terça-feira, 18 de junho de 2013

CONFIANÇA NA PROTEÇÃO DE MARIA

CONFIANÇA NA PROTEÇÃO DE MARIA
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Quando em 1202 os ingleses sitiaram a cidade de Poitiers na França, surgiu um traidor que, por uma soma vultosa, lhes entregaria as chaves da cidade para que pudessem livremente nela entrar. Ele não encontrou estas chaves com o Chefe daquela localidade e não as pôde passar aos invasores.  É que, não se sabe como, estas chaves foram parar nas mãos da imagem de Nossa Senhora na monumental Igreja lá a ela dedicada, construida em 1140, com pedra calcária branca. O certo é que os ingleses desistiram de tomar Poitiers e daí a grande devoção a “Notre Dame des Clés”.  A imagem original foi destruída pelos calvinistas em 1539, mas, mais tarde, foi esculpida uma outra representando Maria sentada e tendo na mão direita um molho de chaves de prata. Grande o simbolismo desta imagem sempre visitada por inúmeros devotos e romeiros de várias partes da França e de outros países. O devoto da Mãe de Deus deve entregar a ela a chave de seu coração para que nele ela faça entrar seu divino Filho. Além disto, abrirá, sem dúvida, as portas do céu para quem a souber homenagear neste mundo. Ela acolheu com amor o Verbo divino no dia da Anunciação, concebendo-o por obra do Espírito Santo, quando, como bem ressaltou o Papa Bento XVI, “a aliança entre Deus e a humanidade foi selada de forma perfeita”.  Foi então, segundo o referido Pontífice, que “o Verbo eterno começou a existir como ser humano no tempo”. Ela se tornou então Mãe de Deus, mas sua maternidade espiritual com relação a todos os discípulos de Jesus começou efetivamente no Calvário. Foi lá que Cristo do alto da Cruz lhe disse: “Mulher, eis o teu filho” (Jo 19,26). Uma observação atilada fez o citado Bento XVI, mostrando que Jesus “se dirigiu a Maria chamando-a “mulher” e não “mãe”, termo que, porém, utilizou confiando-a ao discípulo: “Eis a tua mãe” (Jo 19,27). Jamais se agradecerá demais a Jesus por ter dado a seus seguidores uma tão poderosa mãe, capaz de obter todas as graças para os que nela confiam. São Boaventura assim se expressou: “Ó bondade verdadeiramente estupenda de nosso Deus, pois nós somos culpados e, no entanto, ó Maria, Ele vos estabeleceu nossa advogada com poder tão grande para nos obter tudo que vós quereis”. De fato, por entre as vicissitudes de um exílio, sempre que alguém recorre a ela, se refugia sob seu manto materno, ela vem em encontro de suas necessidades. Ela é mãe poderosa, advogada misericordiosa e desejosa de beneficiar a seus filhos espirituais. Jesus é todo-poderoso por natureza, dado que é Deus junto com o Pai e o Espírito Santo, mas Maria é todo-poderosa por graça, isto é, ela obtém por sua intercessão tudo que ela pede. Isto já ocorria nesta terra, como aconteceu em Cana da Galiléia, a fortiori, se dá lá no céu onde é Rainha cheia de poder junto do trono de seu Filho. Ela, contudo, tem seus olhos voltados não apenas para os justos, mas também para os pecadores a fim de os livrar da condenação eterna. A Mãe de Cristo sobretudo sabe valorizar o sangue de seu Filho derramado pela reparação dos erros humanos. É por este sangue divino que o ser racional é purificado. Lepicier explica: “A incomparável santidade de Maria é bastante, por si só, para aplacar a Deus". Isto se dá certamente com os pecadores que buscam sua proteção. Não só desarma Maria a justiça divina, senão que obtém para seus devotos a graça de uma verdadeira e sincera conversão”. Eis por que todos devem recorrer a Ela, pois, como diz a Escritura, ninguém está isento de alguma falta.  Assim, bem se compreende o valor da mais antiga das preces composta pelos cristãos a qual remonta a tempos anteriores ao Concílio de Nicéia: “Sob tua proteção nos refugiamos Santa Mãe de Deus; não desprezeis nossas súplicas em nossas necessidades, mas de todos os perigos livrai-nos sempre, Virgem gloriosa e bendita”. A consciência da culpabilidade pessoal conduz a este pedido de proteção. Pronto é o atendimento desta Mãe poderosa, pois está sempre atenta aos dizeres de Cristo: “Quero a misericórdia e não os sacrifícios, porque eu não vim salvar os justos, mas os pecadores” (Mt 9,13). Apraz-se Maria em ser invocada como refúgio dos pecadores, pois Cristo os recebia e comia com eles. Desvalidos neste vale de lágrimas, presos tantas vezes nos laços do demônio, os homens tinham necessidade desta Mãe que os abrigasse nos instantes de abandono e perseguição dos poderes infernais. Cristo veio para livrar o homem do pecado, e aquela que se fez a cooperadora da redenção da humanidade participa desta sublime missão, mesmo porque a salvação tem como fundo a realidade das transgressões humanas à lei divina. Acolhendo os pecadores, Maria os converte a Deus e, segundo o que está no Apocalipse, aos bons conduz à perfeição: “Aquele que é justo justifique-se mais, e aquele que é santo, santifique-se mais” (Ap 22,11). Ela tem, realmente, a chave dos corações e a chave do céu” * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário