TESTEMUNHAS DE DEUS
Côn.José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Num mundo que se mostra indiferente à presença de Deus mais do que nunca cumpre que os que possuem fé sejam vibrantes testemunhas de Deus na sociedade. O Papa Paulo VI afirmou: “O homem contemporâneo escuta mais espontaneamente as testemunhas do que os mestres, ou se ele escuta os mestres é porque eles são testemunhas do que eles falam”. De fato, o modo de ser, de encarnar aquilo em que se crê vale bem mais do que as palavras. Daí a responsabilidade do cristão atento com relação aos atos que ele pratica voluntariamente de acordo com o que o Filho de Deus ensinou. Bento XVI mostrou como São Paulo anunciou aberta e publicamente “aquilo que viu e sentiu no encontro com Cristo, aquilo que experimentou na sua existência já transformada por aquele encontro”. A exemplo do Apóstolo, conclui este Papa, ser testemunha “é levar aquele Jesus que se sente presente em si e se tornou a verdadeira orientação de sua vida, para fazer compreender a todos que Ele é necessário para o mundo e decisivo para a liberdade de todo homem”. Trata-se de envolver inteiramente a própria existência na grande obra da fé. É deste modo que se proclama que Jesus está vivo e que Ele continua a ser para todos a única tábua de salvação. Para isto é necessário que o coração e a vontade de quem tem fé estejam sempre dispostos a agir em coerência com esta realidade sublime para poder comunicá-la aos outros. Estes devem perceber como é feliz aquele no qual age o Filho de Deus. Testemunhar é amar com convicção o divino Redentor. No batismo se recebe a capacidade de “anunciar as ações do Senhor” (Sl 117), mas é necessário caminhar colocando os passos nos passos de Jesus, a fim de O fazer conhecido e amado. O cristão verdadeiro é aquele que conceitua a vida em relação ao Pai como acontecia com Jesus. Desta maneira Deus se torna uma realidade concreta e ativa, não um Deus abstrato, mas um Deus que existe e que está presente na história de cada um. Tudo isto supõe então a superação do individualismo, do egoísmo, da indiferença no que tange as realidade sobrenaturais para podê-las transmitir numa sociedade materialista, hedonista, atéia. É através daquele que é sua testemunha que Cristo continua sua obra, suscitando novos discípulos, arrancados das trevas da descrença. Uma característica de quem é testemunha do Evangelho é ser justo, numa vida de fé, de perseverança, de atração para Deus, de intensa caridade para com o próximo. Tudo isto significa a fidelidade no amor do Ser Supremo, vivendo o batizado numa santidade de vida que reluz no mundo fazendo brilhar a feliz harmonia psicossomática que há naquele que segue unicamente a Jesus. Fica então afastada qualquer hipótese de pusilanimidade que impeça testificar a grandeza de ser cristão. Isto pela atividade contínua da graça correspondida. Fortificada por ela o seguidor de Cristo não sucumbe aos assaltos do Inimigo, negando pelas ações o que proclama pelas palavras. O espírito do mundo deixa de contaminar este epígono do Evangelho e uma corrente de espiritualidade se expande por toda parte. Não há obstáculo que não se vença porque se crê nas palavras de Cristo: “Coragem, eu venci o mundo”! Eis por que o batizado tem obrigação de ser um profeta, ou seja, aquele que manifesta a presença de Deus por toda parte. É o sinal vivo da redenção que Jesus oferece a todos. A conduta do profeta dá aos acontecimentos uma interpretação de acordo com os desígnios salvíficos de Deus. É uma missão-vocação que exige persistência, fidelidade. É colocar Deus no coração do mundo sem temer o contra-ataque dos falsos profetas. Em casa, na escola, no trabalho, nas diversões é belo ser testemunha da esperança lá onde há desespero. Ser artesão da paz e da unidade onde reina a divisão e o ódio. Ser testemunha da reconciliação, do perdão cordial é fazer com que a vida exista no centro de uma cultura da morte. Afirmação corajosa da possibilidade da salvação para todos, demonstrando o valor da pessoa humana. Deste modo, se faz entender a Palavra de vida que Cristo trouxe a esta terra, tocando aqueles que estão fechados para o transcendente por causa do pecado. Ser testemunha de Deus é realizar a mais importante tarefa que alguém pode executar para o bem da humanidade, despertando o desejo da autenticidade, o anseio pela transcendência, a sensibilidade para se perceber aquela felicidade que o mundo não pode oferecer. Ser testemunha de Deus é ser assim sal da terra e luz do mundo. É ser um cristão santo, agradável ao Senhor não conformado com este mundo, mas discernindo em tudo aquilo que é bom e perfeito (cf. Rom 11, 1,2).* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
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