FRUTIFICAR PARA O CÉU
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Jesus na parábola das minas quis mostrar que cumpre frutificar para o céu (Lc 19,11-26). O servo que não agiu com sabedoria foi duramente repreendido e perdeu até o que lhe tinha sido dado. Para multiplicar os dons outorgados por Deus um dos meios mais valiosos é a humildade, porque o cristão, não confiando em si mesmo, invocando sempre a proteção divina, produz muitos frutos para a vida eterna. Com efeito, a humildade é o espaço aberto do conhecimento de si que se abre para Deus. Trata-se do reconhecimento da própria fraqueza e dependência total do Ser Supremo, baseado no que disse Jesus: “Sem mim nada podeis fazer” (Jo 15,5). A vulnerabilidade do pecado original atinge todos os seres humanos, com exceção da Virgem Maria e ainda os mais santos dos homens ou as mais santas das mulheres estão sujeitos a esta condição humana. Entretanto há duas espécies de humildade: uma imperfeita e outra perfeita. A imperfeita leva ao reconhecimento das próprias faltas ainda que sejam leves e à aceitação da debilidade humana diante da santidade incomensurável da Trindade Santa. A perfeita é o autêntico conhecimento de si e o humilde diz sempre a Deus: “Tu és o Ser Eterno, Necessário e nós somos seres contingentes, finitos, limitados”. Deste modo o cristão vai além de suas fraquezas para se imergir inteiramente no seu Senhor, amando-o apesar de suas limitações, nele inteiramente confiando e não desanimando nunca, passando sempre as páginas da existência e não olhando para trás. Resulta este posicionamento do amor superabundante e eminente de Deus em si mesmo. Diante dele toda natureza treme, todos os eruditos são tolos e todos os santos e anjos são meras criaturas. Por isto ninguém tem direito de desesperar de suas debilidades, mas deve confiar totalmente neste Deus infinitamente santo e misericordioso. Tal humildade une ao amor insondável de Deus que é o fundo do nosso ser. Então o cristão caminha sempre para frente dando frutos opimos de perfeição, colocando em prática o conselho de um grande santo: “Ama nesciri et pro nihilo reputari – Ama ser desconhecido e tido por nada pelos homens”, só se preocupando então em amar mais e mais a seu Senhor. Para se passar da humildade imperfeita para a perfeita cumpre esquecer todo conhecimento e todo sentimento do próprio ser, sem se preocupar se ele é santo ou miserável. Atinge então a alma do batizado plena maturidade e pode dar frutos cem por um. Este abandono de si mesmo torna fértil o terreno do coração. Muitos são os que tomados pelo senso profundo do horror ao pecado não se perdoam a si mesmo o que não passa de um ato de orgulho. Perfeito é só Deus. O reconhecimento das próprias faltas e o remorso têm seu lugar, mas a ruminação incessante dos mesmos não passa de um estratagema mental que é explorado pelo Inimigo e leva a uma divagação mental interior inútil e perigosa, porque o cristão fica com o foco sempre voltado para si e não para Deus. É óbvio que a humildade imperfeita é um substrato necessário, mas é insuficiente. Nada há de mais humilde do que a consciência das falhas humanas, mas a humildade perfeita faz ir além renunciando até ao sentimento estar com o coração partido, desolado, pois isto poderia levar à inércia. O verdadeiro humilde se aceita como é e sabe que as deficiências fazem parte da procura de Deus. Percebe também que há duas espécies de arrependimento: o primeiro é um simples pesar, o segundo é um arrependimento divino e resulta numa grande alegria espiritual que eleva a alma acima de toda tristeza e a liga fortemente a Deus. Então o cristão assim se dirige a Ele: “Senhor, apesar de toda minha fraqueza, eu confio em vós”. Qualquer ansiedade fica vencida . O humilde descobre que o fim da estima de si é o abandono nas mãos do Pai misericordioso, o esquecimento de si mesmo no silêncio de Deus. Compreende-se então o que disse São Paulo: “Por isso, por amor de Cristo, regozijo-me nas fraquezas, nos insultos, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias. Pois, quando sou fraco é que sou forte” (2 Cor 12,10). É que o humilde descobre a vastidão de seus abismos lá onde Cristo preside o desenrolar da litrugia de suas feridas humanas. O humilde pode então fazer frutificar os dons recebidos, multiplicando as minas a ele confiadas porque está sempre caminhando para frente rumo ao Deus três vezes Santo, no qual deposita a mais total confiança.* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
quarta-feira, 31 de agosto de 2011
terça-feira, 30 de agosto de 2011
AUTO-CONHECIMENTO DE PRUDÊNCIA EM JULGAR
AUTO-CONHECIMENTO E PRUDÊNCIA EM JULGAR
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Uma das grandes máximas do filósofo grego Sócrates foi esta: “Conhece-te a ti mesmo”. O auto-conhecimento implica duas etapas importantes sintetizadas neste dito do poeta Goethe: “É um grande defeito se acreditar mais do que é e de se estimar menos do que se vale”. No primeiro caso há a presença do orgulho que impede que a pessoa possa se corrigir de seus defeitos, suas fraquezas, uma vez que somente Deus é perfeito. Foi o que disse Jesus aos que acusavam uma pobre pecadora: “Quem estiver sem pecado, atire a primeira pedra” (Jo 8,7). Davi foi claro no salmo 129: “Se levardes em conta as nossas culpas, Senhor meu, quem poderá subsistir?” (129,2). Por outro lado, este exame de consciência sincero não pode nunca levar à baixa-estima, julgando-se cada um menos do que vale. A escola de psicologia de Le Senne, sábio francês ensina que todos nós temos qualidades com as quais nascemos e que constituem o perfil caracterológico de cada um. Tais dons se não forem, porém, bem administrados, geram os defeitos. Assim, por exemplo, o tipo fleugmático, pessoa da ordem e do dever, que é dotado de grandes talentos, se não os souber bem praticar, acaba por ser tornar intransigente, enquadrando os outros em seus esquemas mentais. Cumpre, portanto, o conhecimento próprio para se chegar a um equilíbrio psicossomático que leva ao progresso individual e torna o cristão eficiente nas suas tarefas diárias e no trato com o semelhante. Nada pior, em conseqüência, do que alguém execrar-se, odiar-se não explorando o potencial que possui. Isto gera depressão, insegurança, incerteza, indecisão, perplexidade. Quem, contudo, tem de si mesmo um conhecimento perfeito, este será sempre prudente no que tange à consideração da conduta do próximo. Aliás, a ordem de Jesus foi claríssima: “Não julgueis, para não serdes julgados. Porque com o juízo com que julgardes, sereis julgados, e com a medida com que medirdes, vos será medido. Por que vês o argueiro no olho do teu irmão e não advertes a trave que tens no teu olho [ ... ] hipócrita tira, primeiro a trave do teu olho e então verás bem, para tirar o argueiro do olho do teu irmão” (Mt, 7,1- 5). Esta recomendação do Mestre divino é de uma necessidade sem medidas, uma vez que está provado e comprovado pela psicologia que cada um transfere sempre para o outro seus próprios defeitos. Assim o quem rouba, estima que todo mundo é ladrão. Quando se escuta alguém recriminando o próximo, isto é prova cabal de que ele está vendo no seu irmão o que domina o seu coração. É, deste modo, sumamente prudente não estar a cortar e a recortar a vida alheia, porque o que se estaria fazendo é colocando para fora a maldade que está dentro de si mesmo. Por tudo isso o sucesso na vida social depende do bom julgamento próprio e das ações alheias. Em nossos dias, quando tudo leva a um subjetivismo alarmante, fruto do individualismo que aflora de um egoísmo deletério, multiplicam-se os penosos problemas das relações mútuas. Trata-se do convívio com os amigos, com os familiares, com os companheiros de trabalho. É preciso, antes de tudo, que cada um procure, realmente, se auto-realizar, mesmo porque quem não sabe conviver consigo mesmo nunca obterá êxito com os outros. Nada pior para uma pessoa do que a perda da auto-confiança. O pedagogo divino, Jesus Cristo, aliás ordenou que cada um amasse o próximo como a si mesmo (Mc 12,31). Auto-realizar-se significa alcançar sua potencialidade num amadurecimento cotidiano, ou seja, cada um deve ser hoje melhor do que foi ontem em tentativas bem orquestradas ao som do discernimento interior. Uma norma elementar é que ninguém, como foi dito, deve querer moldar os outros à sua imagem e semelhança. É uma arte descobrir, no relacionamento diário, o que normalmente se chama de “mania”, mas que vem a ser laivos do modo de ser de cada um. Cumpre chegar a um denominador comum. Há necessidade de uma retroalimentação contínua que patenteia até onde cada um vai progredindo. A chamada auto-correção é imprescindível, pois impede enganos e desvios. Não se podem desprezar os reforços da experiência do passado que alimentam as atitudes no presente. Nada desgasta mais o ser humano do que o conflito sem motivo ou que deveria ser evitado. O segredo da vida é transformar a agitação em cooperação. Nada mais necessário do que baixar o nível de defensividade, abolindo definitivamente acusações mútuas. A interação emocional é de vital importância em toda parte. Atitudes negativas devem ser evitadas pois causam ressentimentos, aumentam a taxa de absenteísmo e reduzem o nível de energia positiva. Nas relações humanas se os presentes e doações são sinais de consideração, estima e apoio, nem sempre são um reforço positivo, se o que foi exposto acima faltar e se ele se configurar como suborno afetivo, um ataque gratuito ao próximo. É preciso sempre a busca de reforços interpessoais, como a atenção que se manifesta nos mínimos detalhes, incluindo não se querer dominar o outro. Neste caso específico apontar erros através de queixas inoportunas é um desacerto muitas vezes irreparável. Apresentar soluções é o caminho certo. Nos momentos de angústia, ocasionada seja por quem for, nada mais saudável do que uma caminhada tranqüila, contemplando as belezas que o Criador esmou por toda parte. O contacto com a natureza acalma, tranqüiliza, reforça as energias interiores. Para tudo na vida há solução, desde que cada um se conheça a si mesmo e seja prudente no julgamento próprio e das ações do próximo. *Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Uma das grandes máximas do filósofo grego Sócrates foi esta: “Conhece-te a ti mesmo”. O auto-conhecimento implica duas etapas importantes sintetizadas neste dito do poeta Goethe: “É um grande defeito se acreditar mais do que é e de se estimar menos do que se vale”. No primeiro caso há a presença do orgulho que impede que a pessoa possa se corrigir de seus defeitos, suas fraquezas, uma vez que somente Deus é perfeito. Foi o que disse Jesus aos que acusavam uma pobre pecadora: “Quem estiver sem pecado, atire a primeira pedra” (Jo 8,7). Davi foi claro no salmo 129: “Se levardes em conta as nossas culpas, Senhor meu, quem poderá subsistir?” (129,2). Por outro lado, este exame de consciência sincero não pode nunca levar à baixa-estima, julgando-se cada um menos do que vale. A escola de psicologia de Le Senne, sábio francês ensina que todos nós temos qualidades com as quais nascemos e que constituem o perfil caracterológico de cada um. Tais dons se não forem, porém, bem administrados, geram os defeitos. Assim, por exemplo, o tipo fleugmático, pessoa da ordem e do dever, que é dotado de grandes talentos, se não os souber bem praticar, acaba por ser tornar intransigente, enquadrando os outros em seus esquemas mentais. Cumpre, portanto, o conhecimento próprio para se chegar a um equilíbrio psicossomático que leva ao progresso individual e torna o cristão eficiente nas suas tarefas diárias e no trato com o semelhante. Nada pior, em conseqüência, do que alguém execrar-se, odiar-se não explorando o potencial que possui. Isto gera depressão, insegurança, incerteza, indecisão, perplexidade. Quem, contudo, tem de si mesmo um conhecimento perfeito, este será sempre prudente no que tange à consideração da conduta do próximo. Aliás, a ordem de Jesus foi claríssima: “Não julgueis, para não serdes julgados. Porque com o juízo com que julgardes, sereis julgados, e com a medida com que medirdes, vos será medido. Por que vês o argueiro no olho do teu irmão e não advertes a trave que tens no teu olho [ ... ] hipócrita tira, primeiro a trave do teu olho e então verás bem, para tirar o argueiro do olho do teu irmão” (Mt, 7,1- 5). Esta recomendação do Mestre divino é de uma necessidade sem medidas, uma vez que está provado e comprovado pela psicologia que cada um transfere sempre para o outro seus próprios defeitos. Assim o quem rouba, estima que todo mundo é ladrão. Quando se escuta alguém recriminando o próximo, isto é prova cabal de que ele está vendo no seu irmão o que domina o seu coração. É, deste modo, sumamente prudente não estar a cortar e a recortar a vida alheia, porque o que se estaria fazendo é colocando para fora a maldade que está dentro de si mesmo. Por tudo isso o sucesso na vida social depende do bom julgamento próprio e das ações alheias. Em nossos dias, quando tudo leva a um subjetivismo alarmante, fruto do individualismo que aflora de um egoísmo deletério, multiplicam-se os penosos problemas das relações mútuas. Trata-se do convívio com os amigos, com os familiares, com os companheiros de trabalho. É preciso, antes de tudo, que cada um procure, realmente, se auto-realizar, mesmo porque quem não sabe conviver consigo mesmo nunca obterá êxito com os outros. Nada pior para uma pessoa do que a perda da auto-confiança. O pedagogo divino, Jesus Cristo, aliás ordenou que cada um amasse o próximo como a si mesmo (Mc 12,31). Auto-realizar-se significa alcançar sua potencialidade num amadurecimento cotidiano, ou seja, cada um deve ser hoje melhor do que foi ontem em tentativas bem orquestradas ao som do discernimento interior. Uma norma elementar é que ninguém, como foi dito, deve querer moldar os outros à sua imagem e semelhança. É uma arte descobrir, no relacionamento diário, o que normalmente se chama de “mania”, mas que vem a ser laivos do modo de ser de cada um. Cumpre chegar a um denominador comum. Há necessidade de uma retroalimentação contínua que patenteia até onde cada um vai progredindo. A chamada auto-correção é imprescindível, pois impede enganos e desvios. Não se podem desprezar os reforços da experiência do passado que alimentam as atitudes no presente. Nada desgasta mais o ser humano do que o conflito sem motivo ou que deveria ser evitado. O segredo da vida é transformar a agitação em cooperação. Nada mais necessário do que baixar o nível de defensividade, abolindo definitivamente acusações mútuas. A interação emocional é de vital importância em toda parte. Atitudes negativas devem ser evitadas pois causam ressentimentos, aumentam a taxa de absenteísmo e reduzem o nível de energia positiva. Nas relações humanas se os presentes e doações são sinais de consideração, estima e apoio, nem sempre são um reforço positivo, se o que foi exposto acima faltar e se ele se configurar como suborno afetivo, um ataque gratuito ao próximo. É preciso sempre a busca de reforços interpessoais, como a atenção que se manifesta nos mínimos detalhes, incluindo não se querer dominar o outro. Neste caso específico apontar erros através de queixas inoportunas é um desacerto muitas vezes irreparável. Apresentar soluções é o caminho certo. Nos momentos de angústia, ocasionada seja por quem for, nada mais saudável do que uma caminhada tranqüila, contemplando as belezas que o Criador esmou por toda parte. O contacto com a natureza acalma, tranqüiliza, reforça as energias interiores. Para tudo na vida há solução, desde que cada um se conheça a si mesmo e seja prudente no julgamento próprio e das ações do próximo. *Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
O REINO DE DEUS ESTÁ ENTRE NÓS
O REINO DE DEUS ESTÁ ENTRE VÓS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Cristo asseverou: “O reino de Deus está entre vós” (Lc 17,21). Trata-se a presença do Divino Espírito Santo no coração de quem se acha em estado de graça. Quando o cristão entra no país do silêncio, recolhendo-se na adoração do Ser Supremo presente dentro de si, nesta quietude jamais se sente a separação daquele do qual tudo se recebe e em tudo depende. É preciso uma imersão no oceano infinito da grandeza divina, consciência lúcida da habitação da Santíssima Trindade no íntimo de cada um. Este Deus não sabe ser ausente, se o coração não permanece de pedra, insensível, pois Ele deseja encher de paz, serenidade, de glória a vida de quem Lhe é fiel. Cumpre saber repousar nele, numa adesão incondicional às suas inspirações de cada momento. Desta maneira, a alma se liberta do vôo dos pensamentos opressores, desalentadores, longe das sombras da inquietude, do medo, da fobia, por se encontrar envolta na luminosidade celeste. Disto resulta a atenção de um espírito permanentemente sereno que invoca ininterruptamente as luzes do seu Senhor. Para isto é necessária a vigilância constante que controla a imaginação e as más sugestões do Inimigo, assim evitadas e vencidas galhardamente com a graça que nunca falta a quem corresponde à mesma. Esta prática contemplativa é possível a todos os batizados que não deixam de estar na presença de Deus. Todo e qualquer pânico é afastado conforme o que disse o salmista: “Com Deus faremos proezas” (Sl 60,12). Tudo se transforma em instrumento para o aprimoramento espiritual, em veículo para a busca do que Cristo preceituou: “Sede perfeitos como o Pai celeste é perfeito” (Mt 5,48). A alma não fica nunca prisioneira da instabilidade interior, das apreensões. Deixa brilhar o sol resplandecente que é Deus, o qual se acha no centro de si mesma. Renuncia às interpretações ilusórias dos acontecimentos. Os comentários sugeridos pela imaginação ficam sob controle, uma vez que a concentração no Hóspede divino impede divagações inúteis, justificativas sem fundamento perante qualquer aborrecimento. O esforço ininterrupto, visando este equilíbrio interior, engendra o hábito e certa continuidade da atenção que, por seu turno, procura uma visão direta de qualquer combate espiritual, sustentada pela prece constante que leva ao suave descanso do espírito. É o convite divino à serenidade por meio dos olhares voltados para a vastidão do Ser Infinito e tudo que poderia ser entrave para a comunhão com Ele se torna ocasião de progresso, apesar das vulnerabilidade própria da condição humana limitada, finita. A desconfiança de si mesmo é mudada na confiança radical em Deus e se compreende porque Jesus afirmou que “o Reino de Deus está entre vós”. Qualquer avalanche mental é superada. Os problemas se diluem, uma vez que o contato com Deus faz ver que a maioria das preocupações jamais vão acontecer e que são fruto apenas da imaginação. É a comunhão vivificadora, dinâmica e libertadora com o Espírito Santo. As feridas próprias do ser contingente podem existir e existirão sempre, mas o antítodo, que é esta união com a divindade, soluciona tudo. O olhar sábio para o Deus das misericórdias sem limites leva a uma fé jubilosa por entre qualquer sofrimento. Percebe-se que degustar plenamente a felicidade total só se dará lá no céu, onde há a realização completa do Reino, iniciado nesta terra, onde a paciência se faz necessária para não se desligar das realidades futuras na cidade permanente de que fala São Paulo (Hb 13,14). Tudo que conspira contra a percepção fica vencido por que no fundo do coração se capta a presença do Todo-poderoso. Deste modo, o cristão não recrimina nunca a si mesmo, porque entrega tudo ao juízo de Deus. Corrige o que deve ser corrigido, mas sem turbulência e sem a perda da tranqüilidade. A humildade, contudo, é condição basilar para se viver desta maneira o Reino de Deus e a alma se lembra continuamente de que os espinhos fazem parte de uma rosa como suas belas pétalas. Fixa-se na reta intenção que é o perfume que mais agrada a Deus. Os estratagemas mentais deletérios suscitados pela divagação do espírito são então inteiramente desarticulados, pois o reconhecimento da própria precariedade leva à maturidade espiritual. Chega-se ao autêntico conhecimento de si mesmo indispensável para não se esquecer que o Reino de Deus já está entre os que O amam. A entrega nas Suas mãos divinas leva ao abandono de si mesmo, das próprias fraquezas porque, no silêncio da união com Deus, nesta percepção clara de que o Seu Reino se encontra já entre nós, está a força que tudo vence, transformando as próprias debilidades em riqueza imensa. Os enigmas interiores ficam decifrados e nada pode abalar o cristão. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Cristo asseverou: “O reino de Deus está entre vós” (Lc 17,21). Trata-se a presença do Divino Espírito Santo no coração de quem se acha em estado de graça. Quando o cristão entra no país do silêncio, recolhendo-se na adoração do Ser Supremo presente dentro de si, nesta quietude jamais se sente a separação daquele do qual tudo se recebe e em tudo depende. É preciso uma imersão no oceano infinito da grandeza divina, consciência lúcida da habitação da Santíssima Trindade no íntimo de cada um. Este Deus não sabe ser ausente, se o coração não permanece de pedra, insensível, pois Ele deseja encher de paz, serenidade, de glória a vida de quem Lhe é fiel. Cumpre saber repousar nele, numa adesão incondicional às suas inspirações de cada momento. Desta maneira, a alma se liberta do vôo dos pensamentos opressores, desalentadores, longe das sombras da inquietude, do medo, da fobia, por se encontrar envolta na luminosidade celeste. Disto resulta a atenção de um espírito permanentemente sereno que invoca ininterruptamente as luzes do seu Senhor. Para isto é necessária a vigilância constante que controla a imaginação e as más sugestões do Inimigo, assim evitadas e vencidas galhardamente com a graça que nunca falta a quem corresponde à mesma. Esta prática contemplativa é possível a todos os batizados que não deixam de estar na presença de Deus. Todo e qualquer pânico é afastado conforme o que disse o salmista: “Com Deus faremos proezas” (Sl 60,12). Tudo se transforma em instrumento para o aprimoramento espiritual, em veículo para a busca do que Cristo preceituou: “Sede perfeitos como o Pai celeste é perfeito” (Mt 5,48). A alma não fica nunca prisioneira da instabilidade interior, das apreensões. Deixa brilhar o sol resplandecente que é Deus, o qual se acha no centro de si mesma. Renuncia às interpretações ilusórias dos acontecimentos. Os comentários sugeridos pela imaginação ficam sob controle, uma vez que a concentração no Hóspede divino impede divagações inúteis, justificativas sem fundamento perante qualquer aborrecimento. O esforço ininterrupto, visando este equilíbrio interior, engendra o hábito e certa continuidade da atenção que, por seu turno, procura uma visão direta de qualquer combate espiritual, sustentada pela prece constante que leva ao suave descanso do espírito. É o convite divino à serenidade por meio dos olhares voltados para a vastidão do Ser Infinito e tudo que poderia ser entrave para a comunhão com Ele se torna ocasião de progresso, apesar das vulnerabilidade própria da condição humana limitada, finita. A desconfiança de si mesmo é mudada na confiança radical em Deus e se compreende porque Jesus afirmou que “o Reino de Deus está entre vós”. Qualquer avalanche mental é superada. Os problemas se diluem, uma vez que o contato com Deus faz ver que a maioria das preocupações jamais vão acontecer e que são fruto apenas da imaginação. É a comunhão vivificadora, dinâmica e libertadora com o Espírito Santo. As feridas próprias do ser contingente podem existir e existirão sempre, mas o antítodo, que é esta união com a divindade, soluciona tudo. O olhar sábio para o Deus das misericórdias sem limites leva a uma fé jubilosa por entre qualquer sofrimento. Percebe-se que degustar plenamente a felicidade total só se dará lá no céu, onde há a realização completa do Reino, iniciado nesta terra, onde a paciência se faz necessária para não se desligar das realidades futuras na cidade permanente de que fala São Paulo (Hb 13,14). Tudo que conspira contra a percepção fica vencido por que no fundo do coração se capta a presença do Todo-poderoso. Deste modo, o cristão não recrimina nunca a si mesmo, porque entrega tudo ao juízo de Deus. Corrige o que deve ser corrigido, mas sem turbulência e sem a perda da tranqüilidade. A humildade, contudo, é condição basilar para se viver desta maneira o Reino de Deus e a alma se lembra continuamente de que os espinhos fazem parte de uma rosa como suas belas pétalas. Fixa-se na reta intenção que é o perfume que mais agrada a Deus. Os estratagemas mentais deletérios suscitados pela divagação do espírito são então inteiramente desarticulados, pois o reconhecimento da própria precariedade leva à maturidade espiritual. Chega-se ao autêntico conhecimento de si mesmo indispensável para não se esquecer que o Reino de Deus já está entre os que O amam. A entrega nas Suas mãos divinas leva ao abandono de si mesmo, das próprias fraquezas porque, no silêncio da união com Deus, nesta percepção clara de que o Seu Reino se encontra já entre nós, está a força que tudo vence, transformando as próprias debilidades em riqueza imensa. Os enigmas interiores ficam decifrados e nada pode abalar o cristão. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
quinta-feira, 25 de agosto de 2011
Vantagens da humildade
