domingo, 30 de junho de 2013

O MESTRE DA ORAÇÃO

O MESTRE DA ORAÇÃO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Na sua passagem por esta terra Jesus não apenas ensinou a prece do “Pai Nosso”, mas também, através de seu exemplo, desvendou como deve se comportar o orante. Embora vivesse continuamente unido ao Pai, enquanto homem, os locais marcantes para ele entrar em oração são sumamente sugestivos. Retirava-se muitas vezes longe do bulício dos homens para um ambiente deserto, o qual facilita a contemplação, uma aplicação demorada e absorta do espírito numa sublime tertúlia. Outras vezes escalava o monte para orar, sublinhando que a oração é mesmo uma elevação do ser humano rumo ao Ser Supremo. Preferiu em diversas ocasiões a calada da noite que propicia tranquilidade, imperturbabilidade, para a união com o Pai.  No Horto das Oliveiras e no alto de uma Cruz sua prece, que se transformou num sacrifício vivo, regenerou a humanidade com clamores profundamente significativos.  Eis a razão pela qual o Papa Bento XVI sabiamente ensinou: “Também em nossa oração nós devemos aprender, sempre mais, a entrar nessa história de salvação da qual Jesus é o ápice, renovar na presença de Deus a nossa decisão pessoal de nos abrimos à sua vontade, pedir a Ele a força de conformar a nossa vontade à sua, em toda a nossa vida, em obediência ao seu projeto de amor por nós”. É que orar não significa pronunciar palavras, mas vivenciar as palavras. Jesus ensinou um modo como se deve orar, ou seja, transformar a vida em prece, tudo conformando aos desígnios do Pai. A prece então metamorfoseia inteiramente a existência do seu discípulo, a transfigura. Mais do que pensar em Deus, é preciso ter a mente repleta de idéias sobre Deus. Esta é a audácia conferida pelo Mestre divino a quem tem fé. Pode se dirigir a Alguém que é o Criador increado, o infinitamente grande, mas que devota a quem foi criado à sua imagem e semelhança um amor paternal. Eis porque uma das características da oração é a simplicidade. Cumpre um elã do coração, um simples olhar para o Céu, um clamor de reconhecimento e de amor seja no momento de angústia, seja no instante de júbilo. Isto resulta de uma confiança inabalável no Todo-poderoso Senhor. Vale sempre, porém, a grande norma teológica: “É rezando que se aprende a rezar”. Então se poderá chegar a encontrar Deus coração a coração. Prece intensa, colocando-se entre parêntesis o que é material para só se concentrar na Fonte da Luz. Cumpre receber esta luminosidade em plenitude. Nesta luz o apelo de Deus encontra a resposta do homem e o clamor humano encontra o coração repleto de compaixão de um Pai amoroso. Antes da vinda de Jesus a esta terra a prece do homem muitas vezes estava envolta em certa penumbra. Em Jesus se cumpriu totalmente a promessa salvífica de maneira irrevocável e definitiva. O Pai celeste não apenas atende as preces, mas dá a cada um de seus filhos o melhor, pois o grande tesouro que se recebe ao se dirigir a Ele é Ele mesmo. A oração introduz assim na comunhão com o Pai. Orar é estar na presença do Deus três vezes santo, permitindo que Ele venha habitar no seu filho para o deificar. À medida que reza quem tem fé vai se purificando e também se tornando um mediador autêntico do amor de Deus junto dos irmãos e de toda a humanidade.  Esta comunhão na vida divina é possível graças ao batismo no qual se recebe o Espírito Santo e o cristão se torna um com Cristo. Com ele se pode repetir “Abba”, pois Deus é, de fato, Pai. Entra-se assim no coração de um Deus que é misericórdia. Tal foi a grande revelação que Jesus trouxe para a humanidade. No Antigo Testamento se dirige a Deus, se clama por Deus. No Alcorão se diz que Deus é grande, Deus é Deus. Cristo mostra que este Deus é um Pai que olha cada um como filho predileto. Daí a necessidade de se entrar filialmente em sintonia com Ele. Disto resulta uma segurança íntima porque Sua ternura é infinita. Um amor sem fim supera as fraquezas humanas, todos os erros, dado que o perdão é continuamente possível lá onde reinar a sinceridade de um firme arrependimento. A Parábola do Filho Pródigo retrata bem o que se dá então. A retribuição que este Pai espera é o acolhimento de sua bondade. Foi isto que Cristo ensinou ao se tornar o Mestre da oração. É preciso imitar Maria, a irmã de Marta e saber sempre escutar Jesus no instante de uma prece fervorosa. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
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sexta-feira, 28 de junho de 2013

O POVO TEM RAZÃO

O POVO TEM RAZÃO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*, da Academia Mineira de Letras.
Diante das manifestações populares por todo o Brasil algumas medidas tomadas pelos governantes mostram claramente que o povo tem razão. Os jornais publicaram agora que o Governador de São Paulo cortou gastos de R$ 350 milhões, decidindo vender 4 mil carros e helicópteros e fundir autarquias. O senador Aécio.Neves, pediu à presidente diminuísse o número de ministérios e que cortasse pela metade o número de cargos comissionados na União, hoje cerca de 22 mil!. Dilma também é cobrada a explicar os gastos astronômicos com suas viagens no Brasil e no exterior. A repercussão na imprensa mundial está também ajudando e muito a que os políticos tomem consciência de suas responsabilidades na administração do dinheiro público. O Brasil é um dos países do mundo no qual os impostos são altíssimos e o povo não recebe em troca os serviços básicos a que tem direito.  Tonitruante é a propaganda governamental de combate à pobreza no Brasil. No entanto, quem procura se eximir dos sofismas, percebe que o alvo não é atingido, exatamente porque o cerne da questão não é focalizado. O grande problema brasileiro é a desigualdade social. A tese defendida por cientistas sociais é a de que o Brasil não carece de recursos, mas estes é que não são direcionados sabiamente para erradicar o pauperismo que reina nesta nação. Daí ser inócua a luta para que haja bem-estar para todos os patrícios. Adite-se que, segundo os jornais, a Bolsa Família tem problemas em 90% de cidades auditadas! A desigualdade na distribuição da renda vem também do desestímulo para um trabalho eficiente e com renda suficiente para o sustento de uma família. Poucas são as oportunidades de inclusão econômica e social do que resulta que o cidadão que nasceu pobre, vai morrer na penúria. Donde a necessidade da promoção do investimento social dirigido à educação em todos os níveis, nutrição, saúde, habitação, abastecimento d’água potável e saneamento, assim como a projetos de desenvolvimento de infra-estrutura com uso intensivo de mão-de-obra, a fim de reduzir a pobreza. Triste a declaração de um antigo jogador de futebol de que uma Copa do Mundo não se faz com hospitais. O resultado está aí: gastos fabulosos com estádios que vão ficar às moscas em muitas cidades, inclusive em Brasília. É triste, além disto, o que se observa nas favelas das grandes Metrópoles brasileiras e na periferia das demais urbes e vilarejos. Por tudo isto, mecanismos financeiros inovadores de caráter multilateral são instrumentos essenciais para alcançar a erradicação da pobreza. O dispêndio não adequado dos gastos públicos, se dirigidos aos setores sociais, à infra-estrutura básica, sem dúvida, contribuem eficazmente para melhorar a situação dos que se acham mergulhados numa inditosa situação. Que as manifestações ordeiras continuem, pois mostram que o povo tem razão!








quinta-feira, 27 de junho de 2013

A ALMA DA ORAÇÃO

A ALMA DA ORAÇÃO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Numa de suas admiráveis alocuções o Papa Bento XVI mostrou que, não obstante o secularismo que impera neste início de milênio, “vemos muitos sinais que nos indicam um despertar do sentido religioso, uma redescoberta da importância de Deus para a vida do homem, uma exigência de espiritualidade, de superar uma visão puramente horizontal, material da vida humana”. De fato, se percebe de um lado a busca do Ser Supremo por parte de muitos que se desligaram das realidades eternas, e, mesmo entre os cristãos, o anseio de um contato mais profundo com Deus. Multiplicam-se os “Grupos de Oração”. Nota-se uma participação mais fervorosa nas Missas. Contemplam-se nas Igrejas durante o dia pessoas diante dos Sacrários numa postura reflexiva. Em muitas casas voltaram a ter espaços oratórios que propiciam momentos de uma prece ardente. Por tudo isto nada melhor do que uma reflexão sobre a alma da prece, ou seja, desta tensão para o Criador, desta necessidade de se relacionar com o Ente Superior do qual ontologicamente cada um em tudo depende. Prece que indica a passagem para um mundo no qual tudo é consagrado à divindade. Por isto a oração é a fonte inesgotável que oferece uma luminosidade que regenera, purifica, salva. É como uma mina abundante repleta de um sem número de veios com incomparáveis riquezas espirituais. Fonte da água viva a qual sacia a sede de infinito que está no mais íntimo do ser humano. É que no coração da oração está a Presença do Criador de tudo e, deste modo, a prece desaltera, reidrata a alma daquele que crê. Ela oferece todos os bens de ordem sobrenatural. Trata-se daquela água que jorra para a vida eterna de que Jesus falou à Samaritana (Jo 4,14). A oração é o instrumento a serviço da renovação contínua desta fonte. São João da Cruz na sua poesia sobre a “Noite Obscura” assim se expressou: “Eu não percebia nada para me guiar senão a luz que brilhava no meu coração”. A alma marcha na obscuridade clarificada pela oração a qual é, no dizer de Santo Tomás de Aquino, “a expressão do desejo que o homem tem de Deus”. Este Deus é a luz que ilumina o ser humano. O fogo do amor divino alumia o orante. Este então se distancia sempre mais das trevas caliginosas do pecado. É, entretanto, importante que o cristão esteja certo de que o entretenimento com Deus é aprazível e acessível a todos que sinceramente O procuram. Segundo Santo Afonso de Ligório se deve falar com Deus sobre todas as preocupações, desabafando tudo com Ele que é o mais fiel e poderoso dos amigos. Embora, de fato, Ele saiba de tudo que cada um necessita, quer que lhe exponhamos nossas apreensões para que o ser racional possa atingir objetivamente aquilo de que precisa. Ele socorrerá dando o que for mais importante para a salvação individual. Se tal é o melhor para sua criatura, Ele fará com que Sua graça a sustente nos momentos de provações, dando neste caso muita paciência para tudo suportar como meio de santificação. Aliás, uma excelente prece é dizer a Ele: “Tua graça me basta, é nela que eu confio”! Tal súplica inclui em si uma total aceitação da Sua vontade santíssima. O salmista recomenda: “Descobre teu caminho ao Senhor” (Sl 36,5) e dá o motivo: “Ele sara os corações quebrantados e pensa-lhes as feridas” (Sl 146,3). Este foi o conselho que o pai deu a seu filho Tobias: “Pede a Ele que dirija teus passos e que todos os teus intentos estejam firmes nele” (Tb 4,20). O referido Santo Afonso ensina: “Na aflição, na doença, na tentação, nas afrontas do próximo e em outra prova qualquer, rapidamente, recorrei ao Senhor para que Sua mão vos sustente”. Tem razão o grande santo, pois Jesus afirmou: "Vinde a mim vós todos que estais fatigados e sobrecarregados e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração, e assim encontrareis conforto para as vossas almas, pois o meu jugo é suave, e o meu peso é leve” (Mt 11,2830). “Bento XVI explica que neste olhar para Deus, nesse dirigir-se para “além” se encontra a essência da oração como experiência de uma realidade que supera o sensível e o contingente”. De fato, se dá então o que falou Davi: “O Senhor é minha luz e minha salvação, a quem eu temerei”? (Sl 26,1) [...] "A vós Senhor recorro; não seja eu jamais confundido; livrai-me na vossa justiça”! (Sl 30,1). Tudo isto supõe o trinômio: familiaridade, confiança e respeito, ou seja, entregar a Ele o problema que aflige e  deixar a Ele a solução. O erro de muitos orantes é quererem manipular o Senhor Todo-Poderoso, fazendo-lhe exigências descabidas, ousando assim ostentar uma soberba que é a negação mesma da prece filial. Quem, porém, sabe orar com facilidade passará então da súplica para uma prece contemplativa, meditando diante de Deus as grandes verdades que Ele revelou contida nas Escrituras e nisto encontra um valioso alimento espiritual. *Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos

quarta-feira, 26 de junho de 2013

PERSEVERANÇA E CONFIANÇA NA ORAÇÃO

PERSEVERANÇA E CONFIANÇA NA ORAÇÃO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
 Jesus Cristo ministrou a seus discípulos uma aula sobre a oração. (Lc 11,1-13). Na verdade, ele atendeu a um pedido: “Senhor, ensina-nos a orar”. A maneira como os discípulos viam Jesus absorvido na prece, sem dúvida, suscitou neles o secreto desejo de ter parte na vida profunda do Mestre. Queriam, eles também, gozar do verdadeiro repouso do contato com Deus. Aspiravam a consolação para seu coração. Desejavam luz para suas vidas. Admirável a pedagogia de Cristo. Ofereceu uma fórmula que seria repetida através dos tempos e receberia o título de “oração dominical”, porque ensinada pelo próprio Senhor. Duas partes bem distintas, ou seja, a glorificação de Deus e a maneira de ser daquele que crê. O ser humano precisa do pão material e espiritual para poder subsistir; deve perdoar, imitando o Ser Supremo e nunca sucumbir às tentações. Em seguida, como se fosse um comunicador do terceiro milênio, é Cristo admiravelmente suscinto, pois sintetiza seu ensinamento na perseverança e na confiança. Isto através de uma parábola didaticamente exposta na qual estas duas condições, que devem caracterizar o orante, claramente rebrilham. Pedir, procurar, bater insistentemente na porta daquele que é o Todo-poderoso Senhor. Afiança Jesus,  então, que o objetivo será colimado, pois “todo aquele que pede, recebe, e quem procura encontra; e ao que bate, abrir-se-á a porta”. Embora Ele centre a atenção na súplica, cumpre se ater que o fiel se dirige não a um Deus inteiramente alheio à sua criatura, mas a um Pai extremoso que deve ser sempre o referencial primordial de autêntica prece. Já no Antigo Testamento, ao invocar o auxilio divino nos assaltos dos inimigos assim se expressa o salmista: “Elevai-vos, ó Deus, acima dos céus, e em toda a terra derramai a vossa glória!” (Sl 57,6).  É de todo interesse para o ser humano, criado, contingente, que a glorificação divina seja uma realidade fulgente, pois somente dentro de seu reino é que existe paz, felicidade. Longe dele apenas trevas e ignomínia. Deste modo, os pedidos têm como objetivo a libertação daquele que se abre ao mistério mesmo da pessoa do Pai. Dá-se então uma verdadeira iniciação à relação íntima entre o homem e Deus, o finito e o Infinito, o que está no tempo e Aquele que é Eterno. Em virtude, porém, da repetição, muitas vezes mecânica do início desta prece ensinada pelo Redentor, não se passa a viver no interior desta afinidade filial e não se dá a devida atenção às necessidades essenciais para as quais incidem os pedidos seguintes. Perfeito, porém, o ensinamento de Cristo, pois quem entende o sentido profundo da prece não se dirige a um Ente abstrato, nem anda em busca de interesses pessoais. Quer o perdão divino, deseja viver no amor que perdoa sempre e quer estar longe, bem longe, de tudo que desagrada ao seu Senhor, porque longe dele não há ventura possível. Então, ao se dirigir ao Todo-poderoso a alma do orante deve querer se adequar à vontade divina e que seus pedidos  estão envolvidos inteiramente pela reversibilidade do amor. Desta maneira, “o Pai celeste dará o Espírito Santo àqueles que lho pedirem”. Unido a Deus que é Pai e aos irmãos a quem se perdoa, surge, de fato, o lugar interior do encontro de cada um com o Espírito e a alteridade se faz unidade. O modo como Jesus ensinou a orar permite o fiel entrar com tudo que ele é e por tudo que ele faz na sinergia com o ato criador e iluminador da Sabedoria divina. Aquele que se deixa possuir pelo amor a Deus e ao próximo tudo alcança de Deus, porque a obra mesma do Espírito santo se exerce por excelência na efusão do perdão e da vitória sobre as tentações do maligno. Como estas fazem parte do combate e o vitorioso é que será coroado, cumpre rezar com perseverança e confiança, porque a tentação é uma passagem pela crise, uma experiência de julgamento e nunca se pode deixar que o inimigo cante vitória. Deste modo o que se pede a Deus é que a  força de gravitação ou de atração da ação do tentador seja transmutada em força ascensional, devido ao dinamismo que se obtém da graça de Deus que deve ser assim continuamente solicitada e com aquela certeza que tinha São Paulo: “Eu tudo posso naquele que é a minha fortaleza” (Fp 4,13). Deste modo, a oração que Jesus ensinou, levando conscientemente, a entrar no mistério da filiação divina e na realidade das verdadeiras necessidades humanas coloca o fiel em condições de tudo pedir a Deus e alcançar, porque todo pedido estará enquadrado dentro do ensinamento do Mestre divino. Daí a necessidade óbvia da perserverança e da confiança na oração que se torna a chave que abre todos os tesouros do Pai celeste. É assim que a prece dá ao instante terrestre seu peso de  um valor sem medidas. A perseverança e a confiança  não atravessam o tempo, mas faz o tempo parar por assim dizer perante a eternidade do Ser Supremo que tudo concede àqueles que sabe pedir como Jesus ensinou. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

A ESSÊNCIA DA ORAÇÃO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Numa de suas admiráveis alocuções o Papa Bento XVI mostrou que, não obstante o secularismo que impera neste início de milênio, “vemos muitos sinais que nos indicam um despertar do sentido religioso, uma redescoberta da importância de Deus para a vida do homem, uma exigência de espiritualidade, de superar uma visão puramente horizontal, material da vida humana”. De fato, se percebe de um lado a busca do Ser Supremo por muitos que se desligaram das realidades eternas e, mesmo entre os cristãos, o anseio de um contato mais profundo com Deus. Multiplicam-se os “Grupos de Oração”. Nota-se uma participação mais fervorosa nas Missas. Contempla-se nas Igrejas durante o dia pessoas diante dos Sacrários numa postura reflexiva. Em muitas casas voltaram a ter espaço oratórios que propiciam momentos de uma prece ardente. Por tudo isto nada melhor do que uma reflexão sobre a alma da prece, ou seja, desta tensão para o Criador, desta necessidade de se relacionar com o Ente Superior do qual ontologicamente cada um em tudo depende. .






