segunda-feira, 1 de setembro de 2014

A FRAÇÃO DO PÃO EUCARÍSTICO

A   FRAÇÃO  DO  PÃO  EUCARÍSTICO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Uma questão que por vezes intriga os que participam da Missa é esta: “Por que o padre parte um pedacinho da Hóstia e o coloca dentro do cálice após a consagração e depois ele junta as duas partes da hóstia e as ergue para o alto?" A fração da Hóstia consagrada, que faz parte do rito da Comunhão, atualmente simboliza a unidade do Sacramento da Eucaristia.  O sacerdote ao colocar uma parte da Hóstia no cálice reza o seguinte: “Esta união do Corpo e do Sangue de Jesus, Cristo e Senhor nosso, que vamos receber nos sirva para a vida eterna”. Ao elevar, posteriormente, a Hóstia o celebrante proclama “Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo e os fiéis dizem então com ele: “Senhor, eu não sou digno (a) de que entreis em minha morada, mas dizei uma palavra e serei salvo (a)”. Trata-se de um ato de fé na presença real, pois ali estão sob os acidentes do pão, o Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Cristo. A Comunhão dos fiéis que se acham em estado de graça, isto é, isentos de pecado mortal, entra na economia do Sacrifício Eucarístico. A Comunhão é um rito complementar, indispensável para a integridade do Sacrifício. É obrigatória a comunhão do Celebrante e facultativa aos fiéis que estão preparados para a receberem. A manducação da Vítima sacrificada é o banquete em que os batizados se nutrem dum manjar substancialmente o mesmo e único, Jesus Cristo. Os ritos que a enquadram são a sua natural preparação e, depois, ação de graças. Nunca se pode comungar em pecado mortal. Isto seria um deplorável sacrilégio, uma profanação do Sacramento do Amor de Cristo. É preciso ainda evitar os pecados veniais deliberados, cumprir fielmente os deveres cotidianos, possuir uma humildade sincera, um ardente desejo de se identificar com Cristo. Indispensável é o perdão cordial ao próximo. Quando quem vai comungar não deseja mal algum a seu desafeto é sinal que o perdoou. O que pode permanecer por vezes é a mágoa, ou seja, o sentimento ou impressão desagradável causada por ofensa ou desconsideração, o descontentamento, o desagrado pela ingratidão do outro. Certa ocasião, alguém asseverou a este sacerdote que tinha um rancor profundo contra determinada pessoa. Foi-lhe indagado então como é que era rezado o “Pai Nosso” e a resposta foi lamentável: “Eu salto aquele pedaço, “perdoai nossas ofensas assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido”. Uma mutilação clamorosa da oração que Jesus nos ensinou! É óbvio que quem assim procede não pode comungar. A Comunhão é uma união espiritual com o divino Redentor, união transformadora que conserva e aperfeiçoa a vida da graça, purifica a alma, mitiga a concupiscência ou inclinação para o pecado, fortalece contra as tentações, é penhor da vida eterna. Venturosos os convidados para a ceia do Senhor e dela se aproximam bem preparados! * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.


A COPA DAS ILUSÕES
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho, da Academia Mineira de Letras
A construção de estádios faraônicos, com razão, vem revoltando a população brasileira. No total, segundo foi noticiado nos meios de comunicação social, o governo federal e o governo estadual das doze sedes já gastaram oito bilhões de cruzeiros. Este dinheiro deveria ir para a Educação e para Saúde e está sendo claramente mal empregado. As necessidades básicas do país são postas em segundo plano. Isto numa nação de profundas desigualdades sociais e na qual a corrupção gangrena a classe política. O pior é que onze por cento dos projetos de mobilidade urbana não foram ainda concretizados e nem serão concluídos até o início da Copa do Mundo. Justas, portanto, as ondas de protestos, sinal do “mau humor” generalizado de um povo sofrido. São milhares de patrícios sem teto e até passando fome. Adite-se que vinte dois por cento dos brasileiros vivem na pobreza. Por outro lado, a classe média já está diante do fantasma da inflação. É, porém, de pasmar a declaração dos organizadores deste torneio internacional de que, com o início dos jogos, tudo vai se acalmar e o futebol será por algumas semanas o ópio do povo. Será esquecida por uns dias a trágica condição das crianças. A situação de milhares de meninos pobres e abandonados sendo levados pelo desespero a toda sorte de comportamentos anti-sociais. Eles são desprezados e humilhados, muitas vezes jogados nos institutos de correção sem nenhum procedimento jurídico que lhes faculte a defesa. Nas Metrópoles são assassinados sem qualquer piedade como se fossem animais em temporada de caça. Massa de manobra, tornam-se vítimas dos inescrupulosos e se entregam a violentos “arrastões”, se fazem veículos dos traficantes de droga, inseridos na trama do crime organizado, quando não são envolvidos na mais degradante prostituição. Flores emurchecidas, plantas precocemente carcomidas num mundo aterrador. Drama social decorrente das péssimas condições das famílias impossibilitadas de dar assistência e educação aos filhos devido o desajuste social imperante. A verdade é que a brutal violação do direito do Menor ao alimento, à formação moral, é obstáculo ao desenvolvimento nacional. As seqüelas provenientes deste estado de coisas são uma mancha para um país que se diz cristão. Adite-se que de cada cem crianças matriculadas na primeira série do ensino fundamental, apenas vinte chegam a terminar a oitava série. No entanto é construído, por exemplo, em Manaus um gigantesco estádio que será mais uma obra de pouca ou nenhuma importância prática edificada pela insensibilidade dos governantes. Para a maioria deles pouco importam os doentes que sofrem no Brasil. O altíssimo preço dos remédios e as condições da rede de atendimento da saúde pública clamam aos céus. O desespero toma conta, por vezes, do cidadão impossibilitado de adquirir os medicamentos ou, tantas vezes, vendo parentes e amigos falecerem nas filas dos hospitais, sobretudo nas grandes cidades. Por tudo isto esta será uma Copa das ilusões, mesmo porque estarão em campo jogadores que ganham somas astronômicas e gozam de todas as mordomias. Acrescente-se a tudo isto que virão aí depois as Olimpíadas do Rio de Janeiro!






 JORNADAS DE CONSCIENTIZAÇÃO CRISTÃ DO JSC
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
O JSC (Jovens Seguidores de Cristo) atuante há mais de três décadas promove as Jornadas de Conscientização Cristã como um dos pontos altos de sua benemérita atuação junto dos jovens. A importância destas jornadas vem não apenas da estrutura dinâmica de sua organização, mas do desejo de alguns outros jovens que desejam passar três dias de reflexão, solidificando sua fé e dando um balanço nas suas pretensões com relação ao porvir. Embora este não seja o fim principal das Jornadas, muitos passam a integrar o JSC, onde depararão um espaço para crescerem como cristãos e cidadãos prestantes. O objetivo da Jornada é antes de tudo conscientizar como é feliz quem coloca seus passos nos passos do Mestre divino, Jesus Cristo. Com efeito, compreendendo ainda melhor as mensagens por Ele deixadas, resulta um progresso em todo sentido, quer nas relações sociais, quer nos estudos, pois, de fato, destas Jornadas e do JSC em geral têm saído ótimos profissionais, que já atuam nas mais diversas atividades e estão espalhados por todo o território nacional. Pais e mães de família que passaram pela Jornada e pelo JSC se gloriam de terem recebido luzes especiais para viverem um amor que vence todas as contingências humanas. Como “a palavra de Deus não está almejada”, segundo São Paulo (2 Tm 2), durante as Jornadas as luzes que iluminam os  participantes jorram não apenas das palestras, mas ainda dos cânticos e da alegria que envolve a todos, fruto da presença especial do Divino Espírito Santo. Com o Papa Francisco cada um pergunta a Jesus: “O que queres que eu faça? O que queres de minha vida”? Cristo então indica caminhos a serem percorridos em busca da felicidade. Trata-se, de fato de um momento de especial intimidade com Deus longe do bulício do dia a dia. Isto num clima de serenidade, de paz, de imperturbabilidade numa revisão preciosa da própria existência. Cada um então indaga: “Onde estou, de onde vim, para onde vou e o que me é lícito esperar”? Projetos e sonhos são examinados com clarividência visando um futuro venturoso. Cada um aprofunda o conhecimento de sua personalidade, procura descobrir os seus talentos, busca o verdadeiro sentido de sua vida. Se descobre falhas, meios são oferecidos para que sejam corrigidas. Numa jornada se coloca em prática o dito do sábio Sócrates: “Conhece-te a ti mesmo”. Cumpre a todo ser humano melhorar sempre, caminhar para frente e nunca desanimar e os dias da jornada oferecem ocasião para uma revisão pessoal, ânimo e entusiasmo perante o dia de amanhã. É um instante de releitura de todos os projetos perante as circunstâncias cotidianas muitas vezes, aparentemente, sem sentido. Após a Jornada cada um percebe que os relacionamentos em casa, nos estabelecimentos de ensino, nos lugares de sadio lazer ficam muito mais saudáveis. Amizades se solidificam, virtudes desabrocham, um aprofundamento nos estudos se renova, enfim, novos horizontes luminosos aparecem. Vale a pena fazer a Jornada de Conscientização Cristã promovida pelo JSC, da Paróquia de Santa Rita de Cássia em Viçosa (MG)!

*Diretor Espiritual do JSC

MANIFESTAÇÕES PSICÓTICAS

MANIFESTAÇÕES PSICÓTICAS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho, da Academia Mineira de Letras*
Entre os lances proporcionados pela Copa do Mundo de futebol no Brasil, sem dúvida, entrou nos anais deste esporte a cena grotesca de um atleta, numa atitude vampírica, ter ferido um adversário dentro de campo. Só não foi algo inédito porque este mesmo jogador já havia sido punido por ter outras vezes cometido a mesma inusitada atitude. Cumpre notar que se trata de uma afecção psicológica cujos sintomas levam simbolicamente a um conflito psicossomático. Na raiz da questão há, sem dúvida, uma repercussão de algo da infância deste estranho esportista. Trata-se de uma nevrose histérica, vindo da conseqüência de uma obsessão, ou seja, resultado de um pensamento ou impulso, persistente ou recorrente, indesejado e aflitivo, e que advém à mente involuntariamente, a despeito de tentativa de ignorá-lo ou de suprimi-lo. Neste caso se tem uma idéia fixa, mania que aflora em determinadas circunstâncias. Na disputa de uma bola surge então um estímulo que guia a uma ação inteiramente descabida em se tratando de um ser racional que deveria proceder de uma maneira normal. Isto ocasiona manifestações compulsivas que levam a atos indesejáveis aos olhos da ética e da sociedade. As idéias obsessivas têm um caráter repetitivo que a punição não consegue estancar. O referido atleta suspenso para atuar em muitas partidas de seu clube em duas ocasiões similares, apesar disto, não possui o autocontrole para evitar tal falta de consequências imprevisíveis para sua carreira e, portanto, para seu porvir. Ainda que desonroso o gesto condenável volta se dar, deixando o indivíduo envolto em confusão mental. Sua maneira de agir é fruto de um conflito original que conduz a uma transferência agressiva desproporcionada dentro, por exemplo, de uma partida de futebol. O consciente fica dominado pelo inconsciente e daí o esdrúxulo do caso que causa indignação de pessoas normais diante dos fatos indesejáveis. Como numa disputa esportiva estas pessoas não têm à mão arma alguma com a qual possa ferir os  outros surgem então agressões por vezes violentas até esta de dar uma mordida, resultante de um desejo incoercível de violência que se manifesta de uma maneira grotesca perante quem as presencia. A cosmovisão destes indivíduos é a de um mundo perigoso que é preciso ser enfrentado com meios mirabolantes. O ser humano é a única criatura capaz de uma agressão irracional. Ele tem o triste privilégio do desabrimento insensato. Esta brutalidade existencial do homem é tanto mais séria quando se considera que está também comprovado pela ciência que não há nenhuma prova fisiológica de uma estimulação espontânea para a violência cuja origem seja somente orgânica. Assim, existem elementos psicológicos que incrementam os ímpetos belicosos. Se estes são patológicos há os recursos da psicologia e da psiquiatria.






SEGUIR A CRISTO

            SEGUIR A CRISTO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

O preceito de Jesus: "Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga” (Mt 16,24) merece atenção especial. Com efeito, o Mestre divino fala em ir atrás dele e não em imitá-lo. Há formas de imitação que entravam a vida cristã. O desejo de realizar as ações como Cristo no sentido de fazer os mesmos gestos poderia ser até algo descabido. Com efeito, a ordem de Jesus foi que cada um tomasse a sua cruz pessoal, pois a dele Ele levou até o Calvário. Do contrário, os caminhos humanos traçados por Deus para cada um estariam bloqueados e supressas estariam as vocações bem como os perfis caracterológicos de cada um. Além disto, tal ideal de imitação de Cristo poderia levar ao desespero dado que santo e perfeito somente Ele. Cumpre ao cristão seguir o Senhor vivendo a cada hora o que Ele ensinou nas circunstâncias em foi colocado pela Providência divina nas mais variadas tarefas que são a cruz que se deve carregar dia a dia. Os grandes santos chegaram a uma maravilhosa perfeição no seguimento de  Cristo dentro dos planos divinos,  mas é preciso não traçar grandes projetos e uma forma de vida além dos limites de cada um. Neste caso, seguir a Jesus é fazer com retidão as tarefas cotidianas da existência pessoal. Deste modo não existe um modelo único a enquadrar o comportamento cristão devido a diversidade de dons recebidos e as qualidades individuais. A vida e os ensinamentos de Cristo, isto sim, vêm sempre esclarecer a conduta do cristão que vai tirando as consequências do que deve fazer. A renúncia à qual o batizado deve se entregar em vistas a conseguir o Reino dos Céus é o esforço diurno no cumprimento do dever. Se alguém pensasse em imitar a Cristo no jejum do deserto durante quarenta dias estaria inteiramente equivocado. De fato, o que lhe é necessário é combater hora a hora tudo que contradiz a vontade divina, vivendo inteiramente cada um dos versículos da oração do Pai Nosso. Grandes façanhas não são, por vezes, o mais difícil, mas, sim, por exemplo, desculpar a cada momento o próximo, rezar com atenção as orações, fazer com capricho o dever a ser executado. Seguir a Cristo é agir com simplicidade e autenticidade. Seguir a Jesus é ostentar uma existência inserida em Deus, consagrada a Ele presente lá no íntimo do coração.  Então, sim, gestos e palavras evocarão em todo lugar a maneira de ser de Cristo.  O cristão não é um clone de Jesus, ou um magnetofone a repetir simplesmente as palavras do Mestre sem intensamente as viver. O cristão é, antes de tudo e sobretudo, um filho de Deus que aprendeu de Jesus que Deus é um Pai que deve ser amado sobre todas coisas e que todos são irmãos a serem amados e respeitados. Deste modo, o seguidor de Cristo não se desespera quando vê sua vida marcada por fraquezas humanas sem almejar grandezas espirituais ou apostólicas que vão além de suas possibilidades. É a procura do meio termo, isto é, nada de agitação, mas também longe de todo imobilismo ou conformismo com aquilo que possa não estar de acordo com a vontade divina. Cada um deve carregar a sua cruz apesar de seus abatimentos, de suas fragilidades, nunca, contudo, deixando de lado a luta contra as limitações humanas. Os bons exemplos do próximo devem ser um incitamento a uma vida sempre melhor, mas, necessariamente, não se pode simplesmente querer igualar-se aos outros.  Portanto, em síntese carregar a cruz seguindo a Cristo é ter Deus presente a cada instante, todos os passos marcados por Ele, impregnados dele. Deus em nós e nós nele. Então, tudo que o cristão faz tem um valor imenso para a eternidade.  Seguir Cristo em tudo quer dizer que não se para na caminhada, mesmo porque esta é determinada pelos projetos divinos referentes a cada um. Jesus, aliás, deixou bem claro que quando o Filho do homem vier na glória do seu Pai, com os seus anjos, retribuirá a cada um de acordo com sua conduta (Mt 16, 27). Cumpre então andar seguindo corajosamente os passos de Jesus. Há na existência de cada ser humano momentos de indizíveis tristezas. As mesmas lutas que recomeçam cada dia. A maldade que campeia pelo mundo. A morte, as catástrofes e tantas pessoas amadas que vão desaparecendo, tudo isto causa pesar. Quando tudo externo já não perturba, no mais profundo do ser humano, que turbilhões, que fontes de aflição! È preciso, sobretudo, nestas horas se lembrar da ordem de Jesus: “Se alguém quiser ser meu discípulo renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga”. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

CENÁRIO POL´TICO NEBULOSO

CENÁRIO POLÍTICO NEBULOSO
Côn.José Geraldo Vidigal de Carvalho da Academia Mineira de Letras

Uma indagação de André Singer num de seus últimos artigos sob a epígrafe “Rumo ao desconhecido” define bem o quadro político do momento: “ Em que medida o eleitor prestará atenção e perceberá tais incongruências”? Esta interrogação vale não apenas para a candidata do PSB, mas também para as explicações daqueles que estão também encabeçando os primeiros lugares na corrida eleitoral. That is question – esta é a questão. Com efeito, se de um lado se sabe os rumos que terá o Brasil com a atual Presidente ou com o PSDB, voltando ao poder central, reina a incerteza no que resultará da eleição da acreana. No julgamento popular pesam as mais complexas influências e estas vão desde os que preferem a atitude getuliana: “Deixa como está para ver como é que fica” até os que desejam uma mudança pela mudança. Nestes dois pólos a situação de Aécio Neves fica complicada. Ele significa, sem dúvida, uma nova direção para o país, mas carrega uma herança nada favorável que lhe deixou FHC. O fator econômico pesará e muito e o PT sabe navegar com êxito nos mares dos mais carentes. O fato do candidato do PSDB ter já anunciado qual será seu Ministro da Fazenda é um indicador que é decodificado mais pela classe  esclarecida. Esta pode fazer melhor a comparação com Guido Mantega, tanto mais que o momento de recessão não é favorável à situação deste último. Os debates que se dão pela mídia pouco ou quase nada esclarecem, pois as generalidades imperam e as “cutucadas” não fazem o efeito desejado por quem faz a provocação. Um outro aspecto que merece atenção é este: “Ate quando Marina da Silva usufruirá do impacto emocional causado pela tragédia que eliminou Eduardo Campos da disputa pelo Planalto?” Nesta conjuntura atual cabe aos formadores de opinião prosseguir na sua nobre tarefa de elucidar a rede complexa de promessas lançadas pelo futuro Presidente da República e pelos demais pretendentes aos outros cargos eletivos. As opiniões podem contribuir para uma escolha acertada do eleitor. A este compete não ficar alheio ao momento político tão importante para o destino da Pátria. Mais do que nunca, é preciso que cada um se conscientize da responsabilidade que tem e atue não em função de razões meramente partidárias. A cidadania exige um apurado senso crítico. É preciso estar o cidadão, sobretudo em época de eleições, a par do que se passa em seu derredor para poder discernir o que é o melhor para o Brasil. Apenas, assim, poderá captar o ufanismo dos vaidosos, o messianismo dos salvadores da pátria, o ilusionismo dos sofistas. Estar bem informado é a estratégia do habitante da Cidade, mas sem se deixar corromper pela influência  dos manipuladores das notícias. Evitar a anamorfose que altera a correta visão dos fatos. É mister fugir das versões que distorcem a realidade. Todo cuidado é pouco.