TODO AQUELE QUE SE HUMILHAR SERÁ EXALTADO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Muitas vezes se tem da humildade cristã uma falsa idéia, o que leva a não serem decodificadas corretamente as palavras de Jesus: “Quem se humilha será exaltado” (Mt 23,12). A humildade é uma virtude, palavra que vem do latim virtus, ou seja, força, robustez, e não implica, portanto, fraqueza, pusilanimidade, baixa-estima. A humildade tem por fim moderar a inclinação inata ao ser humano para a grandeza, as honras, não permitindo que se ultrapassem as fronteiras marcadas por Deus, conhecidas pela razão e pela fé. Eis porque proclama o salmo 11: “Atrás da soberba vem a ignomínia, mas com os humildes segue a sabedoria” (Sl 11,2). Donde o conselho do Eclesiástico: “Quanto mais importante fores, tanto mais humilha-te” (Eclo 3,18). Santo Afonso de Ligório ensinou que “o primeiro traço da humildade é o modesto conceito de si mesmo”. A humildade, realmente, prospera nos corações que bem conhecem sua própria indigência, persuadidos intimamente de que tudo que possui procede de Deus. Cumpre, entretanto, criar raízes no coração para que nele impere tal atitude tão sublime contrária ao orgulho. Quem percorre os textos bíblicos conclui que se torna humilde quem sempre se põe diante do Ser Supremo, Ente necessário, sendo suas criaturas contingentes, isto é, existem, poderiam não existir e, existindo, tudo recebe do Todo-poderoso Senhor, Daí a argüição de São Paulo: “Que tens que tu não hajas recebido? E se o recebeste, porque te glorias como se não o tivesses recebido?” (1 Cor 4,7). É que a humildade nasce do conhecimento ontológico do Criador e apenas quem se põe em relação pessoa com Ele através da fé vence a soberba. Quem reconhece a glória e o poder divinos, percebe sua insignificância perante o Senhor do universo. Reconhece então as qualidades, os predicados que possui, mas não as atribui a si mesmo e, deste modo, se mostra agradecido a Deus e não se julga superior aos outros. São Tiago, por isto mesmo, proclamou: “Todo dom vem do alto e desce do Pai das luzes” (Tg 1,17). Por si mesmo, ninguém nada tem de si mesmo. Em segundo lugar, o humilde reconhece suas falhas humanas e é capaz de se corrigir. Se torna apto a perceber que somente Deus é santo e, por força do pecado original, a fraqueza leva muitas vezes ao pecado. Foi o que reconheceu São Pedro, quando Jesus mostrou seu poderio na pesca milagrosa: “Afasta-te de mim, Senhor, porque sou um homem pecador” (Lc 5,8). Esta postura, contudo, não leva ao ódio de si, o que seria uma amostra de empáfia, mas reabilita a pessoa que se volta para Deus com as palavras do salmista: “Senhor, se observares as nossas faltas, quem poderá subsistir?” (Sl 129,3) Arrepende-se sempre e isto o eleva, o exalta perante Deus. Eis por que o humilde tem uma confiança inabalável neste Deus que não resiste a um ato de humildade, como afirmou Davi: “Um coração contrito e humilhado, ó Deus, não desprezais” (Sl 50,19). Ele fez esta assertiva depois de ter assim orado: “Piedade de mim, ó Deus, pela vossa misericórdia e pela vossa grande clemência apagai os meus delitos (Idem v.3). Esta atitude mobiliza o poder divino para o humilde. Foi o que mostrou a Virgem Maria no seu hino gratulatório, dizendo que Deus resiste aos soberbos, aos humildes, porém, Ele dá a sua graça (Lc 1,52). O orgulhoso obscurece a glória do Senhor e não é capaz de reconhecer seus erros por se julgar mais sábio do que aquele que estabeleceu os mandamentos. De fato, todo pecado é um ato de arrogância, porque ao cometer conscientemente uma falta o homem passa recibo de ignorância a Deus e se julga no direito de fazer exatamente o contrário do que se acha no Decálogo. Enquanto o homem se confronta só consigo mesmo e com os outros ele deve ser pôr diante de Deus e da Palavra revelada que é o espelho no qual descobre seu verdadeiro rosto interior. Então adere a Cristo e O segue aonde ele for e se torna como ele “manso e humilde de coração” (Mt 11,28-30). Perante os outros o humilde sabe reconhecer as boas obras praticadas pelo próximo, enxerga suas qualidades e se torna incapaz de se julgar superior ao seu semelhante e imita a Jesus que não veio para ser servido, mas para servir e que preceituou: “Não julgueis e não sereis julgados”. A humildade não é só um ato interior, mas deve brotar atos concretos. O humilde obedece às autoridades constituídas e se submete às orientações do magistério eclesiástico. Esta virtude conduz então ao coração de Cristo que se humilhou, fazendo-se carne para permitir que o homem chegue à sua intimidade de amor. Tudo isto gera paz, serenidade, porque o humilde não é ambicioso, reconhece seus limites e uma vez que sabe que tudo lhe vem de Deus passa a cultivar os bens recebidos e, assim, tudo prospera em seu derredor. O humilde sempre cantará vitórias!* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Muitas vezes se tem da humildade cristã uma falsa idéia, o que leva a não serem decodificadas corretamente as palavras de Jesus: “Quem se humilha será exaltado” (Mt 23,12). A humildade é uma virtude, palavra que vem do latim virtus, ou seja, força, robustez, e não implica, portanto, fraqueza, pusilanimidade, baixa-estima. A humildade tem por fim moderar a inclinação inata ao ser humano para a grandeza, as honras, não permitindo que se ultrapassem as fronteiras marcadas por Deus, conhecidas pela razão e pela fé. Eis porque proclama o salmo 11: “Atrás da soberba vem a ignomínia, mas com os humildes segue a sabedoria” (Sl 11,2). Donde o conselho do Eclesiástico: “Quanto mais importante fores, tanto mais humilha-te” (Eclo 3,18). Santo Afonso de Ligório ensinou que “o primeiro traço da humildade é o modesto conceito de si mesmo”. A humildade, realmente, prospera nos corações que bem conhecem sua própria indigência, persuadidos intimamente de que tudo que possui procede de Deus. Cumpre, entretanto, criar raízes no coração para que nele impere tal atitude tão sublime contrária ao orgulho. Quem percorre os textos bíblicos conclui que se torna humilde quem sempre se põe diante do Ser Supremo, Ente necessário, sendo suas criaturas contingentes, isto é, existem, poderiam não existir e, existindo, tudo recebe do Todo-poderoso Senhor, Daí a argüição de São Paulo: “Que tens que tu não hajas recebido? E se o recebeste, porque te glorias como se não o tivesses recebido?” (1 Cor 4,7). É que a humildade nasce do conhecimento ontológico do Criador e apenas quem se põe em relação pessoa com Ele através da fé vence a soberba. Quem reconhece a glória e o poder divinos, percebe sua insignificância perante o Senhor do universo. Reconhece então as qualidades, os predicados que possui, mas não as atribui a si mesmo e, deste modo, se mostra agradecido a Deus e não se julga superior aos outros. São Tiago, por isto mesmo, proclamou: “Todo dom vem do alto e desce do Pai das luzes” (Tg 1,17). Por si mesmo, ninguém nada tem de si mesmo. Em segundo lugar, o humilde reconhece suas falhas humanas e é capaz de se corrigir. Se torna apto a perceber que somente Deus é santo e, por força do pecado original, a fraqueza leva muitas vezes ao pecado. Foi o que reconheceu São Pedro, quando Jesus mostrou seu poderio na pesca milagrosa: “Afasta-te de mim, Senhor, porque sou um homem pecador” (Lc 5,8). Esta postura, contudo, não leva ao ódio de si, o que seria uma amostra de empáfia, mas reabilita a pessoa que se volta para Deus com as palavras do salmista: “Senhor, se observares as nossas faltas, quem poderá subsistir?” (Sl 129,3) Arrepende-se sempre e isto o eleva, o exalta perante Deus. Eis por que o humilde tem uma confiança inabalável neste Deus que não resiste a um ato de humildade, como afirmou Davi: “Um coração contrito e humilhado, ó Deus, não desprezais” (Sl 50,19). Ele fez esta assertiva depois de ter assim orado: “Piedade de mim, ó Deus, pela vossa misericórdia e pela vossa grande clemência apagai os meus delitos (Idem v.3). Esta atitude mobiliza o poder divino para o humilde. Foi o que mostrou a Virgem Maria no seu hino gratulatório, dizendo que Deus resiste aos soberbos, aos humildes, porém, Ele dá a sua graça (Lc 1,52). O orgulhoso obscurece a glória do Senhor e não é capaz de reconhecer seus erros por se julgar mais sábio do que aquele que estabeleceu os mandamentos. De fato, todo pecado é um ato de arrogância, porque ao cometer conscientemente uma falta o homem passa recibo de ignorância a Deus e se julga no direito de fazer exatamente o contrário do que se acha no Decálogo. Enquanto o homem se confronta só consigo mesmo e com os outros ele deve ser pôr diante de Deus e da Palavra revelada que é o espelho no qual descobre seu verdadeiro rosto interior. Então adere a Cristo e O segue aonde ele for e se torna como ele “manso e humilde de coração” (Mt 11,28-30). Perante os outros o humilde sabe reconhecer as boas obras praticadas pelo próximo, enxerga suas qualidades e se torna incapaz de se julgar superior ao seu semelhante e imita a Jesus que não veio para ser servido, mas para servir e que preceituou: “Não julgueis e não sereis julgados”. A humildade não é só um ato interior, mas deve brotar atos concretos. O humilde obedece às autoridades constituídas e se submete às orientações do magistério eclesiástico. Esta virtude conduz então ao coração de Cristo que se humilhou, fazendo-se carne para permitir que o homem chegue à sua intimidade de amor. Tudo isto gera paz, serenidade, porque o humilde não é ambicioso, reconhece seus limites e uma vez que sabe que tudo lhe vem de Deus passa a cultivar os bens recebidos e, assim, tudo prospera em seu derredor. O humilde sempre cantará vitórias!* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
quarta-feira, 24 de agosto de 2011
ENTRAR PELA PORTA ESTREITA
ENTRAR PELA PORTA ESTREITA
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
A porta estreita que dá entrada ao céu supõe o carregar a cruz de cada hora. Tal o conselho de Jesus: “Fazei todo esforço possível para entrar pela porta estreita” (Lc 13,24). Alguns intérpretes da Bíblia, numa hermenêutica alegórica, vêem nesta porta aquela que dá passagem para a união com Deus dentro de cada coração, lá onde mora a Trindade Santa pela graça santificante. Entretanto, para se chegar ao limiar desta porta interior e por ela passar há duas etapas. A primeira é tudo realizar cônscio da presença divina, empregando a todo instante possível preces curtas. Estas, segundo Santo Agostinho, são como flechas de amor dirigidas ao Hóspede divino. São antídotos que afastam pensamentos perturbadores e mantêm a vigilância. O resultado é uma transformação terapêutica perante tudo que possa desviar a atenção do Ùnico necessário que é o Senhor de tudo. Reveste-se então o cristão de uma armadura espiritual que o faz apto para a diversidade e complexidade das lutas interiores. Segundo João Cassiano, são preces de fogo que apagam qualquer desânimo, alimentando a alma, protegendo-a contra as invectivas exteriores do Maligno. Com isto, se evita também a digressão da imaginação nos momentos das demais orações. Oferece a paz interior, a apatheia que sempre tiveram os grandes santos e que é viável para todos os discípulos de Jesus. A segunda etapa para se chegar à porta que se abre para a união com Deus é viver com intensidade o momento presente, colocando entre parêntesis o passado e o futuro. Toda ação fica então sumamente meritória e se torna meio eficiente de purificação. Isto impede que a imaginação trace uma teia de idéias vãs que impedem a reta intenção de em tudo agradar ao Ser Supremo. Deste modo os pensamentos negativos, depressivos, inúteis e até sem sentido, aparecem, mas logo desaparecem. Completadas estas etapas, diante da porta estreita que leva à comunhão com Deus dentro do próprio coração, cumpre estar envolto no silêncio interior, sem qualquer preocupação externa, para o encontro inefável com a Santíssima Trindade. A quietude do espírito é a chave que abre para degustar a presença sublime da divindade que é abismo de luz. A consciência inteira se imerge no Senhor num olhar silencioso longe de toda agitação, para além do caos, da confusão, da ansiedade. Dá-se o contato com a obscuridade luminosa de que falam os santos e, por um instante, o cristão percebe e como que toca o Infinito, momentos que podem se repetir na vida do seguidor de Cristo, desde que se ponha em condições de se unir a seu Criador lá no íntimo de si mesmo. Trata-se de uma liturgia pessoal que é um reflexo da liturgia celeste, ou seja, o degustar da eternidade no tempo. A alma consegue ir além das palavras para simplesmente estar com Deus. Este articulista que morou com o Arcebispo Dom Oscar de Oliveira durante seu episcopado de vinte e oito anos em Mariana escutou várias vezes dele ao voltar o sábio Antístite de suas Visitas Pastorais que muitos eram os fiéis que, embora sem grande cultura, viviam uma vida intensa de oração. Possuíam uma acendrada espiritualidade. É que o importante é não colocar óbices a ação do Divino Espírito Santo e deixar que Ele fale. Saber escutar. Como ocorreu com o Profeta Elias, Deus não está na rajada do vento, nem num terremoto, nem no fogo, mas sim num leve sussurro do silêncio (1Reis 19,11), numa suave brisa. A presença de Deus é quase imperceptível, mas percebida pelos que penetram no país do silêncio interior pela porta estreita que leva à união com Ele que amadurece os seus desígnios no sossego de uma prece tranqüila. Para isto o fiel deve estar despojado de si mesmo para captar a eternidade no tempo numa intuição que ultrapassa as emoções, as tensões na descoberta daquele no qual se vive. O ser do cristão fica escondido com Cristo em Deus, como falou São Paulo aos Colossenses. Para isto, aconselha este Apóstolo, cumpre se interessar pelas coisas celestes e não pelas coisas terrenas (Cl 3, 2-4). Tal atitude supõe constância dia a dia, uma prática cotidiana é a chave que abre para a vastidão da imensidade do Todo-poderoso. Isto é a graça maravilhosa de quem sabe orar através da prece da quietude, pérola de grande preço. Sem intermitências não se esquece de seu Senhor. Feliz, porém, aquele que procura perseverantemente passar sempre pela porta estreita que conduz assim a um contato profundo com Deus, pois pode já na terra degustar um pouco das delícias eternas! * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
A porta estreita que dá entrada ao céu supõe o carregar a cruz de cada hora. Tal o conselho de Jesus: “Fazei todo esforço possível para entrar pela porta estreita” (Lc 13,24). Alguns intérpretes da Bíblia, numa hermenêutica alegórica, vêem nesta porta aquela que dá passagem para a união com Deus dentro de cada coração, lá onde mora a Trindade Santa pela graça santificante. Entretanto, para se chegar ao limiar desta porta interior e por ela passar há duas etapas. A primeira é tudo realizar cônscio da presença divina, empregando a todo instante possível preces curtas. Estas, segundo Santo Agostinho, são como flechas de amor dirigidas ao Hóspede divino. São antídotos que afastam pensamentos perturbadores e mantêm a vigilância. O resultado é uma transformação terapêutica perante tudo que possa desviar a atenção do Ùnico necessário que é o Senhor de tudo. Reveste-se então o cristão de uma armadura espiritual que o faz apto para a diversidade e complexidade das lutas interiores. Segundo João Cassiano, são preces de fogo que apagam qualquer desânimo, alimentando a alma, protegendo-a contra as invectivas exteriores do Maligno. Com isto, se evita também a digressão da imaginação nos momentos das demais orações. Oferece a paz interior, a apatheia que sempre tiveram os grandes santos e que é viável para todos os discípulos de Jesus. A segunda etapa para se chegar à porta que se abre para a união com Deus é viver com intensidade o momento presente, colocando entre parêntesis o passado e o futuro. Toda ação fica então sumamente meritória e se torna meio eficiente de purificação. Isto impede que a imaginação trace uma teia de idéias vãs que impedem a reta intenção de em tudo agradar ao Ser Supremo. Deste modo os pensamentos negativos, depressivos, inúteis e até sem sentido, aparecem, mas logo desaparecem. Completadas estas etapas, diante da porta estreita que leva à comunhão com Deus dentro do próprio coração, cumpre estar envolto no silêncio interior, sem qualquer preocupação externa, para o encontro inefável com a Santíssima Trindade. A quietude do espírito é a chave que abre para degustar a presença sublime da divindade que é abismo de luz. A consciência inteira se imerge no Senhor num olhar silencioso longe de toda agitação, para além do caos, da confusão, da ansiedade. Dá-se o contato com a obscuridade luminosa de que falam os santos e, por um instante, o cristão percebe e como que toca o Infinito, momentos que podem se repetir na vida do seguidor de Cristo, desde que se ponha em condições de se unir a seu Criador lá no íntimo de si mesmo. Trata-se de uma liturgia pessoal que é um reflexo da liturgia celeste, ou seja, o degustar da eternidade no tempo. A alma consegue ir além das palavras para simplesmente estar com Deus. Este articulista que morou com o Arcebispo Dom Oscar de Oliveira durante seu episcopado de vinte e oito anos em Mariana escutou várias vezes dele ao voltar o sábio Antístite de suas Visitas Pastorais que muitos eram os fiéis que, embora sem grande cultura, viviam uma vida intensa de oração. Possuíam uma acendrada espiritualidade. É que o importante é não colocar óbices a ação do Divino Espírito Santo e deixar que Ele fale. Saber escutar. Como ocorreu com o Profeta Elias, Deus não está na rajada do vento, nem num terremoto, nem no fogo, mas sim num leve sussurro do silêncio (1Reis 19,11), numa suave brisa. A presença de Deus é quase imperceptível, mas percebida pelos que penetram no país do silêncio interior pela porta estreita que leva à união com Ele que amadurece os seus desígnios no sossego de uma prece tranqüila. Para isto o fiel deve estar despojado de si mesmo para captar a eternidade no tempo numa intuição que ultrapassa as emoções, as tensões na descoberta daquele no qual se vive. O ser do cristão fica escondido com Cristo em Deus, como falou São Paulo aos Colossenses. Para isto, aconselha este Apóstolo, cumpre se interessar pelas coisas celestes e não pelas coisas terrenas (Cl 3, 2-4). Tal atitude supõe constância dia a dia, uma prática cotidiana é a chave que abre para a vastidão da imensidade do Todo-poderoso. Isto é a graça maravilhosa de quem sabe orar através da prece da quietude, pérola de grande preço. Sem intermitências não se esquece de seu Senhor. Feliz, porém, aquele que procura perseverantemente passar sempre pela porta estreita que conduz assim a um contato profundo com Deus, pois pode já na terra degustar um pouco das delícias eternas! * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
O MANDAMENTO MAIOR
O MANDAMENTO MAIOR
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
O cristianismo é por excelência a religião centrada no amor. Jesus foi claro na resposta que deu ao fariseu que O interrogou sobre o mandamento maior da Lei:”Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento!” (Mt 22, 37). A vida cristã deve, portanto, ser uma educação contínua para esta dileção incondicional ao Ser Supremo. Cristo estimula seu seguidor a dar um sentido extraordinário à sua vida pessoal. Para isto é preciso descobrir o que é o ágape, isto é, o amor-caridade, para possibilitar o desenvolvimento das linhas de força do preceito divino. É que o amor deve mover a vontade à busca efetiva do bem dos outros. Foi esta a razão pela qual Jesus acrescentou: O segundo mandamento é semelhante a esse: “Amarás ao teu próximo como a ti mesmo”. São João depois explicará: “Se alguém disser: “Amo a Deus”, e odiar seu irmão é mentiroso. Em verdade, quem não ama o seu irmão, que vê, não pode amar a Deus que não vê e este mandamento recebemo-lo dêle: quem ama a Deus, ame também a seu irmão”. (1 Jo 4, 20-21). A fonte, porém, é o próprio Deus o qual, segundo o mesmo São João, é amor (1 Jo 4,7). Eis porque teologicamente há uma sequência: amar a Deus, amar a si mesmo e amar o próximo. Este mecanismo, este encadeamento é lógico. Imerso no oceano infinito de afeição, que é o Criador, esta se desdobra em afeição a si mesmo e aos outros. Este Deus que é mar imenso de ternura habita pela graça santificante a alma do cristão que precisa ter consciência desta realidade sublime. Santo Agostinho exclamou: “Tarde eu te amei, ó beleza tão antiga e tão nova, tarde eu te amei! No entanto tu estavas dentro de mim e eu vivia fora”. Por tudo isto, é necessário degustar o amor de Deus por nós e no sentido inverso nosso amor para com Ele. Isto supõe total disponibilidade. Amar a Deus, ensina Santo Tomás de Aquino, é fácil porque Ele é “o ser mais amável pelo ser mesmo”. Para se saber, porém, se há este amor, em primeiro lugar, é verificar se os mandamentos são observados, pois a prova da dileção são as obras conforme a vontade da pessoa amada. Depois, é examinar se a alegria, a paz reinam no próprio coração como fruto do dom de si mesmo manifestado em todas as tarefas da existência as quais custam sacrifício. Com efeito, se isto é fruto do amor, tudo é feito com júbilo interior, porque sua fonte deve tudo irrigar. É preciso ainda estar consciente de que a aliança entre Deus e nós é o fundamento da aliança entre nós conosco mesmos e entre nós e os outros. Se a dileção começa para si mesmo, reinará o egoísmo, o narcisismo com todas as suas consequências funestas. Se começa pelo próximo falta a seiva principal que é o amor de Deus, do qual deve ser um desdobramento natural a dileção ao semelhante. Então, sim, o amor ao próximo não parece opor-se ao amor de si mesmo, nem ao amor de Deus. Aos romanos São Paulo mostrou que “o amor de Deus se encontra largamente difundido nos nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado” (Rm 5,5). Quando então o cristão procura entrar em si mesmo, na sua realidade interior, ele depara esta presença amorosa de Deus nele e passa a amar a si mesmo e ao próximo. Quando alguém se encontra na baixa estima, no ódio de si mesmo e se torna incapaz de amar os outros para os quais passa a transferir todas as suas mazelas e misérias espirituais, é porque lhe falta a dileção ao Senhor de onde promana a verdadeira caridade. Esta descomplica a própria existência e facilita a ajuda oportuna aos outros sob todos os aspectos. Diante de todas estas reflexões se conclui que, na verdade, não há senão dois mandamentos que não formam senão um, mas sendo três as matérias do amor. Um amor, dois mandamentos semelhantes entre si e três objetos, ou seja, o amor a Deus, a si mesmo e aos semelhantes. Trata-se de um itinerário sublime que envolve a vida do cristão numa bem-aventurança total, porque todos os desvios são evitados e jamais se confundirá o amor com o apego a si mesmo e os desvirtuamentos da adesão ao que é material, animalizando a dileção verdadeira nas maiores baixezas morais. Em torno do amor se fabricam na sociedade todos os mecanismos de ilusões. Os atos de amor do cristão não podem nunca ser produção de um imaginário deturpado. Como o amor é inato ao ser racional ele se torna objeto de todo tipo de manipulação a serviço do sexo, do consumismo, dos prazeres que bestializam quem foi criado à imagem e semelhança de Deus. Esquecido o Criador, a criatura dotada de inteligência deixa de amar a si mesma e se destroi nas drogas, na bebida, nos derregramentos morais. Cessa, por isto mesmo, de amar o próximo e daí toda uma onda de crimes, de corrupção. Falta ao mundo de hoje, mais do que nunca, o amor a Deus e que não se pode intercalar nada entre nós e Deus, entre o próximo e Deus, pois tudo deve estar envolvido no esplendor divino. Temos uma inteligência, uma autonomia e uma liberdade. Seguir em tudo a vontade de Deus por amor a Ele não é ser uma marionete, um robô. Eis porque cumpre sempre refletir sobre a imensa riqueza do preceito do amor a Deus para incarnar nas minudências do dia a dia todo seu esplendor, longe dos critérios de um mundo que tanto fala do amor e não conhece o verdadeiro amor. Este não pode fluir da sensibilidade imediata, das reações e emoções meramente carnais, mas de sua nascente divina que é o próprio Deus. Apenas o senso do divino, sobrenaturaliza as ações humanas. Então se praticará um cristianismo sólido, porque fundado no amor de Deus que habita naquele que O ama e se deixa inteiramente possuir por Ele. Então, sim, já se degusta na terra um pouco da ventura do céu, porque pelo amor o cristão percebe a eternidade dentro de si. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
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Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