Cette Source inépuisable (le Christ) offre ainsi une eau qui régénère. Dans le Cantique spirituel A, recourant à une autre image, saint Jean de la Croix évoque ce caractère inépuisable : « Ce qui est dans le Christ est inépuisable ! C’est comme une mine abondante remplie d’une infinité de filons avec des richesses sans nombre ; on a beau y puiser, on n’en voit jamais le terme. Bien plus, chaque repli renferme ici et là des richesses nouvelles… » Ces eaux sont riches, positives ; leurs vertus se situent aux antipodes des eaux tumultueuses et dangereuses des fleuves en crue qu’évoque le texte d’Isaïe que nous venons d’entendre (Isaïe 43, 2) ; précisément parce qu’au cœur de l’oraison, la Présence du Seigneur, semblable à une eau bienfaisante, rafraîchit, désaltère, réhydrate l’âme et le cœur du croyant. Dans la version B du Cantique Spirituel (12, 3), la foi est comparée à « une source, parce qu’elle verse à flots dans l’âme tous les biens de l’ordre spirituel. Le Christ Notre Seigneur a lui-même appelé la foi une source lorsque, appelant la Samaritaine, il dit que ceux qui croiraient en lui auraient en eux-mêmes une source d’eau jaillissant jusqu’à la vie éternelle (Jn 4, 14) » ; et celui qui en boit n’a plus jamais soif. L’oraison : instrument au service du renouvellement de cette source ! La source, comme une image de la foi !… Un autre symbole, également cher à saint Jean de la Croix transparaît à la fin du psaume 138, (versets 11-12) que nous avons chanté : il s’agit du thème de la nuit. Dans sa poésie de la Nuit Obscure (str. 3), le saint nous dit ceci : « …Et je n’apercevais rien pour me guider que la lumière qui brûlait dans mon cœur. ». Commentant ce poème Jean de la Croix nous dit : en quelque sorte, « on oblige l’âme à marcher dans l’obscurité et la pureté de la foi ». Et précise, plus loin : « Cette nuit obscure du feu d’amour, tout en purifiant l’âme dans les ténèbres… l’éclaire peu à peu dans les ténèbres. »
Nous voici exactement à dix jours de la Nuit de Noël, et c’est vraiment une aubaine et une grâcede fêter saint Jean de la Croix, d’être au contact de ses écrits dans ce contexte de l’Avent, si proche de la Nativité. Pour Jean, la nuit correspond à la nuit spirituelle de la foi, éclairée cependant de l’intérieur par cette même foi, qui, appuyée sur le Christ, est semblable à un flambeau, à un feu ; la foi éclairant comme de l’intérieur le chemin (« Au milieu d’une nuit obscure étant d’amour enflammé » écrit-il). Le type de nuit que l’on évoquera et chantera la veille de Noël est d’un autre ordre : il s’agit de « la nuit du péché » (Cf. Edith Stein, Le mystère de Noël), du refus de Dieu et plus encore de l’ignorance, de la souffrance des hommes privés de la pleine connaissance du Seigneur. Ainsi, « Le peuple qui marchait dans les ténèbres a vu se lever une grande lumière, sur les habitants du pays de la mort une lumière a resplendi. » (Isaïe 9, 1). Puissions-nous unifier ces deux nuits, les aborder de façon complémentaire, comme deux solidarités à vivre avec l’humanité : la nuit qui relève du combat spirituel, selon Jean de la Croix (et beaucoup mènent de rudes combats), et celle qui nous rend proches « des joies et des espoirs, (et surtout) des tristesses et des angoisses des hommes de ce temps » (Vatican II, GS 1). A l’invitation du Christ dans l’évangile de ce jour, puisse « notre unité », notre communion « être parfaites » afin de nous tenir devant Dieu pour tous ceux qu’Il nous a donnés à aimer et accueillir dans notre prière (Jn 17, 23-24).
Demandons à saint Jean de la Croix, qui a tant médité le mystère de l’Incarnation d’intercéder pour nous. Reprenons ses propres paroles (Romance 5, lignes 15-22) pour nourrir l’attente de la Naissance du Sauveur :
Les uns disaient : ‘Oh ! Si venait de mon temps la joie !’
D’autres :

AS VIRTUDES TEOLOGAIS E A VIDA CRISTÃ

AS VIRTUDES TEOLOGAIS E A VIDA ESPIRITUAL
Côn.José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Riquezas inestimáveis oferecem as virtudes teologais da fé, da esperança e da caridade. Estas três virtudes divinas são o sustentáculo da vida espiritual. Trazem a consoladora certeza de que Deus existe, mostram que nas suas promessas reside a confiança de se ter o que mais aspira o ser humano e afirmam o quanto o Ser Supremo ama sua criatura e deseja ser por ela amado, fazendo com que  todos sejam irradiadores de sua dileção sem limites. O Papa Bento XVI assim se expressou: “A fé nos convida a olhar para o futuro com a virtude da esperança, na espera confiante de que a vitória do amor de Cristo chegue à sua plenitude”. Segundo São Francisco de Sales a fé diz respeito à inteligência, a esperança se relaciona com a memória e caridade se liga à vontade. Para este santo a fé honra o Pai, porque ela se apóia sobre Seu poder infinito; a esperança honra o Filho, dado que ela esta fundada na Sua redenção; a caridade exalta o Espírito Santo, uma vez que ela expande Sua dileção infinita. Célebre a assertiva de São Paulo: “Agora permanecem estas três coisas: a fé, a esperança e a caridade, mas a maior delas é a caridade” (1 Cor 13,13). O citado São Francisco de Sales explica então que na terra estas três virtudes são necessárias, mas somente agora, porque no céu só permanecerá a caridade. Com efeito, “lá não entra a fé, porque lá se contempla tudo; a esperança, ainda menos, porque lá se possui tudo, mas lá só a caridade tem lugar, porque se trata de amar a Deus em tudo, por tudo”. Eis porque nada mais importante do cultivar neste mundo a fé, a esperança e a caridade. Para se conservar e aumentar a fé o primeiro meio é a oração, repetindo o cristão sempre com os Apóstolos: “Senhor aumenta-nos a fé” (Lc 17,5). A recitação do Credo, fixando a atenção em cada um dos artigos, alimenta a fé. A meditação da Palavra de Deus contida na Bíblia faz crescer uma crença profunda. Além disto, cumpre tudo fazer com espírito de fé, visando unicamente agradar a Deus. Para crescer na esperança é preciso ter sempre uma boa consciência, dado que não pode esperar os bens futuros aquele que se deixa dominar pelo pecado e se mostra contrário a seu Criador.  Eis porque as boas obras são o alimento da esperança. Faz o cristão consciente de que “não temos aqui cidade permanente, mas vamos em busca da futura” (Hb 13,14). Cultivar a esperança é se deixar atrair pela bondade divina, se apoiar em Seu poder, se firmar na Sua misericórdia e se imergir na certeza de Sua fidelidade. Foi o que aconteceu com o Apóstolo Paulo que assim falou sobre o que se espera  na Jerusalém celeste: “Nem olho viu, nenhum ouvido escutou, nenhum entendimento jamais compreendeu o que Deus tem reservado para os que o amam” ( 1 Cor 2,9). Pela caridade o ser racional se une com Deus e esta virtude o transforma. É ela que aumenta as energias para se praticar o bem e envolve a alma numa imensa alegria. Quem ama a Deus acima de todas as coisas vence os obstáculos deste exílio terreno, suporta as tribulações, degusta de certo modo um pouco das delícias celestiais. O cristão então entende que o amor que deve a Deus é sem limites, porque a medida do amor divino é amar sem medida e amor com amor se paga. Quem está impregnado da caridade, amará necessariamente o próximo. Tanto isto é verdade que Cristo associou as duas dileções. Quando o doutor da lei O interrotou sobre o maior mandamento, Ele respondeu: “Ama o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todo o teu entendimento. Este é o primeiro e o maior mandamento. O segundo é semelhante a este: “Ama o teu próximo a ti mesmo”. (Mt 22,35-40). Tanto o amor a Deus como ao próximo deve ser universal, sem demarcação alguma; perseverante, abrangendo todos os momentos; sincero, isto é, interno, afetivo. Em suma, nada mais importante para o cristão do que cultivar a fé, a esperança e a caridade. É por meio destas virtudes que se está unido intimamente a Deus, participando de Sua vida divina, sendo Seus filhos adotivos, consortes de Sua natureza e co-herdeiros do reino dos céus. Pela fé conhecemos as verdades sobrenaturais; pela esperança os bens eternos e os meios que conduzem à eterna felicidade; pela caridade o batizado se prende a Deus com o vínculo do amor no tempo e na eternidade. A fé ilumina, a esperança fortifica, a caridade diviniza. Pela fé conhecemos o caminho, pela esperança corremos para a meta, pela caridade chegaremos a possuir de uma ventura sem fim.  Nestas três virtudes fundamentais está sintetizada toda a vida ascética e mística do seguidor de Cristo. * Professor no Seminário de Mariana durante 40anos. .


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terça-feira, 25 de junho de 2013

VIVER NA PRESENÇA DE DEUS

VIVER NA PRESENÇA DE DEUS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Não obstante o bulício do trepidante contexto social hodierno, inúmeros são aqueles que encontram a paz de espírito estando conscientes da presença de Deus. Não apenas enquanto “nele nós existimos, nos movemos e somos” (Atos 17,2), mas também enquanto pela graça santificante a Trindade Santa habita no íntimo de cada um. É da qualidade da escuta do Ser Supremo que depende a grandeza daquele que crê. Uma escuta que conduz a colocar em prática o que, na fé, o ser racional percebe da Palavra divina, Palavra que o precede e que ordena sua vida envolta no amor divino. Como bem se expressou o Papa Bento XVI, “o nosso eu é libertado do seu isolamento” e os batizados se tornam “portadores da alegria e da esperança cristã no mundo”. Muitos são aqueles que experimentam na sua existência esta realidade sublime. A voz interior os toca e os transforma de tal modo que prevalece sempre o desejo de em tudo aderir aos desígnios de Deus. É que Deus é o Deus dos vivos, daqueles que sabem se imergirem nele, oceano infinito de felicidade e amor, libertando e salvando quem se inclina para Ele. É lógico que somente na eternidade é que se possuirá uma ventura sem limites, dado que na sua temporalidade terrena, na sua condição humana, só é possível a cada um degustar nesta terra apenas parcelas da bem-aventurança perene da visão beatífica do céu. Na presença de Deus, porém, o ser racional percebe Sua assistência e pode atravessar impavidamente as provações físicas, psíquicas ou espirituais. Esta presença providencial de Deus é a pedra fundamental de todas as grandes certezas do homem, o farol que o orienta na obscuridade, a bandeira que o inflama cada dia no combate que tem que enfrentar a toda a hora, dado que ele vive num exílio. Foi para isto também que a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade veio a este mundo e assumiu o sofrimento até o fim. Ele pôde salvar o homem de sua absurdidade, dando um sentido de redenção ao seu viver, abrindo para a existência humana a possibilidade real daquela paz e daquele bem-estar aos quais aspira no coração de cada um. Bento XVI explicou: “O meu próprio eu me é tirado e é inserido num novo sujeito maior, no qual o meu eu existe de novo, mas transformado, purificado, ‘aberto” mediante a inserção no outro, no qual adquire o seu novo espaço de existência Tornamo-nos assim “um em Cristo” (Gl 3.28)”. Dá-se o que Jesus falou: “Se alguém me ama, meu Pai o amará, viremos a ele e faremos nele nossa morada” (Jo 14,23). Deste modo a presença de Deus se concretiza, uma vez que o “Verbo se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1,14) e amando-O temos a Trindade Santa dentro de nós, conforme sua sublime promessa. Cada vez que um cristão contempla a pessoa de Jesus, se ligando a suas palavras, imitando seus gestos e atitudes, se realiza a aproximação plena de Deus, passando a viver intensamente na Sua presença. É na companhia de Cristo que o batizado, como membro de seu Corpo Místico que é a Igreja, é também convidado a tornar Deus presente naqueles que se entregam à depressão, se acham tomados pelo isolamento no sofrimento, abrindo-os à perspectiva e ao conforto da dileção divina. Trata-se de se ter uma vontade sincera de viver a vida sobrenatural, engajando o batizado no caminho que lhe é oferecido pela graça. Cumpre, portanto, apreciar o tesouro infinito que é o contato contínuo com o Deus três vezes santo. Jesus falou do talento estéril que o mau servidor esconde inutilmente na terra (Mt 25,18). Por isto é preciso continuamente renovar a reta intenção de tudo fazer para glória de Deus, mesmo as mais pequeninas ações. É o que se lê no salmo: “Meus olhos estão sempre fixos no Senhor, pois Ele há de tirar meus pés do laço” (Sl 24,15). Breves momentos de recolhimento no meio das ocupações, dos trabalhos diários ajudam a elevar a mente a Deus e a falar confidencialmente com Ele. É evidente também que para conservar a presença de Deus é  necessária a mortificação dos sentidos exteriores e interiores evitando a dispersão, moderar as paixões, submeter os apetites desordenados à razão iluminada pela fé. Quem faz esta experiência de Deus vive longe do pecado, procura tudo fazer com a máxima perfeição possível e se vê envolto na alegria. A presença de Deus deve, de fato, ser a luz que ilumina o cristão, a força que o sustenta, a consolação que o conforta, o motivo da esperança que o alenta. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