domingo, 4 de maio de 2014

ESCUTAR A VOZ DO BOM PASTOR
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Para se entender ainda melhor as metáforas empregadas por Jesus, quando ele se diz o bom pastor e fala que seus seguidores são suas ovelhas, cumpre, de plano, se façam algumas observações. Grande parte do território da Galiléia era um planalto com um solo rude e pedregoso. Servia mais para criação de ovelhas do que para a agricultura, embora a alimentação das reses trouxesse alguns problemas. Com efeito, a erva era rara e o rebanho devia permanentemente se deslocar. Eis porque a presença constante do pastor no meio de seu rebanho era necessária. O pastor então vivia fatigado, exposto às intempéries e, apoiado em seu bastão, estava sempre atento aos movimentos de sua grei e dos que poderiam roubar alguma de suas ovelhas.  Por isto na história de Israel o pastor adquiriu tal importância que. este título foi dado aos reis. No Antigo Testamento Deus mesmo foi representado como o pastor de seu povo, o que se lê em inúmeras passagens dos salmos e dos profetas. Cristo o escolheu como emblema de sua atividade missionária. A imagem ideal do pastor foi realizada plenamente por Ele que procura a ovelha perdida e tem piedade do povo porque o vê “como ovelhas sem pastor” (Mt 9,36). São Pedro chamou Jesus “o pastor de nossas almas” (1 Pd 2,25). Na Carta aos Hebreus Ele é mostrado como o Pastor por excelência (Hb 13,20). “De fato,  Cristo patenteia no Evangelho de hoje que suas ovelhas O conhecem, escutam a sua voz e O seguem”. Fogem, porém, dos estranhos, dos assaltantes. Se entre o ser humano e os animais há uma percepção notável, no relacionamento dos homens entre si isto resulta num processo ainda mais admirável. Escutar alguém é permitir ao outro ser ele mesmo e oferecer oportunidade para que ele se manifeste como é. É abrir o coração ao coração do outro numa empatia total, que é bem mais do que uma mera simpatia. É aderir ao que ele diz acertadamente e vibrar uníssono com seus sentimentos por vezes incomuns. É poder compreender sua riqueza interior,  sua experiência donde fluem mensagens enriquecedoras. Eis por que escutar a voz de Jesus é estar à espreita do que Ele nos quer dizer e do que Ele oferece vindo do silencio de seu coração amoroso através da Bíblia, do testemunho da Igreja, da trama dos acontecimentos cotidianos. Aí a razão pela qual, como a Esposa do Cântico dos Cânticos, a alma do cristão suplica: “Mostra-me, a tua face, faz com que eu escute a tua voz, porque  tua voz é doce e encantador o teu semblante”. Quando acolhemos os recados de Jesus, seu amor, seus preceitos, então Ele reconhece que somos seus. No batismo cada um nasce com Ele para uma vida nova. É marcado com seu selo divino. O que se esquece tantas vezes é que este engajamento leva uma aliança profunda com Ele, união privilegiada, mística. Isto supõe a fuga dos falsos profetas, dos pseudo-arquitetos de idéias, das comunicações  deletérias transmitidas pelos meios de comunicação social. É preciso, em consequencia, uma total disponibilidade para escutar a voz do Bom Pastor e segui-lo. Ser ovelha de Jesus é se colocar em condições de nunca se afastar dele para estar atentos à sua voz. Deste modo se pode mostrar ao mundo a vitória pascal no paradoxo da vida mais forte do que o poder da morte. Jesus proclama claramente  sua missão: “Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância”. Aí esta o motivo pelo qual, Ele se fez também o pão da vida e  à hora da Comunhão  o cristão é tocado pela  experiência espiritual por excelência e reconhece a voz de seu Senhor. É a hora de uma releitura da própria vida. Encontra então o batizado sua identidade profunda. Toma consciência de que faz parte de um rebanho e, portanto, o sentido comunitário deve marcar sua existência na marcha para os prados eternos.  Aquele que ouve a voz do Bom Pastor e o segue, arrasta infalivelmente outras ovelhas para junto dele. Há sempre, entretanto, risco do escândalo, da hipocrisia, do contra testemunho e todo cuidado é pouco, dado que uma ovelha que se afasta do Bom Pastor dele aparta também inúmeras outras. Resta, contudo, a certeza de que “uma alma que se eleva, eleva o mundo inteiro”! Saibamos ser fiéis ao Bom Pastor e atrairemos para junto dele as ovelhas tresmalhadas! Professor no Seminário de Mariana durante  40 anos.







segunda-feira, 28 de abril de 2014

O CAMINHO DE EMAÚS
Côn.José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Aqueles dois discípulos de Jesus os quais iam pelo caminho que os conduziria a sua aldeia natal não pressentiam que passariam por momentos alternativos impressionantes. Com efeito, estavam tristes, decepcionados com o que havia ocorrido com o seu Mestre ignominiosamente morto sobre uma Cruz. Encontram-se, porém, com alguém que era o mesmo Jesus que não se deu a conhecer, mas que lhes explicava as Escrituras sobre os acontecimentos ocorridos em Jerusalém. Seus corações abrasavam-se dentro deles, enquanto Cristo lhes falava. Depois, tendo sido tão fidalgos com aquele desconhecido, convidando-O para ficar com eles, ao se porem à mesa Jesus lhes abre os olhos. Foi quando Cristo tomou o pão, o abençoou, o partiu e lhes fez entrega do mesmo. Jesus desaparece, mas que transformação na mente e no coração daqueles seus dois seguidores! À melancolia, ao desânimo seguiram-se o entusiasmo, a coragem. Tornam-se então importantes testemunhas de que Jesus ressuscitara e vão a Jerusalém anunciar, também eles, que Cristo estava vivo. A trajetória de Emaús é uma rota que todo homem alguma vez percorre na sua vida. O caminho para Deus é uma vereda que pode se envolver em providenciais sombras para que brilhem  depois, ainda mais, as virtudes teologais da fé, da esperança e da caridade. Deus, porém, está sempre perto dos que o temem, iluminando sua peregrinação rumo ao céu. O principal é que não prevaleçam as ilusões e o desânimo, mas reinem a tranquilidade, a serenidade, a imperturbabilidade. Cumpre, contudo, não atingir o grau de inquietação de Cléofas e seu companheiro aos quais  assim recriminou Jesus: “Como sois sem inteligência e lentos para crer em tudo o que os profetas falaram! Seja como for, o principal é estar atento às inspirações divinas, alimentando a fé na oração e na Eucaristia, aguardando o momento no qual Deus intervirá para afastar qualquer dubiedade ou incerteza. A pergunta feita por Jesus foi repleta de significado: “O que ides conversando pelo caminho?” É preciso que se examinem com cuidado a cada passo os próprios interesses, os questionamentos, os propósitos que se têm em vista para poder deixar a palavra de Deus penetrar nas trevas que podem envolver a quantos peregrinam nesta terra de exílio. O que se deu um dia com Santa Teresa de Ávila esclarece o modo de agir do Ser Supremo. No meio de tribulações, agitações interiores esta santa estava  rezando, quando de repente tudo passou. Ela então interrogou a Cristo: “Onde estavas, meu Senhor, enquanto eu tanto padecia”. A resposta foi clara: “Teresa, estava em teu coração para que não desfalecesses”. É preciso estar sempre consciente desta presença do Mestre divino que nunca abandona os que O amam. Como ensinou São Paulo aos Efésios caminhamos para Deus pelo caminho da fé em Cristo que está continuamente junto de seus seguidores. É preciso, porém, não ficar em Emaús, mas sair anunciando por toda parte que Jesus ressuscitou e está presente entre nós. A alegria desta certeza deve ser levada para dentro de casa, para os lugares de trabalho, de diversão sadia e, deste modo,  outros compreenderão como é feliz quem confia no Senhor Jesus. Este júbilo deve se refletir nas palavras, nos gestos, no modo de ser, irradiando o fogo desta presença divinal. Trata-se de uma partilha de grande repercussão na vida dos que cercam um cristão autêntico. É necessário para isto cultivar em todas as circunstâncias a calma. Os discípulos de Emaús, talvez, tenham deixado Jerusalém um pouco precipitadamente com medo dos judeus e estavam envoltos em decepção. Ao cristão cumpre ter coragem e nunca duvidar para poder levar, seja onde estiver, as mensagem que fluem da Ressurreição de Cristo. Isto é tanto mais importante quanto maior é a cegueira espiritual do contexto pós-moderno atual. Neste impera o relativismo e não se admitem as verdades objetivas e o que nelas é essencial. Estas verdades devem ser anunciadas sem dubiedades ou ambiguidades. São Paulo na Carta aos Hebreus mostrou a necessidade de se estar penetrado pela fé. Esta supõe a adesão a  verdades absolutas longe de todo e qualquer relativismo (Hb 1,4,2). Resta sempre esta certeza de que todas as vezes que escutarmos Jesus nosso coração estará abrazado, iluminado como aconteceu com os discípulos de Emaús. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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segunda-feira, 21 de abril de 2014

