TEMPLOS DA GLÓRIA DE DEUS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
O que é mais admirável na vida de Maria, a Mãe de Jesus, é sua postura interior diante de Deus. Sua filial afeição espiritual ao Criador a dispunha a fazer em tudo a vontade divina. Eis a razão pela qual ao receber o anúncio do Anjo de que fora a escolhida para dar início à era da nova aliança já estava preparada para aderir ao processo soteriológico. Como bem observou o Papa Bento XVI, “aquele que, como Maria, está aberto de modo total para Deus, alcança aceitar o querer divino, mesmo que seja misterioso, mesmo se, frequentemente, não corresponda ao próprio querer e é uma espada que traspassa alma”. A presença da Trindade Santa na alma em estado de graça transforma o cristão em templo da glória de Deus. Entretanto, esta realidade sublime supõe que se descubra continuamente os fulgores desta presença inefável da divindade dentro de si. Isto exige que haja momentos nos quais, por entre as tarefas cotidianas, se possa ter consciência desta notável dignidade. Então o cristão pode perceber fulgores da grandeza deste Deus, embora seja uma sua simples criatura. Surgem então desejos ardentes de um amor sem limites ao Ser Supremo. Disto resulta a perfeição no cumprimento dos deveres mais simples por força do anseio de se conformar com os desígnios do Todo-Poderoso Senhor. Dá-se então o que disse Davi: “Meu coração e os meus sentidos clamam desejosos pelo Deus vivo” (Sl 83,2). Anelo profundo de se engolfar no soberano Bem longe daquilo que é material e transitório. Além da presença substancial de Deus em todos os seres, que Ele conserva na sua existência e subsistência, se verifica a união da transformação da alma que conhece deste modo uma deificação especial. É a semelhança maravilhosa ocasionada no nível do amor. A presença de Deus no cosmos é natural, mas esta que a alma depara é inteiramente sobrenatural. Isto ocorre porque duas vontades, ou seja, a da alma e a de Deus estão conformes entre si e uma não se acha em desacordo com a outra. Eis aí é um ideal possível não apenas aos grandes místicos, mas também a todo batizado que se esforça por estar com Deus, envolto num amor sincero, aborrecendo os erros naturais à fraqueza humana e não obstante esta mesma debilidade. A imagem bíblica é perfeita quando mostra que desta maneira a alma se torna a esposa que busca o Esposo. Esta aspiração recrescente se explica porque o Pai, o Filho e o Espírito Santo se encontram lá no mais profundo da alma em estado de graça. Os santos souberam explorar ao máximo o que Jesus disse: “Se alguém me ama, meu Pai o amará, viremos a Ele e faremos nele nossa morada” (Jô 14,23). Para isto cumpre que se descubram instantes de recolhimento para um afetuoso entretenimento com o Deus Uno e Trino. Santo Agostinho entendeu isto perfeitamente e assim se dirigiu a Deus: “Senhor, eu não Vos encontrei fora, porque eu Vos procurava erroneamente fora, Vós que estáveis dentro de mim” Quem se esforça assim para estar com Deus já não tem o mínimo sentimento de terror da morte, pois aspira estar unido ao Criador por toda a eternidade. Ele então objeto de seu amor e isto sem o empecilho da atração terrena. Desde o aqui e agora, contudo, todo o ser humano se volta totalmente para Deus com todo suas operações e isto por amor e afeição que ultrapassam os lindes terrenos. Até \à visão beatífica, entretanto, porque aderida aos planos divino, a alma se empenha em não se desviar do centro essencial que é Deus aprofundando sempre mais sua união com Ele. Procura subir todos os degraus do amor apesar das dificuldades inerentes a um exílio. Os santos de tal forma se deixaram e se deixam atrair pela luminosidade divina que se mostraram e se mostram iluminados encantando os que os conheceram e conhecem. Sempre concentrados em Deus no qual está a fonte da verdadeira ventura. Há, portanto uma grande diferença em ter Deus em si pela graça e O possuir pela união através de um amor sem limites. No mundo agitado de hoje, felizmente, são milhares de cristãos que se enveredam pelo caminho de uma perfeição possível àqueles que se imergem na presença de Deus. Isto longe de alienar leva a um devotamento maior a todos os deveres próprios da vocação de cada um. Então se pode dizer que está salvo este mundo, porque tais discípulos de Cristo se tornam verdadeiramente templos da glória de Deus, iluminando esta terra. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
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