sábado, 22 de junho de 2013

O ALLICERCE DA IGREJA

 O ALICERCE DA IGREJA
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Com sua autoridade divina Cristo deu a Simão um nome novo e revelou seu destino admirável: “Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja”. Fez uma profecia: “As portas do inferno não prevalecerão contra ela”, “Acrescentou uma promessa: “Eu te darei as chaves do reino dos céus, e o que ligares na terra ficará ligado nos céus e o que desligares na terra ficará desligado nos céus” (Mt 16,20)”. Após sua ressurreição, este primado sobre a Igreja é conferido ao príncipe dos Apóstolos: “Apascenta as minhas ovelhas [...] apascenta os meus cordeiros” (Jo 21, 15-19). Pedro é então constituído chefe supremo da Igreja e a deveria governar. Não se tratou de um mero primado de honra, mas primazia de direito, fundado cristologicamente em palavras claras do Fundador desta Igreja. É de se notar que Cristo prometeu à Igreja uma duração perene, enquanto durar o mundo atual. Tal indestrutibilidade baseia-se no fato de que Pedro seria seu fundamento. Este é também o ponto de apoio para a exigência de que ele tenha sucessores, não como apóstolo, mas como rocha da Igreja de Cristo. Eis porque é um erro afirmar que o papado é o resultado de evoluções históricas. Ele se fundamenta na vontade explícita de Cristo. Pedro no pleno exercício de seu mandato veio a falecer como bispo de Roma e seus substitutos seriam sempre os pontífices romanos. Seus sucessores teriam, assim, uma posição primacial por causa do nexo entre a incumbência dada a Pedro por Cristo e a perenidade de sua sublime missão. À igreja de Roma competiria, através dos tempos, a primazia do poder ordinário sobre todas as outras Igrejas, e, na verdade, competência jurídica que tem caráter episcopal e é imediata. Por tudo isto, o Papa, enquanto supremo pastor da Igreja exerce sua autoridade a qualquer tempo como é exigido por seu cargo. É de se notar que o primado de jurisdição papal é um primado pastoral, como serviço prestado a toda a Igreja. O papado é a concretização e a visibilidade da essência mesma desta Igreja, sendo que, através do Papa, Cristo permanece o único mediador entre Deus e o homem. Eis porque esta função integrativa deve ser entendida como símbolo sacramental da unidade eclesial, e, consequentemente, o primado de jurisdição do Papa é sinal eficaz da unidade cristã.  Desta, ele é o representante na medida em que também ele é o representante de Cristo, o fundamento último da Igreja una. Deste modo, a unidade da Igreja não se funda primariamente no fato de ter um governo central unitário, mas no fato de viverem todos os cristãos unidos a Cristo e àquele que é seu Vigário nesta terra. O magistério papal em geral e a infalibilidade pontifícia, ou seja, quando ele defina ex cathedra proposições de fé e de costumes, estão sempre a serviço da fé unificante. Cumpre observar que a fé dos cristãos não é prestada ao Papa, mas à verdade testemunhada por ele, ou seja, não se baseia esta fé no testemunho autoritativo da Igreja, mas na autoridade da verdade do Deus que se revela. Pedro recebeu de Jesus as chaves do reino nos céus para exercer, por isto mesmo, o seu poder na terra. Ele não seria um mero porteiro da Casa do Pai. As chaves são aqui o distintivo do administrador que representa o próprio dono da casa que é o Filho de Deus. Com as chaves Pedro recebeu a autoridade de permitir a entrada no reino celeste e de excluir do mesmo. Trata-se de uma jurisdição completa, poder que lhe foi atribuído pelo Fundador da Igreja. Este ao dizer que Pedro poderia ligar e desligar mostrou que sua autoridade não se limitava ao âmbito doutrinal, mas compreenderia também a faculdade de promulgar disposições obrigatórias.  Todas estas reflexões bíblicas e teológicas remetem às indeclináveis obrigações dos fiéis para com o Cristo visível neste mundo. Cumpre fixar tudo isto, tanto mais que, por ocasião da renúncia de Bento XVI, os maiores absurdos foram publicados na mídia. Textos diabólicos até daqueles que se denominam teólogos, mas para lançar o veneno num jogo espúrio de textos bíblicos e de acontecimentos históricos deslocados de seu contexto. Ao verdadeiro fiel cabe obediência ao Papa e uma veneração especial por ser Ele o Cristo visível na terra. Devido os ataques ferozes das forças do mal contra o Chefe da Igreja é preciso muita oração para que Deus o fortaleça em tão espinhosa missão, dando-lhe firmeza total para sanar os erros que surgem das fraquezas humanas, vindos mesmo de tantos eclesiásticos. O Papa conta com cada um de nós. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

sexta-feira, 21 de junho de 2013

TESTEMUNHAS DE DEUS

TESTEMUNHAS DE DEUS
Côn.José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Num mundo que se mostra indiferente à presença de Deus mais do que nunca cumpre que os que possuem fé sejam vibrantes testemunhas de Deus na sociedade. O Papa Paulo VI afirmou: “O homem contemporâneo escuta mais espontaneamente as testemunhas do que os mestres, ou se ele escuta os mestres é porque eles são testemunhas do que eles falam”. De fato, o modo de ser, de encarnar aquilo em que se crê vale bem mais do que as palavras. Daí a responsabilidade do cristão atento com relação aos atos que ele pratica voluntariamente de acordo com o que o Filho de Deus ensinou. Bento XVI mostrou como São Paulo anunciou aberta e publicamente “aquilo que viu e sentiu no encontro com Cristo, aquilo que experimentou na sua existência já transformada por aquele encontro”. A exemplo do Apóstolo, conclui este Papa, ser testemunha “é levar aquele Jesus que se sente presente em si e se tornou a verdadeira orientação de sua vida, para fazer compreender a todos que Ele é necessário para o mundo e decisivo para a liberdade de todo homem”. Trata-se de envolver inteiramente a própria existência na grande obra da fé. É deste modo que se proclama que Jesus está vivo e que Ele continua a ser para todos a única tábua de salvação. Para isto é necessário que o coração e a vontade de quem tem fé estejam sempre dispostos a agir em coerência com esta realidade sublime para poder comunicá-la aos outros. Estes devem perceber como é feliz aquele no qual age o Filho de Deus.  Testemunhar é amar com convicção o divino Redentor. No batismo se recebe a capacidade de “anunciar as ações do Senhor” (Sl 117), mas é necessário caminhar colocando os passos nos passos de Jesus, a fim de O fazer conhecido e amado. O cristão verdadeiro é aquele que conceitua a vida em relação ao Pai como acontecia com Jesus. Desta maneira Deus se torna uma realidade concreta e ativa, não um Deus abstrato, mas um Deus que existe e que está presente na história de cada um. Tudo isto supõe então a superação do individualismo, do egoísmo, da indiferença no que tange as realidade sobrenaturais para podê-las transmitir numa sociedade materialista, hedonista, atéia. É através daquele que é sua testemunha que Cristo continua sua obra, suscitando novos discípulos, arrancados das trevas da descrença. Uma característica de quem é testemunha do Evangelho é ser justo, numa vida de fé, de perseverança, de atração para Deus, de intensa caridade para com o próximo. Tudo isto significa a fidelidade no amor do Ser Supremo, vivendo o batizado numa santidade de vida que reluz no mundo fazendo brilhar a feliz harmonia psicossomática que há naquele que segue unicamente a Jesus. Fica então afastada qualquer hipótese de pusilanimidade que impeça testificar a grandeza de ser cristão. Isto pela atividade contínua da graça correspondida. Fortificada por ela o seguidor de Cristo não sucumbe aos assaltos do Inimigo, negando pelas ações o que  proclama pelas palavras. O espírito do mundo deixa de contaminar este epígono do Evangelho e uma corrente de espiritualidade se expande por toda parte. Não há obstáculo que não se vença porque se crê nas palavras de Cristo: “Coragem, eu venci o mundo”! Eis por que o batizado tem obrigação de ser um profeta, ou seja, aquele que manifesta a presença de Deus por toda parte. É o sinal vivo da redenção que Jesus oferece a todos. A conduta do profeta dá aos acontecimentos uma interpretação de acordo com os desígnios salvíficos de Deus. É uma missão-vocação que exige persistência, fidelidade. É colocar Deus no coração do mundo sem temer o contra-ataque dos falsos profetas. Em casa, na escola, no trabalho, nas diversões é belo ser testemunha da esperança lá onde há desespero. Ser artesão da paz e da unidade onde reina a divisão e o ódio. Ser testemunha da reconciliação, do perdão cordial é fazer com que a vida exista no centro de uma cultura da morte. Afirmação corajosa da possibilidade da salvação para todos, demonstrando o valor da pessoa humana. Deste modo, se faz entender a Palavra de vida que Cristo trouxe a esta terra, tocando aqueles que estão fechados para o transcendente por causa do pecado. Ser testemunha de Deus é realizar a mais importante tarefa que alguém pode executar para o bem da humanidade, despertando o desejo da autenticidade, o anseio pela transcendência, a sensibilidade para se perceber aquela felicidade que o mundo não pode oferecer. Ser testemunha de Deus é ser assim sal da terra e luz do mundo. É ser um cristão santo, agradável ao Senhor não conformado com este mundo, mas discernindo em tudo aquilo que é bom e perfeito (cf. Rom 11, 1,2).* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.