o DOMINGO DA MISERICÓRDIA

O DOMINGO DA MISERICÓRDIA
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
No dia 22 de fevereiro de 1931, Ir. Maria Faustina Kowalska, mensageira da Misericórdia Divina, recebeu este pedido de Jesus: "Pinta uma Imagem de acordo com o modelo que estás vendo, com a inscrição: Jesus, eu confio em vós". Quero que essa Imagem [...] seja benta solenemente no primeiro domingo depois da Páscoa, e esse Domingo deve ser a Festa da Misericórdia.  O conteúdo desta Imagem está intimamente ligado à Liturgia do segundo Domingo da Páscoa. O Evangelho desse Domingo narra a aparição de Jesus ressuscitado no Cenáculo e a instituição do Sacramento da Reconciliação. Esta união está ainda sublinhada pela Novena, com o Terço da Misericórdia Divina, começando na Sexta-Feira Santa.  Com providencial solicitude pastoral o bem-aventurado papa João Paulo II estabeleceu que no Missal Romano, depois do título "Segundo Domingo da Páscoa", fosse acrescentado "ou da Misericórdia Divina". A misericórdia identifica-se com a compaixão e o perdão. É um dos temas principais da Bíblia por vários motivos. Em primeiro lugar porque Deus se mostra sempre misericordioso e, depois, porque ele se faz deste modo um protótipo para o homem, segundo a diretriz de Cristo: “Sede misericordiosos como o Pai celeste é misericordioso” ( Lc 6, 36). Isto de tal forma que a dileção do Todo-Poderoso  só permanece naqueles que têm esta atitude. Da parte do Ser Supremo é a miséria humana que lhe proporciona a ternura, a piedade, a clemência, a bondade, o perdão. Deus quer sempre a salvação do pecador e, por que sua comiseração  é eterna ( Sl 107,1) só aquele que se torna empedernido no erro não conhece os eflúvios da dileção divina. Há uma passagem no Livro do Êxodo realmente admirável: “Javé é um Deus de ternura e de graça, lento em irar-se e rico em misericórdia e fidelidade ( Ex 34,6) Tocantes os termos do salmista: “Javé é ternura e graça, lento para a ira e copioso em misericórdia; não contende eternamente, não guarda rancor para sempre; não nos trata conforme as nossas culpas ... Como a ternura dum pai para com seu filho, terno é Javé para com que o teme; ele  sabe de que fomos plasmados, lembra-se de que pó nós somos’(Sl 103, 8 ss.13 s.)Isto não significa que Ele passe recibo nos erros humanos, mas, diante do arrependimento, que Ele inclusive proporciona com suas inspirações está sempre pronto a desculpar aquele que se afastou de um de seus preceitos. Assim sendo, a indulgência de Deus está intimamente conexa com a conversão. É o que patenteia o profeta Isaías: “ Que o mau se converta a Javé que terá piedade dele, ao nosso Deus, pois ele perdoa copiosamente”(Is 55,7). Só o empedernimento do pecador impede a volta ao Criador (Is 9,16; Jr 16,5.13). Vindo a este mundo, Jesus mostrou esta dupla face da misericórdia de Deus para com o homem e do homem arrependido que recebe os raios da piedade divina. Os pecadores eram os preferidos do Redentor, que os levava ao arrependimento. Entre tantos outros fatos a cena da pecadora contrita narrada por são Lucas (  7, 36 ss) é sumamente elucidativa. A mulher cheia de pecados que se pôs a lavar os pés de Jesus, que os osculou, que os perfumou conheceu de perto a benevolência do meigo Rabi da Galiléia que afirmou ao fariseu indelicado que as numerosas faltas daquele miserável eram perdoados porque ela muito amou, ou seja, dado que ela se arrependera. Depois, voltando-se para a pecadora Jesus proclama: “Teus pecados estão perdoados”( Lc 7, 48). Na parábola do filho pródigo ele retratou de maneira maravilhosa a indulgência do Pai celeste. O Apóstolo Paulo entendeu muito bem as palavras do Mestre, pois apresenta  Deus como “o Pai das misericórdias”( 2 Cor 1,3). Foi a compaixão divina que dele teve dó ( 1 Cor 7,25;  2 Cor 4, 1). Na carta aos Romanos Paulo mostra onde estava o grande erro dos judeus, ou seja, eles desconheciam a misericórdia de Deus, pensando que poderiam alcançar a remissão de suas culpas através da justiça alicerçada nas obras, na mera prática da Lei mosaica. O Apóstolo mostra então que eles também são pecadores e, portanto, necessitavam da piedade divina pela justiça da fé. Todos os homens, de fato, devem ser atraídos à órbita imensa da magnanimidade do Ser Supremo ( Rm 11, 32). Este Deus misericordioso, porém, exige, segundo o ensinamento de Cristo, que o homem O imite. Isto aliás como condição para a entrada no Reino do céu ( Mt 9,13). Todos serão julgados de acordo com a misericórdia que tiverem praticado ( Mt 25, 31-46). Eis por que São Paulo aconselhava aos filipenses  a se porem acordes “no mesmo sentimento, no mesmo amaor, numa só alma, num só pensamento, nada fazendo por competição e van-glória, mas com humildade, julgando cada um os outros superiores a si mesmo, nem cuidando cada um  só do que é seu, mas também do que é dos outros”. Conclui então num momento da mais profunda inspiração”: “Tende em vós o mesmo sentimento de Cristo Jesus”( Fil 2 2- 5). Não menos incisivas as palavras de São Pedro: “Sede todos unânimes, compassivos, chieios de amor fraternal, misericordiosos e humildes de espírito. Não pagueis mal por mal, nem injúria por injúria; ao contrário, bendizei, porque para isto fostes chamados, isto é, para serdes herdeiros da bênção”( 1 Pd 3, 8-9). Daí a sentença de São João: “O amor de Deus só permanece naqueles que exercem a misericórdia ( 1 jo 3,17).* Professor no Seminário de Mariana durante 40  anos.





segunda-feira, 31 de março de 2014

JESUS VENCEDOR DA MORTE

JESUS VENCEDOR DA MORTE
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
O episódio da ressurreição de Lázaro (Jo 11,1-45)  evidencia também como Jesus é o vencedor poderoso da morte. Esta diante dele não tem a última palavra. Ele se mostra capaz de ressuscitar o grande amigo mesmo após quatro dias de seu falecimento. Ele e somente Ele pode afirmar que era a ressurreição e a vida e que aquele que nele cresse não morreria jamais. A condição basilar para que tal maravilha aconteça é a fé que leva à participação de sua vitória, ou seja, o triunfo sobre o último inimigo no dizer de São Paulo (1 Cor 15,26). Isto porque Ele é o enviado do Pai para a redenção completa da humanidade. Esta derrota da morte desejada por Deus foi anunciada nitidamente no Antigo Testamento. Lemos o que profetizou Isaías, mostrando que o Senhor dos exércitos “aniquilará para sempre a morte, e o Senhor Deus enxugará as lágrimas de todas as faces e cancelará da terra inteira o opróbrio de seu povo” (Is 25,6-8-9). Ao falar do julgamento do povo judaico no tempo e no fim dos tempos Daniel assim se expressou: ”E muitos dos que dormem debaixo da terra despertarão, este para a vida eterna, aquele para o vitupério, para a infâmia eterna” (Dn 12,2). Impressionante a visão de Ezequiel sobre os ossos dessecados. A promessa de Deus é peremptória: “Eu vou abrir vossos túmulos e vos farei sair deles [...] Eu colocarei em vós meu espírito e vós vivereis” (Ez 12-14). Portanto, a ressurreição de Lázaro é uma demonstração do poderio do Ser Supremo que pode trazer à vida os que foram dominados pela morte. Entretanto, uma reflexão aprofundada de todas estas passagens bíblicas patenteia que se a ressurreição dos corpos se dará no último dia, quando Jesus virá no esplendor de sua glória para julgar os vivos e os mortos, quem nele crê deve conhecer uma contínua ressurreição do coração. Esta deve acontecer dia a dia. Aquele que crê em Jesus conhecerá um dia a ressurreição, mas deve ter a alma continuamente viva, possuindo a graça santificante. Neste aspecto razão tem o poeta: “Mortos não são aqueles que jazem na tumba fria, mortos são os que têm morta a alma e vivem todavia”. O cristão autêntico possui, desde já, uma parte dos dons escatológicos, isto é, dos que lhe advirão no fim dos tempos, quando também o seu corpo se unirá novamente à sua alma. Ele possui uma vida sem fim que a morte física não pode nunca destruir e usufrui continuamente da presença especial de Deus que habita nele desde o dia do Batismo. Eis porque está na Carta aos Hebreus: “Ora a fé é a garantia dos bens que se esperam, a prova das realidades que não se vê” (Hb 11,1).  Esta virtude é como que uma posse antecipada das realidades futuras, um conhecimento seguro dos eventos celestiais. Em síntese, em Jesus a salvação está realmente atualizada e aquele que escolheu associar-se a Ele já é um vencedor e não pode ser nunca entregue irreversivelmente ao poder da morte. Claras as palavras de Cristo a Marta: “Eu sou a ressurreição e a vida, Aquele que crê em mim, ainda que venha a morrer, viverá e todo aquele que vive e crê em mim não morrerá jamais. Crês nisto?” A condição é, portanto, uma crença inabalável nele. Trata-se de uma aliança de amor de um pacto sublime graças à misericórdia infinita de Deus. O salto no mundo da fé é que dispõe cada um a entrar nesta aliança salvífica. A recompensa é a vida eterna. Desde agora, entretanto, há a certeza de se estar unido a Deus em todos os momentos da trajetória terrena. Deste modo, a ressurreição de Lázaro deve ser entendida como o som antecipado dos sinos jubilosos do grandioso dia da Páscoa, quando se saudará a Cristo que ressuscita imortal e impassível. Tudo isto envolve o fiel num hino de esperança. Cumpre, contudo, agir como as irmãs de Lázaro, chamando sempre por Jesus, pois sua presença muda tudo, é penhor de vida no tempo e por toda a eternidade. Ele é o Deus dos vivos e não dos mortos. Por isto também é preciso rezar a Ele pelos Lázaros que estão na tumba do pecado que é a morte da alma. Orar para que seus corações ressuscitem. Para Jesus nada é impossível. Nunca esgotamos as riquezas do amor do Coração do divino Redentor. Seu amor por todos, sobretudo, para com os que estão nas trevas do erro não conhece limites. Ele mesmo disse: “Não vim chamar os justos, mas os pecadores” (Lc 5,32). Nele, diuturnamente, se deve confiar. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.


