JESUS PLENITUDE DA V ERDADE
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Cristo veio a este mundo como a Verdade de Deus, mostrando os projetos divinos para a vida dos homens. São João assim se expressou: “A Deus ninguém jamais o viu; o Unigênito de Deus que está no seio do Pai no-lo revelou” (Jo 1,18). Ele é a verdade feita Pessoa que atrai a si todos os corações sequiosos de retidão e da exata noção do Ser Supremo. Trata-se, então, de uma verdade que liberta. O Papa Bento XVI, num momento de pulcra inspiração, escreveu: “Jesus é a estrela polar da liberdade humana: sem Ele, ela perde sua orientação, pois, sem o conhecimento da verdade, a liberdade se desnatura, se isola e se reduz a arbítrio estéril”. Cristo libertador ensina “o caminho de Deus segundo a verdade” (Mc 12,14). A temática da verdade, sob todos os aspectos, fulge maravilhosamente no Evangelho de São João e nas suas Cartas. Aí se percebe além do liame entre a verdade e a liberdade, a conexão entre a verdade e a unicidade divina, a luz e a divindade e isto numa oposição clara à mentira, ao diabo que é o Pai da falsidade, sendo que o ápice do erro é não crer no Filho de Deus. São João se revelou, realmente, o teólogo da verdade. Ele registrou este ardente pedido de Jesus ao Pai com relação a seus seguidores: “Consagra-os na verdade; a tua palavra é a verdade” (Jo 17,17). Este termo, repetido muitas vezes pelo citado Evangelista, mostra a importância da dimensão cristológica da revelação divina. A Nicodemos Jesus foi claro: “Quem pratica a verdade aproxima-se da luz, para se tornar manifesto que as suas obras são feitas segundo Deus” (Jo 3,21). Eis porque o verdadeiro discípulo do Redentor tem suas ações realizadas como uma manifestação plena da luminosidade celeste. Cristo dirá: “Vós sois a luz do mundo” (Mt 8,14), como Ele é esta mesma luz (Jo 8,22). Deste modo, nada mais contraditório do que um cristão cujo procedimento não esparge o que é luminoso. Nas terríveis províncias das trevas do espírito, nas lúgubres regiões das sombras do coração, nas umbríferas paragens de terebrantes enfermidades, quem foi batizado precisa ser luz nas sombras. Deve ser preciosa lâmpada projetando lucífluas e diáfanas esperanças, patenteando em tudo ser epígono daquele que disse que é a Verdade (Jo 14,6). O cristão, com efeito, caminha na dinâmica da noção desta realidade sublime. Isto sem estar jamais aderido ao embuste. A exemplo de Cristo, o seu seguidor manifesta a realidade daquele que é o Deus três vezes santo, numa abertura para o mistério Trinitário no qual o Pai gera desde toda a eternidade o Verbo e este e o Pai se unem num amor substancial que é o Espírito Santo, denominado por Cristo o “Espírito da Verdade” (Jo 16,23). No cristão é preciso desabroche a lealdade, a fidelidade a sinceridade, a coerência entre o que ele crê e o que ele pratica. É o conseho de São Paulo: “despojemo-nos, portanto, das obras das trevas e revistamo-nos da armadura da luz. Andemos dignamente como convém em pleno dia não em bacanais e comezainas, nem em lascívias e em impudicícias, nem em contendas e no ciúme. Mas revesti-vos do Senhor nosso Jesus Cristo, e não queirais afagar a carne, satisfazendo-lhe as cupidezas” (Rom 13, 12-14). Eis aí como se entra na plena comunicação com Deus. A exemplo de Jesus que disse a Pilatos que veio ao mundo para dar testemunho da verdade, assim procede o seu discípulo (Jo 18,37). Ele acrescentou: “Todo aquele que ama a verdade, escuta a minha voz”, ou seja, impregna seu comportamento com tudo que Ele ensinou, amando na luz da verdade. (Jo 18,38). Isto significa acatar a verdade cristológica, a verdade no seu aspecto dinâmico, a verdade como revelação de Deus, a verdade interiorizada e vivida sob influxo do Espírito Santo. Chega-se desta maneira à verdadeira religião do coração. É o autêntico “amém” do cristão, demonstrando sua solidez, sua firmeza nos caminhos do Senhor. Cumpre possuir as qualidades constitutivas do batizado e não somente os atributos qualitativos ou meramente intelectuais. Cumpre, finalmente, lembrar o que está no prólogo do Evangelho de São João: “O Verbo fez-se carne e habitou entre nós e nós fomos expectadores de sua glória, glória qual o Unigênito recebe do Pai, pleno de graça e de verdade” (Jo 1,14). Graça e verdade designam a manifestação de Cristo, o Filho único do Pai, como misericórdia e justiça, amor e verdade, dileção e fidelidade. Todos estes termos distintos, mas que aparecem justapostos, ligados um ao outro traduzindo uma mesma realidade e proclamando a riqueza de Jesus, cheio de graça e de verdade. Pode-se então concluir que realmente Jesus é a plenitude da verdade, porque trouxe a revelação do Pai amoroso de maneira excepcional. Esta verdade sobre Deu se realizou na Encarnação de modo único e singular, de tal forma que Ele se tornou também a verdade a ser assimilada pelo cristão, como ocorreu com o Apóstolo Paulo que pôde afirmar: “Já não sou eu quem vive, é Cristo quem vive em mim” (Gl 2,2). * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
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