quinta-feira, 20 de junho de 2013

VIVER INTENSAMENTE A FÉ

VIVER A FÉ
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Neste ano da fé a Igreja convida a todos a refletir sobre o essencial da crença em Deus, Pai, revelado por Cristo, seu Filho único, e que habita no coração dos que crêem pelo dom do Espírito Santo. Ser cristão é ter uma fé arraigada, vivida na comunidade eclesial, na qual a fé de cada um desenvolve e madurece. Assim se expressou o Papa Bento XVI: “Desde os inícios a Igreja é o lugar da fé, o lugar da transmissão da fé e o lugar no qual pelo batismo, fomos imersos no mistério pascal da morte e ressurreição de Cristo, que nos liberta da prisão do pecado, nos concede a liberdade de filhos e nos introduz na comunhão com o Deus trinitário”. O bem-aventurado João Paulo II alertou: “A fé se reforça doando-a”. Refletir sobre isto é tanto mais importante quando se vive numa civilização dominada pelo individualismo. Ora, precisamente a Igreja é a comunidade dos que crêem. A grandeza da liberdade humana chama o batizado a regular seu comportamento, não cedendo a seus caprichos pessoais, mas, se santificando, para poder espalhar por toda parte o bem e a verdade. Por isto, Bento XVI mostrou que “um cristão que se deixa guiar e plasmar paulatinamente pela fé da Igreja, não obstante as suas fragilidades, os seus limites e a suas dificuldades, se torna como uma janela aberta para a luz do Deus vivente, recebe esta luz e a transmite ao mundo”. Aliás, Jesus havia falado que seus seguidores são luzes do mundo. (Mt 5,14). A fé e a sabedoria cristãs têm assim um papel importante na tomada de consciência comum. Eis porque o Mestre divino acrescentou: “Brilhe a vossa luz diante dos homens, a fim de que vendo as vossas boas obras, glorifiquem vosso Pai que está nos céus” (Mt 5,16). É pela sua conduta, pelas suas ações e suas palavras, em suma, pelo seu modo de ser que o discípulo de Cristo clarifica esta terra. Uma vida pautada pelo Evangelho possibilita brilhar como seres luminosos num mundo de trevas. São Paulo explicou: “Procedei como filhos da luz, pois o fruto da luz consiste em toda a sorte de bondade, de justiça e de verdade” (Ef 5,8-9). Eis por que viver a fé é caminhar como aquele de onde emana luminosidade. Isto faz a identidade de quem vive o seu batismo. É o que ocorre quando a vida do batizado se une à vida de Deus. Lançado na morte e na ressurreição de Cristo, aquele que  recebeu a água batismal se tornou o templo da Santíssima Trindade.  Sua missão é então ser a presença de Deus neste mundo. Habitado pelo fulgor de Deus, o cristão, firme na fé, afasta a escuridão do pecado.  Eis aí a incumbência de todo aquele que crê no Filho de Deus. Sem o cristão verdadeiro o mundo deixa de ser alumiado e se torna impossível a muitos deparar o caminho da vida eterna. São Paulo alertou os Colossenses mostrando que deviam dar graças ao Pai o qual os tinha tornado “dignos de participar da herança do santos na luz”. Explicou: “Ele nos subtraiu do domínio das trevas e nos transferiu para o reino de seu Filho muito amado, no qual temos a redenção e remissão dos pecados”. (Cl 1, 12-14). Tudo isto se dá mediante a vida da graça e da fé.  O reino do mundo e da iniqüidade é um o reino tenebroso; o reino do Filho Unigênito de Deus que remiu a humanidade é um reino de cintilação. É através do cristão repleto de fé que o amor de Deus se irradia por toda parte, manifestando a iluminação daquele que asseverou: “Eu sou a luz do mundo”. Tal então a missão do cristão levar por toda parte esta Luz que é vida, salvação, fonte de beatitude. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.



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terça-feira, 18 de junho de 2013

SOBRE A ONDA DE PROTESTOS

O BRASILEIRO NÁO É TOLO
Côn.José Geraldo Vidigal de Carvalho*, da Academia Mineira de Letras
A onda de protestos que invade o país vem sendo analisada pelos cientistas sociais, todos de acordo em afirmar que não se trata apenas do aumento da passagem de ônibus em algumas capitais. Com rara perspicácia um Editorial do jornal “Folha de São Paulo” diagnosticou o fenômeno: “O que aflige os brasileiros é a perda de poder aquisitivo, com a inflação, e a incapacidade do Estado de apresentar soluções concretas para a crise nas áreas vitais de saúde, educação, segurança e transportes. Mais consumo e mais futebol não resolvem nada disso”. Tais soluções não aparecem e um dos motivos é o gasto astronômico do Governo que não aplica com sabedoria o que arrecada. Na verdade, sufocado anda, há muito tempo, o cidadão neste país, pagando impostos escorchantes. O que vê, porém, são estádios erguidos para a Copa do Mundo com gastos enormes e superfaturados e em locais nos quais depois ficarão ociosos. As notícias envolvendo as viagens dos políticos a ocuparem os mais luxuosos hotéis do mundo, inclusive a atual Presidente que está sempre acompanhada de uma comitiva de numerosos convidados a usufruírem as mesmas mordomias à custa do povo sofrido. Por outro lado, a segurança pública é mínima haja vista a multiplicação de crimes nefandos por toda parte. Escolas mal aparelhadas, hospitais à míngua, trânsito caótico abriram os olhos do brasileiro. Trata-se de dar agora um basta à enganação, à exploração, à inversão de valores. O futebol está sendo apenas um referencial, mesmo porque o esporte mais popular do Brasil não é formativo, mas está deformando a consciência do cidadão. Técnicos das equipes principais ganhando uma fortuna O salário mínimo é R$678,00 e um treinador recebendo seiscentos mil reais por mês, aliás, alguns até mais. Um certo jogador pediu recentemente a um clube brasileiro um milhão e duzentos mil reais por mês para retornar ao Brasil. Este articulista na rua  certa manhã, tendo à sua frente uma mãe com seu filho de aproximadamente sete anos, escutou esta a aconselhar o garoto: "Procura treinar e você ganhará muito dinheiro como o Neimar”. (sic) Adolescentes, como mostrou a televisão, a clamarem impudicamente a este jogador: “Coloque um “neimarzinho” em mim”! Em que mundo estamos? É em tudo isto que se deve pensar diante da movimentação geral que está ocorrendo. Como o mau exemplo vem de muitos políticos está na hora de uma transformação geral o povo que deve se dispor a colocar no poder pessoas honestas, sensatas e que visem realmente o bem estar geral da nação. O culto aos verdadeiros valores, uma melhor distribuição da riqueza, um interesse real pelas necessidades básicas da população é o que no fundo deseja cada habitante desta gloriosa pátria, infelizmente tão dilapidada. A esperança é a última que morre, portanto mais do que desejar que o Brasil seja novamente campeão do mundo de futebol, cada um aspire dias melhores para todos os brasileiros com administradores mais competentes e menos demagogos.