  


domingo, 23 de março de 2014

O PODER DE JESUS E A SIMPLICIDADE DO CEGO

O PODER DE JESUS E A SIMPLICIDADE DO CEGO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
No episódio da cura do cego de nascença narrado por São João de plano aparecem vários contrastes(Jo 9, 1-41). Jesus viu aquele que estava tomado por duas cegueiras: a do corpo e a da alma. Com efeito, com seu poder divino Ele não só fez o cego enxergar o que estava em seu derredor, como também transmitiu-lhe a capacidade de contemplar as verdades espirituais, fazendo um ato de fé. De fato, depois de responder com admirável simplicidade aos curiosos e aos fariseus seu novo encontro com Jesus o levou a reconhecer no divino Redentor o Messias e exclamou: “Creio, Senhor”. Além disto, não se pode olvidar que,  na penumbra deste mundo, Cristo se apresenta revestido de luminosidade: “Enquanto estou no mundo, sou a luz do mundo”. Ele veio para iluminar a todos que estavam envoltos nas sombras dos males físicos e espirituais. Aí aparece outro contraste, dado que não é o homem que procura Deus, mas Deus que incansavelmente vem à procura do homem. Ele não cessa de se propor a libertar, sem, contudo, se impor. Do contrário, não haveria nem o júbilo de adesão livre, nem o valor da virtude autônoma. Ele espera, porém, sempre da parte do ser racional esta frase sublime: “Eu te amo, meu Senhor”! Deus chega de mansinho e busca um coração onde se aninhar. Então aquele que crê fica iluminado, clarificado. Pode, como o cego de nascença fazer um ato de fé e a fé é uma luz da inteligência que permite enxergar mais longe e mais profundamente do que os olhos da razão. Ela conduz à visão de Deus e de todas as suas maravilhas. Trata-se de uma visão sobrenatural. Nem se pode olvidar um outro contraste: Jesus cura o corpo para salvar a alma, ou seja,  todo o ser humano. Ele é uma luz divina para salvar  toda a pessoa. Ele sempre se mostrou o médico dos males somáticos como dos psíquicos. Muitos que pensam crer, contudo, são cegos porque presos a seus preconceitos, a suas idéias, a seus sistemas fechados. Assim eram os fariseus que, não obstante tantos milagres realizados por Cristo, nele não enxergaram o Messias, o Unigênito do Pai, o Salvador da humanidade.  Foram até objeto da ironia do cego curado por Jesus. Na sua simplicidade aquele miraculado deu respostas mordazes aos que o importunavam com perguntas até infantis, porque queriam contradizer a evidência dos fatos. Os fariseus eram os verdadeiros cegos porque voluntariamente incrédulos quanto à missão de Jesus e estavam trancados nesta descrença e apegados apenas a infração da lei do sábado por eles mal interpretada. Pela fé raiou a visão interior do cego de nascença e o bem-aventurado Papa João Paulo II dirá que Jesus depois de lhe abrir os olhos da carne lhe abre sua alma para a vista de Deus e seus mistérios”!  Pela fé cada um entra relamente em contato com a luz do mundo interior e se pode proclamar que Jesus é verdadeiramente o Filho de Deus. A quem foi batizado Cristo diz o mesmo que está no profeta Isaías: “Eu te ponho para farol das nações para levares a minha salvação até os confins da Terra” (Is 49,6). De fato, cabe àquele que pela fé contempla as maravilhas de Deus iluminar o mundo, curando os cegos que há por toda parte através da palavra, do exemplo, do testemunho de vida. Diante do verdadeiro cristão quem está a sua volta necessariamente tem que fazer uma opção, pois,  se está no mundo trevoso deve  passar a adorar a Deus em espírito e em verdade e, se está já no mundo luminoso, precisa melhorar sempre mais seu olhar espiritual. É que o verdadeiro cristão mostra que com a luz divina todas as sinistroses podem ser superadas, porque uma luz extraordinária  flui do Amor em Deus. Esta irradiação da fé vai crescendo dia a dia à medida em que a retina do olho interior vai se adaptando sempre mais à luminosidade de Deus. A atenção do ser racional se volta então para ver  não o que é passageiro, material, transitório, mas o que é eterno e imperecível e quer levar esta realidade por toda parte. Muitos então saem da famosa caverna descrita por Platão onde só se enxergam as sombras do mundo real para se imergir  no Ser Supremo como ocorreu com Santo Agostinho a exclamar: “O beleza tão antiga e tão nova, quão tarde eu te conheci, quão tarde eu te amei”. Este conhecimento é a visão pela fé  do próprio Deus no qual, segundo São Paulo “vivemos, existimos e somos”. A vida do cristão deve ser um poema de amor a Deus, que todos possam enxergar.Os santos estão continuamente na presença deste Deus que é luz e, por isto, são os iluminados e muitos só de os ver passam logo  a contemplar o Deus que neles intensamente vive. Eis um ideal a ser conquistado. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.



segunda-feira, 17 de março de 2014

LIÇÕES Á BEIRA DE UM POÇO

LIÇÕES À BEIRA DE UM POÇO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Todos os pormenores do encontro da Samaritana com Jesus à beira do poço de Jacó (Jo 4,5-42) deixam mensagens de grande valor espiritual. Uma leitura superficial deste fato impede que se apreenda o essencial dos detalhes deste episódio. É preciso, antes de tudo, uma observação histórica. Havia uma dissensão profunda entre judeus e samaritanos. Os judeus detestavam os samaritanos por uma série de razões, inclusive por considerá-los um povo bastardo. Eles eram também uma gente herética porque não freqüentavam o templo de Jerusalém. Eles iam rezar no monte Garizim e judeus piedosos acreditavam que davam glória a Deus detestando os samaritanos. Era então uma injúria chamar alguém de samaritano e, sobretudo, de samaritana. Com efeito, a religião judaica, como outras religiões daquela época, considerava as mulheres como impuras desde o berço. Seus maridos também estavam maculados, bem como seus filhos e tudo que uma mulher de Samaria tinha tocado. Eis aí aonde foi parar Jesus. Estava numa região inimiga e herética e nela passaria dois dias. Ele aborda uma mulher três vezes impura, por ser samaritana, por ser mulher e uma mulher que tivera vários maridos. Diante dela, portanto, Jesus se faz três vezes contestador. Sem medo e com o poder que Ele possuía Cristo vai pulverisar esta tríplice barreira. Seu recado haveria de repercutir através dos tempos. Para Deus nada de excluídos, de inimigos, de malditos, de imperdoáveis, de irrecuperáveis. Ele viera não para os justos, mas para os pecadores fossem eles quem fossem. Nada de racismos, de preconceitos culturais ou religiosos. Deus, realmente, oferece sempre oportunidade a todos e todos têm o direito de beber a água viva de sua Palavra e de seu Amor. Naquele encontro histórico tudo ia se revestir de um simbolismo fulgurante e é exatamente o símbolo que nos conduz ao coração do mistério daquele evento. Para os nômades os poços eram bem mais do que poços. Era um lugar de trocas de idéias. Desconhecidos se tornavam ali amigos. Aliás, na Bíblia os poços frequentemente eram lugar onde surgiam casamentos. O poço de Judá onde Jesus estava não escapa a esta tradição alegórica. A água seria a representação figurada da Palavra encantadora do Redentor que iria penetrar fundo na vida daquela samaritana. Ela proclamará depois a seus conterrâneos: “Ele me disse tudo que eu fiz, vinde escutá-lo”. Tratava-se de uma palavra preciosa, mais vivificante do que uma fonte no deserto.  Palavra transformante que mudou inteiramente a existência de uma pecadora que viu saciada sua sede interior. Palavra esclarecedora, pois Jesus fez entrever a adoração do Pai em espírito e em verdade, bem além das querelas de povos e de religiões. Não será, doutrina Ele, nem em Jerusalém, nem no monte Garizim que Deus será verdadeiramente adorado, mas, sim, cada vez que um coração arrependido se voltasse para Ele, buscando sinceramente a Verdade.  Tudo isto tem uma aplicação prática imediata no contexto atual. Hoje, como ontem, Cristo faz jorrar a água viva de sua Palavra numa sociedade paganizada, hedonista, pragmatista. Se o cristão não pode aprovar o erro, ele precisa, porém, sempre compreender aquele que erra. É necessário agir como Jesus fez com a Samaritana e, com perspicácia, saber dialogar para levar o outro para o bom caminho. Quantos samaritanos há por vezes dentro da própria casa, no local de trabalho, nos lugares de diversão,  dentro de cada um que vive em conflitos pessoais contínuos. Muitos até se desesperam e chegam a proclamar que sua vida não vale nada, é uma desordem completa e que Deus não o ama. Jesus propõe a todos a água viva, pois quem dela beber, segundo suas próprias palavras,  nunca mais terá sede. A água que Ele oferece  se torna uma nascente de água jorrante até a vida eterna. Quando as evidências vacilam e as certezas tremem no coração dos irmãos ou no próprio coração e a fadiga desta peregrinação terrestre parece ficar insuportável, é bem que se lembrem as lições deixadas por Jesus à beira do poço de Jacó. Junto dos homens não se encontrará como dessedentar a sede do bem, da virtude, da verdade que borbulha lá no íntimo de cada um. É preciso evitar qualquer mistificação e é necessário não caminhar de decepção em decepção. Cumpre ir sempre ao encontro do Mestre divino. Ele ensinará a amar a verdade, a encontrar no amor, que é Deus, toda felicidade, toda ventura. A Samaritana deve ter ficado atônita diante do que Jesus lhe dizia, mas ela se deixou iluminar pelas suas diretrizes e se fez uma apóstola junto de seu povo. Há no fundo de cada coração o anseio do Infinito, de uma felicidade definitiva que somente Cristo pode saciar. Levemos Jesus por toda parte com palavras e exemplos e estaremos salvando a nós e aos samaritanos que estiverem em nosso derredor. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.


quinta-feira, 13 de março de 2014

O ENCANTO DA SIMPLICIDADE DO PAPA

.        O ENCANTO DA SIMPLICIDADE DO PAPA

Côn.José Geraldo Vidigal de Carvalho*

Após um ano de profícuo pontificado o Papa Francisco tem sido objeto de análise dos cientistas sociais. Na pessoa de Jorge Mário Bergoglio confluíram fatores importantes. Com efeito, pertencente a uma família de imigrantes italianos, nascido na Argentina, é o primeiro papa do continente americano, o primeiro pontífice não europeu em mais de 1200 anos e também o primeiro papa jesuíta da história e o primeiro a adotar o nome de Francisco. Nele se contempla de um lado Inácio de Loyola, o santo da força de vontade, e, de outro, Francisco de Assis o santo do amor. Ele faz fulgir perante o mundo a sabedoria e a cultura dos jesuítas e a doçura e naturalidade dos franciscanos.