O cristianismo é por excelência a religião centrada no amor. Jesus foi claro na resposta que deu ao fariseu que O interrogou sobre o mandamento maior da Lei:”Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento!” (Mt 22, 37). A vida cristã deve, portanto, ser uma educação contínua para esta dileção incondicional ao Ser Supremo. Cristo estimula seu seguidor a dar um sentido extraordinário à sua vida pessoal. Para isto é preciso descobrir o que é o ágape, isto é, o amor-caridade, para possibilitar o desenvolvimento das linhas de força do preceito divino. É que o amor deve mover a vontade à busca efetiva do bem dos outros. Foi esta a razão pela qual Jesus acrescentou: O segundo mandamento é semelhante a esse: “Amarás ao teu próximo como a ti mesmo”. São João depois explicará: “Se alguém disser: “Amo a Deus”, e odiar seu irmão é mentiroso. Em verdade, quem não ama o seu irmão, que vê, não pode amar a Deus que não vê e este mandamento recebemo-lo dêle: quem ama a Deus, ame também a seu irmão”. (1 Jo 4, 20-21). A fonte, porém, é o próprio Deus o qual, segundo o mesmo São João, é amor (1 Jo 4,7). Eis porque teologicamente há uma sequência: amar a Deus, amar a si mesmo e amar o próximo. Este mecanismo, este encadeamento é lógico. Imerso no oceano infinito de afeição, que é o Criador, esta se desdobra em afeição a si mesmo e aos outros. Este Deus que é mar imenso de ternura habita pela graça santificante a alma do cristão que precisa ter consciência desta realidade sublime. Santo Agostinho exclamou: “Tarde eu te amei, ó beleza tão antiga e tão nova, tarde eu te amei! No entanto tu estavas dentro de mim e eu vivia fora”. Por tudo isto, é necessário degustar o amor de Deus por nós e no sentido inverso nosso amor para com Ele. Isto supõe total disponibilidade. Amar a Deus, ensina Santo Tomás de Aquino, é fácil porque Ele é “o ser mais amável pelo ser mesmo”. Para se saber, porém, se há este amor, em primeiro lugar, é verificar se os mandamentos são observados, pois a prova da dileção são as obras conforme a vontade da pessoa amada. Depois, é examinar se a alegria, a paz reinam no próprio coração como fruto do dom de si mesmo manifestado em todas as tarefas da existência as quais custam sacrifício. Com efeito, se isto é fruto do amor, tudo é feito com júbilo interior, porque sua fonte deve tudo irrigar. É preciso ainda estar consciente de que a aliança entre Deus e nós é o fundamento da aliança entre nós conosco mesmos e entre nós e os outros. Se a dileção começa para si mesmo, reinará o egoísmo, o narcisismo com todas as suas consequências funestas. Se começa pelo próximo falta a seiva principal que é o amor de Deus, do qual deve ser um desdobramento natural a dileção ao semelhante. Então, sim, o amor ao próximo não parece opor-se ao amor de si mesmo, nem ao amor de Deus. Aos romanos São Paulo mostrou que “o amor de Deus se encontra largamente difundido nos nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado” (Rm 5,5). Quando então o cristão procura entrar em si mesmo, na sua realidade interior, ele depara esta presença amorosa de Deus nele e passa a amar a si mesmo e ao próximo. Quando alguém se encontra na baixa estima, no ódio de si mesmo e se torna incapaz de amar os outros para os quais passa a transferir todas as suas mazelas e misérias espirituais, é porque lhe falta a dileção ao Senhor de onde promana a verdadeira caridade. Esta descomplica a própria existência e facilita a ajuda oportuna aos outros sob todos os aspectos. Diante de todas estas reflexões se conclui que, na verdade, não há senão dois mandamentos que não formam senão um, mas sendo três as matérias do amor. Um amor, dois mandamentos semelhantes entre si e três objetos, ou seja, o amor a Deus, a si mesmo e aos semelhantes. Trata-se de um itinerário sublime que envolve a vida do cristão numa bem-aventurança total, porque todos os desvios são evitados e jamais se confundirá o amor com o apego a si mesmo e os desvirtuamentos da adesão ao que é material, animalizando a dileção verdadeira nas maiores baixezas morais. Em torno do amor se fabricam na sociedade todos os mecanismos de ilusões. Os atos de amor do cristão não podem nunca ser produção de um imaginário deturpado. Como o amor é inato ao ser racional ele se torna objeto de todo tipo de manipulação a serviço do sexo, do consumismo, dos prazeres que bestializam quem foi criado à imagem e semelhança de Deus. Esquecido o Criador, a criatura dotada de inteligência deixa de amar a si mesma e se destroi nas drogas, na bebida, nos derregramentos morais. Cessa, por isto mesmo, de amar o próximo e daí toda uma onda de crimes, de corrupção. Falta ao mundo de hoje, mais do que nunca, o amor a Deus e que não se pode intercalar nada entre nós e Deus, entre o próximo e Deus, pois tudo deve estar envolvido no esplendor divino. Temos uma inteligência, uma autonomia e uma liberdade. Seguir em tudo a vontade de Deus por amor a Ele não é ser uma marionete, um robô. Eis porque cumpre sempre refletir sobre a imensa riqueza do preceito do amor a Deus para incarnar nas minudências do dia a dia todo seu esplendor, longe dos critérios de um mundo que tanto fala do amor e não conhece o verdadeiro amor. Este não pode fluir da sensibilidade imediata, das reações e emoções meramente carnais, mas de sua nascente divina que é o próprio Deus. Apenas o senso do divino, sobrenaturaliza as ações humanas. Então se praticará um cristianismo sólido, porque fundado no amor de Deus que habita naquele que O ama e se deixa inteiramente possuir por Ele. Então, sim, já se degusta na terra um pouco da ventura do céu, porque pelo amor o cristão percebe a eternidade dentro de si. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
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segunda-feira, 22 de agosto de 2011
Ficai preparados
FICAI PREPARADOS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
O alerta de Jesus “Vós também ficai preparados! Porque o Filho do Homem vai chegar na hora em que menos o esperardes” (Lc 12,40) deve levar o cristão a viver sempre, ininterruptamente, na presença de Deus. Daí a importância das preces curtas que podem ser repetidas a toda hora e em qualquer circunstância, pois elas criam inclusive um ambiente propício às outras orações às quais se dedica espaço maior de tempo. São poucas palavras que se assemelham às jaculatórias: Jesus; Meu Deus tem piedade de mim; Senhor eu te amo; ó Cristo eu confio em vós. Isto quer dizer atar a corda na âncora de pedra e, pela graça de Deus, a barca da vida do batizado atravessa serenamente as vagas mais tumultuosas. Esta barca é o coração que cumpre seja vigiado; a corda é o espírito humano que deve estar ligado a Deus o qual é a pedra inquebrantável que tem o poder sobre todas as ondas da travessia do mar da vida. O resultado desta postura é a ajuda divina na luta contras os pensamentos perturbadores, opressores, daí avindo a calma interior, a concentração em Deus longe das turbulências que podem se produzir como fruto das emoções, da imaginação não controlada. A quietude interior significa estar vigilante em qualquer momento e em qualquer hipótese. Isto supõe uma sábia disciplina espiritual que regula a bússola agitada das distrações que impedem estar imerso na imensidade daquele que é o Senhor no qual tudo existe. Trata-se de fixar continuamente a existência nas realidades sobrenaturais e não nas coisas da terra que precisam estar direcionadas unicamente para a própria santificação. Cumpre sair da prisão de tudo que impede a união com Deus que é amor, nunca se esquecendo o discípulo de Cristo que os seres todos participam deste amor divino. Isto coloca um óbice à agitação, a qualquer ansiedade e tira o cristão da ignorância do que com ele verdadeiramente ocorre, ou seja, que ele nunca está separado do Ser Supremo. Eis aí o grande dom oferecido a todos, antídoto contra o caos do espírito que leva à turbulência interior. A consciência de cada um, sua própria interioridade é mais profunda do que se supõe, pois a alma em estado de graça participa realmente da imensidão da luminosidade do Senhor de tudo. O ser pensante tem uma aptidão natural para estar unido ao Criador, mas não sabe muitas vezes explorar toda esta riqueza que se acha seu alcance. Muitos são os que se perdem em longas preces, mas sem se imergir de fato no oceano da bondade e grandeza divinas. É necessário treinar a inteligência do coração, centro profundo da pessoa humana que fica ciente que Deus é o fundo de todo o nosso ser. Diz Santo Agostinho: “Ele é teu ser, e nele tu és o que tu és”. Davi no salmo sessenta e dois deixou este conselho: “Em Deus apenas repousa-te, ó minha alma” (Sl 62,5). Deste modo é possível uma relação íntima do espírito humano com o Onipotente e tal cristão está sempre preparado para a chamada do mesmo com suas inspirações e, sobretudo, para o instante final da trajetória terrena. Fica tranquilo, sereno, imperturbável. Repete sempre “seja o que Deus quiser”, mas não de uma maneira fatalista, mas sim ontológica, bíblica, teológica. Deste modo tudo que o cristão faz fica espiritualizado com a retidão da intenção de se estar sempre servindo a Deus. Pode então com o salmista proclamar: “Júbilo para aquele que se abriga em Ti, Senhor, alegria eterna” (Sl 5,12). Atinge-se, desta maneira, a libertação, porque se deixa o Espírito Santo se manifestar sem colocar empecilhos à sua ação. Chega-se ao alto do monte de Sião onde habita Deus dentro de quem foi batizado e a alma fica livre das variações meteorológicas de que fala a Bíblia, porque o cristão rompe as cadeias que são as reações das divagações, da dolorosa alienação, dos ruídos exteriores. Se durante as preces surgem digressões indesejáveis, involuntárias, o fiel se acostuma a não fazer sobre elas comentários que se tornam as divagações das divagações, pois simplesmente as esquece. Deste modo, não desce da montanha sagrada onde Deus mora dentro dele. Assim se escapa do universo subtil das distrações, pois o Espírito Santo está no cristão, se o cristão quer estar imerso nele. Desta maneira, Deus faz maravilhas no interior de cada um. Santo Isaac, o Sírio, deixou esta magnífica orientação: “Esforça-te por entrar no recinto de teu coração, neste maravilhoso país do silêncio, encontrarás aí o tesouro do céu”. É, assim, que o verdadeiro discípulo de Jesus está sempre preparado como preceituou o Mestre divino. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
O alerta de Jesus “Vós também ficai preparados! Porque o Filho do Homem vai chegar na hora em que menos o esperardes” (Lc 12,40) deve levar o cristão a viver sempre, ininterruptamente, na presença de Deus. Daí a importância das preces curtas que podem ser repetidas a toda hora e em qualquer circunstância, pois elas criam inclusive um ambiente propício às outras orações às quais se dedica espaço maior de tempo. São poucas palavras que se assemelham às jaculatórias: Jesus; Meu Deus tem piedade de mim; Senhor eu te amo; ó Cristo eu confio em vós. Isto quer dizer atar a corda na âncora de pedra e, pela graça de Deus, a barca da vida do batizado atravessa serenamente as vagas mais tumultuosas. Esta barca é o coração que cumpre seja vigiado; a corda é o espírito humano que deve estar ligado a Deus o qual é a pedra inquebrantável que tem o poder sobre todas as ondas da travessia do mar da vida. O resultado desta postura é a ajuda divina na luta contras os pensamentos perturbadores, opressores, daí avindo a calma interior, a concentração em Deus longe das turbulências que podem se produzir como fruto das emoções, da imaginação não controlada. A quietude interior significa estar vigilante em qualquer momento e em qualquer hipótese. Isto supõe uma sábia disciplina espiritual que regula a bússola agitada das distrações que impedem estar imerso na imensidade daquele que é o Senhor no qual tudo existe. Trata-se de fixar continuamente a existência nas realidades sobrenaturais e não nas coisas da terra que precisam estar direcionadas unicamente para a própria santificação. Cumpre sair da prisão de tudo que impede a união com Deus que é amor, nunca se esquecendo o discípulo de Cristo que os seres todos participam deste amor divino. Isto coloca um óbice à agitação, a qualquer ansiedade e tira o cristão da ignorância do que com ele verdadeiramente ocorre, ou seja, que ele nunca está separado do Ser Supremo. Eis aí o grande dom oferecido a todos, antídoto contra o caos do espírito que leva à turbulência interior. A consciência de cada um, sua própria interioridade é mais profunda do que se supõe, pois a alma em estado de graça participa realmente da imensidão da luminosidade do Senhor de tudo. O ser pensante tem uma aptidão natural para estar unido ao Criador, mas não sabe muitas vezes explorar toda esta riqueza que se acha seu alcance. Muitos são os que se perdem em longas preces, mas sem se imergir de fato no oceano da bondade e grandeza divinas. É necessário treinar a inteligência do coração, centro profundo da pessoa humana que fica ciente que Deus é o fundo de todo o nosso ser. Diz Santo Agostinho: “Ele é teu ser, e nele tu és o que tu és”. Davi no salmo sessenta e dois deixou este conselho: “Em Deus apenas repousa-te, ó minha alma” (Sl 62,5). Deste modo é possível uma relação íntima do espírito humano com o Onipotente e tal cristão está sempre preparado para a chamada do mesmo com suas inspirações e, sobretudo, para o instante final da trajetória terrena. Fica tranquilo, sereno, imperturbável. Repete sempre “seja o que Deus quiser”, mas não de uma maneira fatalista, mas sim ontológica, bíblica, teológica. Deste modo tudo que o cristão faz fica espiritualizado com a retidão da intenção de se estar sempre servindo a Deus. Pode então com o salmista proclamar: “Júbilo para aquele que se abriga em Ti, Senhor, alegria eterna” (Sl 5,12). Atinge-se, desta maneira, a libertação, porque se deixa o Espírito Santo se manifestar sem colocar empecilhos à sua ação. Chega-se ao alto do monte de Sião onde habita Deus dentro de quem foi batizado e a alma fica livre das variações meteorológicas de que fala a Bíblia, porque o cristão rompe as cadeias que são as reações das divagações, da dolorosa alienação, dos ruídos exteriores. Se durante as preces surgem digressões indesejáveis, involuntárias, o fiel se acostuma a não fazer sobre elas comentários que se tornam as divagações das divagações, pois simplesmente as esquece. Deste modo, não desce da montanha sagrada onde Deus mora dentro dele. Assim se escapa do universo subtil das distrações, pois o Espírito Santo está no cristão, se o cristão quer estar imerso nele. Desta maneira, Deus faz maravilhas no interior de cada um. Santo Isaac, o Sírio, deixou esta magnífica orientação: “Esforça-te por entrar no recinto de teu coração, neste maravilhoso país do silêncio, encontrarás aí o tesouro do céu”. É, assim, que o verdadeiro discípulo de Jesus está sempre preparado como preceituou o Mestre divino. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
Muitos chamados, pooucos escolhidos
MUITOS CHAMADOS, POUCOS ESCOLHIDOS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Séria a advertência de Jesus: “Muitos são chamados, poucos escolhidos” (Mt 22, 14). Para entrar no Reino dos Céus o próprio Mestre divino deu a orientação: “Aquele que perseverar até o fim, esta estará salvo” (Mt 10,22). Para não ser excluído do Banquete eterno é preciso “o traje de festa” que é a graça santificante recebida no Batismo, a qual, se perdida pelo pecado grave, pode, entretanto, ser recuperada através do Sacramento da Penitência. Muitos são os perigos aos quais estão expostos aqueles que preiteiam estar junto de Deus por toda a eternidade na Cidade dos Santos. Estes lutaram bravamente contra as insídias diabólicas, as aliciações mundanas, numa vigilância contínua para a observância dos Mandamentos da Lei divina. Perseveraram, por isto foram escolhidos. Procuraram sempre obedecer à vontade de Deus, fugiram de tudo que pudesse levar a perder a dignidade de cristãos. Foram corajosos. Todo aquele que almeja ser salvo tem necessidade imperiosa da fidelidade total às inspirações do Divino Espírito Santo, da fuga ininterrupta e corajosa das ocasiões perigosas, da oração sem tréguas, da freqüência aos Sacramentos e da mortificação. Estes meios impedem o fiel de se entregar à iniqüidade, evitando o mal e praticando o bem. Tudo isto supõe que se renovem sempre os bons propósitos para lhes dar perenidade, do que resulta um caráter firme que nunca se desvia do caminho da retidão. Esta é a disposição de quem tem plena consciência de sua incorporação a Cristo ressuscitado. Desta incorporação ao Redentor vitorioso deduz São Paulo todas as normas da vida cristã, donde o seu conselho: “Entregai-vos todos a Deus como ressuscitados da morte para a vida”. Para que haja esta constância ininterrupta, o pensamento do céu fortalece o cristão nos embates contra as ciladas do demônio e do mundo, pois tal é a promessa de Deus no Apocalipse: “Sê fiel até a morte e te darei a coroa da vida” (Ap 2,10). Isto inclui a paciência por entre as lutas diárias contra tudo que coloque em risco a salvação eterna, impedindo a entrada no Banquete celeste. Está claro no Evangelho: “Mediante vossa paciência salvareis as vossas almas” (Lc 21,19). É deste modo que se obtém o vigor para a prática das virtudes que serão premiadas por toda a eternidade. Adite-se a todos estes recursos valiosos para se tornar um eleito do Senhor a imprescindível vigilância que é a irmã gêmea da prudência na conduta de todos os momentos. É o que advertiu Jesus: “Velai, pois, já que ã sabeis a que hora em que há vir o vosso Senhor” (Mt 24,42). O desejo da salvação é grande, mas a carne é fraca e daí ser imprescindível estar alerta para não sucumbir na caminhada para a felicidade eterna. Todo cuidado é pouco para que não se tornem pesados os corações com a libertinagem, a embriaguez e as preocupações da vida e se possa estar sempre entre os eleitos. Velar, pois, orando em todo o tempo para se achar em condições de estar firmes na presença de Deus na hora da morte. Eis o motivo pelo qual é preciso estar em vida morto para os prazeres ilícitos, para o vício, para o pecado, para o mal. Como muito bem disse o poeta, “mortos não são aqueles que jazem numa tumba fria, mortos são os que têm morta a alma e vivem todavia”. Entretanto para quem cumpriu o seu dever, para o pecador sinceramente arrependido, para quem fez de sua vida um hino de louvor a Deus e de serviço ao próximo fechar-se-á a porta do tempo e logo se abrirão os pórticos luminosos da Jerusalém celeste. Este, sim, estará arrolado entre os escolhidos para a ventura perene no Reino dos céus. O que causou pena durante a vida, mas foi suportado com afeto a Deus é que dará alegria. Aliás, na hora da morte o que causará pesar, foi o que se buscou com gosto, por vezes com tantos desgostos, fora dos caminhos de Deus. Garantir a salvação, eis o que mais deve preocupar quem tem bom senso neste mundo, pois tudo mais é secundário e nada deve impedir a chegada ao céu. É preciso que durante todos os momentos desta trajetória terrena se esteja procedendo como um eleito. Este pensamento é altamente construtivo. Deve enfronhar todas as ações, decisões, aspirações; iluminar todas as atividades; aclarar todos os ideais; impregnar todas as lides; fortificar todas as resoluções; dourar todas as afeições; alicerçar todos os anelos; fundamentar todos os desejos; enflorar todas as aspirações. Apenas assim se estará preparado para o chamado para as Bodas do Cordeiro. Este fato não tem hora, nem lugar. A incerteza marca terrivelmente o mais certo dos fatos. Não sabemos o lugar, as circunstâncias, o momento em que ele se dará. Daí a sapientíssima advertência do Apóstolo Paulo: “Enquanto temos tempo, façamos o bem!” (Gl 6,10), uma vez que muitos são os chamados e poucos os escolhidos. Pensemos cuidadosamente nisto! *Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
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Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Séria a advertência de Jesus: “Muitos são chamados, poucos escolhidos” (Mt 22, 14). Para entrar no Reino dos Céus o próprio Mestre divino deu a orientação: “Aquele que perseverar até o fim, esta estará salvo” (Mt 10,22). Para não ser excluído do Banquete eterno é preciso “o traje de festa” que é a graça santificante recebida no Batismo, a qual, se perdida pelo pecado grave, pode, entretanto, ser recuperada através do Sacramento da Penitência. Muitos são os perigos aos quais estão expostos aqueles que preiteiam estar junto de Deus por toda a eternidade na Cidade dos Santos. Estes lutaram bravamente contra as insídias diabólicas, as aliciações mundanas, numa vigilância contínua para a observância dos Mandamentos da Lei divina. Perseveraram, por isto foram escolhidos. Procuraram sempre obedecer à vontade de Deus, fugiram de tudo que pudesse levar a perder a dignidade de cristãos. Foram corajosos. Todo aquele que almeja ser salvo tem necessidade imperiosa da fidelidade total às inspirações do Divino Espírito Santo, da fuga ininterrupta e corajosa das ocasiões perigosas, da oração sem tréguas, da freqüência aos Sacramentos e da mortificação. Estes meios impedem o fiel de se entregar à iniqüidade, evitando o mal e praticando o bem. Tudo isto supõe que se renovem sempre os bons propósitos para lhes dar perenidade, do que resulta um caráter firme que nunca se desvia do caminho da retidão. Esta é a disposição de quem tem plena consciência de sua incorporação a Cristo ressuscitado. Desta incorporação ao Redentor vitorioso deduz São Paulo todas as normas da vida cristã, donde o seu conselho: “Entregai-vos todos a Deus como ressuscitados da morte para a vida”. Para que haja esta constância ininterrupta, o pensamento do céu fortalece o cristão nos embates contra as ciladas do demônio e do mundo, pois tal é a promessa de Deus no Apocalipse: “Sê fiel até a morte e te darei a coroa da vida” (Ap 2,10). Isto inclui a paciência por entre as lutas diárias contra tudo que coloque em risco a salvação eterna, impedindo a entrada no Banquete celeste. Está claro no Evangelho: “Mediante vossa paciência salvareis as vossas almas” (Lc 21,19). É deste modo que se obtém o vigor para a prática das virtudes que serão premiadas por toda a eternidade. Adite-se a todos estes recursos valiosos para se tornar um eleito do Senhor a imprescindível vigilância que é a irmã gêmea da prudência na conduta de todos os momentos. É o que advertiu Jesus: “Velai, pois, já que ã sabeis a que hora em que há vir o vosso Senhor” (Mt 24,42). O desejo da salvação é grande, mas a carne é fraca e daí ser imprescindível estar alerta para não sucumbir na caminhada para a felicidade eterna. Todo cuidado é pouco para que não se tornem pesados os corações com a libertinagem, a embriaguez e as preocupações da vida e se possa estar sempre entre os eleitos. Velar, pois, orando em todo o tempo para se achar em condições de estar firmes na presença de Deus na hora da morte. Eis o motivo pelo qual é preciso estar em vida morto para os prazeres ilícitos, para o vício, para o pecado, para o mal. Como muito bem disse o poeta, “mortos não são aqueles que jazem numa tumba fria, mortos são os que têm morta a alma e vivem todavia”. Entretanto para quem cumpriu o seu dever, para o pecador sinceramente arrependido, para quem fez de sua vida um hino de louvor a Deus e de serviço ao próximo fechar-se-á a porta do tempo e logo se abrirão os pórticos luminosos da Jerusalém celeste. Este, sim, estará arrolado entre os escolhidos para a ventura perene no Reino dos céus. O que causou pena durante a vida, mas foi suportado com afeto a Deus é que dará alegria. Aliás, na hora da morte o que causará pesar, foi o que se buscou com gosto, por vezes com tantos desgostos, fora dos caminhos de Deus. Garantir a salvação, eis o que mais deve preocupar quem tem bom senso neste mundo, pois tudo mais é secundário e nada deve impedir a chegada ao céu. É preciso que durante todos os momentos desta trajetória terrena se esteja procedendo como um eleito. Este pensamento é altamente construtivo. Deve enfronhar todas as ações, decisões, aspirações; iluminar todas as atividades; aclarar todos os ideais; impregnar todas as lides; fortificar todas as resoluções; dourar todas as afeições; alicerçar todos os anelos; fundamentar todos os desejos; enflorar todas as aspirações. Apenas assim se estará preparado para o chamado para as Bodas do Cordeiro. Este fato não tem hora, nem lugar. A incerteza marca terrivelmente o mais certo dos fatos. Não sabemos o lugar, as circunstâncias, o momento em que ele se dará. Daí a sapientíssima advertência do Apóstolo Paulo: “Enquanto temos tempo, façamos o bem!” (Gl 6,10), uma vez que muitos são os chamados e poucos os escolhidos. Pensemos cuidadosamente nisto! *Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
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sábado, 20 de agosto de 2011
A comunidade polítia e a Igreja
A COMUNIDADE POLÍTICA E A IGREJA
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
