terça-feira, 25 de junho de 2013

VIVER NA PRESENÇA DE DEUS

VIVER NA PRESENÇA DE DEUS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Não obstante o bulício do trepidante contexto social hodierno, inúmeros são aqueles que encontram a paz de espírito estando conscientes da presença de Deus. Não apenas enquanto “nele nós existimos, nos movemos e somos” (Atos 17,2), mas também enquanto pela graça santificante a Trindade Santa habita no íntimo de cada um. É da qualidade da escuta do Ser Supremo que depende a grandeza daquele que crê. Uma escuta que conduz a colocar em prática o que, na fé, o ser racional percebe da Palavra divina, Palavra que o precede e que ordena sua vida envolta no amor divino. Como bem se expressou o Papa Bento XVI, “o nosso eu é libertado do seu isolamento” e os batizados se tornam “portadores da alegria e da esperança cristã no mundo”. Muitos são aqueles que experimentam na sua existência esta realidade sublime. A voz interior os toca e os transforma de tal modo que prevalece sempre o desejo de em tudo aderir aos desígnios de Deus. É que Deus é o Deus dos vivos, daqueles que sabem se imergirem nele, oceano infinito de felicidade e amor, libertando e salvando quem se inclina para Ele. É lógico que somente na eternidade é que se possuirá uma ventura sem limites, dado que na sua temporalidade terrena, na sua condição humana, só é possível a cada um degustar nesta terra apenas parcelas da bem-aventurança perene da visão beatífica do céu. Na presença de Deus, porém, o ser racional percebe Sua assistência e pode atravessar impavidamente as provações físicas, psíquicas ou espirituais. Esta presença providencial de Deus é a pedra fundamental de todas as grandes certezas do homem, o farol que o orienta na obscuridade, a bandeira que o inflama cada dia no combate que tem que enfrentar a toda a hora, dado que ele vive num exílio. Foi para isto também que a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade veio a este mundo e assumiu o sofrimento até o fim. Ele pôde salvar o homem de sua absurdidade, dando um sentido de redenção ao seu viver, abrindo para a existência humana a possibilidade real daquela paz e daquele bem-estar aos quais aspira no coração de cada um. Bento XVI explicou: “O meu próprio eu me é tirado e é inserido num novo sujeito maior, no qual o meu eu existe de novo, mas transformado, purificado, ‘aberto” mediante a inserção no outro, no qual adquire o seu novo espaço de existência Tornamo-nos assim “um em Cristo” (Gl 3.28)”. Dá-se o que Jesus falou: “Se alguém me ama, meu Pai o amará, viremos a ele e faremos nele nossa morada” (Jo 14,23). Deste modo a presença de Deus se concretiza, uma vez que o “Verbo se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1,14) e amando-O temos a Trindade Santa dentro de nós, conforme sua sublime promessa. Cada vez que um cristão contempla a pessoa de Jesus, se ligando a suas palavras, imitando seus gestos e atitudes, se realiza a aproximação plena de Deus, passando a viver intensamente na Sua presença. É na companhia de Cristo que o batizado, como membro de seu Corpo Místico que é a Igreja, é também convidado a tornar Deus presente naqueles que se entregam à depressão, se acham tomados pelo isolamento no sofrimento, abrindo-os à perspectiva e ao conforto da dileção divina. Trata-se de se ter uma vontade sincera de viver a vida sobrenatural, engajando o batizado no caminho que lhe é oferecido pela graça. Cumpre, portanto, apreciar o tesouro infinito que é o contato contínuo com o Deus três vezes santo. Jesus falou do talento estéril que o mau servidor esconde inutilmente na terra (Mt 25,18). Por isto é preciso continuamente renovar a reta intenção de tudo fazer para glória de Deus, mesmo as mais pequeninas ações. É o que se lê no salmo: “Meus olhos estão sempre fixos no Senhor, pois Ele há de tirar meus pés do laço” (Sl 24,15). Breves momentos de recolhimento no meio das ocupações, dos trabalhos diários ajudam a elevar a mente a Deus e a falar confidencialmente com Ele. É evidente também que para conservar a presença de Deus é  necessária a mortificação dos sentidos exteriores e interiores evitando a dispersão, moderar as paixões, submeter os apetites desordenados à razão iluminada pela fé. Quem faz esta experiência de Deus vive longe do pecado, procura tudo fazer com a máxima perfeição possível e se vê envolto na alegria. A presença de Deus deve, de fato, ser a luz que ilumina o cristão, a força que o sustenta, a consolação que o conforta, o motivo da esperança que o alenta. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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