segunda-feira, 1 de setembro de 2014

SEGUIR A CRISTO

            SEGUIR A CRISTO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

O preceito de Jesus: "Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga” (Mt 16,24) merece atenção especial. Com efeito, o Mestre divino fala em ir atrás dele e não em imitá-lo. Há formas de imitação que entravam a vida cristã. O desejo de realizar as ações como Cristo no sentido de fazer os mesmos gestos poderia ser até algo descabido. Com efeito, a ordem de Jesus foi que cada um tomasse a sua cruz pessoal, pois a dele Ele levou até o Calvário. Do contrário, os caminhos humanos traçados por Deus para cada um estariam bloqueados e supressas estariam as vocações bem como os perfis caracterológicos de cada um. Além disto, tal ideal de imitação de Cristo poderia levar ao desespero dado que santo e perfeito somente Ele. Cumpre ao cristão seguir o Senhor vivendo a cada hora o que Ele ensinou nas circunstâncias em foi colocado pela Providência divina nas mais variadas tarefas que são a cruz que se deve carregar dia a dia. Os grandes santos chegaram a uma maravilhosa perfeição no seguimento de  Cristo dentro dos planos divinos,  mas é preciso não traçar grandes projetos e uma forma de vida além dos limites de cada um. Neste caso, seguir a Jesus é fazer com retidão as tarefas cotidianas da existência pessoal. Deste modo não existe um modelo único a enquadrar o comportamento cristão devido a diversidade de dons recebidos e as qualidades individuais. A vida e os ensinamentos de Cristo, isto sim, vêm sempre esclarecer a conduta do cristão que vai tirando as consequências do que deve fazer. A renúncia à qual o batizado deve se entregar em vistas a conseguir o Reino dos Céus é o esforço diurno no cumprimento do dever. Se alguém pensasse em imitar a Cristo no jejum do deserto durante quarenta dias estaria inteiramente equivocado. De fato, o que lhe é necessário é combater hora a hora tudo que contradiz a vontade divina, vivendo inteiramente cada um dos versículos da oração do Pai Nosso. Grandes façanhas não são, por vezes, o mais difícil, mas, sim, por exemplo, desculpar a cada momento o próximo, rezar com atenção as orações, fazer com capricho o dever a ser executado. Seguir a Cristo é agir com simplicidade e autenticidade. Seguir a Jesus é ostentar uma existência inserida em Deus, consagrada a Ele presente lá no íntimo do coração.  Então, sim, gestos e palavras evocarão em todo lugar a maneira de ser de Cristo.  O cristão não é um clone de Jesus, ou um magnetofone a repetir simplesmente as palavras do Mestre sem intensamente as viver. O cristão é, antes de tudo e sobretudo, um filho de Deus que aprendeu de Jesus que Deus é um Pai que deve ser amado sobre todas coisas e que todos são irmãos a serem amados e respeitados. Deste modo, o seguidor de Cristo não se desespera quando vê sua vida marcada por fraquezas humanas sem almejar grandezas espirituais ou apostólicas que vão além de suas possibilidades. É a procura do meio termo, isto é, nada de agitação, mas também longe de todo imobilismo ou conformismo com aquilo que possa não estar de acordo com a vontade divina. Cada um deve carregar a sua cruz apesar de seus abatimentos, de suas fragilidades, nunca, contudo, deixando de lado a luta contra as limitações humanas. Os bons exemplos do próximo devem ser um incitamento a uma vida sempre melhor, mas, necessariamente, não se pode simplesmente querer igualar-se aos outros.  Portanto, em síntese carregar a cruz seguindo a Cristo é ter Deus presente a cada instante, todos os passos marcados por Ele, impregnados dele. Deus em nós e nós nele. Então, tudo que o cristão faz tem um valor imenso para a eternidade.  Seguir Cristo em tudo quer dizer que não se para na caminhada, mesmo porque esta é determinada pelos projetos divinos referentes a cada um. Jesus, aliás, deixou bem claro que quando o Filho do homem vier na glória do seu Pai, com os seus anjos, retribuirá a cada um de acordo com sua conduta (Mt 16, 27). Cumpre então andar seguindo corajosamente os passos de Jesus. Há na existência de cada ser humano momentos de indizíveis tristezas. As mesmas lutas que recomeçam cada dia. A maldade que campeia pelo mundo. A morte, as catástrofes e tantas pessoas amadas que vão desaparecendo, tudo isto causa pesar. Quando tudo externo já não perturba, no mais profundo do ser humano, que turbilhões, que fontes de aflição! È preciso, sobretudo, nestas horas se lembrar da ordem de Jesus: “Se alguém quiser ser meu discípulo renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga”. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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