A sábia resposta de Jesus aos fariseus sobre o imposto a ser pago ao império romano mostrou claramente que a Comunidade Política e a Igreja atuam cada uma no seu próprio campo, são independentes e autônomas uma da outra: “ Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus” (Mt 22, 21). Ambas, contudo, estão a serviço da vocação pessoal e social dos homens e das mulheres. Os deveres do Estado se resumem na função fundamental que é o de promover o bem comum, criando condições materiais, institucionais, culturais e morais necessárias para garantir a todos os cidadãos todas as possibilidades concretas de atingir níveis de vida compatíveis com a dignidade humana. O Estado pode tudo aquilo e só aquilo que é necessário para a promoção do bem comum. Aí está a síntese de todos os seus direitos, com relação às pessoas e grupos que lhe estão subordinados da qual não pode exorbitar, incidindo em alguma forma de totalitarismo, absolutismo ou de qualquer outro desvio que comprometa a vida dos cidadãos. Por outro lado este bem comum supõe exatamente que os poderes públicos administrem apenas e tão somente visando o progresso social e não os interesses próprios dos governantes do que resulta a corrupção, a malversação, o acúmulo de riqueza nas mãos de uns poucos e, em conseqüência. a miséria, o pauperismo, a má distribuição de renda. Ao cidadão cabe cumprir com seus deveres cívicos respeitando as autoridades constituídas, obedecendo às leis justas, jamais sonegando os impostos, enfim tudo fazendo a seu alcance para o desenvolvimento e o progresso social. Trata-se da atuação consciente e esclarecida de cada um no seio da comunidade, através de seu esforço em contribuir eficazmente para o engrandecimento da Pátria, do Estado, da cidade em que vive. O Concílio Vaticano II na Constituição Pastoral Gaudium et Spes sobre a “Igreja no Mundo de hoje” lavrou esta diretriz: “Todos os cristãos se tornem cônscios de seu papel próprio e especial na comunidade política”. Aos deveres cívicos o discípulo de Jesus une uma estrita observância do que o Mestre divino disse: “Dai a Deus o que é de Deus”. Isto significa uma fidelidade total, sem restrições ao Ser Supremo, fidelidade religiosa que é uma das mais importantes prescrições, cuja observância Cristo exige de seus discípulos (Mt 23,23). Esta postura caracteriza aqueles que são movidos pelo Espírito Santo. Isto refulge nas minudências da vida de quem foi batizado. O cerne, porém, da irrestrita lealdade para com Deus é o amor. Jesus insistiu nesse ponto: “Permanecei no meu amor. Se guardais os meus mandamentos, permaneceis no meu amor, como tenho guardado os mandamentos de meu Pai e permaneço no seu amor (Jo 15,9 ss). Trata-se de uma realidade dinâmica e criativa, adesão a um desígnio de dileção que se desdobra dia após dia em modalidades inéditas, desígnio procurado com obstinação para dar a Deus o que é de Deus. É o andar na verdade, vivendo inteiramente segundo o Decálogo. O cristão vive numa admirável tensão, sempre renovada, para renegar tudo que não é de Deus e para dar-lhe completamente o coração, a mente e todas as suas forças. Foi a resposta que Cristo deu ao fariseu que lhe interrogou sobre o maior mandamento da Lei: “Amarás o senhor teu Deus de todo o teu coração de toda a tua alma e de todo o teu entendimento” (Mt 22,17). Como ensinou São Paulo aos Efésios é preciso que o cristão seja santo e imaculado na presença santíssima de seu Senhor. Dar a Deus o que é de Deus é, deste modo, ser envolvido num processo de amor que não tem fim e avança para a eternidade. Isto supõe uma constância contínua que não tem limites de tempo. É que a fidelidade a Deus para ir às profundezas de sua realidade tem necessidade de duração ininterrupta. Entretanto o Tentador, que é o Espírito do mal, tem que ser enfrentado corajosamente, como ensinou São Pedro “firmes na fé” (1Pd 5,8). Tudo isto engloba a justiça para com Deus no qual, como ensina São Paulo “nós existimos, nos movemos e somos” (At 17,28). Dele tudo recebemos e é preciso viver em ação de graças como recomendou o mesmo Apóstolo (1 Ts 2,13). Este hino gratulatório ininterrupto culmina na participação da Missa dominical, na qual comunitariamente se presta ao Todo-Poderoso toda honra e toda glória por Cristo, com Cristo, em Cristo e na unidade do Espírito Santo. Felizes os que dão a César o que é de César e a Deus o que é de Deus, fazendo sempre e em toda parte a santíssima vontade deste Ser Supremo que tudo ordena para a felicidade da pátria e de cada cristão, que se torna assim um ótimo cidadão nesta terra e, depois, da Cidade dos eleitos na eternidade.* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
A sábia resposta de Jesus aos fariseus sobre o imposto a ser pago ao império romano mostrou claramente que a Comunidade Política e a Igreja atuam cada uma no seu próprio campo, são independentes e autônomas uma da outra: “ Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus” (Mt 22, 21). Ambas, contudo, estão a serviço da vocação pessoal e social dos homens e das mulheres. Os deveres do Estado se resumem na função fundamental que é o de promover o bem comum, criando condições materiais, institucionais, culturais e morais necessárias para garantir a todos os cidadãos todas as possibilidades concretas de atingir níveis de vida compatíveis com a dignidade humana. O Estado pode tudo aquilo e só aquilo que é necessário para a promoção do bem comum. Aí está a síntese de todos os seus direitos, com relação às pessoas e grupos que lhe estão subordinados da qual não pode exorbitar, incidindo em alguma forma de totalitarismo, absolutismo ou de qualquer outro desvio que comprometa a vida dos cidadãos. Por outro lado este bem comum supõe exatamente que os poderes públicos administrem apenas e tão somente visando o progresso social e não os interesses próprios dos governantes do que resulta a corrupção, a malversação, o acúmulo de riqueza nas mãos de uns poucos e, em conseqüência. a miséria, o pauperismo, a má distribuição de renda. Ao cidadão cabe cumprir com seus deveres cívicos respeitando as autoridades constituídas, obedecendo às leis justas, jamais sonegando os impostos, enfim tudo fazendo a seu alcance para o desenvolvimento e o progresso social. Trata-se da atuação consciente e esclarecida de cada um no seio da comunidade, através de seu esforço em contribuir eficazmente para o engrandecimento da Pátria, do Estado, da cidade em que vive. O Concílio Vaticano II na Constituição Pastoral Gaudium et Spes sobre a “Igreja no Mundo de hoje” lavrou esta diretriz: “Todos os cristãos se tornem cônscios de seu papel próprio e especial na comunidade política”. Aos deveres cívicos o discípulo de Jesus une uma estrita observância do que o Mestre divino disse: “Dai a Deus o que é de Deus”. Isto significa uma fidelidade total, sem restrições ao Ser Supremo, fidelidade religiosa que é uma das mais importantes prescrições, cuja observância Cristo exige de seus discípulos (Mt 23,23). Esta postura caracteriza aqueles que são movidos pelo Espírito Santo. Isto refulge nas minudências da vida de quem foi batizado. O cerne, porém, da irrestrita lealdade para com Deus é o amor. Jesus insistiu nesse ponto: “Permanecei no meu amor. Se guardais os meus mandamentos, permaneceis no meu amor, como tenho guardado os mandamentos de meu Pai e permaneço no seu amor (Jo 15,9 ss). Trata-se de uma realidade dinâmica e criativa, adesão a um desígnio de dileção que se desdobra dia após dia em modalidades inéditas, desígnio procurado com obstinação para dar a Deus o que é de Deus. É o andar na verdade, vivendo inteiramente segundo o Decálogo. O cristão vive numa admirável tensão, sempre renovada, para renegar tudo que não é de Deus e para dar-lhe completamente o coração, a mente e todas as suas forças. Foi a resposta que Cristo deu ao fariseu que lhe interrogou sobre o maior mandamento da Lei: “Amarás o senhor teu Deus de todo o teu coração de toda a tua alma e de todo o teu entendimento” (Mt 22,17). Como ensinou São Paulo aos Efésios é preciso que o cristão seja santo e imaculado na presença santíssima de seu Senhor. Dar a Deus o que é de Deus é, deste modo, ser envolvido num processo de amor que não tem fim e avança para a eternidade. Isto supõe uma constância contínua que não tem limites de tempo. É que a fidelidade a Deus para ir às profundezas de sua realidade tem necessidade de duração ininterrupta. Entretanto o Tentador, que é o Espírito do mal, tem que ser enfrentado corajosamente, como ensinou São Pedro “firmes na fé” (1Pd 5,8). Tudo isto engloba a justiça para com Deus no qual, como ensina São Paulo “nós existimos, nos movemos e somos” (At 17,28). Dele tudo recebemos e é preciso viver em ação de graças como recomendou o mesmo Apóstolo (1 Ts 2,13). Este hino gratulatório ininterrupto culmina na participação da Missa dominical, na qual comunitariamente se presta ao Todo-Poderoso toda honra e toda glória por Cristo, com Cristo, em Cristo e na unidade do Espírito Santo. Felizes os que dão a César o que é de César e a Deus o que é de Deus, fazendo sempre e em toda parte a santíssima vontade deste Ser Supremo que tudo ordena para a felicidade da pátria e de cada cristão, que se torna assim um ótimo cidadão nesta terra e, depois, da Cidade dos eleitos na eternidade.* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos
quinta-feira, 18 de agosto de 2011
MUITOS CHAMADOS,POUCOS ESCOLIDOS
MUITOS CHAMADOS, POUCOS ESCOLHIDOS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Séria a advertência de Jesus: “Muitos são chamados, poucos escolhidos” (Mt 22, 14). Para entrar no Reino dos Céus o próprio Mestre divino deu a orientação: “Aquele que perseverar até o fim, esta estará salvo” (Mt 10,22). Para não ser excluído do Banquete eterno é preciso “o traje de festa” que é a graça santificante recebida no Batismo, a qual, se perdida pelo pecado grave, pode, entretanto, ser recuperada através do Sacramento da Penitência. Muitos são os perigos aos quais estão expostos aqueles que preiteiam estar junto de Deus por toda a eternidade na Cidade dos Santos. Estes lutaram bravamente contra as insídias diabólicas, as aliciações mundanas, numa vigilância contínua para a observância dos Mandamentos da Lei divina. Perseveraram, por isto foram escolhidos. Procuraram sempre obedecer à vontade de Deus, fugiram de tudo que pudesse levar a perder a dignidade de cristãos. Foram corajosos. Todo aquele que almeja ser salvo tem necessidade imperiosa da fidelidade total às inspirações do Divino Espírito Santo, da fuga ininterrupta e corajosa das ocasiões perigosas, da oração sem tréguas, da freqüência aos Sacramentos e da mortificação. Estes meios impedem o fiel de se entregar à iniqüidade, evitando o mal e praticando o bem. Tudo isto supõe que se renovem sempre os bons propósitos para lhes dar perenidade, do que resulta um caráter firme que nunca se desvia do caminho da retidão. Esta é a disposição de quem tem plena consciência de sua incorporação a Cristo ressuscitado. Desta incorporação ao Redentor vitorioso deduz São Paulo todas as normas da vida cristã, donde o seu conselho: “Entregai-vos todos a Deus como ressuscitados da morte para a vida”. Para que haja esta constância ininterrupta, o pensamento do céu fortalece o cristão nos embates contra as ciladas do demônio e do mundo, pois tal é a promessa de Deus no Apocalipse: “Sê fiel até a morte e te darei a coroa da vida” (Ap 2,10). Isto inclui a paciência por entre as lutas diárias contra tudo que coloque em risco a salvação eterna, impedindo a entrada no Banquete celeste. Está claro no Evangelho: “Mediante vossa paciência salvareis as vossas almas” (Lc 21,19). É deste modo que se obtém o vigor para a prática das virtudes que serão premiadas por toda a eternidade. Adite-se a todos estes recursos valiosos para se tornar um eleito do Senhor a imprescindível vigilância que é a irmã gêmea da prudência na conduta de todos os momentos. É o que advertiu Jesus: “Velai, pois, já que ã sabeis a que hora em que há vir o vosso Senhor” (Mt 24,42). O desejo da salvação é grande, mas a carne é fraca e daí ser imprescindível estar alerta para não sucumbir na caminhada para a felicidade eterna. Todo cuidado é pouco para que não se tornem pesados os corações com a libertinagem, a embriaguez e as preocupações da vida e se possa estar sempre entre os eleitos. Velar, pois, orando em todo o tempo para se achar em condições de estar firmes na presença de Deus na hora da morte. Eis o motivo pelo qual é preciso estar em vida morto para os prazeres ilícitos, para o vício, para o pecado, para o mal. Como muito bem disse o poeta, “mortos não são aqueles que jazem numa tumba fria, mortos são os que têm morta a alma e vivem todavia”. Entretanto para quem cumpriu o seu dever, para o pecador sinceramente arrependido, para quem fez de sua vida um hino de louvor a Deus e de serviço ao próximo fechar-se-á a porta do tempo e logo se abrirão os pórticos luminosos da Jerusalém celeste. Este, sim, estará arrolado entre os escolhidos para a ventura perene no Reino dos céus. O que causou pena durante a vida, mas foi suportado com afeto a Deus é que dará alegria. Aliás, na hora da morte o que causará pesar, foi o que se buscou com gosto, por vezes com tantos desgostos, fora dos caminhos de Deus. Garantir a salvação, eis o que mais deve preocupar quem tem bom senso neste mundo, pois tudo mais é secundário e nada deve impedir a chegada ao céu. É preciso que durante todos os momentos desta trajetória terrena se esteja procedendo como um eleito. Este pensamento é altamente construtivo. Deve enfronhar todas as ações, decisões, aspirações; iluminar todas as atividades; aclarar todos os ideais; impregnar todas as lides; fortificar todas as resoluções; dourar todas as afeições; alicerçar todos os anelos; fundamentar todos os desejos; enflorar todas as aspirações. Apenas assim se estará preparado para o chamado para as Bodas do Cordeiro. Este fato não tem hora, nem lugar. A incerteza marca terrivelmente o mais certo dos fatos. Não sabemos o lugar, as circunstâncias, o momento em que ele se dará. Daí a sapientíssima advertência do Apóstolo Paulo: “Enquanto temos tempo, façamos o bem!” (Gl 6,10), uma vez que muitos são os chamados e poucos os escolhidos. Pensemos cuidadosamente nisto! *Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
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Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Séria a advertência de Jesus: “Muitos são chamados, poucos escolhidos” (Mt 22, 14). Para entrar no Reino dos Céus o próprio Mestre divino deu a orientação: “Aquele que perseverar até o fim, esta estará salvo” (Mt 10,22). Para não ser excluído do Banquete eterno é preciso “o traje de festa” que é a graça santificante recebida no Batismo, a qual, se perdida pelo pecado grave, pode, entretanto, ser recuperada através do Sacramento da Penitência. Muitos são os perigos aos quais estão expostos aqueles que preiteiam estar junto de Deus por toda a eternidade na Cidade dos Santos. Estes lutaram bravamente contra as insídias diabólicas, as aliciações mundanas, numa vigilância contínua para a observância dos Mandamentos da Lei divina. Perseveraram, por isto foram escolhidos. Procuraram sempre obedecer à vontade de Deus, fugiram de tudo que pudesse levar a perder a dignidade de cristãos. Foram corajosos. Todo aquele que almeja ser salvo tem necessidade imperiosa da fidelidade total às inspirações do Divino Espírito Santo, da fuga ininterrupta e corajosa das ocasiões perigosas, da oração sem tréguas, da freqüência aos Sacramentos e da mortificação. Estes meios impedem o fiel de se entregar à iniqüidade, evitando o mal e praticando o bem. Tudo isto supõe que se renovem sempre os bons propósitos para lhes dar perenidade, do que resulta um caráter firme que nunca se desvia do caminho da retidão. Esta é a disposição de quem tem plena consciência de sua incorporação a Cristo ressuscitado. Desta incorporação ao Redentor vitorioso deduz São Paulo todas as normas da vida cristã, donde o seu conselho: “Entregai-vos todos a Deus como ressuscitados da morte para a vida”. Para que haja esta constância ininterrupta, o pensamento do céu fortalece o cristão nos embates contra as ciladas do demônio e do mundo, pois tal é a promessa de Deus no Apocalipse: “Sê fiel até a morte e te darei a coroa da vida” (Ap 2,10). Isto inclui a paciência por entre as lutas diárias contra tudo que coloque em risco a salvação eterna, impedindo a entrada no Banquete celeste. Está claro no Evangelho: “Mediante vossa paciência salvareis as vossas almas” (Lc 21,19). É deste modo que se obtém o vigor para a prática das virtudes que serão premiadas por toda a eternidade. Adite-se a todos estes recursos valiosos para se tornar um eleito do Senhor a imprescindível vigilância que é a irmã gêmea da prudência na conduta de todos os momentos. É o que advertiu Jesus: “Velai, pois, já que ã sabeis a que hora em que há vir o vosso Senhor” (Mt 24,42). O desejo da salvação é grande, mas a carne é fraca e daí ser imprescindível estar alerta para não sucumbir na caminhada para a felicidade eterna. Todo cuidado é pouco para que não se tornem pesados os corações com a libertinagem, a embriaguez e as preocupações da vida e se possa estar sempre entre os eleitos. Velar, pois, orando em todo o tempo para se achar em condições de estar firmes na presença de Deus na hora da morte. Eis o motivo pelo qual é preciso estar em vida morto para os prazeres ilícitos, para o vício, para o pecado, para o mal. Como muito bem disse o poeta, “mortos não são aqueles que jazem numa tumba fria, mortos são os que têm morta a alma e vivem todavia”. Entretanto para quem cumpriu o seu dever, para o pecador sinceramente arrependido, para quem fez de sua vida um hino de louvor a Deus e de serviço ao próximo fechar-se-á a porta do tempo e logo se abrirão os pórticos luminosos da Jerusalém celeste. Este, sim, estará arrolado entre os escolhidos para a ventura perene no Reino dos céus. O que causou pena durante a vida, mas foi suportado com afeto a Deus é que dará alegria. Aliás, na hora da morte o que causará pesar, foi o que se buscou com gosto, por vezes com tantos desgostos, fora dos caminhos de Deus. Garantir a salvação, eis o que mais deve preocupar quem tem bom senso neste mundo, pois tudo mais é secundário e nada deve impedir a chegada ao céu. É preciso que durante todos os momentos desta trajetória terrena se esteja procedendo como um eleito. Este pensamento é altamente construtivo. Deve enfronhar todas as ações, decisões, aspirações; iluminar todas as atividades; aclarar todos os ideais; impregnar todas as lides; fortificar todas as resoluções; dourar todas as afeições; alicerçar todos os anelos; fundamentar todos os desejos; enflorar todas as aspirações. Apenas assim se estará preparado para o chamado para as Bodas do Cordeiro. Este fato não tem hora, nem lugar. A incerteza marca terrivelmente o mais certo dos fatos. Não sabemos o lugar, as circunstâncias, o momento em que ele se dará. Daí a sapientíssima advertência do Apóstolo Paulo: “Enquanto temos tempo, façamos o bem!” (Gl 6,10), uma vez que muitos são os chamados e poucos os escolhidos. Pensemos cuidadosamente nisto! *Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
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A RELIGIOSIDADE DE UMA CIDADE MINEIRA
A RELIGIOSIDADE DE UMA CIDADE MINEIRA
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Dia 30 de setembro é a data da Cidade de Viçosa em Minas Gerais. Notáveis o espírito de fé do viçosense, o fervor de um povo que cresceu à sombra da Cruz de Jesus Cristo, a fidelidade à verdade do Evangelho e à Igreja Católica.É que tão logo das regiões auríferas de Ouro Preto, de Mariana, de Piranga afluíram os primeiros colonizadores, na terra bendita de Santa Rita a Religião cintilou. A 8 de março de 1800, o Pe. Francisco José da Silva obtinha de D. Frei Cipriano de S. José a licença para erigir uma ermida, sob a invocação desta gloriosa Padroeira, no então pequeno povoado. Gloriosa santa, desde os primórdios, a presidir os destinos desta região. Em 1876, elevada a cidade, a vila de Santa Rita do Turvo passou a se denominar Viçosa, em homenagem ao santo bispo marianense D. Viçoso. Suas ruas e praças públicas homenageiam Cristo, Maria e os Santos. O mês de maio, com suas tradicionais coroações, marca a alma viçosense. Na rocha firme da verdadeira Igreja, Viçosa transmite às festas litúrgicas luzimentos ímpares, sobretudo em suas famosas Semanas Santas e nas solenidades do dia 22 de maio. Soleníssimas comemorações que agermanam, numa mesma fé, milhares de corações. Entre os fatos marcantes da história viçosense se recorde um dos capítulos da guerra do Paraguai. Rebrilha a participação ativa dos habitantes da antiga Santa Rita do Turvo de onde partiram, sob as bênçãos do Pároco, Pe. Manuel Filipe Neri, os voluntários na companhia de Francisco de Paula Galvão. Autoridades civis e pessoas gradas se fizeram presentes à saída dos aguerridos soldados com palavras de estímulo e aplauso. Francisco de Paula Galvão, pacífico mestre-escola do povoado, foi logo incorporado como Tenente ao 17o Batalhão de Voluntários da Pátria. Na épica Retirada da Laguna, Galvão se fez figura singular. A batalha de Nhandipá, a 11de maio de 1867, por sua conduta heróica, lhe consagrou os méritos. Títulos e honrarias proclamaram seu valor. Fez-se merecedor da medalha concedida pelo Decreto nº 3.926, de 7 de agosto de 1867, pois brilhara em território inimigo. Cavalheiro da Ordem de Cristo, pelo Decreto de 19 de agosto do mesmo ano, já tinha sido antes nomeado Cavalheiro da Ordem da Rosa. Foi sempre um soldado a serviço da pátria e repleto de merecimentos, pois “passando a servir no 5o Batalhão de Guardas Nacionais, em Paconé, foi louvado pela subordinação, inteligência e zelo que revelou e por haver cooperado em manter a disciplina e apagar a discórdia que ameaçava esse batalhão”. Pelo Decreto de 2 de março de 1870, nomeado Capitão Honorário do Exército brasileiro. No mês de setembro, em que se comemora festivamente o aniversário desta cidade universitária se lembre ainda que esta é uma urbe celeiro de vocações sacerdotais e religiosas. Fonte de bênçãos é nela o mosteiro das Monjas Beneditinas, a presença das Oblatas de Nazaré e das Irmãs Carmelitas da Divina Providência, de vários sacerdotes, do Diácono Dr. Luís Carlos Lopes e de inúmeros movimentos pastorais que engrandecem a religiosidade de Viçosa. Tudo isto leva a todos os católicos viçosenses a se engajarem em missões evangelizadoras das quatro paróquias e da Capelania da Universidade Federal. Eis assim Viçosa qual Rainha circundada de esplendor. Que os jovens idealistas, que a ela acorrem de todo o país em busca de uma sólida formação, continuem a nela deparar os padrões que marcam o autêntico cristão. Progressista por excelência, avantajada em todas as empresas úteis e fecundas perante a consciência pública, sem tréguas, Viçosa continuará a ser sempre uma propulsora dos princípios do Evangelho que levam às paragens da ventura e da paz.
* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Dia 30 de setembro é a data da Cidade de Viçosa em Minas Gerais. Notáveis o espírito de fé do viçosense, o fervor de um povo que cresceu à sombra da Cruz de Jesus Cristo, a fidelidade à verdade do Evangelho e à Igreja Católica.É que tão logo das regiões auríferas de Ouro Preto, de Mariana, de Piranga afluíram os primeiros colonizadores, na terra bendita de Santa Rita a Religião cintilou. A 8 de março de 1800, o Pe. Francisco José da Silva obtinha de D. Frei Cipriano de S. José a licença para erigir uma ermida, sob a invocação desta gloriosa Padroeira, no então pequeno povoado. Gloriosa santa, desde os primórdios, a presidir os destinos desta região. Em 1876, elevada a cidade, a vila de Santa Rita do Turvo passou a se denominar Viçosa, em homenagem ao santo bispo marianense D. Viçoso. Suas ruas e praças públicas homenageiam Cristo, Maria e os Santos. O mês de maio, com suas tradicionais coroações, marca a alma viçosense. Na rocha firme da verdadeira Igreja, Viçosa transmite às festas litúrgicas luzimentos ímpares, sobretudo em suas famosas Semanas Santas e nas solenidades do dia 22 de maio. Soleníssimas comemorações que agermanam, numa mesma fé, milhares de corações. Entre os fatos marcantes da história viçosense se recorde um dos capítulos da guerra do Paraguai. Rebrilha a participação ativa dos habitantes da antiga Santa Rita do Turvo de onde partiram, sob as bênçãos do Pároco, Pe. Manuel Filipe Neri, os voluntários na companhia de Francisco de Paula Galvão. Autoridades civis e pessoas gradas se fizeram presentes à saída dos aguerridos soldados com palavras de estímulo e aplauso. Francisco de Paula Galvão, pacífico mestre-escola do povoado, foi logo incorporado como Tenente ao 17o Batalhão de Voluntários da Pátria. Na épica Retirada da Laguna, Galvão se fez figura singular. A batalha de Nhandipá, a 11de maio de 1867, por sua conduta heróica, lhe consagrou os méritos. Títulos e honrarias proclamaram seu valor. Fez-se merecedor da medalha concedida pelo Decreto nº 3.926, de 7 de agosto de 1867, pois brilhara em território inimigo. Cavalheiro da Ordem de Cristo, pelo Decreto de 19 de agosto do mesmo ano, já tinha sido antes nomeado Cavalheiro da Ordem da Rosa. Foi sempre um soldado a serviço da pátria e repleto de merecimentos, pois “passando a servir no 5o Batalhão de Guardas Nacionais, em Paconé, foi louvado pela subordinação, inteligência e zelo que revelou e por haver cooperado em manter a disciplina e apagar a discórdia que ameaçava esse batalhão”. Pelo Decreto de 2 de março de 1870, nomeado Capitão Honorário do Exército brasileiro. No mês de setembro, em que se comemora festivamente o aniversário desta cidade universitária se lembre ainda que esta é uma urbe celeiro de vocações sacerdotais e religiosas. Fonte de bênçãos é nela o mosteiro das Monjas Beneditinas, a presença das Oblatas de Nazaré e das Irmãs Carmelitas da Divina Providência, de vários sacerdotes, do Diácono Dr. Luís Carlos Lopes e de inúmeros movimentos pastorais que engrandecem a religiosidade de Viçosa. Tudo isto leva a todos os católicos viçosenses a se engajarem em missões evangelizadoras das quatro paróquias e da Capelania da Universidade Federal. Eis assim Viçosa qual Rainha circundada de esplendor. Que os jovens idealistas, que a ela acorrem de todo o país em busca de uma sólida formação, continuem a nela deparar os padrões que marcam o autêntico cristão. Progressista por excelência, avantajada em todas as empresas úteis e fecundas perante a consciência pública, sem tréguas, Viçosa continuará a ser sempre uma propulsora dos princípios do Evangelho que levam às paragens da ventura e da paz.
* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
O PAI DARÁ O ESPÍRITO SANTO
O PAI DARÁ O ESPÍRITO SANTO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Faustosa a promessa de Jesus: “O pai do céu dará o Espírito Santo aos que o pedirem” (Lc 11,13). Este Espírito faz desaparecer o insignificante em favor do essencial e diante das dificuldades não deixa desfalecer nem cair na agitação. Leva a deparar na fé a vontade divina. Comunica uma atividade calma que envolve num só olhar o conjunto das tarefas diárias. Ajuda a aceitar tranquilamente as contradições inerentes à condição humana e imerge quem O recebe na perspectiva da eternidade. Conduz para longe da desordem interior e sela a comunhão com o Ser Supremo, dando a tudo o sentido do eterno e perene júbilo causado pela Sua presença. Opera maravilhas no coração do discípulo de Jesus por ser Luz de vida, uma brisa suave como se manifestou ao profeta Elias. O importante é ter consciência de sua ação no íntimo daquele que recebeu o batismo. Ele está oculto, mas revela as grandezas da divindade que habita na alma em estado de graça. Faz conhecer Cristo e manifesta quem é o Pai. É luminosidade que tudo clareia, por ser a força viva da esperança nos bens celestes, impulsionando o fiel a caminhar resoluto para frente rumo à redenção total, abrindo as portas de todas as prisões que tendem a impedir a união com Deus. É um aliado constante, agindo de maneira concreta na espiritualização de quem o abriga, vindo a seu encontro em todas as dimensões psicossomáticas e sobrenaturais. Envolve a inteligência, a afetividade, a vontade e, sobretudo, a parte essencial que a Bíblia resume e simboliza com o termo coração. Abre todas as potências humanas além delas mesmas. Segundo São Paulo o “amor de Deus foi difundido em nossos corações pelo Espírito Santo” (Rm 5,5) e este amor retifica, santifica todos os atos da vida, dando a cura espiritual e corporal a quem realmente nele crê ou sustentando o cristão sempre a repetir: “Tua graça me basta é ela que eu imploro”. É que Ele confere a inteligência do coração. Por tudo isto o importante é estar sempre centrado e concentrado nele e se sentir envolto nele, fazendo dele o lugar de refúgio permanente, muito além do espírito meramente discursivo. Esta descoberta da presença do Espírito Santo responde ao problema da dispersão da imaginação. Para isto cumpre impor silêncio às preocupações como ensina São Boaventura. Refletir no secreto da própria alma, numa imersão sempre mais profunda neste hóspede divino. Pena que muitos cristãos não sabem fazer a sublime viagem ao país do silêncio por se deixarem envolver pelo ruído exterior e, deste modo, não percebem o turbilhão do amor divino em si mesmos. Há, realmente uma luminosa vastidão dentro de cada um. Está escrito no Profeta Isaías: “Se vos retirardes e vos aquietardes, sereis salvos; tranqüilidade e confiança serão vossa força” (Is 30, 15). Entra-se no país do silêncio pelo silêncio do abandono de tudo que é transitório ou que possa contristar o Espírito Santo. Não se trata de um estratagema, de um artifício espiritual mas de um hábito, um exercício vigilante, constante, na busca da prática da quietude interior, a tomada de consciência da presença divina. O Espírito Santo é o fundo de nosso ser e a união com Ele não é algo que se possa adquirir pelo esforço, pois basta escutá-lo num instante de uma verdadeira oração que não exige verbosidade, mas atenciosa apreensão e compreensão das mensagens recebidas. Cumpre deixar o Espírito Santo se manifestar. Santo Agostinho exclamou num momento de pulcra inspiração: “Ó Beleza tão antiga e tão nova quão tarde eu Te conheci, quão tarde eu Te amei”. Deus é mais íntimo de cada um do que cada um de si mesmo. O que se esquece muitas vezes é que o Espírito Santo quer encher a vida do cristão de graça e de glória. Pelo batismo e pela eucaristia Deus faz o dom de si mesmo e estes sacramentos dão uma identidade profunda com Ele. Este então se percebe que se está em Deus e vencidos ficam os pensamentos opressores. O fiel se sente o ramo na videira que é Cristo, uma gota no oceano do amor divino. O Espírito Santo é a densidade da dileção incomensurável e o cristão está submerso nesta densidade, mas precisa valorizar esta riqueza imensa que possui dentro de si, deixando Deus falar e agir. Esta união com Deus no silêncio do coração é o fundamento de todos os processos mentais, oferecendo um pensamento preciso, disciplinado longe do caos exterior. O país do silêncio é intensamente pessoal e ao mesmo tempo, paradoxalmente, profundamente comunitário, porque onde está o Espírito Santo estão o Pai e o Filho e entrar na corrente trinitária é se deixar inebriar na felicidade total, como se do céu se estivesse já degustar nesta terra. Eis porque é de incomensurável valia o lembrete de Jesus: “O Pai do céu dará o Espírito Santo aos que o pedirem”. Ele que havia dito: “Pedi e recebereis” *Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
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Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Faustosa a promessa de Jesus: “O pai do céu dará o Espírito Santo aos que o pedirem” (Lc 11,13). Este Espírito faz desaparecer o insignificante em favor do essencial e diante das dificuldades não deixa desfalecer nem cair na agitação. Leva a deparar na fé a vontade divina. Comunica uma atividade calma que envolve num só olhar o conjunto das tarefas diárias. Ajuda a aceitar tranquilamente as contradições inerentes à condição humana e imerge quem O recebe na perspectiva da eternidade. Conduz para longe da desordem interior e sela a comunhão com o Ser Supremo, dando a tudo o sentido do eterno e perene júbilo causado pela Sua presença. Opera maravilhas no coração do discípulo de Jesus por ser Luz de vida, uma brisa suave como se manifestou ao profeta Elias. O importante é ter consciência de sua ação no íntimo daquele que recebeu o batismo. Ele está oculto, mas revela as grandezas da divindade que habita na alma em estado de graça. Faz conhecer Cristo e manifesta quem é o Pai. É luminosidade que tudo clareia, por ser a força viva da esperança nos bens celestes, impulsionando o fiel a caminhar resoluto para frente rumo à redenção total, abrindo as portas de todas as prisões que tendem a impedir a união com Deus. É um aliado constante, agindo de maneira concreta na espiritualização de quem o abriga, vindo a seu encontro em todas as dimensões psicossomáticas e sobrenaturais. Envolve a inteligência, a afetividade, a vontade e, sobretudo, a parte essencial que a Bíblia resume e simboliza com o termo coração. Abre todas as potências humanas além delas mesmas. Segundo São Paulo o “amor de Deus foi difundido em nossos corações pelo Espírito Santo” (Rm 5,5) e este amor retifica, santifica todos os atos da vida, dando a cura espiritual e corporal a quem realmente nele crê ou sustentando o cristão sempre a repetir: “Tua graça me basta é ela que eu imploro”. É que Ele confere a inteligência do coração. Por tudo isto o importante é estar sempre centrado e concentrado nele e se sentir envolto nele, fazendo dele o lugar de refúgio permanente, muito além do espírito meramente discursivo. Esta descoberta da presença do Espírito Santo responde ao problema da dispersão da imaginação. Para isto cumpre impor silêncio às preocupações como ensina São Boaventura. Refletir no secreto da própria alma, numa imersão sempre mais profunda neste hóspede divino. Pena que muitos cristãos não sabem fazer a sublime viagem ao país do silêncio por se deixarem envolver pelo ruído exterior e, deste modo, não percebem o turbilhão do amor divino em si mesmos. Há, realmente uma luminosa vastidão dentro de cada um. Está escrito no Profeta Isaías: “Se vos retirardes e vos aquietardes, sereis salvos; tranqüilidade e confiança serão vossa força” (Is 30, 15). Entra-se no país do silêncio pelo silêncio do abandono de tudo que é transitório ou que possa contristar o Espírito Santo. Não se trata de um estratagema, de um artifício espiritual mas de um hábito, um exercício vigilante, constante, na busca da prática da quietude interior, a tomada de consciência da presença divina. O Espírito Santo é o fundo de nosso ser e a união com Ele não é algo que se possa adquirir pelo esforço, pois basta escutá-lo num instante de uma verdadeira oração que não exige verbosidade, mas atenciosa apreensão e compreensão das mensagens recebidas. Cumpre deixar o Espírito Santo se manifestar. Santo Agostinho exclamou num momento de pulcra inspiração: “Ó Beleza tão antiga e tão nova quão tarde eu Te conheci, quão tarde eu Te amei”. Deus é mais íntimo de cada um do que cada um de si mesmo. O que se esquece muitas vezes é que o Espírito Santo quer encher a vida do cristão de graça e de glória. Pelo batismo e pela eucaristia Deus faz o dom de si mesmo e estes sacramentos dão uma identidade profunda com Ele. Este então se percebe que se está em Deus e vencidos ficam os pensamentos opressores. O fiel se sente o ramo na videira que é Cristo, uma gota no oceano do amor divino. O Espírito Santo é a densidade da dileção incomensurável e o cristão está submerso nesta densidade, mas precisa valorizar esta riqueza imensa que possui dentro de si, deixando Deus falar e agir. Esta união com Deus no silêncio do coração é o fundamento de todos os processos mentais, oferecendo um pensamento preciso, disciplinado longe do caos exterior. O país do silêncio é intensamente pessoal e ao mesmo tempo, paradoxalmente, profundamente comunitário, porque onde está o Espírito Santo estão o Pai e o Filho e entrar na corrente trinitária é se deixar inebriar na felicidade total, como se do céu se estivesse já degustar nesta terra. Eis porque é de incomensurável valia o lembrete de Jesus: “O Pai do céu dará o Espírito Santo aos que o pedirem”. Ele que havia dito: “Pedi e recebereis” *Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
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segunda-feira, 15 de agosto de 2011
SOLENIDADE DA ASSUNÇÃO DE MARIA
SOLENIDADE DA ASSUNÇÃO DE MARIA
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Na solenidade da assunção de Maria aos céus todas as vozes se reúnem para aclamarem o poder e a glória desta mulher bendita. O Senhor Jesus Cristo, contempla nessa Virgem a sua santa mãe e a eleva acima de todas as criaturas, declarando-a bendita entre todas as mulheres e fazendo-a rainha do céu e da terra. O Pai e o Espírito Santo a aureolam com fulgores resplandecentes. Os anjos a saúdam como a sua soberana e os homens não conhecem prestígio mais elevado, virtude mais esplendorosa, amor mais grandioso do que a importância, o valor e a dileção de Maria Santíssima. A este concerto mundial, a esta apoteose incomparável, a esta aclamação de todos os povos, unimos hoje as nossas vozes e os nossos cantos, celebrando a elevação de corpo e alma desta soberana que entra triunfalmente na Jerusalém celeste. Quanto fervor para publicar o louvor que enche os corações dos fiéis! Como é grandioso este dia verdadeiramente especial que encerra sublimes e consoladores ensinamentos da nossa religião: ida de Maria Santíssima para céu, dia de sua exaltação, apoteose da virtude e da santidade tudo isto graças a sua correspondência às graças com que foi mimoseada por Deus! Esta grandeza incomparável da Mãe de Deus reflete em cada batizado, pois esta comemoração é toda iluminada pela esperança e pela certeza de que também nós teremos o nosso dia de glória; se acha iluminada pela certeza de que os verdadeiros cristãos, os homens de bem, os justos, os amigos de Deus, terão o seu dia de triunfo, o dia da felicidade eterna, essa ventura que jamais terá fim, jamais terá defeito, jamais ocaso, e será plena, completa, perfeita, absoluta, como o foi para a Mãe de Deus. Lembremo-nos, porém, de que antes dessa glorificação Maria Santíssima, tendo na terra encontrado as mesmas dificuldades e os mesmos sofrimentos que encontramos, passou ela também pela morte. Ela não pôde evitar essa morte destinada a todos nós, ainda que ela fosse pura e imaculada. O próprio Jesus, Deus e homem verdadeiro, seguiu o mesmo caminho: Ele morreu na cruz, no monte Calvário e não quis subir gloriosamente ao céu sem antes sofrer a humilhação da morte, dessa horrível morte que o pecado introduziu no mundo. Morrer é a condição atual de todos os viventes, desde que Deus fora ofendido na terra pelo primeiro homem. A morte de Maria, contudo, foi qual suave sono do qual ela despertou para subir de corpo e alma para junto de seu divino Filho. Na morte de Maria Santíssima não encontramos a corrupção, não deparamos a destruição e o aniquilamento, porque o pecado não manchou essa vida, pois foi imaculada em sua conceição. Maria triunfou da decomposição da sepultura, de sorte que a morte para ela foi apenas a passagem rápida e gloriosa do tempo para a eternidade, da terra para o céu; foi antes, dizem os santos Padres e repete toda a tradição cristã um adeus dito a terra, um êxtase divino. Este prodígio é atestado pelo sentimento unânime de todos os fiéis e pela tradição constante dos séculos. Eis porque não há um povo, uma cidade, uma igreja, que possua uma única relíquia do corpo da Virgem Maria, tesouro precioso que o céu para si reclamou. Este triunfo de Maria é atestado pela Igreja que celebra por este acontecimento uma de suas mais solenes festividades. Dogma de fé proclamado solenemente pelo Papa Pio XII, dia primeiro de novembro de 1950. Esta é a festa da Senhora da Boa-Morte, a festa da Senhora da Glória, a festa da Rainha do céu, entrando nos palácios deslumbrantes reservados por Deus para os que a imitam e nela confiam. Todos estes diversos títulos, têm como objeto mensagens sublimes. Hoje vemos a justiça infalível de Deus, recompensando a fidelidade de Maria e a glorificação real e completa da honra, da verdade, da virtude e do bem. Essa recompensa e essa glorificação existem para todos os autênticos cristãos e são a nossa mais sublime esperança e a nossa suprema consolação neste vale de lágrimas. Quando Cristo nos aconselha a resignação, a paciência, o perdão das ofensas, pureza de consciência, Ele sabe que a nossa conduta segundo os mandamentos divinos não será frustrada. Ao deixar este mundo o discípulo de Cristo terá um prêmio perene. Quando Jesus nos proíbe a vingança, a maledicência, a calúnia, a fornicação Ele se reserva o direito de fazer brilhar a verdade ao glorificar os justos no final de sua trajetória terrena, além da paz, da alegria, da serenidade que possuem os que trilham os caminhos do bem. Praticar a virtude é já gozar um pouco neste mundo do gozo eterno. Como estes ensinamentos animam os bons na caminhada dolorosa da existência! Por tudo isto, cumpre uma devoção filial a Maria, cuja proteção nunca falta àquele que implora seu auxílio na luta constante para superar as dificuldades da via e triunfar sobre as insídias do Maligno. Eis porque com grande fervor se deve pedir sempre à Virgem Assunta aos Céus: “Rogai por nós pecadores, agora e na hora da nossa morte” na certeza de que ela estará a nosso lado no momento decisivo de nossa peregrinação terrestre. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
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Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Na solenidade da assunção de Maria aos céus todas as vozes se reúnem para aclamarem o poder e a glória desta mulher bendita. O Senhor Jesus Cristo, contempla nessa Virgem a sua santa mãe e a eleva acima de todas as criaturas, declarando-a bendita entre todas as mulheres e fazendo-a rainha do céu e da terra. O Pai e o Espírito Santo a aureolam com fulgores resplandecentes. Os anjos a saúdam como a sua soberana e os homens não conhecem prestígio mais elevado, virtude mais esplendorosa, amor mais grandioso do que a importância, o valor e a dileção de Maria Santíssima. A este concerto mundial, a esta apoteose incomparável, a esta aclamação de todos os povos, unimos hoje as nossas vozes e os nossos cantos, celebrando a elevação de corpo e alma desta soberana que entra triunfalmente na Jerusalém celeste. Quanto fervor para publicar o louvor que enche os corações dos fiéis! Como é grandioso este dia verdadeiramente especial que encerra sublimes e consoladores ensinamentos da nossa religião: ida de Maria Santíssima para céu, dia de sua exaltação, apoteose da virtude e da santidade tudo isto graças a sua correspondência às graças com que foi mimoseada por Deus! Esta grandeza incomparável da Mãe de Deus reflete em cada batizado, pois esta comemoração é toda iluminada pela esperança e pela certeza de que também nós teremos o nosso dia de glória; se acha iluminada pela certeza de que os verdadeiros cristãos, os homens de bem, os justos, os amigos de Deus, terão o seu dia de triunfo, o dia da felicidade eterna, essa ventura que jamais terá fim, jamais terá defeito, jamais ocaso, e será plena, completa, perfeita, absoluta, como o foi para a Mãe de Deus. Lembremo-nos, porém, de que antes dessa glorificação Maria Santíssima, tendo na terra encontrado as mesmas dificuldades e os mesmos sofrimentos que encontramos, passou ela também pela morte. Ela não pôde evitar essa morte destinada a todos nós, ainda que ela fosse pura e imaculada. O próprio Jesus, Deus e homem verdadeiro, seguiu o mesmo caminho: Ele morreu na cruz, no monte Calvário e não quis subir gloriosamente ao céu sem antes sofrer a humilhação da morte, dessa horrível morte que o pecado introduziu no mundo. Morrer é a condição atual de todos os viventes, desde que Deus fora ofendido na terra pelo primeiro homem. A morte de Maria, contudo, foi qual suave sono do qual ela despertou para subir de corpo e alma para junto de seu divino Filho. Na morte de Maria Santíssima não encontramos a corrupção, não deparamos a destruição e o aniquilamento, porque o pecado não manchou essa vida, pois foi imaculada em sua conceição. Maria triunfou da decomposição da sepultura, de sorte que a morte para ela foi apenas a passagem rápida e gloriosa do tempo para a eternidade, da terra para o céu; foi antes, dizem os santos Padres e repete toda a tradição cristã um adeus dito a terra, um êxtase divino. Este prodígio é atestado pelo sentimento unânime de todos os fiéis e pela tradição constante dos séculos. Eis porque não há um povo, uma cidade, uma igreja, que possua uma única relíquia do corpo da Virgem Maria, tesouro precioso que o céu para si reclamou. Este triunfo de Maria é atestado pela Igreja que celebra por este acontecimento uma de suas mais solenes festividades. Dogma de fé proclamado solenemente pelo Papa Pio XII, dia primeiro de novembro de 1950. Esta é a festa da Senhora da Boa-Morte, a festa da Senhora da Glória, a festa da Rainha do céu, entrando nos palácios deslumbrantes reservados por Deus para os que a imitam e nela confiam. Todos estes diversos títulos, têm como objeto mensagens sublimes. Hoje vemos a justiça infalível de Deus, recompensando a fidelidade de Maria e a glorificação real e completa da honra, da verdade, da virtude e do bem. Essa recompensa e essa glorificação existem para todos os autênticos cristãos e são a nossa mais sublime esperança e a nossa suprema consolação neste vale de lágrimas. Quando Cristo nos aconselha a resignação, a paciência, o perdão das ofensas, pureza de consciência, Ele sabe que a nossa conduta segundo os mandamentos divinos não será frustrada. Ao deixar este mundo o discípulo de Cristo terá um prêmio perene. Quando Jesus nos proíbe a vingança, a maledicência, a calúnia, a fornicação Ele se reserva o direito de fazer brilhar a verdade ao glorificar os justos no final de sua trajetória terrena, além da paz, da alegria, da serenidade que possuem os que trilham os caminhos do bem. Praticar a virtude é já gozar um pouco neste mundo do gozo eterno. Como estes ensinamentos animam os bons na caminhada dolorosa da existência! Por tudo isto, cumpre uma devoção filial a Maria, cuja proteção nunca falta àquele que implora seu auxílio na luta constante para superar as dificuldades da via e triunfar sobre as insídias do Maligno. Eis porque com grande fervor se deve pedir sempre à Virgem Assunta aos Céus: “Rogai por nós pecadores, agora e na hora da nossa morte” na certeza de que ela estará a nosso lado no momento decisivo de nossa peregrinação terrestre. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
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PERDOAR SEMPRE
PERDOAR SEMPRE
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
A vida do cristão deve se desenrolar no ritmo do perdão. Cristo não apenas ensinou a rezar ao Pai: “Perdoai nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido”, como também respondeu a Pedro que o indagou sobre quantas vezes se deve anistiar o irmão, tendo o Apóstolo colocado como padrão o número sete: “Não te digo sete vezes, mas até setenta vezes sete”, ou seja, remissão sem limites. Ele mesmo daria o exemplo quando, pregado na cruz, rogou o indulto total para seus cruéis e gratuitos inimigos: “Pai, perdoai-lhes, eles não sabem o que fazem”. “Pai, perdoai-lhes”! Eis aí o lema glorioso do verdadeiro cristão, distintivo supremo do epígono do Mestre, admirável penhor de eterna salvação, atitude glorificada numa das bem-aventuranças: “Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia” (Mt 5,7). Oitenta anos antes daquela cena lá no Calvário expirava em Roma o famoso Sila. Ele ditara o seu epitáfio que era bem o símbolo do mundo antigo: “Nenhum amigo jamais me serviu e nenhum inimigo jamais me ofendeu sem que eu tivesse deixado de me vingar”. Imperava o ódio: “Dente por dente, olho por olho”. Eram cabeças de desafetos a enfeitarem os acampamentos. Reinavam as retaliações mais desumanas. Jesus instalou uma nova ordem nesta terra. Lançou a mensagem de clemência, de compreensão, de perdão, de benignidade, de bondade, de tolerância. Iluminou ele os caminhos dos homens, esmaltando todos os pensamentos, suavizando todas as atitudes; plasmou heróis formidáveis como a do proto-mártir Santo Estevão a repetir quase suas mesmas palavras ao ser apedrejado e morto por seus perseguidores: “Senhor, não lhes imputes este pecado” (Atos 7,60). Estevão, o primeiro a imitar Jesus e, depois dele, uma série de santos a reproduzirem com ênfase a postura do Mestre divino, espalhando no mundo aquela mútua bondade que desculpa sempre e que distingue e honra o verdadeiro cristão. A doutrina e o exemplo de Cristo retroaram até na eternidade e repercutiram nos sábios do passado, na mente de todos os chefes e líderes dos povos antigos. De fato, quem lhes dera ter recebido as lições do Meigo Rabi da Galiléia para poderem pregar a seus seguidores sabedoria tamanha, sublimando-a com exemplos que patenteiam a grandeza de uma alma nobre, repleta de ternura. O ensinamento e a conduta de Jesus rasgaram para a humanidade perspectivas de serenidade, harmonia e tranqüilidade. O mundo seria muito diferente se tudo sempre fosse olhado com o olhar de Jesus, com a transcendente visão que o divino amor inspira, porque é sempre a bondade e nunca o ódio, sempre o perdão e nunca o rancor que tem razão no céu e na terra. Na vida humana multiplicam-se as ocasiões de clemência a desanuviar as revoltas ante as atitudes do próximo. O perdão deve ser um estilo de vida do seguidor de Cristo o qual promove por toda parte a cultura da compreensão e da paz no lar, nas escolas, no lazer, no ambiente de trabalho, seja onde estiver um verdadeiro cristão. Nota-se, porém, nos dias de hoje uma regressão do perdão na deterioração das relações pessoais, na incapacidade crescente de restaurar rupturas, na maneira brusca que impera nas relações cotidianas. Uma sociedade repleta de conflitos faz estampar nos meios de comunicação social os gestos mais absurdos de desforra, muitos consumados com assassinatos desumanos. A violência que surge das polêmicas mais insignificantes se extravasa tantas vezes não apenas em palavras de baixo calão, em ameaças, mas, até, realmente em agressões físicas indesculpáveis. São as fronteiras do perdão ultrapassadas desumanamente num subjetivismo indigno de batizados. Cumpre que se restaure o império da fraternidade através da anistia cordial, pois esta é capaz de tocar o coração do ofensor que acaba por perceber a mesquinhez de seu ultraje. Isto significa fazer o culpado, entrar num processo de transformação e purificação interiores. Bento XVI mostrou como “a cidade dos homens deve ser edificada não apenas nas relações de direitos e deveres, mas ainda nas relações de gratuidade, de misericórdia, de comunhão. A caridade, doutrinou o Papa, manifesta sempre o amor de Deus nas relações humanas também”. É que o cristão tem que ser um semeador de paz e de serenidade. A caridade age em círculos concêntricos de dentro de um coração compreensivo para fora, ao contrário do que se passa no círculo ofensa-vingança que pode ser representado por uma espiral que atira tudo contra seu centro destruidor para tudo arrasar com sua passagem. O perdão deve ser uma postura que flui de um espírito inebriado pela caridade, fruto da coerência cristã. Precisa se tornar um hábito e não pode aparecer em alguns momentos apenas. Na escola de Jesus se aprende a perdoar, porque nela se aprende a amar! *Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
A vida do cristão deve se desenrolar no ritmo do perdão. Cristo não apenas ensinou a rezar ao Pai: “Perdoai nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido”, como também respondeu a Pedro que o indagou sobre quantas vezes se deve anistiar o irmão, tendo o Apóstolo colocado como padrão o número sete: “Não te digo sete vezes, mas até setenta vezes sete”, ou seja, remissão sem limites. Ele mesmo daria o exemplo quando, pregado na cruz, rogou o indulto total para seus cruéis e gratuitos inimigos: “Pai, perdoai-lhes, eles não sabem o que fazem”. “Pai, perdoai-lhes”! Eis aí o lema glorioso do verdadeiro cristão, distintivo supremo do epígono do Mestre, admirável penhor de eterna salvação, atitude glorificada numa das bem-aventuranças: “Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia” (Mt 5,7). Oitenta anos antes daquela cena lá no Calvário expirava em Roma o famoso Sila. Ele ditara o seu epitáfio que era bem o símbolo do mundo antigo: “Nenhum amigo jamais me serviu e nenhum inimigo jamais me ofendeu sem que eu tivesse deixado de me vingar”. Imperava o ódio: “Dente por dente, olho por olho”. Eram cabeças de desafetos a enfeitarem os acampamentos. Reinavam as retaliações mais desumanas. Jesus instalou uma nova ordem nesta terra. Lançou a mensagem de clemência, de compreensão, de perdão, de benignidade, de bondade, de tolerância. Iluminou ele os caminhos dos homens, esmaltando todos os pensamentos, suavizando todas as atitudes; plasmou heróis formidáveis como a do proto-mártir Santo Estevão a repetir quase suas mesmas palavras ao ser apedrejado e morto por seus perseguidores: “Senhor, não lhes imputes este pecado” (Atos 7,60). Estevão, o primeiro a imitar Jesus e, depois dele, uma série de santos a reproduzirem com ênfase a postura do Mestre divino, espalhando no mundo aquela mútua bondade que desculpa sempre e que distingue e honra o verdadeiro cristão. A doutrina e o exemplo de Cristo retroaram até na eternidade e repercutiram nos sábios do passado, na mente de todos os chefes e líderes dos povos antigos. De fato, quem lhes dera ter recebido as lições do Meigo Rabi da Galiléia para poderem pregar a seus seguidores sabedoria tamanha, sublimando-a com exemplos que patenteiam a grandeza de uma alma nobre, repleta de ternura. O ensinamento e a conduta de Jesus rasgaram para a humanidade perspectivas de serenidade, harmonia e tranqüilidade. O mundo seria muito diferente se tudo sempre fosse olhado com o olhar de Jesus, com a transcendente visão que o divino amor inspira, porque é sempre a bondade e nunca o ódio, sempre o perdão e nunca o rancor que tem razão no céu e na terra. Na vida humana multiplicam-se as ocasiões de clemência a desanuviar as revoltas ante as atitudes do próximo. O perdão deve ser um estilo de vida do seguidor de Cristo o qual promove por toda parte a cultura da compreensão e da paz no lar, nas escolas, no lazer, no ambiente de trabalho, seja onde estiver um verdadeiro cristão. Nota-se, porém, nos dias de hoje uma regressão do perdão na deterioração das relações pessoais, na incapacidade crescente de restaurar rupturas, na maneira brusca que impera nas relações cotidianas. Uma sociedade repleta de conflitos faz estampar nos meios de comunicação social os gestos mais absurdos de desforra, muitos consumados com assassinatos desumanos. A violência que surge das polêmicas mais insignificantes se extravasa tantas vezes não apenas em palavras de baixo calão, em ameaças, mas, até, realmente em agressões físicas indesculpáveis. São as fronteiras do perdão ultrapassadas desumanamente num subjetivismo indigno de batizados. Cumpre que se restaure o império da fraternidade através da anistia cordial, pois esta é capaz de tocar o coração do ofensor que acaba por perceber a mesquinhez de seu ultraje. Isto significa fazer o culpado, entrar num processo de transformação e purificação interiores. Bento XVI mostrou como “a cidade dos homens deve ser edificada não apenas nas relações de direitos e deveres, mas ainda nas relações de gratuidade, de misericórdia, de comunhão. A caridade, doutrinou o Papa, manifesta sempre o amor de Deus nas relações humanas também”. É que o cristão tem que ser um semeador de paz e de serenidade. A caridade age em círculos concêntricos de dentro de um coração compreensivo para fora, ao contrário do que se passa no círculo ofensa-vingança que pode ser representado por uma espiral que atira tudo contra seu centro destruidor para tudo arrasar com sua passagem. O perdão deve ser uma postura que flui de um espírito inebriado pela caridade, fruto da coerência cristã. Precisa se tornar um hábito e não pode aparecer em alguns momentos apenas. Na escola de Jesus se aprende a perdoar, porque nela se aprende a amar! *Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
A PRESIDENTE E UMA PÁTRIA GLORIOSA
A PRESIDENTE E UMA PÁTRIA GLORIOSA
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Premiada pela UNESCO, Clarice Zeitel, de 26 anos, estudante que termina Faculdade de Direito da UFRJ em julho, concorreu com outros 50 mil estudantes universitários.
