AS LÁGRIMAS DE UMA MÃE
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
A tristeza de uma pobre viúva que ia enterrar seu único filho foi narrada com detalhes por São Lucas (Lc 7,11-17). Com sua ressurreição Cristo cantaria vitória sobre a morte e Ele havia dito que viera “para que todos tivessem a vida e a tivessem em abundância” (Jo 10,10). Perto, porém, da porta da pequena aldeia de Naim Ele se deparou com um préstito fúnebre e nele com uma mãe em lágrimas. Nenhum sofrimento humano O deixava indiferente e seu coração imediatamente se compadeceu do sofrimento daquela viúva. Com Jesus a morte não teria nunca a última palavra. Ordenou ao morto que se levantasse e diz o Evangelista que “Ele o entregou a sua mãe”. Aquele cortejo de morte é bem, contudo, o símbolo da humanidade decaída e que fora excluída do Paraíso. A mãe lacrimosa representava bem Eva que perdeu a graça divina e lançou a humanidade na morte. Em Naim Jesus estava presente e ressuscitou aquele que tinha falecido. O fato dele trazer à vida o jovem morto é bem uma representação da vida nova que Ele veio oferecer à humanidade. É de se notar que São Lucas não diz que a mãe sofredora implorou a Cristo, mas este, vendo o sofrimento daquela viúva, dela se condoeu. O pranto materno tocou o seu coração, era uma forte linguagem não-verbal e Ele diz “não chores mais”. Não se tratava de meras palavras confortadoras, porque quem as proferia tinha o poder de ir à razão última daquele padecer que era a ausência do ente amado. Ele daria vida de novo àquele que estava morto. Tocou no esquife e parou o cortejo da morte. Era a mão de um Deus que tudo criara e surgiu novamente a vida. Jesus por sua encarnação estancou a descida abissal da humanidade no seu afastamento do Ser Supremo. Ele dirá: “Eu sou a ressurreição e a vida, quem crê em mim terá a vida eterna” (Jo 11,15). Deste modo, aquela viúva além de simbolizar a Eva restaurada pela redenção, é símbolo também da Igreja e de Maria, a Mãe de Deus que junto à Cruz lacrimosa chorava o Filho que pendia no alto da Cruz para a salvação de todos que estavam mortos por força do pecado original. As portas da mansão dos mortos não resistem àquele que afirmou ser “o Caminho, a Verdade e a Vida”. Tudo isto deve, entretanto, levar a uma reflexão profunda também sobre a morte espiritual de tantos que se deixam levar pela difusão de um materialismo hedonista e, embora vivos no corpo, estão mortos espiritualmente. lançados na depressão, nas desordens sexuais, nos abismos tenebrosos das drogas. Mais do que nunca cumpre levar por toda parte a mensagem de vida daquele que cura, salva, ressuscita. A coragem de mudar o mundo é um apelo concreto que a todos deve envolver. A viúva de Naim chorava e foi consolada. Quantos, porém, estão mergulhados no orgulho, na auto-suficiência e não têm condições de lastimar a triste condição em que se acham. É preciso que haja na profundeza da miséria humana uma abertura de coração e de alma para que se recebam os dons divinos. É necessário, contudo, que haja aqueles que lancem sempre mensagens que despertem do sono do pecado os que nele jazem. A ressurreição do filho da viúva de Naim é um sinal de que há sempre salvação quando Jesus passa na existência do ser humano. Ele está presente na sua Igreja que é Mãe e que vivifica com seus sacramentos e todos os recursos espirituais que seu Fundador lhe legou. Então os que já possuem a graça santificante que é a vida da alma e aqueles que deixam a morte do pecado e a passam a possuir, percebem que a ressurreição que Cristo prometeu será ainda mais maravilhosa do que a que Ele operou em Naim. Trata-se, de fato, radicalmente, de uma vida eterna, uma existência que não terá mais fim. Não é uma mera garantia de um suplemento de vida, mas de uma vida definitiva. Eis porque a adesão a Cristo que tem poder sobre a morte ultrapassa de muito a adesão a um mero profeta, mas, é, sim, a união com o próprio Filho de Deus que é a vida em plenitude, na sua totalidade. O cristão vive então em comunhão com Ele e nele encontra a razão de seus existir e tem nele a garantia da felicidade eterna. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
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