CONFIANÇA NA PROTEÇÃO DE MARIA

CONFIANÇA NA PROTEÇÃO DE MARIA
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Quando em 1202 os ingleses sitiaram a cidade de Poitiers na França, surgiu um traidor que, por uma soma vultosa, lhes entregaria as chaves da cidade para que pudessem livremente nela entrar. Ele não encontrou estas chaves com o Chefe daquela localidade e não as pôde passar aos invasores.  É que, não se sabe como, estas chaves foram parar nas mãos da imagem de Nossa Senhora na monumental Igreja lá a ela dedicada, construida em 1140, com pedra calcária branca. O certo é que os ingleses desistiram de tomar Poitiers e daí a grande devoção a “Notre Dame des Clés”.  A imagem original foi destruída pelos calvinistas em 1539, mas, mais tarde, foi esculpida uma outra representando Maria sentada e tendo na mão direita um molho de chaves de prata. Grande o simbolismo desta imagem sempre visitada por inúmeros devotos e romeiros de várias partes da França e de outros países. O devoto da Mãe de Deus deve entregar a ela a chave de seu coração para que nele ela faça entrar seu divino Filho. Além disto, abrirá, sem dúvida, as portas do céu para quem a souber homenagear neste mundo. Ela acolheu com amor o Verbo divino no dia da Anunciação, concebendo-o por obra do Espírito Santo, quando, como bem ressaltou o Papa Bento XVI, “a aliança entre Deus e a humanidade foi selada de forma perfeita”.  Foi então, segundo o referido Pontífice, que “o Verbo eterno começou a existir como ser humano no tempo”. Ela se tornou então Mãe de Deus, mas sua maternidade espiritual com relação a todos os discípulos de Jesus começou efetivamente no Calvário. Foi lá que Cristo do alto da Cruz lhe disse: “Mulher, eis o teu filho” (Jo 19,26). Uma observação atilada fez o citado Bento XVI, mostrando que Jesus “se dirigiu a Maria chamando-a “mulher” e não “mãe”, termo que, porém, utilizou confiando-a ao discípulo: “Eis a tua mãe” (Jo 19,27). Jamais se agradecerá demais a Jesus por ter dado a seus seguidores uma tão poderosa mãe, capaz de obter todas as graças para os que nela confiam. São Boaventura assim se expressou: “Ó bondade verdadeiramente estupenda de nosso Deus, pois nós somos culpados e, no entanto, ó Maria, Ele vos estabeleceu nossa advogada com poder tão grande para nos obter tudo que vós quereis”. De fato, por entre as vicissitudes de um exílio, sempre que alguém recorre a ela, se refugia sob seu manto materno, ela vem em encontro de suas necessidades. Ela é mãe poderosa, advogada misericordiosa e desejosa de beneficiar a seus filhos espirituais. Jesus é todo-poderoso por natureza, dado que é Deus junto com o Pai e o Espírito Santo, mas Maria é todo-poderosa por graça, isto é, ela obtém por sua intercessão tudo que ela pede. Isto já ocorria nesta terra, como aconteceu em Cana da Galiléia, a fortiori, se dá lá no céu onde é Rainha cheia de poder junto do trono de seu Filho. Ela, contudo, tem seus olhos voltados não apenas para os justos, mas também para os pecadores a fim de os livrar da condenação eterna. A Mãe de Cristo sobretudo sabe valorizar o sangue de seu Filho derramado pela reparação dos erros humanos. É por este sangue divino que o ser racional é purificado. Lepicier explica: “A incomparável santidade de Maria é bastante, por si só, para aplacar a Deus". Isto se dá certamente com os pecadores que buscam sua proteção. Não só desarma Maria a justiça divina, senão que obtém para seus devotos a graça de uma verdadeira e sincera conversão”. Eis por que todos devem recorrer a Ela, pois, como diz a Escritura, ninguém está isento de alguma falta.  Assim, bem se compreende o valor da mais antiga das preces composta pelos cristãos a qual remonta a tempos anteriores ao Concílio de Nicéia: “Sob tua proteção nos refugiamos Santa Mãe de Deus; não desprezeis nossas súplicas em nossas necessidades, mas de todos os perigos livrai-nos sempre, Virgem gloriosa e bendita”. A consciência da culpabilidade pessoal conduz a este pedido de proteção. Pronto é o atendimento desta Mãe poderosa, pois está sempre atenta aos dizeres de Cristo: “Quero a misericórdia e não os sacrifícios, porque eu não vim salvar os justos, mas os pecadores” (Mt 9,13). Apraz-se Maria em ser invocada como refúgio dos pecadores, pois Cristo os recebia e comia com eles. Desvalidos neste vale de lágrimas, presos tantas vezes nos laços do demônio, os homens tinham necessidade desta Mãe que os abrigasse nos instantes de abandono e perseguição dos poderes infernais. Cristo veio para livrar o homem do pecado, e aquela que se fez a cooperadora da redenção da humanidade participa desta sublime missão, mesmo porque a salvação tem como fundo a realidade das transgressões humanas à lei divina. Acolhendo os pecadores, Maria os converte a Deus e, segundo o que está no Apocalipse, aos bons conduz à perfeição: “Aquele que é justo justifique-se mais, e aquele que é santo, santifique-se mais” (Ap 22,11). Ela tem, realmente, a chave dos corações e a chave do céu” * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

sábado, 15 de junho de 2013

O CRISTO DE DEUS

O CRISTO DE DEUS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Admirável a profissão de fé do Apóstolo Pedro, quando Jesus interrogou aos discípulos quem Ele era, pois tomando a palavra respondeu: ”O Cristo de Deus” (Lc 9,20). De fato, Ele era o Ungido de Deus, o Messias, o Messias sofredor segundo a interpretação cristológica de Isaias (52 e 53). Aliás, logo após as palavras de Pedro, diz São Lucas que Jesus afirmou que o Filho do homem tinha que sofrer muito, ser rejeitado e morto. Cumpre ao cristão desejar conhecer sempre melhor Aquele que veio a este mundo como o Redentor prometido, se mobilizando num processo existencial de conversão e de seguimento daquele que é a fonte e a plenitude da vida. Isto foi compreendido perfeitamente por São Paulo: “Já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20). É preciso descobrir nele a “imagem do Deus invisível e o “primogênito de toda criação” (Cl 1,15). Na sua pessoa divina que se fez carne se deu o encontro do mistério do divino e do humano para a realização dos planos salvíficos da Trindade misericordiosa. Disto resulta a necessidade de reconhecer, na prática, que Jesus é o Senhor o Salvador de cada um. Entretanto ostentar os padrões desta crença na existência diária supõe disposições que levam a ostentar uma percepção acutilante da profundidade de tudo que Ele ensinou. O seguidor de Cristo deve manifestar ao mundo  o rosto do Mestre divino  que uma fé profunda vai pintando em seu coração. Trata-se de um comprometimento sério  com aquele que é a única tábua de salvação, o verdadeiro manancial da felicidade, da imperturbabilidade. A vinculação a Cristo ocorrida no dia do batismo traz uma responsabilidade enorme e da consciência da mesma depende cada um se fazer “luz do mundo e sal da terra”.  Apenas assim se demonstra que Jesus, que foi morto, ressuscitou e está vivo, presente na existência de seu discípulo que, deste modo, o faz cada vez mais conhecido e amado. Nisto consiste basicamente o anúncio do Evangelho. Aquele que busca desta maneira  a plenitude de sua conformidade com o modelo divino está a proclamar por toda parte  que Cristo vivo e vivificante  preside a história humana, fecundando-a com seu poder e glória. O verdadeiro cristão é, assim, o instrumento basilar para que a obra redentora se prolongue através dos tempos. Jesus aparece então não como um mero exemplar de uma religiosidade abstrata, mas como um companheiro  de jornada “autor e consumador da fé” de que fala a Carta aos Hebreus e que leva à conquista da vida eterna (Hb 12,2). Para isto é necessário aceitá-lo para que Ele possa comunicar a vida divina, segundo o seu ardente desejo: “Eu vim para que todos tivessem a vida e a tivessem em plenitude” (Jo 10,10). Então  a presença de Jesus  se converte em força transformadora a envolver todo o ser humano que a Ele adere. Ele se faz contemporâneo de cada um e da sociedade na qual age este seu epígono. Realiza-se o contato vivo sacramental com Cristo, fruto da identificação pessoal e da incorporação nele. O estar nele equivale então ser Ele mesmo na realização total da célebre definição: “O cristão é outro Cristo”. Para que este ideal seja colimado os meios estão ao alcance de todos. A Palavra que está na Bíblia, meditada, vivida e que, sobretudo, é apresentada em cada Missa dominical como um roteiro semanal de raro valor espiritual. Na celebração eucarística se oferece o momento culminante da união com Ele através da Comunhão pela qual se dá uma presença reduplicada: Ele em nós e nós nele. Clara sua mensagem: “Quem come a minha carne e bebe o meu sangue, permanece em mim e eu nele” (Jo 6,17).  Deste modo, terminada a Missa começa a missão de levá-lo por toda parte. Brilham então os sinais do reino de Cristo e seu discípulo se torna o fermento na massa social, impregnando-a da Boa Nova trazida por Ele do céu a esta terra. Nisto consiste o dinamismo do autêntico apostolado e Jesus amoroso é empaticamente acolhido, inundando a todos com raios luminosos de sua divindade. O espírito de Cristo deve penetrar a mente de todos aqueles com quem o cristão convive, devido a uma conaturalidade que se torna, por assim dizer, perceptível. Por força de tanto repetida perderam sua pujança primitiva as sentenças que diziam que o importante é o testemunho de vida e que “palavras sem obras são tiros sem bala”, atroam, mas são sem efeito.  Nunca se tem demais convicção de que o exemplo é que arrasta e quem sabe que Jesus é o Cristo de Deus não deixará desta forma de ser o intermediário pelo qual Ele possa prosseguir sua missão salvífica a bem próprio, do próximo e de todo o mundo. Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.




domingo, 9 de junho de 2013

TEMPLOS DA GLÓRIA DE DEUS

TEMPLOS DA GLÓRIA DE DEUS
Côn.  José Geraldo Vidigal de Carvalho*
O que é mais admirável na vida de Maria, a Mãe de Jesus, é sua postura  interior diante de Deus.  Sua filial afeição espiritual ao Criador  a dispunha a fazer em tudo a vontade divina. Eis a razão pela qual ao receber  o anúncio do Anjo de que fora a escolhida para dar início à era da nova aliança já estava preparada para aderir ao processo soteriológico. Como bem observou o Papa Bento XVI, “aquele que, como Maria, está aberto de modo total para Deus, alcança aceitar o querer divino, mesmo que seja misterioso, mesmo se, frequentemente,  não corresponda ao  próprio querer e é uma espada que  traspassa alma”. A presença da Trindade Santa na alma em estado de graça transforma o cristão em templo da glória de Deus. Entretanto, esta realidade sublime supõe que se descubra continuamente os fulgores desta presença inefável da divindade dentro de si. Isto exige que haja momentos nos quais, por entre as tarefas cotidianas, se possa ter consciência desta notável dignidade. Então o cristão pode perceber fulgores da grandeza deste Deus, embora seja uma sua simples criatura. Surgem então desejos ardentes de um amor sem limites ao Ser Supremo. Disto resulta a perfeição no cumprimento dos deveres mais simples por força do anseio de se conformar com os desígnios do Todo-Poderoso Senhor. Dá-se então o que disse Davi: “Meu coração e os meus sentidos clamam desejosos pelo Deus vivo” (Sl 83,2). Anelo profundo de se engolfar no soberano Bem  longe daquilo que é material e transitório. Além da presença substancial de Deus em todos os seres, que Ele conserva na sua existência e subsistência, se verifica a união da transformação da alma que conhece deste modo uma deificação especial. É a semelhança maravilhosa ocasionada no nível do amor. A presença de Deus no cosmos é natural, mas esta que a alma depara é inteiramente sobrenatural. Isto ocorre porque duas vontades, ou seja,  a da alma e a de Deus estão conformes entre si e uma não se acha em desacordo com a  outra. Eis aí é um ideal possível não apenas aos grandes místicos, mas também a todo batizado que se esforça por estar com Deus, envolto num amor sincero, aborrecendo os erros naturais à  fraqueza humana e não obstante esta mesma debilidade. A imagem bíblica é perfeita quando mostra que desta maneira a alma se torna a esposa que busca o Esposo. Esta aspiração recrescente se explica porque o Pai, o Filho e o Espírito Santo se encontram lá no mais profundo da alma em estado de graça. Os santos souberam explorar ao máximo o que Jesus disse: “Se alguém me ama, meu Pai o amará, viremos a Ele e faremos nele nossa morada” (Jô 14,23). Para isto cumpre que se descubram instantes de recolhimento para um afetuoso entretenimento  com o Deus Uno e Trino. Santo Agostinho entendeu isto perfeitamente e assim se dirigiu a Deus: “Senhor,  eu não Vos encontrei fora, porque eu Vos procurava erroneamente fora, Vós que estáveis dentro de mim” Quem se esforça assim para estar com Deus já não tem o mínimo sentimento de terror da morte, pois aspira estar unido ao Criador por toda a eternidade. Ele então objeto de seu amor e isto sem o empecilho da atração terrena. Desde o aqui e agora, contudo, todo o ser humano se volta totalmente  para Deus com todo suas operações e isto por amor e afeição que ultrapassam os lindes terrenos. Até \à visão beatífica, entretanto, porque aderida aos planos divino, a alma se empenha em não se desviar do centro essencial que é Deus aprofundando sempre mais sua união com Ele. Procura subir todos os degraus do amor apesar das dificuldades inerentes a um exílio. Os  santos de tal forma se deixaram e se deixam atrair pela luminosidade divina que se mostraram e se mostram iluminados encantando os que os conheceram e conhecem. Sempre concentrados em Deus no qual está a fonte da verdadeira ventura.  Há, portanto uma grande diferença em ter Deus em si pela graça e O possuir pela união através de um amor sem limites. No mundo agitado de hoje, felizmente, são milhares de cristãos que se enveredam pelo caminho de uma perfeição possível àqueles que se imergem na presença de Deus. Isto longe de alienar leva a um devotamento maior a todos os deveres próprios da vocação de cada um. Então se pode dizer que está salvo este mundo, porque tais discípulos de Cristo se tornam verdadeiramente templos da glória de Deus, iluminando esta terra. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.                      