Ela acaba de voltar de Paris, onde recebeu um prêmio da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) por uma redação sobre “Como vencer a pobreza e a desigualdade”.
A redação de Clarice teve uma epígrafe que é um alerta: “Pátria Madrasta Vil”. Foi incluída num livro, com outros cem textos selecionados no concurso.
A publicação está disponível no site da Biblioteca Virtual da UNESCO. Destaque-se esta frase do corajoso texto: “Porque o Brasil nada mais é do que o excesso de falta de caráter, a abundância de inexistência de solidariedade, o exagero de escassez de responsabilidade”.
Eis porque um raio de luz paira sobre a pátria bem-amada diante da postura firme da atual Presidente Dilma Roussef, a qual vem combatendo, corajosa e eficientemente, a corrupção.
Ela proclamou claramente: “Investigue-se e punam-se os culpados”, como aconteceu, por exemplo, com o ocorrido no Ministério do Turismo.
Porque muitos dirigentes jogam para debaixo do tapete as mais perversas irregularidades é que os corruptos se dão acintosamente às práticas mais soezes e quem acaba sofrendo são os pobres, os deserdados, os marginalizados.
É que a corrupção aumenta entre os corruptores e os que se deixam corromper, sendo que a degradação do melhor é a pior das degradações.
Para estes a pátria deixa de ser um poderoso acumulador de ética, uma fonte de inspiração, mas se tornar a bonificação da mediocridade. No combate à mesma é que está empenhada a atual Presidente, disposta a sanar as feridas que pessoas destituídas de caráter fazem multiplicar no setor público para desgraça dos cofres da nação.
Ao Estado só se pode dar o nome de pátria quando os dirigentes se lançam na pugna pela boa aplicação das verbas e tentam impedir de todos os modos a falcatrua.
Há, felizmente, entre os Políticos muitos que não amatalotam com os velhacos que exploram os abusos e com os abusos que sustentam os embusteiros.
A Presidente deseja que venham a público as maroteiras dos maus servidores da pátria e as baixezas dos parasitas e sabe que isto não enxovalha o Brasil, mas, antes faz brilhar a grandeza moral que nele deve haver em todos os setores. É o combate ao néscio antipatriotismo dos insensatos que querem viver às custas do sacrifício do povo, sugando o erário nacional. Dilma Roussef está a desfraldar a bandeira do verdadeiro patriotismo que é aquele que, metodicamente, com dedicação incansável, se esforça pelo bem comum. Ela pouco está se importando com o resultado das pesquisas de opinião, porque quer agir para o bem de todos os brasileiros e brasileiras afim de melhorar efetivamente o nível social de toda a população, sobretudo dos mais carentes. Para isto é preciso, realmente, banir os sanguessugas que minam a grandeza de uma nação. *Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Premiada pela UNESCO, Clarice Zeitel, de 26 anos, estudante que termina Faculdade de Direito da UFRJ em julho, concorreu com outros 50 mil estudantes universitários.
Ela acaba de voltar de Paris, onde recebeu um prêmio da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) por uma redação sobre “Como vencer a pobreza e a desigualdade”.
A redação de Clarice teve uma epígrafe que é um alerta: “Pátria Madrasta Vil”. Foi incluída num livro, com outros cem textos selecionados no concurso.
A publicação está disponível no site da Biblioteca Virtual da UNESCO. Destaque-se esta frase do corajoso texto: “Porque o Brasil nada mais é do que o excesso de falta de caráter, a abundância de inexistência de solidariedade, o exagero de escassez de responsabilidade”.
Eis porque um raio de luz paira sobre a pátria bem-amada diante da postura firme da atual Presidente Dilma Roussef, a qual vem combatendo, corajosa e eficientemente, a corrupção.
Ela proclamou claramente: “Investigue-se e punam-se os culpados”, como aconteceu, por exemplo, com o ocorrido no Ministério do Turismo.
Porque muitos dirigentes jogam para debaixo do tapete as mais perversas irregularidades é que os corruptos se dão acintosamente às práticas mais soezes e quem acaba sofrendo são os pobres, os deserdados, os marginalizados.
É que a corrupção aumenta entre os corruptores e os que se deixam corromper, sendo que a degradação do melhor é a pior das degradações.
Para estes a pátria deixa de ser um poderoso acumulador de ética, uma fonte de inspiração, mas se tornar a bonificação da mediocridade. No combate à mesma é que está empenhada a atual Presidente, disposta a sanar as feridas que pessoas destituídas de caráter fazem multiplicar no setor público para desgraça dos cofres da nação.
Ao Estado só se pode dar o nome de pátria quando os dirigentes se lançam na pugna pela boa aplicação das verbas e tentam impedir de todos os modos a falcatrua.
Há, felizmente, entre os Políticos muitos que não amatalotam com os velhacos que exploram os abusos e com os abusos que sustentam os embusteiros.
A Presidente deseja que venham a público as maroteiras dos maus servidores da pátria e as baixezas dos parasitas e sabe que isto não enxovalha o Brasil, mas, antes faz brilhar a grandeza moral que nele deve haver em todos os setores. É o combate ao néscio antipatriotismo dos insensatos que querem viver às custas do sacrifício do povo, sugando o erário nacional. Dilma Roussef está a desfraldar a bandeira do verdadeiro patriotismo que é aquele que, metodicamente, com dedicação incansável, se esforça pelo bem comum. Ela pouco está se importando com o resultado das pesquisas de opinião, porque quer agir para o bem de todos os brasileiros e brasileiras afim de melhorar efetivamente o nível social de toda a população, sobretudo dos mais carentes. Para isto é preciso, realmente, banir os sanguessugas que minam a grandeza de uma nação. *Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
quarta-feira, 10 de agosto de 2011
SE ALGUÉM QUER ME SERVIR, SIGA-ME
SE ALGUÉM QUER ME SERVIR, SIGA-ME
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
O diácono Lourenço, um dos santos mais venerados pela Antiguidade cristã e pela Idade Média e, depois, através dos tempos, foi um exemplo magnífico do que disse Jesus: “Se alguém quer me servir, siga-me” (Jo 12,26). Ele foi exaltado por grandes poetas como Prudêncio e Dante na Divina Comédia e foi representado por obras primas de pinturas de renomados artistas. Ele não só imitou o Mestre divino no serviço aos pobres de Roma, como ainda no martírio. Na perseguição de Valeriano foi preso e assado vivo sobre uma grelha, entregando, sereno e confiante, sua alma a Deus no dia 10 de agosto de 258. Um seguidor de Cristo, como São Lourenço, deixa uma mensagem sublime de engajamento total no Filho de Deus nos caminhos que Ele traçou para cada um. Trata-se do encontro com a pessoa de Jesus num desapego total de si mesmo. Isto significa que Filho de Deus deve ser o centro de gravidade em torno do qual tudo ganha sentido na vida do cristão, oferecendo o motivo da finalidade de cada ato determinado, realizado na mais total conformidade com Ele, pois enquanto homem Ele pôde afirmar que seu alimento era fazer a vontade do Pai (Jo 4,34). Portanto, segui-lO é fazer em tudo o que Deus quer nas circunstâncias da existência de cada um. Sob este ponto de vista tudo que o cristão realiza se torna um ato espiritual redimensionado, repleto de méritos para a eternidade. É o viver inteiramente para Cristo e em Cristo, como aconteceu com São Paulo que afirmou: “O meu viver é Cristo” (Fl 1,21). Então esta dileção ao divino Redentor, ainda que não exija um sacrifício tão grandioso como foi o de São Lourenço, faz com que o amor a Jesus seja o maior dos tesouros, vencendo todo egoísmo, todo entrave para uma total união com Deus, superando todos os obstáculos. Cumpre para isto inflamar o coração com o desejo ardente de um seguimento persistente daquele que se fez o caminho para se chegar à Casa do Pai. A abnegação que Jesus requer de seus discípulos deve ser dulcificada pela dedicação total a Ele. Esta é a maneira de se vencer todos os empecilhos que impedem o batizado de ser outro Cristo. O desejo de O seguir aquece o coração e então a cruz de cada instante se torna leve e rapidamente suportável e o dever específico de cada um é luminosamente executado. É que em Jesus deve estar imerso todo o ser de quem O segue. Ele quer consumar e transformar a vida do cristão em vida repleta de graça e de glória. Isto não se consegue com nenhuma técnica específica, pois é a verdade fundamental, que é o próprio Cristo, o que fortalece, robustece, como aconteceu com São Lourenço para quem o Mestre Divino nunca estava ausente, distante. É lógico que esta realidade só se pode dar para quem procura a paz interior para sentir-se sempre envolvido na presença divina. Esta quietude que se depara nos momentos de uma prece ardente faz entrever a sublime realidade de ser livre, jamais deixando de colocar seus passos nos passos de Jesus. No Evangelho de São João está escrito o que Cristo falou: “Eu sou a videira e vós os ramos” (Jo 15,5). Os ramos não estão separados da videira, mas fazem um com ela. Se alguém corta um ramo, ele logo seca, estiola. É nisto que muitos não pensam, esquecidos de que a maneira como se vê a Deus é a maneira mesma pela qual Deus vê o ser humano, uma mesma visão, um mesmo conhecimento, um mesmo amor. No Batismo, de fato, se dá uma metamorfose admirável, extraordinária, pois Deus se comunica à alma e lhe mostra uma total dileção, generosa, imensa como o oceano, com a qual Ele se comunica ternamente, fortalecendo para a superação dos percalços da condição humana sempre atraída para o que é terreno e não para o que é celeste. Compreende-se então o conselho de São Paulo: “Vós que ressuscitastes com Cristo, procurai as coisas do alto e não as da terra” (Col 3,1). Foi o que compreendeu magnificamente São Lourenço a ponto de sacrificar sua própria vida num tormento de proporções assustadoras. Por isto é que se pede a Deus na oração de sua festa conceder a cada um amar o que ele amou e praticar o que ele ensinou.
* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
O diácono Lourenço, um dos santos mais venerados pela Antiguidade cristã e pela Idade Média e, depois, através dos tempos, foi um exemplo magnífico do que disse Jesus: “Se alguém quer me servir, siga-me” (Jo 12,26). Ele foi exaltado por grandes poetas como Prudêncio e Dante na Divina Comédia e foi representado por obras primas de pinturas de renomados artistas. Ele não só imitou o Mestre divino no serviço aos pobres de Roma, como ainda no martírio. Na perseguição de Valeriano foi preso e assado vivo sobre uma grelha, entregando, sereno e confiante, sua alma a Deus no dia 10 de agosto de 258. Um seguidor de Cristo, como São Lourenço, deixa uma mensagem sublime de engajamento total no Filho de Deus nos caminhos que Ele traçou para cada um. Trata-se do encontro com a pessoa de Jesus num desapego total de si mesmo. Isto significa que Filho de Deus deve ser o centro de gravidade em torno do qual tudo ganha sentido na vida do cristão, oferecendo o motivo da finalidade de cada ato determinado, realizado na mais total conformidade com Ele, pois enquanto homem Ele pôde afirmar que seu alimento era fazer a vontade do Pai (Jo 4,34). Portanto, segui-lO é fazer em tudo o que Deus quer nas circunstâncias da existência de cada um. Sob este ponto de vista tudo que o cristão realiza se torna um ato espiritual redimensionado, repleto de méritos para a eternidade. É o viver inteiramente para Cristo e em Cristo, como aconteceu com São Paulo que afirmou: “O meu viver é Cristo” (Fl 1,21). Então esta dileção ao divino Redentor, ainda que não exija um sacrifício tão grandioso como foi o de São Lourenço, faz com que o amor a Jesus seja o maior dos tesouros, vencendo todo egoísmo, todo entrave para uma total união com Deus, superando todos os obstáculos. Cumpre para isto inflamar o coração com o desejo ardente de um seguimento persistente daquele que se fez o caminho para se chegar à Casa do Pai. A abnegação que Jesus requer de seus discípulos deve ser dulcificada pela dedicação total a Ele. Esta é a maneira de se vencer todos os empecilhos que impedem o batizado de ser outro Cristo. O desejo de O seguir aquece o coração e então a cruz de cada instante se torna leve e rapidamente suportável e o dever específico de cada um é luminosamente executado. É que em Jesus deve estar imerso todo o ser de quem O segue. Ele quer consumar e transformar a vida do cristão em vida repleta de graça e de glória. Isto não se consegue com nenhuma técnica específica, pois é a verdade fundamental, que é o próprio Cristo, o que fortalece, robustece, como aconteceu com São Lourenço para quem o Mestre Divino nunca estava ausente, distante. É lógico que esta realidade só se pode dar para quem procura a paz interior para sentir-se sempre envolvido na presença divina. Esta quietude que se depara nos momentos de uma prece ardente faz entrever a sublime realidade de ser livre, jamais deixando de colocar seus passos nos passos de Jesus. No Evangelho de São João está escrito o que Cristo falou: “Eu sou a videira e vós os ramos” (Jo 15,5). Os ramos não estão separados da videira, mas fazem um com ela. Se alguém corta um ramo, ele logo seca, estiola. É nisto que muitos não pensam, esquecidos de que a maneira como se vê a Deus é a maneira mesma pela qual Deus vê o ser humano, uma mesma visão, um mesmo conhecimento, um mesmo amor. No Batismo, de fato, se dá uma metamorfose admirável, extraordinária, pois Deus se comunica à alma e lhe mostra uma total dileção, generosa, imensa como o oceano, com a qual Ele se comunica ternamente, fortalecendo para a superação dos percalços da condição humana sempre atraída para o que é terreno e não para o que é celeste. Compreende-se então o conselho de São Paulo: “Vós que ressuscitastes com Cristo, procurai as coisas do alto e não as da terra” (Col 3,1). Foi o que compreendeu magnificamente São Lourenço a ponto de sacrificar sua própria vida num tormento de proporções assustadoras. Por isto é que se pede a Deus na oração de sua festa conceder a cada um amar o que ele amou e praticar o que ele ensinou.
* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
Bem-aventudos os pobres
BEM-AVENTURADOS OS POBRES
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Uma das bem-aventuranças registradas por São Lucas é esta: “Bem-aventurados vós que sois pobres, porque vosso é o Reino de Deus!” (Lc 6,20). Além disto, é de se observar que os pobres têm um lugar privilegiado no texto do Evangelho de São Lucas A parábola de Lázaro e do mau rico é expressiva (Lc 16,19-31). Este endeusa seu bem-estar, enquanto que ao pobre nem é dado apanhar as migalhas que são lançadas fora da mesa. Multiplicam-se no Evangelho de São Lucas as passagens nas quais a pobreza de espírito, o desprendimento dos valores do que é transitório é sabiamente inculcado por Cristo. Este, de fato, ensinou: “Não andeis muito preocupados em relação à vossa vida, com o que tereis para comer, nem relação ao vosso corpo com o que tereis para vestir” (Lc 12,22 ) [...] “Vendei o que possuís e dai-o de esmola. Fazei para vós bolsas que não se gastem, um tesouro nos céus que não se esvaziará, do qual o ladrão não aproxima e a traça nada destrói. Porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará o vosso coração” ( Lc 12,34). É deste modo que os batizados se tornam uma verdadeira comunidade dos pobres de Deus, na qual não deve haver ricos de coração vazio, nem pobres que nada possuem mas que podem estar contaminados pela cobiça da posse das coisas terrenas.
Alerta Bento XVI que a verdadeira pobreza evangélica “não é um fenômeno simplesmente material. A simples pobreza material não redime, ainda que certamente os preteridos deste mundo possam contar, de um modo muito especial, com a bondade de Deus”.
O que muitos cristãos esquecem é que o visível dura pouco tempo, ao passo que o invisível é eterno.
Neste mundo tudo passa, tudo acaba! Árvores, animais, o homem, tudo vem a ter fim, tudo se resolve em pó e cinza. Passaram os grandes homens, que assombraram o mundo com o seu poder, ciência e virtude! Passaram os capitães famosos da Grécia e Roma! Passaram os filósofos de Atenas e os oradores do Lácio! Passaram os grandes Santos, luminares da Igreja! Entretanto, para quem tem fé tudo passa, e nada passa. Tudo passa para a vida e nada passa para a eternidade. Tal foi o conselho de Jesus: “Entesourai tesouros no céu onde nem a traça nem a ferrugem destroem” (Mt 6,29). A verdade é que o desengano de que tudo passa neste mundo, posto que seja por uma parte tão evidente, que parece não há mister prova, é por outro tão dificultoso, que nenhuma evidência basta para o persuadir.
Os Filósofos, os Profetas, os Apóstolos, os Santos Padres, os grandes místicos todos falaram e escreveram, e não uma, senão muitas vezes, e com todas as forças da eloqüência, na declaração deste desengano, posto por si mesmo tão claro, para alertar sobre o desapego das coisas terrenas. Estas são breves e efêmeras e nenhum lugar ocupam na eternidade, a não ser o bom uso que delas se tenha feito na realização da vontade divina. Jesus pregou o despojamento, ou seja, o empenho ascético na abnegação e na renúncia. Ele quis tirar seu seguidor progressivamente das influências das criaturas a fim de torná-lo cada vez mais disponível ao influxo de Deus, à voz do Espírito Santo É este o motivo pelo qual o caminho do despojamento estende-se à purificação das faculdades sensíveis e espirituais. Trata-se do estado perfeito da alma unida aos desígnios do Ser Supremo.
Despojar-se de todos os bens significa entregar tudo a Deus para que disponha deles como quiser. Isto não por desprezo, mas por abnegação e pelo puro amor de Deus. Foi isto que Jesus ensinou.* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Uma das bem-aventuranças registradas por São Lucas é esta: “Bem-aventurados vós que sois pobres, porque vosso é o Reino de Deus!” (Lc 6,20). Além disto, é de se observar que os pobres têm um lugar privilegiado no texto do Evangelho de São Lucas A parábola de Lázaro e do mau rico é expressiva (Lc 16,19-31). Este endeusa seu bem-estar, enquanto que ao pobre nem é dado apanhar as migalhas que são lançadas fora da mesa. Multiplicam-se no Evangelho de São Lucas as passagens nas quais a pobreza de espírito, o desprendimento dos valores do que é transitório é sabiamente inculcado por Cristo. Este, de fato, ensinou: “Não andeis muito preocupados em relação à vossa vida, com o que tereis para comer, nem relação ao vosso corpo com o que tereis para vestir” (Lc 12,22 ) [...] “Vendei o que possuís e dai-o de esmola. Fazei para vós bolsas que não se gastem, um tesouro nos céus que não se esvaziará, do qual o ladrão não aproxima e a traça nada destrói. Porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará o vosso coração” ( Lc 12,34). É deste modo que os batizados se tornam uma verdadeira comunidade dos pobres de Deus, na qual não deve haver ricos de coração vazio, nem pobres que nada possuem mas que podem estar contaminados pela cobiça da posse das coisas terrenas.
Alerta Bento XVI que a verdadeira pobreza evangélica “não é um fenômeno simplesmente material. A simples pobreza material não redime, ainda que certamente os preteridos deste mundo possam contar, de um modo muito especial, com a bondade de Deus”.
O que muitos cristãos esquecem é que o visível dura pouco tempo, ao passo que o invisível é eterno.
Neste mundo tudo passa, tudo acaba! Árvores, animais, o homem, tudo vem a ter fim, tudo se resolve em pó e cinza. Passaram os grandes homens, que assombraram o mundo com o seu poder, ciência e virtude! Passaram os capitães famosos da Grécia e Roma! Passaram os filósofos de Atenas e os oradores do Lácio! Passaram os grandes Santos, luminares da Igreja! Entretanto, para quem tem fé tudo passa, e nada passa. Tudo passa para a vida e nada passa para a eternidade. Tal foi o conselho de Jesus: “Entesourai tesouros no céu onde nem a traça nem a ferrugem destroem” (Mt 6,29). A verdade é que o desengano de que tudo passa neste mundo, posto que seja por uma parte tão evidente, que parece não há mister prova, é por outro tão dificultoso, que nenhuma evidência basta para o persuadir.
Os Filósofos, os Profetas, os Apóstolos, os Santos Padres, os grandes místicos todos falaram e escreveram, e não uma, senão muitas vezes, e com todas as forças da eloqüência, na declaração deste desengano, posto por si mesmo tão claro, para alertar sobre o desapego das coisas terrenas. Estas são breves e efêmeras e nenhum lugar ocupam na eternidade, a não ser o bom uso que delas se tenha feito na realização da vontade divina. Jesus pregou o despojamento, ou seja, o empenho ascético na abnegação e na renúncia. Ele quis tirar seu seguidor progressivamente das influências das criaturas a fim de torná-lo cada vez mais disponível ao influxo de Deus, à voz do Espírito Santo É este o motivo pelo qual o caminho do despojamento estende-se à purificação das faculdades sensíveis e espirituais. Trata-se do estado perfeito da alma unida aos desígnios do Ser Supremo.