Uma avalanche de aspectos logo surge durante 365 dias de um trabalho ardoroso a favor da evangelização, empregando com clarividência as armas que a comunicação moderna oferece. Linguagem direta, uma simbologia admirável com notável valor evocativo, místico, até mesmo intrigante. Uma ação prudente, mas fulminatória, visando o dinamismo da Santa Sé e de todos os seus departamentos. Longe de qualquer laivo de laxismo ou de relativismo ele aborda os temas mais delicados com firmeza e total clareza, deixando a muitos perplexos, mas orientando com lucidez a conduta cristã. Ele aspira por uma Igreja aberta para todos e, por isto, nada de muramentos que isolam. As fronteiras do Papa Francisco se alargam cada vez mais em busca das ovelhas tresmalhadas e das que não conhecem a verdadeira face da Igreja. Ele quer o contado direto com todos que dele se aproximam. Suas mensagens sintéticas, objetivas lhe proporcionam tempo para circular junto do povo. Ele se faz, como bom jesuíta, o arauto da misericórdia divina, pois Cristo veio para salvar os que estavam perdidos nas trevas do erro. O Papa Francisco não se instalou no Vaticano, mas se apresenta como um caminheiro de Jesus, como outrora São Francisco de Assis. Sempre um passo para frente e nunca um olhar para trás é o que transmite seu otimismo irradiante. Sua humildade, seu espírito de pobreza tocam os corações que nele percebem a sinceridade de quem quer sempre acertar, sabendo de todas as limitações humanas. Por isto mesmo, o Conselho de oito cardeais que ele nomeou, visando a reforma da Cúria romana lhe dá um apoio para agir com segurança e sem precipitações. Com espírito democrático o questionário sobre as evoluções das famílias católicas do mundo inteiro na preparação de um Sínodo demonstra seu desejo de colocar o dedo nas chagas e. sem ratificar os erros. Poder oferecer os meios para o total equilíbrio ético na conduta dos seguidores de Cristo.

A verdade em si é intocável,  os princípios fundamentais da moral exposta nos dez mandamentos  são intangíveis,  mas os problemas devem ser examinados com coragem, exatamente para que não se caia nunca em erros perniciosos, quer dogmáticos, quer éticos. Abertura de espírito sem trair a exatidão de tudo que foi revelado por Deus. Ele quer que nas atitudes cristãs não aja nunca o contra testemunho que possa patentear uma falta de fé na vida eterna e que signifique adoração dos bens terrenos. Ele não age para desestabilizar as pessoas iludidas com as frivolidades terrenas, mas para colocá-las no verdadeiro rumo da pátria celeste. Não se percebe assim contra ele nenhum movimento de pressão ou oposição, apesar das medidas reformatórias tomadas, sobretudo no que tange o governo geral da Igreja, que precisa estar a serviço de toda a humanidade e não apenas dos cristãos.

Deus sempre o ilumine, o fortaleça para glória da Igreja e bem das almas!

* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.



segunda-feira, 10 de março de 2014

SIGNIFICADO DA TRANSFIGURAÇÃO DE JESUS

SIGNIFICADO DA TRANSFIGURAÇÃO DE JESUS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Dentre todos os pormenores que envolvem a Transfiguração de Jesus no monte Tabor, se ressalte a ordem vinda do Pai: “Este é o meu Filho amado, no qual ponho as minhas complacências: Escutai-O” (Mt 17,5). Aí o sentido mais profundo deste episódio. Com efeito, celebrar a Transfiguração de Jesus não é comemorar um acontecimento passado sem liame imediato com o presente. É contemplar a união perfeita e indissolúvel da divindade e da humanidade na pessoa do Verbo Eterno de Deus. Nele a humanidade inteira foi transfigurada e chamada a uma união maravilhosa com sua divindade. Uma glória indescritível reservada a todos aqueles que em Cristo se tornam participantes da vida divina através da graça santificante. Trata-se do anseio salvífico da Trindade que desejou conduzir os seres racionais até sua própria santidade e felicidade. Para isto é preciso saber escutar Jesus, o Filho bem-amado, Palavra encarnada que vivifica e aponta o caminho da perfeição. Isto supõe levar a sério as oito Bem-aventuranças que o Mestre divino havia proclamado, vivendo intensamente este roteiro que envolve em luz e santidade existencial. Tal foi a ordem do Pai escutar a Jesus e este falou no desapego dos bens materiais, na mansidão, na sede e fome de justiça, na misericórdia, na pureza de coração, na paz, na justiça, na total fidelidade a Ele. São Mateus havia dito que o rosto de Jesus “brilhou como o sol”. O rosto exprime bem a dignidade de uma pessoa, seu estado de alma. Cumpre então na festa da Transfiguração de Cristo que cada um indague a si mesmo qual o rosto que tem apresentado aos outros através do comportamento político, social e, sobretudo, religioso. Comportamento daquele que carrega a sua cruz, imitando Jesus que ao descer do Tabor falou a Pedro, Tiago e João sobre sua Paixão e Morte. A cruz está no coração de toda a vida humana, mas é preciso saber lidar com as tribulações terrenas para se chegar à glória eterna, como sucedeu com Cristo. Este não deixou dúvida: “Se alguém quer caminhar após mim, tome a sua cruz e me siga”. Como Pedro, gostaríamos de fixar na eternidade os momentos felizes da vida. O Apóstolo fez uma proposta a Jesus: “Senhor, é bom que fiquemos aqui. Se queres, farei três tendas: uma para ti, outra para Moisés e outra para Elias”. Cristo, porém, não viera a esta terra para ser um organizador de camping neste mundo, mas Sua preocupação era marchar para o Calvário a fim de salvar a humanidade e para, assim, apontar a todos os acampamentos na Jerusalém celeste. Ele viera para servir e dar sua vida objetivando a redenção de uma multidão. Esta seria composta daqueles que buscariam uma glória eterna, mas passando pelo Gólgota, amando-O, escutando-O, colocando seus ensinamentos em prática.  Aqueles que seriam fielmente solidários com Ele apesar das contradições que um mundo materializado Lhe oporia. Aqueles que trabalhariam com amor e esforço pela evangelização, exercendo com responsabilidade um serviço eficiente dentro da Comunidade em que vive. São João mostrou que quem afirma estar com Jesus “deve igualmente caminhar como ele caminhou” (1 Jo 2,6) e Jesus havia dito que viera para servir e não para ser servido. Ele mostrou um caminho de um amor que se doa totalmente. Tudo isto significa uma transfiguração pessoal que leva à metamorfose de toda a sociedade através da vida de cada dia, com simplicidade na família, no trabalho, nos lugares sadios de diversão. Circunspeção em todas as circunstâncias da vida através de gestos, palavras e obras, irradiando paz, felicidade. É preciso então coragem, determinação sem nunca desfalecer.  Lá no Tabor uma nuvem luminosa envolveu Jesus, Moisés e Elias. Muitos comentaristas viram nesta nuvem o símbolo da presença do Espírito Santo. Este deve sempre envolver a vida de todo seguidor de Cristo para o ir  transfigurando a cada instante.  Deste modo, se estará sempre a escutar Jesus, Palavra que é a Sabedoria eterna a iluminar e a dar sentido a toda uma existência cristã. Deste modo se chegará ao repouso da visão beatífica. Este fim último precisa então ser o baricentro de todas as atividades neste mundo. Assim, o encontro com a Santíssima Trindade no Monte Tabor é como uma janela aberta para o futuro. É uma garantia de que a opacidade de nosso corpo mortal  e nossa alma se transfigurarão um dia lá na vida eterna resplandecente como a luz. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.



quinta-feira, 6 de março de 2014

VANDALISMO

VANDALISMO
Mandei pintar a frente da Casa da Praça do Rosário, 15, bastante danificada por vândalos.
Tinta cara, pintor caro e agora cedo, depois de tudo pintado já riscaram a parede!
Que país é este?
O pintor ainda está aqui e vai reparar o dano.
Côn.José Geraldo Vidigal de Carvalho
Viçosa, 6 de março de 2014


