AUTO-CONHECIMENTO E PRUDÊNCIA EM JULGAR
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Uma das grandes máximas do filósofo grego Sócrates foi esta: “Conhece-te a ti mesmo”. O auto-conhecimento implica duas etapas importantes sintetizadas neste dito do poeta Goethe: “É um grande defeito se acreditar mais do que é e de se estimar menos do que se vale”. No primeiro caso há a presença do orgulho que impede que a pessoa possa se corrigir de seus defeitos, suas fraquezas, uma vez que somente Deus é perfeito. Foi o que disse Jesus aos que acusavam uma pobre pecadora: “Quem estiver sem pecado, atire a primeira pedra” (Jo 8,7). Davi foi claro no salmo 129: “Se levardes em conta as nossas culpas, Senhor meu, quem poderá subsistir?” (129,2). Por outro lado, este exame de consciência sincero não pode nunca levar à baixa-estima, julgando-se cada um menos do que vale. A escola de psicologia de Le Senne, sábio francês ensina que todos nós temos qualidades com as quais nascemos e que constituem o perfil caracterológico de cada um. Tais dons se não forem, porém, bem administrados, geram os defeitos. Assim, por exemplo, o tipo fleugmático, pessoa da ordem e do dever, que é dotado de grandes talentos, se não os souber bem praticar, acaba por ser tornar intransigente, enquadrando os outros em seus esquemas mentais. Cumpre, portanto, o conhecimento próprio para se chegar a um equilíbrio psicossomático que leva ao progresso individual e torna o cristão eficiente nas suas tarefas diárias e no trato com o semelhante. Nada pior, em conseqüência, do que alguém execrar-se, odiar-se não explorando o potencial que possui. Isto gera depressão, insegurança, incerteza, indecisão, perplexidade. Quem, contudo, tem de si mesmo um conhecimento perfeito, este será sempre prudente no que tange à consideração da conduta do próximo. Aliás, a ordem de Jesus foi claríssima: “Não julgueis, para não serdes julgados. Porque com o juízo com que julgardes, sereis julgados, e com a medida com que medirdes, vos será medido. Por que vês o argueiro no olho do teu irmão e não advertes a trave que tens no teu olho [ ... ] hipócrita tira, primeiro a trave do teu olho e então verás bem, para tirar o argueiro do olho do teu irmão” (Mt, 7,1- 5). Esta recomendação do Mestre divino é de uma necessidade sem medidas, uma vez que está provado e comprovado pela psicologia que cada um transfere sempre para o outro seus próprios defeitos. Assim o quem rouba, estima que todo mundo é ladrão. Quando se escuta alguém recriminando o próximo, isto é prova cabal de que ele está vendo no seu irmão o que domina o seu coração. É, deste modo, sumamente prudente não estar a cortar e a recortar a vida alheia, porque o que se estaria fazendo é colocando para fora a maldade que está dentro de si mesmo. Por tudo isso o sucesso na vida social depende do bom julgamento próprio e das ações alheias. Em nossos dias, quando tudo leva a um subjetivismo alarmante, fruto do individualismo que aflora de um egoísmo deletério, multiplicam-se os penosos problemas das relações mútuas. Trata-se do convívio com os amigos, com os familiares, com os companheiros de trabalho. É preciso, antes de tudo, que cada um procure, realmente, se auto-realizar, mesmo porque quem não sabe conviver consigo mesmo nunca obterá êxito com os outros. Nada pior para uma pessoa do que a perda da auto-confiança. O pedagogo divino, Jesus Cristo, aliás ordenou que cada um amasse o próximo como a si mesmo (Mc 12,31). Auto-realizar-se significa alcançar sua potencialidade num amadurecimento cotidiano, ou seja, cada um deve ser hoje melhor do que foi ontem em tentativas bem orquestradas ao som do discernimento interior. Uma norma elementar é que ninguém, como foi dito, deve querer moldar os outros à sua imagem e semelhança. É uma arte descobrir, no relacionamento diário, o que normalmente se chama de “mania”, mas que vem a ser laivos do modo de ser de cada um. Cumpre chegar a um denominador comum. Há necessidade de uma retroalimentação contínua que patenteia até onde cada um vai progredindo. A chamada auto-correção é imprescindível, pois impede enganos e desvios. Não se podem desprezar os reforços da experiência do passado que alimentam as atitudes no presente. Nada desgasta mais o ser humano do que o conflito sem motivo ou que deveria ser evitado. O segredo da vida é transformar a agitação em cooperação. Nada mais necessário do que baixar o nível de defensividade, abolindo definitivamente acusações mútuas. A interação emocional é de vital importância em toda parte. Atitudes negativas devem ser evitadas pois causam ressentimentos, aumentam a taxa de absenteísmo e reduzem o nível de energia positiva. Nas relações humanas se os presentes e doações são sinais de consideração, estima e apoio, nem sempre são um reforço positivo, se o que foi exposto acima faltar e se ele se configurar como suborno afetivo, um ataque gratuito ao próximo. É preciso sempre a busca de reforços interpessoais, como a atenção que se manifesta nos mínimos detalhes, incluindo não se querer dominar o outro. Neste caso específico apontar erros através de queixas inoportunas é um desacerto muitas vezes irreparável. Apresentar soluções é o caminho certo. Nos momentos de angústia, ocasionada seja por quem for, nada mais saudável do que uma caminhada tranqüila, contemplando as belezas que o Criador esmou por toda parte. O contacto com a natureza acalma, tranqüiliza, reforça as energias interiores. Para tudo na vida há solução, desde que cada um se conheça a si mesmo e seja prudente no julgamento próprio e das ações do próximo. *Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
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