sexta-feira, 7 de junho de 2013

O VERDADEIRO AMOR A CRISTO

O VERDADEIRO AMOR A CRISTO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Uma reflexão teológica sobre o amor que se deve ao divino Redentor oferece os meios para ultrapassar uma piedade superficial e uma manifestação de dileção inconsistente que se perde em palavras e não em atos concretos. O Papa Bento XVI foi incisivo ao afirmar que “amá-lo significa permanecer em diálogo com Ele, a fim de conhecer a sua vontade e realizá-la”. São, realmente, as obras que provam o autêntico e imediato afeto para com Ele. Trata-se de um intercâmbio vivo, ou seja, um viver em sintonia com os pensamentos e os sentimentos de seu coração amabilíssimo, renunciando a tudo que seja negação de seu amor. Dá-se então uma total entrega a Ele e, segundo o citado Papa Bento XVI, “confiando-nos a Cristo, não perdemos nada, mas adquirimos tudo”. Isto supõe a audácia, a coragem de rever todas as atitudes interiores para que elas estejam harmonizadas com seus desígnios. Isto leva a ultrapassar o espaço e o tempo, uma vez que Jesus subiu aos céus e está assentado à direita do Pai. Nem sempre se pensa nisto quando se está diante do Sacrário ou no instante sublime da Comunhão eucarística. Ele é o Messias, aquele por quem o Reino de Deus chega a cada um. Ele é a plena, definitiva e irreversível comunicação da entranhada misericórdia de Deus aos homens.  Com efeito, em Cristo o Criador se aproximou admiravelmente do ser racional. São João afirmou: “Deus é amor” (1 Jo 4,8). Ora, este amor tomou uma forma em Jesus.  Deste modo, ao amar a Cristo o cristão se imerge na insondabilidade divina. Disto resulta que a incondicionalidade do amor a Jesus significa o cumprimento cabal do preceito do Deuteronômio: “Amará o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma, e com todas as tuas forças” (Dt 6, 5) Eis a razão pela qual Cristo é Aquele que dá o cabal sentido à vida humana. O cristão compreende então, de fato, que sua tarefa nesta terra é amar e servir a Deus com todo o seu ser para, um dia, gozar dele por toda a eternidade. Amar, portanto, a Cristo significa já degustar neste mundo um pouco da felicidade eterna. É lógico que tal atitude amorosa para com Deus através de Jesus supõe aquela renúncia que leva a transformar os árduos deveres cotidianos em atos de amor. O Mestre divino foi claro: “Se alguém quiser ser meu discípulo, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga” (Mt 16,24). O que se deu lá no Calvário foi a demonstração máxima do amor. O próprio Jesus asseverou: “Ninguém tem maior amor do que este de dar alguém a própria vida em favor dos seus amigos" (Jo 15,13). Não há assim verdadeira dileção a Deus sem sacrifício da própria vontade. Foi lá no Gólgota que Ele, se imolando pela salvação da humanidade, ensinou em que consiste ao verdadeiro amor o qual chegou até nós plenamente pela sua morte e ressrureição. Apenas compreendendo deste modo o mistério de Jesus é que se pode levar ao mundo a inteligibilidade e a credibilidade do processo soteriológico, fruto da missericórdia do Pai que aceitou a imolação do Filho. Disto deve resultar a verdadeira dileção de cada um para com Jesus. Desta maneira se expande por toda parte um amor que borbulha na prática da vida e faz brilhar a luz de uma fé que não é morta. Eis, portanto, como se deve entender a revelação de Deus por meio de Jesus que precisa ser amado de tal forma que o cristão ostente por toda parte a grandosidade de um amor que corresponda aos gestos maravilhosos daquele que verdadeiramente soube amar. Como bem explicou o Papa Bento XVI aí está “a dedicação a Jesus Cristo no autêntico amor”. Assim sendo, o essencial é o encontro com Deus, a decoberta prodigiosa de seu amor manifestado através de seu Filho  Unigênito que se encarnou e habitou entre os homens. Este encontro, porém, inclui um momento de sinceridade, envolvendo todo o ser humano que se torna capaz de viver inteiramente aderido a seu Senhor.  * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos


quinta-feira, 6 de junho de 2013

JESUS, CAMINHO PARA O PAI

JESUS,  CAMINHO PARA O PAI.
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Há verdades basilares sobre as quais nem sempre se reflete em profundidade. Uma delas é a assertiva de Cristo que se identificou como sendo o Caminho (Jo l4, 6). O Papa Bento XVII assim expressou: “Ser cristãos é um caminho, ou melhor, uma peregrinação, um caminhar junto com Jesus Cristo. Um caminhar naquela direção que Ele nos indicou e nos indica”. Quem procura um caminho tem uma meta em vista, o mesmo acontecendo com quem aponta a via a ser percorrida. Todo mistério da Encarnação oferece aos homens os meios a fim de poderem retornar para junto do Deus. Eis porque Jesus é o caminho para o Pai. Sua missão salvadora se cifra nesta meta extraordinária. Ele sempre manifestou estar consciente de sua tarefa messiânica e foi sua opção radical, em tudo, realizar o mandato do Pai. Declarou abertamente: “Meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou (Jo 4,34)”. Esta opção radical de Jesus, até sua ascensão ao céu, que faz coincidir seu desígnio com o do Pai é uma lição magnífica para seus seguidores. Alias, Ele ensinaria a rezar ao Pai: “Seja feita a vossa vontade assim na terra como no céu”. Tocantes as passagens do Evangelho quando Ele se retira para a montanha, lugar de silêncio, a fim de orar ao Pai na solidão e na contemplação. Mostrava ser no contato com o Ser Supremo que é possível discernir o significado da missão de cada um nesta trajetória terrena. Lá no Horto das Oliveiras, no instante trágico de sua agonia, Ele se volta para o Pai, pois Sua alma estava numa tristeza mortal. Assim orou: “Meu Pai, se é possível, passe de mim este cálice, contudo, não se faça como eu quero, mas como tu queres” (Mt 26,39). Que ensinamento maravilhoso para quantos se revoltam ante as provações da vida! Não apenas nos instantes aflitivos, mas também nos pormenores do dia a dia cumpre checar o que, realmente, Deus quer que se faça. Nas preces em geral é preciso jamais querer manipular o Senhor de tudo. Em toda sua passagem por esta terra Jesus revelou o Pai que é misericordioso que deseja a felicidade completa para seus filhos. No colóquio com Nicodemos Jesus afirmou: “Deus amou tanto o mundo que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que crer nele não pereça, mas tenha a vida eterna; porque Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por sua obra" (Jo 3, 16-18). Como pedagogo admirável Jesus deseja que se tenha fé total, inabalável no Pai amoroso, correspondendo inteiramente a este maravilhoso amor. Caminho para o Pai, Ele veio como luz do mundo e “todo aquele que pratica o mal odeia a luz e não se aproxima da luz, por temor de que as suas obras sejam conhecidas por aquilo que são” (Jo 3 19-20). O retrato falado do Pai cheio de benignidade e comiseração Jesus deixou na parábola do Filho Pródigo. Além disto, doutrinou sobre a certeza inabalável na providência paterna. Se Deus cuida dos pássaros e das plantas, não deve haver preocupação com o que comer ou o que beber, nem andar ansioso, pois “bem sabe o vosso Pai que delas precisais. Buscai o seu reino e essas coisas vos serão dadas por acréscimo” (Lc 12, 22 -34). É preciso então que o autêntico discípulo de Jesus tenha percepção plena da ternura deste Pai que Jesus veio mostrar, fazendo-se o caminho até ele. É de bom alvitre um auto-exame para se verificar se, de fato, há uma caminhada nas trilhas deixadas pelo Mestre divino. Deste modo, serão afastadas as preocupações inúteis, as sensações de receio e de apreensão, de fobia, de depressão às quais se agregam fenômenos somáticos como taquicardia, sudorese e outros muitos É que o poder do Deus Todo-Poderoso se patenteia por um amor que multiplica suas dádivas e que respeita a liberdade do ser humano, o envolvendo em inefável ternura. Mesmo àqueles que não O conhecem ou dele se esquecem Ele conserva na existência e lhes dá tudo que é necessário para a subsistência. Felizes, porém, os que vivem em função de sua dileção infinita e sabem usufruir a paz, a tranqüilidade, a imperturbabilidade de uma confiança filial para com Ele. Ditosos aqueles que vivem o aforismo: “Amor com amor se paga”. Estes percebem ainda mais vivamente que o seu destino será se inebriar um dia na visão beatífica, quando estarão no céu participando para sempre da beatitude que este Pai reserva para os que realmente O amaram neste mundo. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.



























































