segunda-feira, 3 de março de 2014

CONFIANÇA NA PROVIDÊNCIA DIVINA

CONFIANÇA NA PROVIDÊNCIA DIVINA
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Cristo incentivou sempre a confiança absoluta na Providência Divina, uma vez que o Pai sabe muito bem tudo o que cada um precisa (Mt 6, 24-34). Crer na Divina Providência é saber que Deus age em tudo e tem um cuidado especial de cada uma de suas criaturas. Isto não é nem fatalismo, como ensinam os discípulos de Maomé, nem magia, como se o Ser Supremo devesse intervir cada vez que o ser racional se depara com momentos de provações. A fé na Divina Providência é antes de tudo um apelo a todos para cooperar na Sua obra, de uma maneira confiante e responsável, mesmo porque grande parte das desgraças que advêm são resultado exatamente da maneira desastrada do agir humano. É isto evidente, por exemplo, no que tange a fome no mundo, na má distribuição da renda. Pelo trabalho, pelas ações virtuosas, pelas preces e até pelos sofrimentos dos quais ninguém está livre neste vale de lágrimas quem tem fé pode agir tornando o mundo melhor. Foi o que aconselhou São Paulo aos Filipenses: “Fazei tudo sem murmurações e sem críticas para serdes irrepreensíveis e íntegros, filhós de Deus sem macula, no meio desta geração perversa e corrupta. No meio dela deveis resplandecer como luzeiros no mundo’ (Fl 2,  14-16). Dois conhecidos provérbios ilustram este pensamento do Apóstolo: “Ajuda-te e o céu te ajudará”; “O homem põe e Deus dispõe”. Trata-se, de fato, da participação humana no governo divino do universo. Pela sua Divina Providência, Deus deixa a cada um sua parcela de responsabilidade e concede ao ser humano o mérito de sua cooperação. O Concílio Vaticano II na Constituição Apostólica “Gaudium et Spes”, ensinou que as coisas são estabelecidas segundo sua constância e verdade própria e suas leis específicas (GS 36). Elas, entretanto ficam autônomas. O homem realmente foi criado para dominar e submeter a terra como está no início da Bíblia (Gn 1,28). Isto significa que ele se tornou assim providente para ele mesmo e sua responsabilidade é particular diante de Deus e de todos os outros homens. Muitos problemas ecológicos resultam do mau uso da liberdade humana. O mesmo se diga de tantas outras catástrofes e sofrimentos como os ocasionados pelas drogas e outros vícios. Portanto, o ser racional deve estar consciente dos males que ele mesmo causa a si e aos outros.  Entretanto, pelas boas obras pode o homem contrabalançar as desgraças que ocorrem e suas preces têm um valor imenso para que menos males aconteçam em seu derredor e pelo mundo afora. Com razão, afirmou Elisabeth Leseur: “Uma alma que se eleva, eleva o mundo inteiro”. Na verdade, nós não sabemos o bem que fazemos, quando praticamos o bem. Foi o que compreendeu magnificamente Santa Teresinha do Menino Jesus que, no fundo de seu Carmelo, espalhava rosas nesta terra de exílio, o que ela continua a fazer lá do céu. Adite-se que várias vezes adversidades que surgem são um alerta de Deus, como se lê no Livro de Judite: “O Senhor nos açoita, não para castigar-nos, mas nos advertir” (Jd 8,27). Foi o que afirmou São Paulo na Carta aos Romanos: “Tudo coopera para o bem daqueles que amam a Deus” (Rm 8.28). Este Deus, mesmo diante das infelicidades causadas pelo ser humano, sabe tirar o bem como ocorreu com a morte de seu Filho lá no Calvário, da qual resultou a Redenção da humanidade. É sabedoria, portanto, transformar os espinhos da vida em pérolas preciosas e é, por isto, que Jesus aconselhou: “Buscai antes de tudo reino de Deus e sua justiça e todas as coisas vos serão dadas por acréscimo”. Quem assim age tendo sempre em mira este Reino de Deus sabe se utilizar de todos os bens que estão a sua volta, jamais sendo ingrato para o grande Benfeitor, malbaratando tudo que dele se recebe. Desta postura resulta a confiança absoluta no Pai que está nos céus. A questão é que o pecado se inseriu no coração dos seres racionais e estes se esquecem de que somente quando se está em paz com Deus é que os males se diluem e se pode melhorar o mundo. Trata-se da conversão interior mesmo diante das coisas materiais. Quantas doenças resultam do mau uso do que se recebe da Providência Divina, como, por exemplo, tantas enfermidades advindas do excesso do comer e do beber. Tal deve ser a conduta de quem confia na Providência Divina: viver a vida do melhor modo possível, bem usufruindo de tudo que se recebe de Deus, nunca empregando seus dons para praticar o que é diretamente contra os dez  Mandamentos da Lei divina. Cumpre procurar a harmonia perfeita e definitiva do amor de Deus o qual encherá totalmente de felicidade todos os instantes da vida de cada um, vida assim passada bem de acordo com os planos traçados pela Sua providência para o bem próprio e de todo o mundo. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.



As tentações de Jesus

A TENTAÇÕES DE JESUS
Côn.José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Seis semanas sob o signo da austeridade preparam os cristãos o dia da Páscoa. Neste primeiro domingo da quaresma, o Evangelho fala das tentações de Jesus no deserto (Mt 4 1-11). Esta narrativa contem algo essencial para cada cristão e, por isto, cumpre compreendê-la, apreendendo suas lições. Jesus viera estabelecer o Reino de Deus, criar um mundo novo. Ele não viera para demonstrar poderes mágicos, transformando pedras em pães. Sua missão não se cifraria em lances espetaculares como se lançar do pináculo do templo, sendo salvo pelos anjos. Ele dirá claramente que seu Reino não era deste mundo e, portanto, as insinuações de satanás batiam de frente com o projeto traçado desde toda a eternidade no seio da Trindade Santa. Na verdade muitos em Israel aguardavam um Messias do qual tinham uma falsa imagem, supondo que ele viria instituir um império irresistível nesta terra, fulgente pelos bens materiais. O orgulho, a vaidade, a ambição, o poder, a riqueza acenadas pelo demônio, receberam de Cristo a mais veemente repulsa e com sua autoridade disse ao mentiroso, ao pai da falsidade: “Vai-te, satanás”. Jesus vence as tentações lá no deserto, como resistirá em outras ocasiões registradas pelo Evangelho. Assim, quando ele foi tentado pela multidão que o queria fazer rei, pelos judeus que reclamavam grandes sinais no céu, pelo seu amigo Pedro que insinuava que era uma loucura ser arrastado e entregue à morte,  e também por aqueles que lá no Gólgota  gritavam: “Se és o Filho de Deus, desce da cruz”. Deixou para seus seguidores um exemplo de fidelidade até o fim aos desígnios do Pai, à missão que Lhe fora confiada. No início da quaresma é esta vitória constante contra as tentações diabólicas que Ele propõe a todos que se dizem cristãos. Isto porque as tentações no deserto são as tentações de todos no seu cotidiano. Com efeito, a tentação do pão é o apetite de tudo querer possuir. É certo que o pão de cada dia é o alimento necessário a todos, mas simboliza também o dinheiro, a profissão, as ocupações diárias, tudo que se possui.  Tudo isto não é um mal em si, mas Cristo advertiu que “O homem não vive só de pão”. O perigo é não dar tempo para se entreter com Deus, para refletir, para rezar, para ouvir as inspirações do Espírito Santo. Quaresma é tempo propício para uma revisão de vida e oferece oportunidade para escutar toda palavra que sai da boca de Deus. Jesus advertiu também contra a auto suficiência e ensinou que todos devem reconhecer os seus limites. Confiar em Deus, sim, mas sempre na mais total submissão à Sua vontade santíssima. Nunca se deve procurar o sucesso pelo sucesso para ser louvado pelos homens. O Criador de tudo não quer feitos espetaculosos como queria o demônio que Jesus fizesse se lançando do alto do pináculo do Templo. Todo cuidado é pouco para afastar o afã de domínio que leva à adoração da riqueza e dos bens temporais, curvando-se ante falsos ídolos. É necessário que se lembre sempre que todo aquele que está revestido de alguma autoridade, necessariamente deve se colocar ao serviço dos outros, evitando a idolatria do poder em si. As tentações de Jesus são bem assim o símbolo das tentações de todos os mortais. Cristo saiu vitorioso e nos propõe  participar de seu triunfo, usufruindo de todas as graças do período sagrado da quaresma. As grandes armas espirituais foram indicadas pelo Mestre divino lá no deserto: a oração que signifique, de fato, uma tertúlia com Deus, contemplando as verdades reveladas, recebendo com amor suas inspirações; a penitência vivida na austeridade que leve a uma moderação no comer e no beber; a penitência que é o arrependimento sincero de todos os pecados e o firme propósito de emenda. Tudo isto fruto da vigilância espiritual para se poder imergir nos mistérios destes quarenta dias abençoados. Apenas assim eles trarão abundantes frutos para os que tiverem uma consciência purificada. Este é um tempo de se exercitar na modéstia de costumes, de progredir na humildade, de se conscientizar da responsabilidade de ser cristão, valorizando os sofrimentos do divino Redentor. A Cruz deve ser o grande referencial para se poder participar do júbilo da Páscoa do Senhor com todas as maravilhas que ela oferece às almas de boa vontade. Através do Profeta Joel fica o convite de Deus: “Voltai-vos a mim de todo vosso coração”. Trata-se de algo de concreto. São Paulo adverte: “Este é o tempo que nos é dado, o tempo favorável, é agora o dia da salvação”. É a vivência plena da presença de Deus, no hoje do Ser Supremo,  numa revisão total de vida. A privação que cada um se impuser de tudo que é supérfluo se transforme em ajuda eficaz para os mais necessitados, numa esmola inteligente e oportuna, fruto do combate ao egoísmo. Deste modo o tempo quaresmal que leva a vencer todas as tentações é um tempo de libertação, de cura espiritual. Saber aproveitar-se deste presente de Deus e se matricular numa escola de vida que leva a uma autenticidade cristã que fulgirá no 20 de abril, na comemoração solene da Páscoa, o maior dia do ano.. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.



terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

COMUNHÕES SACRÍLEGAS

COMUNHÕES SACRÍLEGAS
Côn.José Geraldo Vidigal de Carvalho*
O desejo de comungar deve conduz o cristão a viver em estado de graça, condição elementar para se receber o Corpo de Cristo.
O alerta de São Paulo serve então de diretriz: “Examine-se, pois, a si mesmo o homem e assim coma deste pão e beba deste cálice. Porque aquele que come e bebe indignamente será réu do corpo do Senhor” (l Coríntios 11-28).                                             Aliás,, a Didaqué, o catecismo dos primeiros cristãos, livro do 1o século, declara: “Reuni-vos no dia do Senhor, parti o pão, e celebrai a Eucaristia, depois de terdes confessados os vossos pecados a fim de que o vosso sacrifício seja puro ... Porque o Senhor assim disse: “Em todo lugar se sacrifica e se oferece ao meu nome uma oblação pura”. São Cipriano, no século 2o, chama a comunhão “bebida santificada pelo Santo do Senhor”. E numa de suas epístolas adverte para que não se dê a Eucaristia precipitadamente aos apóstatas arrependidos pois “apesar de ainda não terem feito a penitência, já são admitidos a comungar e, assim, profanam a Eucaristia, isto é, o corpo santo do Senhor”. Não se pode comungar nunca em estado de pecado grave.
 Quem cometeu um pecado mortal, deve parar de receber o Santíssimo Corpo de Cristo até que faça uma boa confissão, Precisa continuar cumprindo o dever da Missa dominical, mas não pode comungar. Procure, logo que possível, recuperar a graça santificante através de uma boa Confissão.
Comungar em pecado mortal é uma falta gravíssima.
 O comungante que cometeu uma falta grave e vai comungar, sem ter se confessado, comete um crime maior que Herodes, diz Santo Agostinho, mais assustador do que Judas, diz São João Crisóstomo, mais terrível do que o cometido pelos judeus, crucificando o Salvador, dizem outros santos.
Hoje, há, infelizmente, uma corrente de falsos teólogos que dizem bastar o ato penitencial no início da
Missa. Isto não é verdade.
 Há, sim, o arrependimento e a purificação das faltas veniais, dispondo o comungante para que faça uma fervorosa comunhão. Quem, porém, não está em estado de graça precisa primeiro passar pelo Sacramento da Penitência, fazendo uma ótima Confissão. Todo respeito é devido à Eucaristia, penhor da Vida Eterna.

Professor no Seminário de Mariana, durante 40 anos.

domingo, 23 de fevereiro de 2014

BODAS DE OURO MATRIMONIAIS

BODAS DE OURO MATRIMONIAIS
 DE LUIZ CARLOS E MARIA NOÊMIA

Oração Gratulatória proferida pelo Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho dia 22 de fevereiro de 2014 no Santuário Santa Rita de Cássia em Viçosa (MG), na Missa de Ação de Graças concelebrada com cinco sacerdotes.

Cantai a Deus um hino de Ação de Graças (Col 3,16)

Este é o convite que hoje faz o grande Apóstolo Paulo.
Eis, realmente, chegado o grande dia das Bodas de Ouro Matrimoniais do Diácono Luiz Carlos Lopes e Maria Noêmia Ferreira Lopes.
É um acontecimento notável, importante: 50 anos da recepção do Sacramento do Matrimônio!
Fato comemorado na mesma Igreja, no mesmo horário, no mesmo dia da semana, na qual se acham os restos mortais do sacerdote que presidiu a cerimônia religiosa deste enlace matrimonial em 1964, o saudoso Pe. Carlos dos Reis Baeta Braga, um dos construtores deste Santuário.
 Cerimônia presidida pelo mesmo sacerdote que há 25 anos, em 1989, abençoou as Bodas de Prata deste modelar casal, que é honra de famílias ilustres, glória de uma cidade e da Universidade Federal de Viçosa.
É de se notar que alguns padrinhos deste casamento hoje aqui estão presentes: Francisco Carlos Ferreira, Flávio Couto, Lúcia Simonini, Maria da Conceição Rolim Simões e, outrossim, as Damas de Honra Ângela Moura Stock e  Beatriz Moura e o Pajem Paulo de Carvalho. A mesma ilustre pessoa, Lúcia Simonini, que ornamentou a Igreja para o casamento e as Bodas de Prata, também a ornamentou para as Bodas de Ouro!
Tantas coincidências são também sinais de que esta comemoração está repleta de significado e de mensagens preciosas.
50 anos passados, aqui estão os filhos, netos,  outros parentes, afilhados e amigos numa só prece, num só aplauso, numa só manifestação de gratidão pelos exemplos, pelo apostolado, pela irradiação da bondade que apenas a nossa Igreja proporciona.
         Júbilo incontido do Dr. Luis Carlos, notável médico; do Dr. Marco Aurélio, médico veterinário e sua esposa Bretânia, com os filhos Leonardo e Oliver; Dr. Paulo Roberto e sua consorte Eliana, notáveis odontólogos e os filhos Bruno e Diogo; Dr. Sérgio Henrique e Dr. Eduardo José, renomados otorino-laringologistas.
Dia de festa, dia de Ação de Graças!
Prezadíssimos Luiz Carlos e Maria Noêmia, todos que aqui estamos agradecemos a Deus pela vossa vida, pelas maravilhas que o Senhor tem feito por vós – mirabilia Dei.
Não vamos recordar neste momento os pormenores antológicos de uma existência admirável o que exigiria muitas e muitas horas, mas exaltemos todas as vossas vitórias, ofereçamos a Deus todas os vossos sacrifícios, todos os troféus que acumulastes através de uma trajetória luminosa, luzente, lucíflua.
Conhecemos os vossos lauréis no Brasil e nos Estados Unidos, mas só Deus sabe os pormenores e o segredo de todas estas vitórias.
Neste instante basta que nos lembremos de que muito se ufanam os Departamentos de Economia Doméstica, Nutrição e de  Fitotecnia da Universidade Federal de Viçosa, nos quais vossas atividades atingiram o ápice da perfeição profissional. Justas as homenagens que através dos anos lhes foram prestadas por esta Universidade como está registrado na internet.
Sobretudo, porém, 50 anos ministrando uma educação primorosa aos filhos e manifestando a todos os parentes aqui residentes ou no glorioso Estado de Goiás, toda atenção, toda solidariedade.
Tudo isto porque sois cristãos profundamente convictos e exemplares.
Os filhos a herdarem tantas virtudes e a manifestarem tal inteligência que ficou célebre o dito de que quando um deles entrava no antigo Vestibular para uma vaga na Universidade no Brasil  uma delas de antemão já estava ocupada.
Hoje mostrais a toda sociedade como a força de um amor bem vivido santifica, purifica, leva a galardões no tempo e na eternidade.
Vós vos espiritualizastes na dileção mútua, porque sempre imersos no amor de Deus.
 Alegrias e dores, júbilo e trabalhos intensos, mas vividos à sombra do poder do Ser Supremo, à luz de suas bênçãos.
Hoje saudamos aqui um Diácono que tem feito um apostolado admirável quer junto dos Vicentinos, quer nos serviços da Igreja, sobretudo presidindo outros casamentos, sendo um dos ministros mais procurados para estas cerimônias.
Já se cunhou até o lema: “O Diácono Luiz Carlos Lopes é um referencial da Igreja Católica em Viçosa”!
Maria Noêmia, a artista de Deus, colocando seus dotes musicais a serviço da Liturgia, embelezando as principais solenidades, exaltando figuras do clero e da sociedade, compositora de peças consagradas, aplaudidas, sobretudo, em Viçosa e Mariana.
Estes são fatos memoráveis que neste dia se relembram mostrando a relevância desta comemoração.
Hoje lá no céu dois grandes Arcebispos de Mariana que visitaram tantas vezes este casal exemplar, D. Oscar de Oliveira e D. Luciano Mendes de Almeida, estão também se rejubilando  por este 22 de fevereiro de 2014., sendo que D. Luciano presidiu a comemoração dos 40 anos deste Casamento.
Neste dia o Sacramento do Matrimônio é, de fato, glorificado diante de um mundo que desconhece o verdadeiro amor. 
Pela vossa experiência estais a dizer a todos que o verdadeiro amor existe, mas que ele deve ser alimentado com realizações fulgurantes como estas aqui hoje recordadas.
Lançando o vosso olhar sobre 50 anos passados podeis dizer com São Paulo que o amor é paciente, serviçal, generoso, desinteressado. Que a verdadeira dileção perdura sempre.
No agradecimento especial a Deus nesta cerimônia se incluem tantas consolações como as vitórias de vosso filhos em profissões tão importantes para o Brasil e os Estados Unidos.
Continuai revestidos deste amor que vos trouxe a 50 anos atrás ao altar do Senhor, amor que foi crescendo dia a dia iluminando a sociedade e mostrando que a verdadeira dileção é possível para almas nobres que nunca fazem pactos efêmeros.
Estareis deste modo irradiando a essência, a quididade da Boa Nova que Jesus oferece a toda a humanidade.
Verdade esplêndida que São João aprofundou no seu Evangelho. Aí se patenteia que Cristo, o Salvador, é a revelação viva do amor do Pai, nele estando a plenitude deste amor eterno Ele que pôde então preceituar como seu mandamento maior “Amai-vos uns aos outros”.
Eis o segredo do dinamismo desta vida admirável que ostentais no grêmio da Igreja, na concretização do alerta do Mestre divino:”Vós sois sal da terra, luz do mundo” (Mt 5, 13 e ss).
Que então a palavra de Cristo, a pessoa de Cristo continuem habitando em vossos corações.
São Paulo aconselhava: “Cantai a Deus um hino de Ação de Graças (Col 3,16) e esta recomendação, de fato, calha peculiarmente nesta Missa gratulatória na qual se fez esta maravilhosa recapitulação de alguns dos feitos de duas  existências pautadas no amor a Deus, aos filhos, noras e netos, parentes e amigos, numa fidelidade e dedicação admiráveis ao Evangelho.
Por tudo isto deixamos junto do Altar os votos de que longa prossiga a vossa vida, bem além  das bodas de diamante, a serem
comemoradas daqui a dez anos.
Gratias agimus tibi, Domine – Nós vos damos graças ó Senhor, pelas maravilhas que realizais em Maria Noêmia e Luiz Carlos, faróis de sua família, baluartes da Igreja, fiéis epígonos de Cristo, apontando a muitos os caminhos da verdade e da virtude, porque suas vidas estão fundidas, solidificadas nos bronzes do Evangelho!
Obrigado, Senhor!