Despojar-se de todos os bens significa entregar tudo a Deus para que disponha deles como quiser. Isto não por desprezo, mas por abnegação e pelo puro amor de Deus. Foi isto que Jesus ensinou.* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos
Importância da oração comunitária
IMPORTÂNCIA DA ORAÇÃO COMUNITÁRIA
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
A importância da oração comunitária fica patente nestas palavras de Cristo: "Onde dois ou três estão reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles” (Mt 18,20). Recordar esta doutrina do Mestre divino se torna necessária, sobretudo quando alguns menoscabam a Missa dominical, alegando que rezam em casa. No dia do Senhor os fiéis de reúnem para louvar a Deus, escutar sua palavra e podem perceber ainda mais vivamente que Jesus está entre eles. É que a oração especificamente cristã encontra seu ponto central na Eucaristia. Nela comunitariamente adoramos o Pai em Cristo, com Cristo e por Cristo e nela recebemos as luzes do Espírito Santo, que ao mesmo tempo torna dos seguidores de Cristo aptos a acolher tal dom supremo e, num auxílio mútuo, capazes de se transformar cada um em oblação ao Ser Supremo. Com efeito, a Eucaristia é o centro do culto da Igreja e cria de novo a comunhão de fé, de esperança, de caridade e de adoração em espírito e em verdade. O que, por vezes se esquece, é que Eucaristia significa ação de graças. Ao se congregarem em torno do Altar os fiéis entram na mesma dimensão, uníssonos em proclamar as grandezas divinas num mundo alienado que tende a ignorar e até combater a Deus. Entrando nesta dimensão da gratidão o batizado se torna participante da redenção, coartífice com Cristo. As súplicas ganham uma força extraordinária e se realiza o voto de São Paulo: “Em tudo pela oração e pela súplica, acompanhadas de ação de graças, se tornem presentes a Deus os vossos pedidos” (Fl 46). Isto porque a voz da assembléia está intimamente unida a Cristo e aos santos. No ofertório é entregue a Deus a semana que passou e são buscadas energias para mais uma caminhada que se iniciará. Rebrilha então a dimensão social, dado que cada um vai se empenhar ao máximo nas tarefas cotidianas a bem de toda a comunidade no seu setor específico de atuação. É o ser racional associado no serviço do reino de Deus e do próximo na vivência sublime do lema: “Um por todos e todos por um”. Foi o que ocorreu desde o princípio do cristianismo como está registrado nos Atos dos Apóstolos: “A multidão dos crentes tinha um só coração e uma só alma” (Atos 4,32). No Corpo Místico de Cristo, que é a Igreja, há multiplicidade e variedade de membros, todos unidos em Jesus que é o único princípio de vida e de unidade, o que se experimenta, sobretudo, no momento eucarístico. Na proclamação da morte e da ressurreição do Senhor se aprofunda a fé na redenção do sofrimento e da morte e os cristãos se robustecem para poderem enfrentar as dificuldades de cada instante. Após cada Missa os fiéis acatam ainda mais corajosamente sua missão maravilhosa de serem mensageiros da paz, da reconciliação, do conforto mútuo. Multiplicam-se, deste modo, as testemunhas jubilosas, alegres, agradecidas da salvação. Dá-se plenamente o que Jesus falou: “Eu estou no meio deles” e resulta uma comunidade que vive o Evangelho a ponto de fazer de seus membros um evangelho vivo. De fato, na oração comunitária, mormente a feita durante a Missa a palavra de Deus toca e transforma o batizado que lhe dá sua resposta numa comunidade de fé e de amor. A inserção no Corpo Místico de Cristo se torna então solidariedade que une entre si todos os batizados. Rebrilha desta maneira a reciprocidade das consciências e a presença recíproca e melhor se passa a entender a presença divina, fonte de vida e de luz para todos. É assim que se pode viver intensamente o momento presente, porque o cristão depara o Senhor da história o qual une os irmãos para que não esmoreçam até a transfiguração final junto dele na Jerusalém celeste. Assim sendo a oração do cristão se torna logicamente eclesial, pois exprime o “nós” comunitário do povo de Deus, fundamentada na mesma fé. Como participação na Sagrada Liturgia ou nos demais momentos em que grupos de pessoas se reúnem para orar não abrange toda a vida espiritual do cristão, este é chamado também a orar individualmente seguindo o outro preceito de Jesus: “Tu, porém, quando orares, entra no teu quarto, fecha a porta e ora ao teu que está presente em lugar secreto” (Mt 6,6). Mostrou que não se deve empregar muitas palavras e ensinou a prece do “Pai Nosso”, que, bem analisada, é sumamente comunitária, pois o discípulo de Jesus reza não só para si, mas para todos, numa perspectiva universal. Não se trata do “plural majestoso” de que falam os gramáticos, mas do plural que globaliza a oração individual. Tudo isto mostra que o cristão deve rezar sem tréguas, de dia e de noite, pois se ele tem fé e espírito comunitário, possui o mundo nas mãos. Por tudo isto a oração se torna, realmente, uma fonte de energia, pois a oração é luz e força, é a própria ação de Deus a se irradiar por todo o mundo. A oração é uma chave do céu, dado que sobem as preces, desce a Divina Misericórdia. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
A importância da oração comunitária fica patente nestas palavras de Cristo: "Onde dois ou três estão reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles” (Mt 18,20). Recordar esta doutrina do Mestre divino se torna necessária, sobretudo quando alguns menoscabam a Missa dominical, alegando que rezam em casa. No dia do Senhor os fiéis de reúnem para louvar a Deus, escutar sua palavra e podem perceber ainda mais vivamente que Jesus está entre eles. É que a oração especificamente cristã encontra seu ponto central na Eucaristia. Nela comunitariamente adoramos o Pai em Cristo, com Cristo e por Cristo e nela recebemos as luzes do Espírito Santo, que ao mesmo tempo torna dos seguidores de Cristo aptos a acolher tal dom supremo e, num auxílio mútuo, capazes de se transformar cada um em oblação ao Ser Supremo. Com efeito, a Eucaristia é o centro do culto da Igreja e cria de novo a comunhão de fé, de esperança, de caridade e de adoração em espírito e em verdade. O que, por vezes se esquece, é que Eucaristia significa ação de graças. Ao se congregarem em torno do Altar os fiéis entram na mesma dimensão, uníssonos em proclamar as grandezas divinas num mundo alienado que tende a ignorar e até combater a Deus. Entrando nesta dimensão da gratidão o batizado se torna participante da redenção, coartífice com Cristo. As súplicas ganham uma força extraordinária e se realiza o voto de São Paulo: “Em tudo pela oração e pela súplica, acompanhadas de ação de graças, se tornem presentes a Deus os vossos pedidos” (Fl 46). Isto porque a voz da assembléia está intimamente unida a Cristo e aos santos. No ofertório é entregue a Deus a semana que passou e são buscadas energias para mais uma caminhada que se iniciará. Rebrilha então a dimensão social, dado que cada um vai se empenhar ao máximo nas tarefas cotidianas a bem de toda a comunidade no seu setor específico de atuação. É o ser racional associado no serviço do reino de Deus e do próximo na vivência sublime do lema: “Um por todos e todos por um”. Foi o que ocorreu desde o princípio do cristianismo como está registrado nos Atos dos Apóstolos: “A multidão dos crentes tinha um só coração e uma só alma” (Atos 4,32). No Corpo Místico de Cristo, que é a Igreja, há multiplicidade e variedade de membros, todos unidos em Jesus que é o único princípio de vida e de unidade, o que se experimenta, sobretudo, no momento eucarístico. Na proclamação da morte e da ressurreição do Senhor se aprofunda a fé na redenção do sofrimento e da morte e os cristãos se robustecem para poderem enfrentar as dificuldades de cada instante. Após cada Missa os fiéis acatam ainda mais corajosamente sua missão maravilhosa de serem mensageiros da paz, da reconciliação, do conforto mútuo. Multiplicam-se, deste modo, as testemunhas jubilosas, alegres, agradecidas da salvação. Dá-se plenamente o que Jesus falou: “Eu estou no meio deles” e resulta uma comunidade que vive o Evangelho a ponto de fazer de seus membros um evangelho vivo. De fato, na oração comunitária, mormente a feita durante a Missa a palavra de Deus toca e transforma o batizado que lhe dá sua resposta numa comunidade de fé e de amor. A inserção no Corpo Místico de Cristo se torna então solidariedade que une entre si todos os batizados. Rebrilha desta maneira a reciprocidade das consciências e a presença recíproca e melhor se passa a entender a presença divina, fonte de vida e de luz para todos. É assim que se pode viver intensamente o momento presente, porque o cristão depara o Senhor da história o qual une os irmãos para que não esmoreçam até a transfiguração final junto dele na Jerusalém celeste. Assim sendo a oração do cristão se torna logicamente eclesial, pois exprime o “nós” comunitário do povo de Deus, fundamentada na mesma fé. Como participação na Sagrada Liturgia ou nos demais momentos em que grupos de pessoas se reúnem para orar não abrange toda a vida espiritual do cristão, este é chamado também a orar individualmente seguindo o outro preceito de Jesus: “Tu, porém, quando orares, entra no teu quarto, fecha a porta e ora ao teu que está presente em lugar secreto” (Mt 6,6). Mostrou que não se deve empregar muitas palavras e ensinou a prece do “Pai Nosso”, que, bem analisada, é sumamente comunitária, pois o discípulo de Jesus reza não só para si, mas para todos, numa perspectiva universal. Não se trata do “plural majestoso” de que falam os gramáticos, mas do plural que globaliza a oração individual. Tudo isto mostra que o cristão deve rezar sem tréguas, de dia e de noite, pois se ele tem fé e espírito comunitário, possui o mundo nas mãos. Por tudo isto a oração se torna, realmente, uma fonte de energia, pois a oração é luz e força, é a própria ação de Deus a se irradiar por todo o mundo. A oração é uma chave do céu, dado que sobem as preces, desce a Divina Misericórdia. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
segunda-feira, 8 de agosto de 2011
REPORTAGEM DO JORNAL 'TA NA CARA'
PEREGRINAÇÃO RELIGIOSA E CULTURAL
Este ano o Professor Cônego José Geraldo Vidigal de Carvalho, no mês de julho, escolheu a cidade de Toulouse como principal meta de sua ida à Europa. Toulouse não é uma cidade industrial, mas, a exemplo de Viçosa, se destaca sobretudo pela sua cultura e seus estabelecimentos de Ensino. Foi lá que São Vicente de Paulo estudou e também um dos Professores da Universidade Federal de Viçosa, Guy Capdeville. Cidade de muitos museus e, dentre eles, o Museu dos Agostinianos, com obras de arte até mesmo da época dos romanos, encontradas nas pesquisas arqueológicas. Muita beleza natural, sobretudo por causa do Rio Garonne que nasce nos Pirineus. Uma caminhada pelos canais do mesmo, durante duas horas, por entre bosques e belíssimas construções oferece calma, tranqüilidade, imperturbabilidade, sobretudo quando o guia é culto e preparado e vai descrevendo o que os administradores fizeram para bem aproveitar aquela riqueza natural. Um tour histórico pode ser feito em embarcação repleta de pessoas que amam as maravilhas que Deus espalhou neste mundo. Neste tour se pode contemplar de um lado a região em que ficavam os pobres e do outro as pessoas de mais posses, mas a presença da Igreja, num e noutro setor, orientando e pregando a fraternidade. O cônego foi a Toulouse para visitar o mausoléu de Santo Tomás de Aquino, o mais santo dos sábios e o mais sábio dos santos. O túmulo se acha no centro da Igreja do Mosteiro dos Jacobinos sob um altar e é um sepulcro dourado diante do qual profunda a veneração dos visitantes para com o autor da Suma Teológica. O interior deste Mosteiro é de uma beleza extraordinária com um vasto jardim muito propício a uma reflexão profunda a quem caminha nas arcadas em derredor do mesmo. Nos antigos mosteiros, os monges costumavam passear nas arcadas. Foi em outro mosteiro da Europa que se deu o célebre fato envolvendo Santo Tomás, quando, um dia, os frades resolveram brincar com ele que estava, como sempre no pátio interior do convento, meditando sobre profundos assuntos referentes a Deus. Alguém o chamou, dizendo: “Vem ver um boi voando”! Tomás, imediatamente, o acompanhou e se pôs a olhar para o alto ao som das gostosas gargalhadas de seus confrades. Estes então lhe perguntaram como, sendo tão inteligente, ele podia pensar que um boi estivesse voando. A resposta de Tomás foi uma lição maravilhosa: “Olhei porque deve ser mais fácil um boi voar do que um frade mentir”. Nunca mais brincaram com ele, respeitando seus instantes de funda meditação. Impressionante em Toulouse é também a devoção a São Saturnino, Saint Sernin, cuja imponente Basílica retem os restos mortais do primeiro bispo daquela circunscrição eclesiástica e que foi martirizado pelos romanos que o fizeram arrastar pelas ruas puxado por touros. Daí a construção outro templo dedicado a Nossa Senhora de Taur. Próximo ao Rio Garonne está a Igreja de la Daurade, cuja imagem salvou Toulouse em certa ocasião de um grande incêndio e, todos os anos, há uma concorridíssima procissão pelas ruas da quarta maior cidade da Fraça, recordando este fato. Ao lado do altar estão duas imponentes imagens em pedra de São Bernardo e de São Boaventura. Nesta Igreja, como também na Basílica de Saint Sernin, ícones de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro nelas colocadas pelos redentoristas que lá pregaram uma missão em 1938. Muito visitada é, outrossim, a Igreja de Notre Dame la Dalbade, Mãe de misericórdia e ternura, como dizem os toulousenses. A Catedral de Sainte Etienne, onde há uma enorme imagem de Nossa Senhora dos Anjos, apresenta uma mistura de muitos estilos, devido os acréscimos que foi tendo através dos anos. Célebres o seu órgão e seus vitrais. Toulouse fica a uma hora e meio de trem distante de Lourdes o que levou o Cônego a ir pela quarta vez àquele santuário, onde concelebrou Missa com padres italianos que lá estavam com inúmeros romeiros da Sicília. Em Paris impressiona a devoção a Santa Rita de Cássia, cujo ícone na entrada da Igreja da Madalena, em frente à Place Concorde, está sempre rodeado de velas acesas por seus devotos. Pouco adiante na Igreja de São Roque, num dos altares laterais a imagem da Padroeira de Viçosa é muito venerada, bem como na Igreja de São Sulpício, de São Germano e, até, em Montmatre na Basílica do Sacré Coeur de Jesus, templo visitado diariamente por milhares de turistas do mundo inteiro, até mesmo de outras religiões. Lá se exige total silêncio devido ao Santíssimo Sacramento exposto para Adoração Perpétua. Para 2012 o Cônego está preparando já uma peregrinação a Lille, importante urbe do norte da França, onde a cinco quilômetros há um Santuário em honra de Santa Rita em Vendeville, para o qual são organizadas peregrinações o ano inteiro. Não deixará por certo, como sempre, de rezar por Viçosa e pelos viçosenses!
JORNAL”TÁ NA CARA” – VIÇOSA - MG
Este ano o Professor Cônego José Geraldo Vidigal de Carvalho, no mês de julho, escolheu a cidade de Toulouse como principal meta de sua ida à Europa. Toulouse não é uma cidade industrial, mas, a exemplo de Viçosa, se destaca sobretudo pela sua cultura e seus estabelecimentos de Ensino. Foi lá que São Vicente de Paulo estudou e também um dos Professores da Universidade Federal de Viçosa, Guy Capdeville. Cidade de muitos museus e, dentre eles, o Museu dos Agostinianos, com obras de arte até mesmo da época dos romanos, encontradas nas pesquisas arqueológicas. Muita beleza natural, sobretudo por causa do Rio Garonne que nasce nos Pirineus. Uma caminhada pelos canais do mesmo, durante duas horas, por entre bosques e belíssimas construções oferece calma, tranqüilidade, imperturbabilidade, sobretudo quando o guia é culto e preparado e vai descrevendo o que os administradores fizeram para bem aproveitar aquela riqueza natural. Um tour histórico pode ser feito em embarcação repleta de pessoas que amam as maravilhas que Deus espalhou neste mundo. Neste tour se pode contemplar de um lado a região em que ficavam os pobres e do outro as pessoas de mais posses, mas a presença da Igreja, num e noutro setor, orientando e pregando a fraternidade. O cônego foi a Toulouse para visitar o mausoléu de Santo Tomás de Aquino, o mais santo dos sábios e o mais sábio dos santos. O túmulo se acha no centro da Igreja do Mosteiro dos Jacobinos sob um altar e é um sepulcro dourado diante do qual profunda a veneração dos visitantes para com o autor da Suma Teológica. O interior deste Mosteiro é de uma beleza extraordinária com um vasto jardim muito propício a uma reflexão profunda a quem caminha nas arcadas em derredor do mesmo. Nos antigos mosteiros, os monges costumavam passear nas arcadas. Foi em outro mosteiro da Europa que se deu o célebre fato envolvendo Santo Tomás, quando, um dia, os frades resolveram brincar com ele que estava, como sempre no pátio interior do convento, meditando sobre profundos assuntos referentes a Deus. Alguém o chamou, dizendo: “Vem ver um boi voando”! Tomás, imediatamente, o acompanhou e se pôs a olhar para o alto ao som das gostosas gargalhadas de seus confrades. Estes então lhe perguntaram como, sendo tão inteligente, ele podia pensar que um boi estivesse voando. A resposta de Tomás foi uma lição maravilhosa: “Olhei porque deve ser mais fácil um boi voar do que um frade mentir”. Nunca mais brincaram com ele, respeitando seus instantes de funda meditação. Impressionante em Toulouse é também a devoção a São Saturnino, Saint Sernin, cuja imponente Basílica retem os restos mortais do primeiro bispo daquela circunscrição eclesiástica e que foi martirizado pelos romanos que o fizeram arrastar pelas ruas puxado por touros. Daí a construção outro templo dedicado a Nossa Senhora de Taur. Próximo ao Rio Garonne está a Igreja de la Daurade, cuja imagem salvou Toulouse em certa ocasião de um grande incêndio e, todos os anos, há uma concorridíssima procissão pelas ruas da quarta maior cidade da Fraça, recordando este fato. Ao lado do altar estão duas imponentes imagens em pedra de São Bernardo e de São Boaventura. Nesta Igreja, como também na Basílica de Saint Sernin, ícones de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro nelas colocadas pelos redentoristas que lá pregaram uma missão em 1938. Muito visitada é, outrossim, a Igreja de Notre Dame la Dalbade, Mãe de misericórdia e ternura, como dizem os toulousenses. A Catedral de Sainte Etienne, onde há uma enorme imagem de Nossa Senhora dos Anjos, apresenta uma mistura de muitos estilos, devido os acréscimos que foi tendo através dos anos. Célebres o seu órgão e seus vitrais. Toulouse fica a uma hora e meio de trem distante de Lourdes o que levou o Cônego a ir pela quarta vez àquele santuário, onde concelebrou Missa com padres italianos que lá estavam com inúmeros romeiros da Sicília. Em Paris impressiona a devoção a Santa Rita de Cássia, cujo ícone na entrada da Igreja da Madalena, em frente à Place Concorde, está sempre rodeado de velas acesas por seus devotos. Pouco adiante na Igreja de São Roque, num dos altares laterais a imagem da Padroeira de Viçosa é muito venerada, bem como na Igreja de São Sulpício, de São Germano e, até, em Montmatre na Basílica do Sacré Coeur de Jesus, templo visitado diariamente por milhares de turistas do mundo inteiro, até mesmo de outras religiões. Lá se exige total silêncio devido ao Santíssimo Sacramento exposto para Adoração Perpétua. Para 2012 o Cônego está preparando já uma peregrinação a Lille, importante urbe do norte da França, onde a cinco quilômetros há um Santuário em honra de Santa Rita em Vendeville, para o qual são organizadas peregrinações o ano inteiro. Não deixará por certo, como sempre, de rezar por Viçosa e pelos viçosenses!
