AS VIRTUDES TEOLOGAIS E A VIDA ESPIRITUAL
Côn.José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Riquezas inestimáveis oferecem as virtudes teologais da fé, da esperança e da caridade. Estas três virtudes divinas são o sustentáculo da vida espiritual. Trazem a consoladora certeza de que Deus existe, mostram que nas suas promessas reside a confiança de se ter o que mais aspira o ser humano e afirmam o quanto o Ser Supremo ama sua criatura e deseja ser por ela amado, fazendo com que todos sejam irradiadores de sua dileção sem limites. O Papa Bento XVI assim se expressou: “A fé nos convida a olhar para o futuro com a virtude da esperança, na espera confiante de que a vitória do amor de Cristo chegue à sua plenitude”. Segundo São Francisco de Sales a fé diz respeito à inteligência, a esperança se relaciona com a memória e caridade se liga à vontade. Para este santo a fé honra o Pai, porque ela se apóia sobre Seu poder infinito; a esperança honra o Filho, dado que ela esta fundada na Sua redenção; a caridade exalta o Espírito Santo, uma vez que ela expande Sua dileção infinita. Célebre a assertiva de São Paulo: “Agora permanecem estas três coisas: a fé, a esperança e a caridade, mas a maior delas é a caridade” (1 Cor 13,13). O citado São Francisco de Sales explica então que na terra estas três virtudes são necessárias, mas somente agora, porque no céu só permanecerá a caridade. Com efeito, “lá não entra a fé, porque lá se contempla tudo; a esperança, ainda menos, porque lá se possui tudo, mas lá só a caridade tem lugar, porque se trata de amar a Deus em tudo, por tudo”. Eis porque nada mais importante do cultivar neste mundo a fé, a esperança e a caridade. Para se conservar e aumentar a fé o primeiro meio é a oração, repetindo o cristão sempre com os Apóstolos: “Senhor aumenta-nos a fé” (Lc 17,5). A recitação do Credo, fixando a atenção em cada um dos artigos, alimenta a fé. A meditação da Palavra de Deus contida na Bíblia faz crescer uma crença profunda. Além disto, cumpre tudo fazer com espírito de fé, visando unicamente agradar a Deus. Para crescer na esperança é preciso ter sempre uma boa consciência, dado que não pode esperar os bens futuros aquele que se deixa dominar pelo pecado e se mostra contrário a seu Criador. Eis porque as boas obras são o alimento da esperança. Faz o cristão consciente de que “não temos aqui cidade permanente, mas vamos em busca da futura” (Hb 13,14). Cultivar a esperança é se deixar atrair pela bondade divina, se apoiar em Seu poder, se firmar na Sua misericórdia e se imergir na certeza de Sua fidelidade. Foi o que aconteceu com o Apóstolo Paulo que assim falou sobre o que se espera na Jerusalém celeste: “Nem olho viu, nenhum ouvido escutou, nenhum entendimento jamais compreendeu o que Deus tem reservado para os que o amam” ( 1 Cor 2,9). Pela caridade o ser racional se une com Deus e esta virtude o transforma. É ela que aumenta as energias para se praticar o bem e envolve a alma numa imensa alegria. Quem ama a Deus acima de todas as coisas vence os obstáculos deste exílio terreno, suporta as tribulações, degusta de certo modo um pouco das delícias celestiais. O cristão então entende que o amor que deve a Deus é sem limites, porque a medida do amor divino é amar sem medida e amor com amor se paga. Quem está impregnado da caridade, amará necessariamente o próximo. Tanto isto é verdade que Cristo associou as duas dileções. Quando o doutor da lei O interrotou sobre o maior mandamento, Ele respondeu: “Ama o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todo o teu entendimento. Este é o primeiro e o maior mandamento. O segundo é semelhante a este: “Ama o teu próximo a ti mesmo”. (Mt 22,35-40). Tanto o amor a Deus como ao próximo deve ser universal, sem demarcação alguma; perseverante, abrangendo todos os momentos; sincero, isto é, interno, afetivo. Em suma, nada mais importante para o cristão do que cultivar a fé, a esperança e a caridade. É por meio destas virtudes que se está unido intimamente a Deus, participando de Sua vida divina, sendo Seus filhos adotivos, consortes de Sua natureza e co-herdeiros do reino dos céus. Pela fé conhecemos as verdades sobrenaturais; pela esperança os bens eternos e os meios que conduzem à eterna felicidade; pela caridade o batizado se prende a Deus com o vínculo do amor no tempo e na eternidade. A fé ilumina, a esperança fortifica, a caridade diviniza. Pela fé conhecemos o caminho, pela esperança corremos para a meta, pela caridade chegaremos a possuir de uma ventura sem fim. Nestas três virtudes fundamentais está sintetizada toda a vida ascética e mística do seguidor de Cristo. * Professor no Seminário de Mariana durante 40anos. .
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