quarta-feira, 5 de junho de 2013

JESUS ROCHA INABALÁVEL

JESUS ROCHA INABALÁVEL
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Jesus é a pedra angular e fundamental sobre a qual se deve instalar a casa da própria vida. Edificar sobre Ele é ter todas as garantias de uma existência repleta de beatitude, porque somente Ele tem palavras de vida eterna (Jo 6,68). O Papa Bento XVI explicou que erigir sobre Cristo é construir “com Alguém que do alto da cruz estende seus braços para repetir por toda a eternidade: “Eu dou a minha vida por ti, homem, porque te amo”. Como seu amor é perene quem constrói com Ele tem a certeza irremovível de que Ele jamais permitirá que sua existência desmorone. Ai daqueles que, não aderindo a Jesus, não podem fazer de suas ações, de sua identidade pessoal algo que permaneça para a eternidade. Com efeito, preferem a areia movediça das ideologias, do poder, do mando, do sucesso, do dinheiro. Julgam aí deparar a estabilidade e a resposta à questão jamais descartável da felicidade e da plenitude da existência que cada um traz lá dentro de si. À inquietude do coração humano, porém, somente Cristo, Palavra eterna e definitiva é capaz de envolver naquela imperturbabilidade que almeja o ser humano. Nele apenas se depara como triunfar de toda adversidade, de todas as dificuldades. O Papa Francisco advertiu «Nós, cristãos, não estamos muito habituados a falar de alegria». Depois de apontar que «muitas vezes» os cristãos têm mais gosto no lamento do que no contentamento, o Papa salientou que «sem alegria» os que acreditam em Deus não podem ser «livres» e tornam-se «escravos» da «tristeza». «Muitas vezes os cristãos têm mais cara de que estão num cortejo fúnebre do que estão a louvar a Deus», assinalou. Isto, evidentemente, porque não se confia em Jesus rocha inabalável por entre todas as agruras desta trajetória terrena. É firmado nele que o cristão faz com a argila da vida um monumento perene, sabedor que, instante a instante, é preciso utilizar as oportunidades do tempo presente. Para isto cumpre que se meditem sempre as mensagens deixadas por Cristo no Evangelho, fugindo de um ativismo superficial que pode satisfazer por um momento a soberba pessoal, mas que deixa insatisfeito o íntimo do coração. Em Cristo, porém, o batizado encontra sua plena realização psicossomática, atingindo sua maturidade espiritual. Muito se fala na experiência de Cristo, mas se esquece que o cerne desta realidade se dá unicamente no amor e na observância dos mandamentos, ao lado da certeza de que Ele vive em cada um que lhe é fiel. Foi a notável arguição feita por São Paulo aos Coríntios: “Não reconheceis que Jesus Cristo está em vós”? (2 Cor 13,5). Com efeito, se por experiência se entende o conjunto dos atos que constituem a tomada de posse de um objeto, a realização de uma presença, a aquisição de uma estrutura vivida, se deve concluir que só poderá realizar a experiência de Cristo quem conseguir estabelecer contato e comunhão com Sua presença. Isto, contudo, supõe que Ele é, de fato, uma rocha inabalável, pois firme nele o cristão é capaz de superar os vendavais existenciais, as ondas revoltas das tribulações. Deste modo, a relação com o divino Redentor constitui o núcleo essencial e a característica permanente da vida do batizado e isto em todos os momentos. Nunca podem ser esquecidas as palavras de São João: “Não amemos com palavra e com a boca, mas por obras e em verdade” (1 Jo 3, 18). Deste modo, a perfeição e a salvação do cristão consistem na união com o seu Redentor, através de uma fé viva que age pela caridade. Esta necessidade desta união espiritual não exclui, portanto, os meios e os motivos que Cristo oferece para excitar sempre a confiança nele. É Ele e somente Ele que pode dar ao seu seguidor a perseverança no dom de si mesmo. Contar apenas com Ele, que é a rocha da vida cristã, e apoiar-se somente nele que afirmou: “Sem mim nada podeis fazer” (Jo 15,5). Esta assertiva do Mestre divino significa que com Ele tudo pode realizar o seu discípulo para chegar ao seu destino eterno. Unido solidamente a Ele como o ramo à videira, sendo um com Ele, penetrado inteiramente de sua vida, animado pelos seus ensinamentos, eis o ideal do cristão. É desta maneira que se impede a infidelidade a Ele. Uma vida assim firmada em Cristo, Rocha inabalável, se torna uma existência que O faz conhecido e amado. Foi o que ocorreu com Madre Teresa de Calcutá que dizia: ”O maior serviço que posso fazer a alguém é o conduzir a conhecer Jesus para que ele O escute e O siga, porque somente Jesus pode responder à sede felicidade do coração humano para o qual cada um foi criado”. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
 


terça-feira, 4 de junho de 2013

JESUS PLENITUDE DA VERDADE

JESUS PLENITUDE DA V ERDADE
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Cristo veio a este mundo como a Verdade de Deus, mostrando os projetos divinos para a vida dos homens. São João assim se expressou: “A Deus ninguém jamais o viu; o Unigênito de Deus que está no seio do Pai no-lo revelou” (Jo 1,18). Ele é a verdade feita Pessoa que atrai a si todos os corações sequiosos de retidão e da exata noção do Ser Supremo. Trata-se, então, de uma verdade que liberta. O Papa Bento XVI, num momento de pulcra inspiração, escreveu: “Jesus é a estrela polar da liberdade humana: sem Ele, ela perde sua orientação, pois, sem o conhecimento da verdade, a liberdade se desnatura, se isola e se reduz a arbítrio estéril”. Cristo libertador ensina “o caminho de Deus segundo a verdade” (Mc 12,14). A temática da verdade, sob todos os aspectos, fulge maravilhosamente no Evangelho de São João e nas suas Cartas. Aí se percebe além do liame entre a verdade e a liberdade, a conexão entre a verdade e a unicidade divina, a luz e a divindade e isto numa oposição clara à mentira, ao diabo que é o Pai da falsidade, sendo que o ápice do erro é não crer no Filho de Deus.  São João se revelou, realmente,  o teólogo da verdade. Ele registrou este ardente pedido de Jesus ao Pai com relação a seus seguidores: “Consagra-os na verdade; a tua palavra é a verdade” (Jo 17,17). Este termo, repetido muitas vezes pelo citado Evangelista, mostra a importância da dimensão cristológica da revelação divina. A Nicodemos Jesus foi claro: “Quem pratica a verdade aproxima-se da luz, para se tornar manifesto que as suas obras são feitas segundo Deus” (Jo 3,21). Eis porque o verdadeiro discípulo do Redentor tem suas ações realizadas como uma manifestação plena da luminosidade celeste. Cristo dirá: “Vós sois a luz do mundo” (Mt 8,14), como Ele é esta mesma luz (Jo 8,22). Deste modo, nada mais contraditório do que um cristão cujo procedimento não esparge o que é luminoso. Nas terríveis províncias das trevas do espírito, nas lúgubres regiões das sombras do coração, nas umbríferas paragens de terebrantes enfermidades, quem foi batizado precisa ser luz nas sombras. Deve ser preciosa lâmpada projetando lucífluas e diáfanas esperanças, patenteando em tudo ser epígono daquele que disse que é a Verdade (Jo 14,6). O cristão, com efeito, caminha na dinâmica da noção desta realidade sublime. Isto sem estar jamais aderido ao embuste. A exemplo de Cristo, o seu seguidor manifesta a realidade daquele que é o Deus três vezes santo, numa abertura para o mistério Trinitário no qual o Pai gera desde toda a eternidade o Verbo e este e o Pai se unem num amor substancial que é o Espírito Santo, denominado por Cristo o “Espírito da Verdade” (Jo 16,23). No cristão é preciso desabroche a lealdade, a fidelidade a sinceridade, a coerência entre o que ele crê e o que ele pratica. É o conseho de São Paulo: “despojemo-nos, portanto, das obras das trevas e revistamo-nos da armadura da luz. Andemos dignamente como convém em pleno dia não em bacanais e comezainas, nem em lascívias e em impudicícias, nem em contendas e no ciúme. Mas revesti-vos do Senhor nosso Jesus Cristo, e não queirais afagar a carne, satisfazendo-lhe as cupidezas” (Rom 13, 12-14). Eis aí como se entra na plena comunicação com Deus. A exemplo de Jesus que disse a Pilatos que veio ao mundo para dar testemunho da verdade, assim procede o seu discípulo (Jo 18,37). Ele acrescentou: “Todo aquele que ama a verdade, escuta a minha voz”, ou seja, impregna seu comportamento com tudo que Ele ensinou, amando na luz da verdade. (Jo 18,38). Isto significa acatar a verdade cristológica, a verdade no seu aspecto dinâmico, a verdade como revelação de Deus, a verdade interiorizada e vivida sob influxo do Espírito Santo. Chega-se desta maneira à verdadeira religião do coração. É o autêntico “amém” do cristão,  demonstrando sua solidez, sua firmeza nos caminhos do Senhor. Cumpre possuir as qualidades constitutivas do batizado e não somente os atributos qualitativos ou meramente intelectuais. Cumpre, finalmente, lembrar o que está no prólogo do Evangelho de São João: “O Verbo fez-se carne e habitou entre nós e nós fomos expectadores de sua glória, glória qual  o Unigênito recebe do Pai, pleno de graça e de verdade” (Jo 1,14). Graça e verdade designam a manifestação de Cristo, o Filho único do Pai, como misericórdia e justiça, amor e verdade, dileção e fidelidade. Todos estes termos distintos, mas que aparecem justapostos, ligados um ao outro traduzindo uma mesma realidade e proclamando a riqueza de Jesus, cheio de graça e de verdade. Pode-se então concluir que realmente Jesus é a plenitude da verdade, porque trouxe a revelação do Pai amoroso de maneira excepcional. Esta verdade sobre Deu se realizou na Encarnação de modo único e singular, de tal forma que Ele se tornou também a verdade a ser assimilada pelo cristão, como ocorreu com o Apóstolo Paulo que pôde afirmar: “Já não sou eu quem vive, é Cristo quem vive em mim” (Gl 2,2). * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.