só depois acrescenta: “Toma teu leito, e vai para casa”. Distribuiu seus benefícios a todos, dignos e indignos, desde o primeiro milagre, até o último da sua vida mortal, no jardim das Oliveiras, restituindo a orelha a Malco, que viera para prendê-lo. Narrou parábolas nas quais patenteou pedagogicamente a bondade de Deus e elas, nos oferecem os elementos indispensáveis para descobrir e conhecer as leis do amor divino para conosco, dado que a benignidade, a doçura, a misericórdia são os elementos centrais destas parábolas. O amor do Coração de Jesus se manifestou ainda nas conversões que Ele pessoalmente operou. O encontro de Jesus com as almas foram instantes emocionantes, páginas comovedoras do Evangelho, a revelação prática e eloqüente do Seu desvelo para com os pecadores como aconteceu com a mulher adúltera, a samaritana, com Zaqueu, com Maria Madalena. Salvou o bom ladrão e reabilitou Pedro que o negara. Foi sobretudo, porém, na Sua paixão e morte que o vesúvio de sua dileção chegou ao ápice, São João atestou: “Jesus tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim” (Jo 13,1). Quatro aspectos marcantes:Amou-os até o fim da vida e com amor fiel, constante, indefectível que, desde o primeiro encontro com os Apóstolos, nunca se desmentiu e que brilhou, outrossim, nas últimas horas transcorridas com eles no Cenáculo, enquanto se preparava para lavar-lhes os pés; amou-os até à morte, pois, quis dar a sua vida como prova suprema do seu amor: “Ninguém ama mais do que aquele que dá a sua vida pela pessoa amada” ( Jo 15,13). Assim, depois do seu sacrifício no Calvário ninguém mais poderia mais duvidar de Sua bondade infinita. Acrescente-se que amou mesmo no fim da sua vida, isto é, justamente quando os homens mais do que nunca se haviam tornados indignos de tão grande amor, abandonando-O, traindo-O, renegando-O (1 Cor 11,23); amou até o máximo do amor, instituindo, inclusive, a Eucaristia, o dom mais maravilhoso do seu Coração, em que seu amor divino e humano por nós venceu as barreiras do tempo e do espaço. Por tudo isto, a devoção ao Sagrado Coração oferece a vantagem incomparável de fazer o seu discípulo penetrar na vida íntima do Verbo encarnado de que o Evangelho é a revelação mais fiel. Em 1746, declararam os Bispos da Polônia, com toda razão, em sua petição à Roma, para a instituição da Festa do Sagrado Coração, que “o Coração de Jesus deve ser considerado como coração que forma um único objeto com a sua alma e pessoa divina; como o símbolo e a sede natural de todas as virtudes e de todos os sentimentos íntimos de Cristo, particularmente em seu amor imenso do Pai e para todos os homens; como o centro de todos os sofrimentos íntimos que o amável Salvador suportou por nós durante a sua vida mortal e sobretudo durante a sua Paixão”. Amor com amor se paga. Saibamos, então, amar este Coração divino, vivendo santamente, reparando os pecados que se cometem no mundo todo, fazendo o apostolado da oração.. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
segunda-feira, 1 de agosto de 2011
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