PERSEVERANÇA E CONFIANÇA NA ORAÇÃO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Jesus Cristo ministrou a seus discípulos uma aula sobre a oração. (Lc 11,1-13). Na verdade, ele atendeu a um pedido: “Senhor, ensina-nos a orar”. A maneira como os discípulos viam Jesus absorvido na prece, sem dúvida, suscitou neles o secreto desejo de ter parte na vida profunda do Mestre. Queriam, eles também, gozar do verdadeiro repouso do contato com Deus. Aspiravam a consolação para seu coração. Desejavam luz para suas vidas. Admirável a pedagogia de Cristo. Ofereceu uma fórmula que seria repetida através dos tempos e receberia o título de “oração dominical”, porque ensinada pelo próprio Senhor. Duas partes bem distintas, ou seja, a glorificação de Deus e a maneira de ser daquele que crê. O ser humano precisa do pão material e espiritual para poder subsistir; deve perdoar, imitando o Ser Supremo e nunca sucumbir às tentações. Em seguida, como se fosse um comunicador do terceiro milênio, é Cristo admiravelmente suscinto, pois sintetiza seu ensinamento na perseverança e na confiança. Isto através de uma parábola didaticamente exposta na qual estas duas condições, que devem caracterizar o orante, claramente rebrilham. Pedir, procurar, bater insistentemente na porta daquele que é o Todo-poderoso Senhor. Afiança Jesus, então, que o objetivo será colimado, pois “todo aquele que pede, recebe, e quem procura encontra; e ao que bate, abrir-se-á a porta”. Embora Ele centre a atenção na súplica, cumpre se ater que o fiel se dirige não a um Deus inteiramente alheio à sua criatura, mas a um Pai extremoso que deve ser sempre o referencial primordial de autêntica prece. Já no Antigo Testamento, ao invocar o auxilio divino nos assaltos dos inimigos assim se expressa o salmista: “Elevai-vos, ó Deus, acima dos céus, e em toda a terra derramai a vossa glória!” (Sl 57,6). É de todo interesse para o ser humano, criado, contingente, que a glorificação divina seja uma realidade fulgente, pois somente dentro de seu reino é que existe paz, felicidade. Longe dele apenas trevas e ignomínia. Deste modo, os pedidos têm como objetivo a libertação daquele que se abre ao mistério mesmo da pessoa do Pai. Dá-se então uma verdadeira iniciação à relação íntima entre o homem e Deus, o finito e o Infinito, o que está no tempo e Aquele que é Eterno. Em virtude, porém, da repetição, muitas vezes mecânica do início desta prece ensinada pelo Redentor, não se passa a viver no interior desta afinidade filial e não se dá a devida atenção às necessidades essenciais para as quais incidem os pedidos seguintes. Perfeito, porém, o ensinamento de Cristo, pois quem entende o sentido profundo da prece não se dirige a um Ente abstrato, nem anda em busca de interesses pessoais. Quer o perdão divino, deseja viver no amor que perdoa sempre e quer estar longe, bem longe, de tudo que desagrada ao seu Senhor, porque longe dele não há ventura possível. Então, ao se dirigir ao Todo-poderoso a alma do orante deve querer se adequar à vontade divina e que seus pedidos estão envolvidos inteiramente pela reversibilidade do amor. Desta maneira, “o Pai celeste dará o Espírito Santo àqueles que lho pedirem”. Unido a Deus que é Pai e aos irmãos a quem se perdoa, surge, de fato, o lugar interior do encontro de cada um com o Espírito e a alteridade se faz unidade. O modo como Jesus ensinou a orar permite o fiel entrar com tudo que ele é e por tudo que ele faz na sinergia com o ato criador e iluminador da Sabedoria divina. Aquele que se deixa possuir pelo amor a Deus e ao próximo tudo alcança de Deus, porque a obra mesma do Espírito santo se exerce por excelência na efusão do perdão e da vitória sobre as tentações do maligno. Como estas fazem parte do combate e o vitorioso é que será coroado, cumpre rezar com perseverança e confiança, porque a tentação é uma passagem pela crise, uma experiência de julgamento e nunca se pode deixar que o inimigo cante vitória. Deste modo o que se pede a Deus é que a força de gravitação ou de atração da ação do tentador seja transmutada em força ascensional, devido ao dinamismo que se obtém da graça de Deus que deve ser assim continuamente solicitada e com aquela certeza que tinha São Paulo: “Eu tudo posso naquele que é a minha fortaleza” (Fp 4,13). Deste modo, a oração que Jesus ensinou, levando conscientemente, a entrar no mistério da filiação divina e na realidade das verdadeiras necessidades humanas coloca o fiel em condições de tudo pedir a Deus e alcançar, porque todo pedido estará enquadrado dentro do ensinamento do Mestre divino. Daí a necessidade óbvia da perserverança e da confiança na oração que se torna a chave que abre todos os tesouros do Pai celeste. É assim que a prece dá ao instante terrestre seu peso de um valor sem medidas. A perseverança e a confiança não atravessam o tempo, mas faz o tempo parar por assim dizer perante a eternidade do Ser Supremo que tudo concede àqueles que sabe pedir como Jesus ensinou. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
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