O VERDADEIRO AMOR A CRISTO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Uma reflexão teológica sobre o amor que se deve ao divino Redentor oferece os meios para ultrapassar uma piedade superficial e uma manifestação de dileção inconsistente que se perde em palavras e não em atos concretos. O Papa Bento XVI foi incisivo ao afirmar que “amá-lo significa permanecer em diálogo com Ele, a fim de conhecer a sua vontade e realizá-la”. São, realmente, as obras que provam o autêntico e imediato afeto para com Ele. Trata-se de um intercâmbio vivo, ou seja, um viver em sintonia com os pensamentos e os sentimentos de seu coração amabilíssimo, renunciando a tudo que seja negação de seu amor. Dá-se então uma total entrega a Ele e, segundo o citado Papa Bento XVI, “confiando-nos a Cristo, não perdemos nada, mas adquirimos tudo”. Isto supõe a audácia, a coragem de rever todas as atitudes interiores para que elas estejam harmonizadas com seus desígnios. Isto leva a ultrapassar o espaço e o tempo, uma vez que Jesus subiu aos céus e está assentado à direita do Pai. Nem sempre se pensa nisto quando se está diante do Sacrário ou no instante sublime da Comunhão eucarística. Ele é o Messias, aquele por quem o Reino de Deus chega a cada um. Ele é a plena, definitiva e irreversível comunicação da entranhada misericórdia de Deus aos homens. Com efeito, em Cristo o Criador se aproximou admiravelmente do ser racional. São João afirmou: “Deus é amor” (1 Jo 4,8). Ora, este amor tomou uma forma em Jesus. Deste modo, ao amar a Cristo o cristão se imerge na insondabilidade divina. Disto resulta que a incondicionalidade do amor a Jesus significa o cumprimento cabal do preceito do Deuteronômio: “Amará o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma, e com todas as tuas forças” (Dt 6, 5) Eis a razão pela qual Cristo é Aquele que dá o cabal sentido à vida humana. O cristão compreende então, de fato, que sua tarefa nesta terra é amar e servir a Deus com todo o seu ser para, um dia, gozar dele por toda a eternidade. Amar, portanto, a Cristo significa já degustar neste mundo um pouco da felicidade eterna. É lógico que tal atitude amorosa para com Deus através de Jesus supõe aquela renúncia que leva a transformar os árduos deveres cotidianos em atos de amor. O Mestre divino foi claro: “Se alguém quiser ser meu discípulo, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga” (Mt 16,24). O que se deu lá no Calvário foi a demonstração máxima do amor. O próprio Jesus asseverou: “Ninguém tem maior amor do que este de dar alguém a própria vida em favor dos seus amigos" (Jo 15,13). Não há assim verdadeira dileção a Deus sem sacrifício da própria vontade. Foi lá no Gólgota que Ele, se imolando pela salvação da humanidade, ensinou em que consiste ao verdadeiro amor o qual chegou até nós plenamente pela sua morte e ressrureição. Apenas compreendendo deste modo o mistério de Jesus é que se pode levar ao mundo a inteligibilidade e a credibilidade do processo soteriológico, fruto da missericórdia do Pai que aceitou a imolação do Filho. Disto deve resultar a verdadeira dileção de cada um para com Jesus. Desta maneira se expande por toda parte um amor que borbulha na prática da vida e faz brilhar a luz de uma fé que não é morta. Eis, portanto, como se deve entender a revelação de Deus por meio de Jesus que precisa ser amado de tal forma que o cristão ostente por toda parte a grandosidade de um amor que corresponda aos gestos maravilhosos daquele que verdadeiramente soube amar. Como bem explicou o Papa Bento XVI aí está “a dedicação a Jesus Cristo no autêntico amor”. Assim sendo, o essencial é o encontro com Deus, a decoberta prodigiosa de seu amor manifestado através de seu Filho Unigênito que se encarnou e habitou entre os homens. Este encontro, porém, inclui um momento de sinceridade, envolvendo todo o ser humano que se torna capaz de viver inteiramente aderido a seu Senhor. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos
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