JORNAL”TÁ NA CARA” – VIÇOSA - MG
sábado, 6 de agosto de 2011
JESUS SAIU PARA UM LUGAR DESERTO
JESUS SAIU PARA UM LUGAR DESERTO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Enquanto homem, Cristo se retirou, várias vezes, para um lugar deserto para estar em tertúlia com o Pai. Bem se diz que o deserto é o lugar propício para uma viagem ao país do silêncio, onde se pode estar em contacto com o Ser Supremo. A atitude do Mestre Divino indo para um espaço isolado foi para deixar uma lição preciosa para seus seguidores. O espaço para a quietação interior que permite uma união maior com a divindade não é necessariamente o deserto geográfico, mas o interior de cada um, lá onde moram as Três Pessoas divinas. Jesus foi claro: “Se alguém me ama, meu Pai o amará, viremos a Ele e nele faremos a nossa morada”. O segredo do progresso espiritual é exatamente se sentir envolto na presença de Deus. Tal o conselho que o salmista registrou: “Meditai em vossos corações e fazei silêncio” (Sl 4,6). Eis aí o refúgio permanente que se abre para todo batizado, permitindo o caminho da aderência a Deus mesmo durante as tarefas de cada instante, estando o fiel na presença permanente de seu Senhor. É que há uma luminosa vastidão dentro do discípulo de Cristo. É lá que se pode perceber o turbilhão de amor de um Ser Infinito. Trata-se de uma arte espiritual sutil, simples, mas das mais dignificantes. Comunicar-se com Deus no silêncio do coração é uma capacidade dada por Ele mesmo, mas Ele não se impõe, Ele se propõe. O que muitos se esquecem é que este Deus que faz o dom de Si mesmo é o ser do nosso ser, a vida de nossa vida. Entretanto, isto só é possível para quem entra no deserto da profundeza de seu coração e, num abandono total, se dispõe a captar a riqueza imensa que tem dentro de si, isto é, Aquele no qual, segundo São Paulo, vivemos, existimos e somos (Atos 17,28). Isto não requer nenhuma técnica apurada, nenhum estratagema extraordinário, mas o hábito de não se esquecer do Hóspede divino através do recolhimento e da tomada de consciência das maravilhas que se dão na alma em estado de graça. Cumpre encontrar momentos de silêncio que isolam da trepidação exterior e, até mesmo, fugir das divagações da imaginação. Segundo Santo Agostinho é preciso procurar Aquele que está em nós, se queremos estar com Ele. Qualquer cristão pode se abrir ao sacrário interior e se tornar verdadeiramente livre de toda ansiedade, desânimo e medo. Não é algo a ser adquirido, mas vivido, porque no Batismo se passa a participar da natureza divina como ensinou São Pedro na sua segunda carta (2 Pd 1,4). Aliás, o citado Santo Agostinho lembra que Deus é mais íntimo de nós que nós mesmos, nele somos o que nós somos. A questão é estar ciente e consciente desta maravilhosa realidade. Enquanto Criador, Ele é o fundo do que cada um é. São João da Cruz afirma que “o centro da alma é Deus”, Ele é o fundamento do ser humano. Eis porque proclamou Davi “Somente em Deus repousa, ó minha alma” (Sl 62,6). Aí está o motivo pelo qual Santo Agostinho assim se dirigia a Ele: “Senhor, o nosso coração está inquieto até que descanse em vós”. Quem percorre com atenção o Evangelho de São João percebe sua insistência sobre a habitação divina. Assim quando ele relata o que Jesus falou sobre a vinda do Espírito Santo proclama as palavras do Mestre divino: “Nesse dia, reconhecereis que eu estou no Pai e que vós estais em mim e eu em vós” (Jo 14,20). Esta foi uma das preces de Cristo: “Como tu, Pai, estás em mim e eu em ti que eles também estejam em nós” (Jo 17,21). São Paulo, o autor dos escritos mais antigos do Novo testamento que chegaram até nós, é um testemunho importantíssimo. Na Carta aos Gálatas ele afirma: “Eu estou crucificado com Cristo e não sou mais eu que vive, mas Cristo que vive em mim” (Gl 2,19). Ele olha para si mesmo e não vê mais Paulo, mas Cristo. Paulo e Cristo já não são mais duas realidades distintas, porque Paulo soube encontrar o lugar deserto que é a terra do silêncio, o fundo de seu ser. Então verificou que, sob o ponto de vista da criação, há duas realidades distintas, mas não sob o ponto de vista da transformação da consciência, existindo, isto sim, uma união perfeita com Deus. Paulo via o fundo da sua consciência e não os objetos da consciência, ou seja, as coisas que estavam em sua volta. Tão apenas quando o espírito imita Jesus e vai para um lugar afastado do mundo que é este campo aberto da consciência surge a Realidade unificante de todas as unidade e de todas comunidades, como fundo de tudo que é, como sendo toda a vida, toda a inteligência. Compreende-se, desta maneira o pedido de Jesus dirigido ao Pai: “Que todos sejam um, como tu e eu, Pai, somos um”. Felizes os que procuram o país do silêncio, o íntimo de seu coração, desertando-se das aparências visíveis para se fixar no Único necessário, escolhendo a melhor parte, como falou Cristo a Marta, referindo-se a Maria que se preocupava menos com o que era transitório, para se imergir nas realidades divinas. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Enquanto homem, Cristo se retirou, várias vezes, para um lugar deserto para estar em tertúlia com o Pai. Bem se diz que o deserto é o lugar propício para uma viagem ao país do silêncio, onde se pode estar em contacto com o Ser Supremo. A atitude do Mestre Divino indo para um espaço isolado foi para deixar uma lição preciosa para seus seguidores. O espaço para a quietação interior que permite uma união maior com a divindade não é necessariamente o deserto geográfico, mas o interior de cada um, lá onde moram as Três Pessoas divinas. Jesus foi claro: “Se alguém me ama, meu Pai o amará, viremos a Ele e nele faremos a nossa morada”. O segredo do progresso espiritual é exatamente se sentir envolto na presença de Deus. Tal o conselho que o salmista registrou: “Meditai em vossos corações e fazei silêncio” (Sl 4,6). Eis aí o refúgio permanente que se abre para todo batizado, permitindo o caminho da aderência a Deus mesmo durante as tarefas de cada instante, estando o fiel na presença permanente de seu Senhor. É que há uma luminosa vastidão dentro do discípulo de Cristo. É lá que se pode perceber o turbilhão de amor de um Ser Infinito. Trata-se de uma arte espiritual sutil, simples, mas das mais dignificantes. Comunicar-se com Deus no silêncio do coração é uma capacidade dada por Ele mesmo, mas Ele não se impõe, Ele se propõe. O que muitos se esquecem é que este Deus que faz o dom de Si mesmo é o ser do nosso ser, a vida de nossa vida. Entretanto, isto só é possível para quem entra no deserto da profundeza de seu coração e, num abandono total, se dispõe a captar a riqueza imensa que tem dentro de si, isto é, Aquele no qual, segundo São Paulo, vivemos, existimos e somos (Atos 17,28). Isto não requer nenhuma técnica apurada, nenhum estratagema extraordinário, mas o hábito de não se esquecer do Hóspede divino através do recolhimento e da tomada de consciência das maravilhas que se dão na alma em estado de graça. Cumpre encontrar momentos de silêncio que isolam da trepidação exterior e, até mesmo, fugir das divagações da imaginação. Segundo Santo Agostinho é preciso procurar Aquele que está em nós, se queremos estar com Ele. Qualquer cristão pode se abrir ao sacrário interior e se tornar verdadeiramente livre de toda ansiedade, desânimo e medo. Não é algo a ser adquirido, mas vivido, porque no Batismo se passa a participar da natureza divina como ensinou São Pedro na sua segunda carta (2 Pd 1,4). Aliás, o citado Santo Agostinho lembra que Deus é mais íntimo de nós que nós mesmos, nele somos o que nós somos. A questão é estar ciente e consciente desta maravilhosa realidade. Enquanto Criador, Ele é o fundo do que cada um é. São João da Cruz afirma que “o centro da alma é Deus”, Ele é o fundamento do ser humano. Eis porque proclamou Davi “Somente em Deus repousa, ó minha alma” (Sl 62,6). Aí está o motivo pelo qual Santo Agostinho assim se dirigia a Ele: “Senhor, o nosso coração está inquieto até que descanse em vós”. Quem percorre com atenção o Evangelho de São João percebe sua insistência sobre a habitação divina. Assim quando ele relata o que Jesus falou sobre a vinda do Espírito Santo proclama as palavras do Mestre divino: “Nesse dia, reconhecereis que eu estou no Pai e que vós estais em mim e eu em vós” (Jo 14,20). Esta foi uma das preces de Cristo: “Como tu, Pai, estás em mim e eu em ti que eles também estejam em nós” (Jo 17,21). São Paulo, o autor dos escritos mais antigos do Novo testamento que chegaram até nós, é um testemunho importantíssimo. Na Carta aos Gálatas ele afirma: “Eu estou crucificado com Cristo e não sou mais eu que vive, mas Cristo que vive em mim” (Gl 2,19). Ele olha para si mesmo e não vê mais Paulo, mas Cristo. Paulo e Cristo já não são mais duas realidades distintas, porque Paulo soube encontrar o lugar deserto que é a terra do silêncio, o fundo de seu ser. Então verificou que, sob o ponto de vista da criação, há duas realidades distintas, mas não sob o ponto de vista da transformação da consciência, existindo, isto sim, uma união perfeita com Deus. Paulo via o fundo da sua consciência e não os objetos da consciência, ou seja, as coisas que estavam em sua volta. Tão apenas quando o espírito imita Jesus e vai para um lugar afastado do mundo que é este campo aberto da consciência surge a Realidade unificante de todas as unidade e de todas comunidades, como fundo de tudo que é, como sendo toda a vida, toda a inteligência. Compreende-se, desta maneira o pedido de Jesus dirigido ao Pai: “Que todos sejam um, como tu e eu, Pai, somos um”. Felizes os que procuram o país do silêncio, o íntimo de seu coração, desertando-se das aparências visíveis para se fixar no Único necessário, escolhendo a melhor parte, como falou Cristo a Marta, referindo-se a Maria que se preocupava menos com o que era transitório, para se imergir nas realidades divinas. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
Médico do Corpo e da Alma
MÉDICO DO CORPO E DA ALMA
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho
A cura da filha da Cananéia mostra como Jesus é, de fato, o médico do corpo e da alma. Ele que curava todas as enfermidades físicas, também vinha de encontro às doenças espirituais. Ele escutou os brados de uma mãe aflita: “Minha filha está cruelmente atormentada por um demônio” (Mt 15,22). Após testar a humildade e a fé daquela suplicante, sua faustosa resposta: “Seja como tu queres. E desde esse momento sua filha ficou curada”. É que Cristo, o Verbo feito carne, é o grande salvador vindo do céu, poderoso para medicar todos os males humanos. No seu livro Confissões, assim se dirigiu Santo Agostinho ao Redentor: “Tu és o médico, eu sou o enfermo; tu és a misericórdia, eu sou a miséria” (X 28,39). Esta figura do Filho de Deus está no coração da teologia agostiniana. O grande doutor da Igreja focalizava sobretudo as curas espirituais das almas feridas pelo pecado ou vexadas pelo demônio, quando Jesus aplicava então sua terapêutica divina e, com seu poder, sempre triunfava do Inimigo. Ele, porém, continua esta ação através dos tempos. Sabe sempre diagnosticar o mal que atinge o homem e lhe oferece o remédio oportuno com uma notável competência celeste. Aliás, o próprio Jesus afirmara: “Não são os que têm boa saúde que precisam de médico, mas os doentes” (Mt 9,12). Muitas vezes as curas corporais que fazia eram também sinal de um restabelecimento espiritual. Ele olhava a situação psicossomática dos que a Ele recorriam com fé. Na parábola do Bom Samaritano ele exaltou a misericórdia de alguém devotado aos sofrimentos de um abandonado semimorto no caminho para Jericó. Era a figura dele mesmo continuamente cheio de amor para com os sofredores. A Cananéia estava aflita porque sua filha estava atormentada por satanás, que foi então inteiramente expulso daquela que o demônio amofinava, como, além disso, ocorreu com tantos endemoninhados. Em todos estes episódios, Cristo não apenas debelava o mal, mas oferecia o medicamento, ou seja, uma fé profunda. Esta inclui em si a humildade, porque se deixa de confiar nos homens e nos recursos naturais, para unicamente depositar nele a certeza de que Ele é, realmente, o senhor todo-poderoso que pode restaurar o ser racional na sua total integridade. Não há situação desesperadora, feridas profundas que Ele não possa definitivamente medicinar. Será, contudo, pelo espírito de fé que sua ação se irradia naquele que vem implorar seu olhar clínico. Ele se fez homem para que todos os humanos, que são carnais, pudessem perceber ao vivo sua divindade onipotente. Deste modo, se compreende melhor a dupla dimensão da Encarnação e da Redenção. Se Ele se fez carne e habitou entre nós foi para se adaptar à humanidade sofredora que viera remir. Demonstrou, porém, toda sua incontestável competência de médico do corpo e da alma e disto deve resultar uma confiança irremovível nele, uma esperança inalterável. São ambas os antídotos prescritos, mesmo porque não basta consultar um grande especialista, mas cumpre tomar rigorosamente os remédios. Entretanto, a grande diferença entre Cristo e os demais médicos é que Ele leva a quem Ele cura a participar de sua natureza divina, incorruptível, vitoriosa do mal dos males que é a morte. Pôde, com efeito, afirmar: “Quem crê em mim tem a vida eterna” (Jo 6,47). Isto porque Ele transfunde sua santidade, sua justiça para o corpo e para a alma daquele que crê ser Ele verdadeiramente o Filho de Deus que veio para que todos tivessem a vida e a tivessem em abundância (Jo 10,10), como acontecia com a Cananéia, a clamar: “Senhor, socorre-me”. Se ela julgasse que Ele era um simples homem não teria lançado apelo tão significativo. Para que se obtenha, porém, o socorro de qualquer médico é preciso estar consciente da gravidade do mal e desejar a saúde, insistir, lutar, pedir. Eis porque o mesmo Cristo advertiu: “Pedi e recebereis, buscai e encontrareis, batei e a porta se vos abrirá” (Mt 7,7). A Cananéia havia irritado de maneira tal os discípulos que eles tinham dito ao Mestre: “Manda embora essa mulher, pois ela vem gritando atrás de nós”. Ela, porém, foi persistente e, até, argumentou com Jesus, usando os próprios termos por Ele usados: “Até os cachorrinhos também comem as migalhas que caem da mesa de seus donos”, demonstrando não só uma profunda humildade, mas, sobretudo, a vontade firme de obter a cura da filha. Às vezes, Deus tarda um pouco a responder, mas se trata de um método pedagógico, tendendo a educar a pessoa para reconhecer a profundidade do mal em tela e a aumentar a certeza no seu poder. Eis porque, antes de proclamar a cura da filha da Cananéia, ele a elogiou: “Mulher, grande é a tua fé!" Nunca se deve esquecer que o tempo de Deus não é o tempo dos homens e que Jesus, o Médico divino, jamais falha e se deixa tocar sempre pelos que nele inteiramente confiam. *Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho
A cura da filha da Cananéia mostra como Jesus é, de fato, o médico do corpo e da alma. Ele que curava todas as enfermidades físicas, também vinha de encontro às doenças espirituais. Ele escutou os brados de uma mãe aflita: “Minha filha está cruelmente atormentada por um demônio” (Mt 15,22). Após testar a humildade e a fé daquela suplicante, sua faustosa resposta: “Seja como tu queres. E desde esse momento sua filha ficou curada”. É que Cristo, o Verbo feito carne, é o grande salvador vindo do céu, poderoso para medicar todos os males humanos. No seu livro Confissões, assim se dirigiu Santo Agostinho ao Redentor: “Tu és o médico, eu sou o enfermo; tu és a misericórdia, eu sou a miséria” (X 28,39). Esta figura do Filho de Deus está no coração da teologia agostiniana. O grande doutor da Igreja focalizava sobretudo as curas espirituais das almas feridas pelo pecado ou vexadas pelo demônio, quando Jesus aplicava então sua terapêutica divina e, com seu poder, sempre triunfava do Inimigo. Ele, porém, continua esta ação através dos tempos. Sabe sempre diagnosticar o mal que atinge o homem e lhe oferece o remédio oportuno com uma notável competência celeste. Aliás, o próprio Jesus afirmara: “Não são os que têm boa saúde que precisam de médico, mas os doentes” (Mt 9,12). Muitas vezes as curas corporais que fazia eram também sinal de um restabelecimento espiritual. Ele olhava a situação psicossomática dos que a Ele recorriam com fé. Na parábola do Bom Samaritano ele exaltou a misericórdia de alguém devotado aos sofrimentos de um abandonado semimorto no caminho para Jericó. Era a figura dele mesmo continuamente cheio de amor para com os sofredores. A Cananéia estava aflita porque sua filha estava atormentada por satanás, que foi então inteiramente expulso daquela que o demônio amofinava, como, além disso, ocorreu com tantos endemoninhados. Em todos estes episódios, Cristo não apenas debelava o mal, mas oferecia o medicamento, ou seja, uma fé profunda. Esta inclui em si a humildade, porque se deixa de confiar nos homens e nos recursos naturais, para unicamente depositar nele a certeza de que Ele é, realmente, o senhor todo-poderoso que pode restaurar o ser racional na sua total integridade. Não há situação desesperadora, feridas profundas que Ele não possa definitivamente medicinar. Será, contudo, pelo espírito de fé que sua ação se irradia naquele que vem implorar seu olhar clínico. Ele se fez homem para que todos os humanos, que são carnais, pudessem perceber ao vivo sua divindade onipotente. Deste modo, se compreende melhor a dupla dimensão da Encarnação e da Redenção. Se Ele se fez carne e habitou entre nós foi para se adaptar à humanidade sofredora que viera remir. Demonstrou, porém, toda sua incontestável competência de médico do corpo e da alma e disto deve resultar uma confiança irremovível nele, uma esperança inalterável. São ambas os antídotos prescritos, mesmo porque não basta consultar um grande especialista, mas cumpre tomar rigorosamente os remédios. Entretanto, a grande diferença entre Cristo e os demais médicos é que Ele leva a quem Ele cura a participar de sua natureza divina, incorruptível, vitoriosa do mal dos males que é a morte. Pôde, com efeito, afirmar: “Quem crê em mim tem a vida eterna” (Jo 6,47). Isto porque Ele transfunde sua santidade, sua justiça para o corpo e para a alma daquele que crê ser Ele verdadeiramente o Filho de Deus que veio para que todos tivessem a vida e a tivessem em abundância (Jo 10,10), como acontecia com a Cananéia, a clamar: “Senhor, socorre-me”. Se ela julgasse que Ele era um simples homem não teria lançado apelo tão significativo. Para que se obtenha, porém, o socorro de qualquer médico é preciso estar consciente da gravidade do mal e desejar a saúde, insistir, lutar, pedir. Eis porque o mesmo Cristo advertiu: “Pedi e recebereis, buscai e encontrareis, batei e a porta se vos abrirá” (Mt 7,7). A Cananéia havia irritado de maneira tal os discípulos que eles tinham dito ao Mestre: “Manda embora essa mulher, pois ela vem gritando atrás de nós”. Ela, porém, foi persistente e, até, argumentou com Jesus, usando os próprios termos por Ele usados: “Até os cachorrinhos também comem as migalhas que caem da mesa de seus donos”, demonstrando não só uma profunda humildade, mas, sobretudo, a vontade firme de obter a cura da filha. Às vezes, Deus tarda um pouco a responder, mas se trata de um método pedagógico, tendendo a educar a pessoa para reconhecer a profundidade do mal em tela e a aumentar a certeza no seu poder. Eis porque, antes de proclamar a cura da filha da Cananéia, ele a elogiou: “Mulher, grande é a tua fé!" Nunca se deve esquecer que o tempo de Deus não é o tempo dos homens e que Jesus, o Médico divino, jamais falha e se deixa tocar sempre pelos que nele inteiramente confiam. *Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
quinta-feira, 4 de agosto de 2011
SOLENIDADE DA ASSUNÇÃO DE MARIA
SOLENIDADE DA ASSUNÇÃO DE MARIA
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Na solenidade da assunção de Maria aos céus todas as vozes se reúnem para aclamarem o poder e a glória desta mulher bendita. O Senhor Jesus Cristo, contempla nessa Virgem a sua santa mãe e a eleva acima de todas as criaturas, declarando-a bendita entre todas as mulheres e fazendo-a rainha do céu e da terra. O Pai e o Espírito Santo a aureolam com fulgores resplandecentes. Os anjos a saúdam como a sua soberana e os homens não conhecem prestígio mais elevado, virtude mais esplendorosa, amor mais grandioso do que a importância, o valor e a dileção de Maria Santíssima. A este concerto mundial, a esta apoteose incomparável, a esta aclamação de todos os povos, unimos hoje as nossas vozes e os nossos cantos, celebrando a elevação de corpo e alma desta soberana que entra triunfalmente na Jerusalém celeste. Quanto fervor para publicar o louvor que enche os corações dos fiéis! Como é grandioso este dia verdadeiramente especial que encerra sublimes e consoladores ensinamentos da nossa religião: ida de Maria Santíssima para céu, dia de sua exaltação, apoteose da virtude e da santidade tudo isto graças a sua correspondência às graças com que foi mimoseada por Deus! Esta grandeza incomparável da Mãe de Deus reflete em cada batizado, pois esta comemoração é toda iluminada pela esperança e pela certeza de que também nós teremos o nosso dia de glória; se acha iluminada pela certeza de que os verdadeiros cristãos, os homens de bem, os justos, os amigos de Deus, terão o seu dia de triunfo, o dia da felicidade eterna, essa ventura que jamais terá fim, jamais terá defeito, jamais ocaso, e será plena, completa, perfeita, absoluta, como o foi para a Mãe de Deus. Lembremo-nos, porém, de que antes dessa glorificação Maria Santíssima, tendo na terra encontrado as mesmas dificuldades e os mesmos sofrimentos que encontramos, passou ela também pela morte. Ela não pôde evitar essa morte destinada a todos nós, ainda que ela fosse pura e imaculada. O próprio Jesus, Deus e homem verdadeiro, seguiu o mesmo caminho: Ele morreu na cruz, no monte Calvário e não quis subir gloriosamente ao céu sem antes sofrer a humilhação da morte, dessa horrível morte que o pecado introduziu no mundo. Morrer é a condição atual de todos os viventes, desde que Deus fora ofendido na terra pelo primeiro homem. A morte de Maria, contudo, foi qual suave sono do qual ela despertou para subir de corpo e alma para junto de seu divino Filho. Na morte de Maria Santíssima não encontramos a corrupção, não deparamos a destruição e o aniquilamento, porque o pecado não manchou essa vida, pois foi imaculada em sua conceição. Maria triunfou da decomposição da sepultura, de sorte que a morte para ela foi apenas a passagem rápida e gloriosa do tempo para a eternidade, da terra para o céu; foi antes, dizem os santos Padres e repete toda a tradição cristã um adeus dito a terra, um êxtase divino. Este prodígio é atestado pelo sentimento unânime de todos os fiéis e pela tradição constante dos séculos. Eis porque não há um povo, uma cidade, uma igreja, que possua uma única relíquia do corpo da Virgem Maria, tesouro precioso que o céu para si reclamou. Este triunfo de Maria é atestado pela Igreja que celebra por este acontecimento uma de suas mais solenes festividades. Dogma de fé proclamado solenemente pelo Papa Pio XII, dia primeiro de novembro de 1950. Esta é a festa da Senhora da Boa-Morte, a festa da Senhora da Glória, a festa da Rainha do céu, entrando nos palácios deslumbrantes reservados por Deus para os que a imitam e nela confiam. Todos estes diversos títulos, têm como objeto mensagens sublimes. Hoje vemos a justiça infalível de Deus, recompensando a fidelidade de Maria e a glorificação real e completa da honra, da verdade, da virtude e do bem. Essa recompensa e essa glorificação existem para todos os autênticos cristãos e são a nossa mais sublime esperança e a nossa suprema consolação neste vale de lágrimas. Quando Cristo nos aconselha a resignação, a paciência, o perdão das ofensas, pureza de consciência, Ele sabe que a nossa conduta segundo os mandamentos divinos não será frustrada. Ao deixar este mundo o discípulo de Cristo terá um prêmio perene. Quando Jesus nos proíbe a vingança, a maledicência, a calúnia, a fornicação Ele se reserva o direito de fazer brilhar a verdade ao glorificar os justos no final de sua trajetória terrena, além da paz, da alegria, da serenidade que possuem os que trilham os caminhos do bem. Praticar a virtude é já gozar um pouco neste mundo do gozo eterno. Como estes ensinamentos animam os bons na caminhada dolorosa da existência! Por tudo isto, cumpre uma devoção filial a Maria, cuja proteção nunca falta àquele que implora seu auxílio na luta constante para superar as dificuldades da via e triunfar sobre as insídias do Maligno. Eis porque com grande fervor se deve pedir sempre à Virgem Assunta aos Céus: “Rogai por nós pecadores, agora e na hora da nossa morte” na certeza de que ela estará a nosso lado no momento decisivo de nossa peregrinação terrestre. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
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Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Na solenidade da assunção de Maria aos céus todas as vozes se reúnem para aclamarem o poder e a glória desta mulher bendita. O Senhor Jesus Cristo, contempla nessa Virgem a sua santa mãe e a eleva acima de todas as criaturas, declarando-a bendita entre todas as mulheres e fazendo-a rainha do céu e da terra. O Pai e o Espírito Santo a aureolam com fulgores resplandecentes. Os anjos a saúdam como a sua soberana e os homens não conhecem prestígio mais elevado, virtude mais esplendorosa, amor mais grandioso do que a importância, o valor e a dileção de Maria Santíssima. A este concerto mundial, a esta apoteose incomparável, a esta aclamação de todos os povos, unimos hoje as nossas vozes e os nossos cantos, celebrando a elevação de corpo e alma desta soberana que entra triunfalmente na Jerusalém celeste. Quanto fervor para publicar o louvor que enche os corações dos fiéis! Como é grandioso este dia verdadeiramente especial que encerra sublimes e consoladores ensinamentos da nossa religião: ida de Maria Santíssima para céu, dia de sua exaltação, apoteose da virtude e da santidade tudo isto graças a sua correspondência às graças com que foi mimoseada por Deus! Esta grandeza incomparável da Mãe de Deus reflete em cada batizado, pois esta comemoração é toda iluminada pela esperança e pela certeza de que também nós teremos o nosso dia de glória; se acha iluminada pela certeza de que os verdadeiros cristãos, os homens de bem, os justos, os amigos de Deus, terão o seu dia de triunfo, o dia da felicidade eterna, essa ventura que jamais terá fim, jamais terá defeito, jamais ocaso, e será plena, completa, perfeita, absoluta, como o foi para a Mãe de Deus. Lembremo-nos, porém, de que antes dessa glorificação Maria Santíssima, tendo na terra encontrado as mesmas dificuldades e os mesmos sofrimentos que encontramos, passou ela também pela morte. Ela não pôde evitar essa morte destinada a todos nós, ainda que ela fosse pura e imaculada. O próprio Jesus, Deus e homem verdadeiro, seguiu o mesmo caminho: Ele morreu na cruz, no monte Calvário e não quis subir gloriosamente ao céu sem antes sofrer a humilhação da morte, dessa horrível morte que o pecado introduziu no mundo. Morrer é a condição atual de todos os viventes, desde que Deus fora ofendido na terra pelo primeiro homem. A morte de Maria, contudo, foi qual suave sono do qual ela despertou para subir de corpo e alma para junto de seu divino Filho. Na morte de Maria Santíssima não encontramos a corrupção, não deparamos a destruição e o aniquilamento, porque o pecado não manchou essa vida, pois foi imaculada em sua conceição. Maria triunfou da decomposição da sepultura, de sorte que a morte para ela foi apenas a passagem rápida e gloriosa do tempo para a eternidade, da terra para o céu; foi antes, dizem os santos Padres e repete toda a tradição cristã um adeus dito a terra, um êxtase divino. Este prodígio é atestado pelo sentimento unânime de todos os fiéis e pela tradição constante dos séculos. Eis porque não há um povo, uma cidade, uma igreja, que possua uma única relíquia do corpo da Virgem Maria, tesouro precioso que o céu para si reclamou. Este triunfo de Maria é atestado pela Igreja que celebra por este acontecimento uma de suas mais solenes festividades. Dogma de fé proclamado solenemente pelo Papa Pio XII, dia primeiro de novembro de 1950. Esta é a festa da Senhora da Boa-Morte, a festa da Senhora da Glória, a festa da Rainha do céu, entrando nos palácios deslumbrantes reservados por Deus para os que a imitam e nela confiam. Todos estes diversos títulos, têm como objeto mensagens sublimes. Hoje vemos a justiça infalível de Deus, recompensando a fidelidade de Maria e a glorificação real e completa da honra, da verdade, da virtude e do bem. Essa recompensa e essa glorificação existem para todos os autênticos cristãos e são a nossa mais sublime esperança e a nossa suprema consolação neste vale de lágrimas. Quando Cristo nos aconselha a resignação, a paciência, o perdão das ofensas, pureza de consciência, Ele sabe que a nossa conduta segundo os mandamentos divinos não será frustrada. Ao deixar este mundo o discípulo de Cristo terá um prêmio perene. Quando Jesus nos proíbe a vingança, a maledicência, a calúnia, a fornicação Ele se reserva o direito de fazer brilhar a verdade ao glorificar os justos no final de sua trajetória terrena, além da paz, da alegria, da serenidade que possuem os que trilham os caminhos do bem. Praticar a virtude é já gozar um pouco neste mundo do gozo eterno. Como estes ensinamentos animam os bons na caminhada dolorosa da existência! Por tudo isto, cumpre uma devoção filial a Maria, cuja proteção nunca falta àquele que implora seu auxílio na luta constante para superar as dificuldades da via e triunfar sobre as insídias do Maligno. Eis porque com grande fervor se deve pedir sempre à Virgem Assunta aos Céus: “Rogai por nós pecadores, agora e na hora da nossa morte” na certeza de que ela estará a nosso lado no momento decisivo de nossa peregrinação terrestre. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
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